28/03/23

Se fizer certo será aceito (1/4)

      “Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante. E o Senhor disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante? Se bem fizeres, não é certo que serás aceito?Gênesis 4.5-7a 

      Quando lemos o texto bíblico abaixo (no final desta reflexão), não nos lembrando da história toda, até a primeira parte do versículo cinco podemos não entender a avaliação de Deus, acharmos mesmo que o Senhor tenha sido injusto. Existem algumas interpretações de porque o sacrifício de Abel agradou a Deus e o de Caim não, mas pelo início do capítulo quatro de Gênesis entendemos que ambos se esforçavam em seus ofícios, ambos separaram partes legítimas para ofertarem a Deus. Sim, eles tinham atividades profissionais distintas, Abel trabalhava com animais e Caim com vegetais (como agricultor ou como coletor?), mas como Abel deveria pastorear bem as ovelhas, da mesma forma Caim administrava a terra, não podemos fazer pelo texto interpretação diferente. 
      Essa é a interpretação inicial e humana, que podemos fazer não só dessa tragédia familiar bíblica, como também de vidas de outros homens, próximos a nós hoje, e como temos a tendência de sermos injustos com Deus, defendendo os homens. Mas eu penso que Deus permitiu que a passagem fosse registrada assim para que a ênfase do ensino ficasse clara, a diferença não estava nas coisas materiais, nem no fato de um oferecer o primogênito de suas ovelhas e o outro do fruto da terra. Que culpa tem alguém de ter atividade diferente? Ainda que na religião israelita sacrifício de sangue seja substituto por pecados melhor que oferta de vegetais, ainda que criar uma ovelha empregue mais trabalho que colher frutos da natureza.
      Não penso que o que levou Deus a avaliar diferentemente a oferta de Caim tenha sido isso, o problema era mais profundo, subjetivo, pessoal, interior, tinha a ver com o coração de Caim, esse era diferente do coração de Abel. Ainda que Caim tivesse oferecido oferta errada, se houvesse nele algum temor a Deus, alguma humildade, ele teria recebido a desaprovação do Senhor e reagido corretamente. Ainda que triste a princípio, depois buscando a Deus e perguntando no que poderia melhorar sua oferta para que o Senhor a aprovasse. Mas pergunto: Caim ficou arrasado porque Deus não gostou do que ele ofertou ou porque Deus gostou do que Abel, seu irmão, ofertou? Talvez o problema de Caim tenha sido só inveja.
      A resposta de Deus é emblemática, entendê-la é compreender como o Espírito Santo fala com todos nós até hoje, “se bem fizeres, não é certo que serás aceito?”. Deus não complica, não condena, só ensina, mostra causa e efeito, aja certo e será aprovado, faça isso e resolva a situação, basta que seja humilde, reconheça onde errou e não erre mais. Mas o problema de Caim não era Deus, e que terrível é o ser humano estar nessa condição, de não se importar com o que Deus diz, quando isso ocorre cai-se na idolatria, coloca-se o homem acima de Deus, foi o que Caim fez. Era mais importante para ele ser melhor que o irmão, talvez para chamar a atenção dos pais que ele poderia achar que davam mais importância a Abel que a ele. 
      Caim não se resolveu com Deus e o mal o dominou, inveja tornou-se homicídio, matando o próprio irmão, eis a terrível escalada de pecado não resolvido, o primeiro assassinato registrado na Bíblia, e justamente de irmão contra irmão. Como em outras vezes eu faço um questionamento: por que Deus permitiu que esse crime estive aí, no quarto capítulo do primeiro livro da Bíblia, com o homem ainda tão próximo ao jardim do Éden e a Deus? Pela tradição judaica-cristã, sob os textos bíblicos, podemos nos acostumar a interpretar pecado original como uma exceção, como algo que não devia ter acontecido, e que só foi totalmente resolvido com vida e morte do Cristo no mundo. Mas será que foi isso, só um acidente? 
      Penso que não, o homem é colocado no planeta para ser testado e reprovado, só isso revela ao ser humano a verdade sobre ele, alguém que tem que sofrer e fazer sofrer muito para se pôr a caminho para a região espiritual mais elevada do Altíssimo. Depois de Adão e Eva, na primeira prova que o homem teve, e justamente convivendo com um irmão de sangue, o ser humano é reprovado. O homem só é confrontado consigo mesmo quando vive em sociedade, são os outros que trazem à tona nosso pior e nosso melhor. Se Caim vivesse sozinho não teria quem invejar, mas Deus pôs Abel com ele, com habilidades profissionais opostas as dele, mas talvez com outras características diferentes, que a Bíblia não cita, isso para testá-lo.

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      “E conheceu Adão a Eva, sua mulher, e ela concebeu e deu à luz a Caim, e disse: Alcancei do Senhor um homem. E deu à luz mais a seu irmão Abel; e Abel foi pastor de ovelhas, e Caim foi lavrador da terra. E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor. E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura; e atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta. Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante. 
      E o Senhor disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante? Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar. E falou Caim com o seu irmão Abel; e sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel, e o matou. E disse o Senhor a Caim: Onde está Abel, teu irmão? E ele disse: Não sei; sou eu guardador do meu irmão? E disse Deus: Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama a mim desde a terra.
Gênesis 4.1-10
 
Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão

27/03/23

Tempo: amigo ou inimigo?

      “Não me rejeites no tempo da velhice; não me desampares, quando se for acabando a minha força.Salmos 71.9

      Eis a obra do ser no mundo, vencer o tempo e os efeitos que ele impõe ao corpo. Sim, há uma oposição intrínseca na existência de corpo e alma juntos, mas com a qual Deus, criador e elevador de todos os seres, conta. “Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo, as suas folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará” (Salmos 1.3), ainda assim é possível dar frutos no tempo, virtudes que agregam ao espírito as glórias do habitante do céu, a melhor eternidade de Deus. 
      Muitos não entendem o propósito de seus tempos no mundo, e muitos em igrejas e seguindo a Bíblia usam fé e religião só para seus desígnios, não para serem aprovados por Deus. Viemos ao mundo para sofrer? Sim, é isso, ainda que o sofrimento útil não seja efeito de covardia e passividade. Ao contrário, é preciso força e coragem para sofrer do jeito certo, que administra tempo em comunhão íntima com Deus. O importante é aceitarmos que apesar de parecer longa, a vida passa depressa, logo voltamos à eternidade. 
      Mas cuidado, não pense que só a fé pode levá-lo ao céu, e muitos em igrejas evangélicas e católicas estão assim, acomodados a liturgias, rituais e dogmas. Se não houver trabalho persistente no mundo, que faz morrer a carne e viver o espírito, na eternidade será pior. Apetites do corpo, vaidades, sensualidades, ódios e invejas, persistirão e de uma maneira terrível, pois serão sentidos, mas não poderão ser satisfeitos, visto que haverá espírito sem corpo. O tormento vindo dessa situação é o que podemos chamar de inferno. 
      Contudo, os que aprenderam a mortificar as obras da carne no mundo material, ainda que em lutas, já provaram o céu no plano físico, pois olharam para o alto, para Deus, e se colocaram em movimento para ele. Persistamos em nossa luta contra o tempo que enfraquece nossos corpos, e é bom que seja assim, nos traz à realidade, que é a eternidade, não a ilusão do mundo. Quem ama a Deus, de todo o coração e quer conhecê-lo e agradá-lo não é ímpio, mas amado do Senhor e sempre achará a paz que permanece. 
      “Por isso, todo aquele que é santo orará a ti, a tempo de te poder achar, até no transbordar de muitas águas, estas não lhe chegarão” (Salmos 32.6). Dos que temem a Deus o tempo é amigo, retarda efeitos de causas ruins (punições do universo ou infernos) e adianta efeitos de causas boas (recompensas ou o céu). Já os que só confiam em si mesmos e lutam por glória humana no mundo, estarão sempre correndo atrás do tempo, nunca encontrando-o, sempre insatisfeitos, culpando os outros pela insensatez de seus corações.
      “Louvarei ao Senhor em todo o tempo; o seu louvor estará continuamente na minha boca. A minha alma se gloriará no Senhor; os mansos o ouvirão e se alegrarão” (Salmos 34.1-2). Uma arma contra o tempo é louvar a Deus sempre, isso ocupa nossas energias, não com ansiedades, vícios e culpas, mas com adoração que nos coloca em comunhão espiritual com o Deus Altíssimo. Nessa conexão somos fortalecidos, vemos a existência de cima, onde não há tempo, e conquistamos humildade e mansidão. 

26/03/23

Tesouro em vaso de barro

      “Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também nos nossos corposII Coríntios 4.7-10

      O segredo da vida eterna é separar efeito de causa, matéria de espírito. O corpo físico contém o espírito, mas ele não é aquilo que somos de mais importante, de mais profundo, de mais duradouro, ele só reflete de maneira imperfeita as experiências espirituais. Mesmo boas experiências com o Espírito Santo podem refletir no corpo físico e em nossas almas, efeitos que podem conduzir a equívocos. Muitos procuram experiências, achando que elas são espirituais e por isso as mais legítimas de serem buscadas, mas estão buscando só efeitos de uma experiência espiritual na carne, portanto, buscando a carne e não o Espírito.
      O corpo físico está em constante degradação, sempre morrendo, a partir do momento que somos expostos à luz do mundo, que nascemos das entranhas de nossas mães, iniciamos um processo irreversível de falecimento. A natureza física do planeta emprestou nossos corpos e os cobra de volta, no grande ciclo da vida material, do pó para o pó. Ainda que estejamos sujeitos a acidentes fatais, que podem apressar o fim, até próximo aos quarenta anos nosso corpo consegue repor células mortas por novas células, assim o processo é retardado, mas depois não haverá mais renovação, só morte real que se apressará com os anos. 
      Não só órgãos e membros de nossos corpos morrem, nossos sentimentos também se enfraquecem, nossos mecanismos de percepção emocional e racional da realidade, tanta a física quanto a espiritual, falecem, diminuindo assim nossas capacidades de encantamento e de paixão pela vida, pelo mundo, pelas pessoas, por nós mesmos e mesmo por Deus. Isso é só a causa, não é o efeito, Deus é espírito e como tal, vivo, eterno, benigno, iluminado, imutável, dessa forma as experiências que temos com ele, mesmo em corpos envelhecidos e enfermos, são sempre novas e maravilhosas. Nós morremos, Deus em nós, não. 
      Contudo, nossos corpos são inviáveis, por tenderem sempre à morte, para repetirem a mesma sensação, seja boa ou ruim. A primeira vez que você provou uma fruta, o primeiro trago de uma bebida alcoólica, o primeiro beijo, a primeira relação sexual, deixaram em você lembranças de sensações que nunca mais se repetirão. Poderão até serem semelhantes, até melhores em certas ocasiões, mas nunca iguais. Mesmo uma experiência maravilhosa de oração com Deus, o recebimento de um dom espiritual, a primeira vez que você falou em línguas espirituais estranhas, seu corpo físico não sentirá de novo a mesma sensação.
      Por isso não podemos confiar no efeito, mas na causa, não podemos idolatrar o corpo, mas priorizar o espírito, nem podemos desanimar quando não conseguimos sentir algo bom do mesmo jeito que sentimos antes. Isso não é de forma alguma uma punição ou qualquer espécie de capricho de Deus, mas é o processo que ele usa para nos libertar da carne, do corpo físico, do mundo, e abrir nossos sentidos espirituais, livres das influências das ilusões da matéria, para a vida espiritual eterna. Se no nascimento o corpo reconhece a vida chorando para que respire profundamente, nosso espírito reconhece a Deus vendo morrer o corpo.
      Isso também nos conduz naturalmente a viver pela fé, não pelos sentimentos, aliás, com o tempo fé se torna a única ferramenta confiável para conhecermos e sermos abençoados por Deus, visto que aprendemos a não confiar mais no que sentimos ou deixamos de sentir, mas naquilo que pela fé experimentamos. Não desanime, isso não nos leva a um final de vida sem sabor, sem alegria, sem graça, mas nos faz conhecer sabores, alegrias e relevâncias que sempre existiram dentro de nós, em nossos espíritos, mas que quando éramos jovens e imaturos ficavam sufocados pelos encantamentos e pelas paixões do corpo físico. 
      Por isso dor e sofrimento, causados pelas lutas e também pelas enfermidades, e mesmo que sejam só emocionais, por recebermos as injustiças e egoísmos dos homens e não reagirmos, são tão úteis no tratamento que Deus faz em todos os seres humanos neste mundo. Quem se nega a aceitar isso, nega sua vocação maior de existir, nega o motivo de estar no planeta Terra. Dor e sofrimento nos chamam à realidade do mundo, estamos sempre morrendo, e nos convocam à realidade do outro mundo, o espírito é eterno e precisa ser libertado da matéria, dor e sofrimento nos libertam de nós e nos aproximam de Deus. 
      O texto bíblico inicial nos chama a atenção para uma coisa. Busquemos a Deus sempre e ele nos dará consolo e paz para seguirmos em frente, mas não esperemos ter vidas plenamente sossegadas neste mundo. Quem desiste porque se sente sempre atribulado, angustiado, perplexo, perseguido, abatido, aceite, o espírito habita em vaso de barro, esse vaso traz sempre a morte em si. É assim para que a excelência do poder seja de Deus, não nossa, para que na eternidade queiramos subir para Deus num “céu”, não descer para o mundo num “inferno”. Vivemos para aprender a morrer e então vivermos eternamente.
      A verdade é que paz interior não fica mais fácil de ser achada e segurada com o tempo, à medida que envelhecemos, fica mais difícil, porque nosso emocional se esfria, assim precisamos de mais sensibilidade e fé para percebermos e mantermos a paz. A proximidade da morte deixa o mundo espiritual mais próximo de nós, os que temem a Deus e nele confiam, o sentirão mais perto no final, serão consolados e preparados. Triste, contudo, o final dos materialistas, ateus e céticos, verão escorrer as paixões e ilusões deste mundo, lhes será drenado todo o prazer da carne, e não terão o dom do Espírito para lhes consolar. 

25/03/23

Navegue no Espírito

      “Se vivemos em Espírito, andemos também em Espírito.Gálatas 5.25

      O ser humano tem um trabalho principal em sua trajetória neste mundo: achar o Espírito de Deus. Apesar desse Espírito estar por toda parte, chamando a todos e sempre disponível, nossa existência encarnada pode dificultar nossos sentidos espirituais de perceberem esse Espírito, assim, é preciso algum esforço para achá-lo. O tipo de trabalho, sua extensão, e o tempo que cada ser humano usa para achar o Espírito de Deus, variam de ser para ser, depende do quanto cada um está ligado aos valores materiais. Estar preso à matéria não é só afeiçoar-se de maneira exagerada aos apetites do corpo, aos prazeres físicos e mundanos, mas também é depender demais de aprovação dos homens e da glória do mundo.
      Assim, muitos precisarão provar sofrimentos para serem libertados da ilusão do mundo, só a dor, a perda, o abrir mão, a morte, libertam o espírito da matéria. Mas novamente, o que cada um precisa fazer e quanto para aceitar a dor e deixar ir a ilusão, é variável. Muitos entenderão a relevância do Espírito de Deus logo na juventude, outros envelhecerão ainda iludidos pela glória do mundo, e ainda que sejam bons cidadãos e bons religiosos, viverão para si e para os homens, não para Deus. Quando enfim o ser humano “vê” o Espírito de Deus e se coloca nele, é aí que vida eterna se inicia, o ser entende que só precisa fazer um esforço, descansar plenamente no Espírito de Deus e se deixar levar por ele, acima da matéria. 
      No início de minha jornada com o cristianismo tradicional, aos dezesseis anos numa igreja Batista tradicional, eu era ensinado, esse ensino achava apoio na formação familiar que eu tinha recebido até então, que precisava ter períodos diários de leitura bíblica e de oração. Querendo ou não, gostando ou não eu precisava ter vida devocional diária. Eu agradeço a quem me deu essa orientação, minha geração, diferente das que vieram depois, sabia obedecer e colheu até hoje os frutos da obediência, fazer o que é preciso, ainda que não seja agradável. Isso construiu em mim uma base de conhecimento bíblico que fundamenta minha prática de vida até hoje, me deu um sol no horizonte que me direcionou, não me deixando perdido. 
      Numa fase mais infantil temos que ser tratados como crianças, com regras e experiências dos outros, isso é adequado principalmente nos tempos de nossas vidas que ainda temos pecados básicos e sérios a serem vencidos. Essa fase infantil é variável nas vidas dos seres humanos, muitos serão homens crescidos no corpo, conhecedores de Bíblia, servos fiéis em igrejas, mesmo líderes e pastores, e ainda estarão nela. Muitos nunca amadurecerão o suficiente para saírem dessa fase, e creiam, para esses é mais sábio que não saiam, melhor entrar no céu como criança que perder-se como adulto. Muitos têm experiências espirituais profundas fora do cristianismo, mas estão perdidos, sabem muito, mas moralmente praticam pouco. 
      Deus é sábio, sabe o que cada um está preparado para saber, e aqueles que já controlaram a si mesmos, a paixões e egoísmos, entenderão que não somos nós que invocamos a presença do Espírito, mas é o Espírito quem nos chama. Basta-nos estar nele, em sintonia com ele, em todo o tempo, e saberemos quando orar, quando buscar uma palavra na Bíblia ou diretamente dele. Mas isso, repito, é para os que aprenderam a vigiar em todo o tempo, a temerem a Deus silenciosamente, a manterem ouvidos espirituais abertos para ouvirem quando o Espírito de Deus orienta a falar ou fazer algo. Vou dizer algo que muitos não estão preparados para ouvir: não ore a Deus sem sentir uma chamada clara do Espírito Santo para isso.
      Mas Paulo não orienta “orai sem cessar” em I Tessalonicenses 5.17? Sim, mas esse orar não é interceder, onde se fala e se espera resposta imediata de Deus, é ouvir. A excessão é adorar, isso, sim, devemos fazer sempre. Certas intercessões, de libertações, de pedidos específicos sobre coisas muito importantes, só devem ser feitas com a unção do poder de Deus, nem antes, nem depois. Quando fazemos isso fazemos obedecendo uma ordem de Deus, que sabe o momento certo de certas “batalhas espirituais” serem feitas, então, Deus, que tem o universo, os sistemas deste mundo e a mecânica do plano espiritual em suas mãos, responderá. Vigie, esteja atento, mas só ore quando Deus mandar, nesse momento a resposta poderá ser conhecida. 
      Muitas vezes sofremos o seguinte dilema: sabemos que temos uma questão séria a ser resolvida, sabemos que temos que orar a Deus a respeito, sabemos que Deus nos dará a melhor resposta e que nos dará capacidade e consolo para aceitarmos e praticarmos essa resposta, mas simplesmente nos sentimos sem ânimo para orar. A regra é: insista mesmo assim, se não tem vontade, vai sem vontade mesmo e com fé, ainda que seja pequena. Contudo, vivendo com Deus, com o tempo aprendemos que muitas vezes temos que esperar e descansar em Deus, não só o universo é preparado e precisa de tempo, nós também. Deus respeita todos os limites e sincroniza todos os tempos, para que sua melhor vontade seja exteriorizada.
      Não é a tua fé que resolve um problema ou coloca o poder de Deus em ação, mas a tua obediência, a maior prova de fé que podemos dar a Deus é obedecê-lo. Muitas vezes, vendo que estamos desanimados e cansados, ele segura as consequências do problema, para que não nos atinjam, e aguarda até que estejamos restabelecidos, para nos dar a honra de sermos participantes da vitória através de uma oração sincera e convicta. Deus não precisa de nós, muito menos da nossa fé ou de nosso louvor, mas se nos deixarmos conduzir pelo Espírito faremos parte de algo muito maior que nós, que nos abençoará, assim como a muitas outras pessoas, de maneira fantástica e misteriosa, como são sempre as providências divinas, creia nisso. 

24/03/23

Jesus, crucificado de novo

      “Mas falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória; a qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória.I Coríntios 2.7-8

      O novo fim do mundo não ocorrerá com uma grande guerra mundial. As nações civilizadas não querem isso, querem um mundo minimamente em paz para venderem seus produtos. A guerra que haverá será contra doenças, vírus e pandemias, onde também haverá oportunidade para se lucrar economicamente, vendendo remédios e vacinas, o inimigo será ideológico e invisível, não físico. 
      O novo fim do mundo não ocorrerá com corpos celestes despencando sobre a Terra. A resposta da natureza, não do cosmos, será com chuvas e secas extremadas, causadas pelo desmazelo com que o ser humano explorou o planeta. Não será uma explosão estúpida dos elementos, mas uma atividade lenta e impactante, de águas, ventos e temperatura, estabelecemdo um novo normal. 
      O novo fim do mundo não será anti-cristãos contra cristãos. Será homens esclarecidos lutando contra opressões, injustiças e preconceitos históricos, que o velho cristianismo assistiu passivamente. Nessa reação, uma inicial e falsa impressão de prevalecimento de não cristãos fará surgir o novo cristianismo, que na verdade é o original, eterno e puro do Cristo, cujo reinado será duradouro.
      Você, cristão protestante e evangélico, consegue enxergar esse novo fim do mundo, que na verdade sempre foi o fim do mundo que Deus planejou, mas que muitos não entenderam porque estavam presos a seus contextos históricos, sociais e religiosos? Enquanto muitos insistem no velho fim do mundo, o mal tem vitória, fazendo nada, só assistindo o engano de um ultrapassado cristianismo. 
      Como muitos líderes judeus do primeiro século, desejando um messias como o rei Davi, político e militar, que livrasse Israel dos romanos, crucificaram o Cristo verdadeiro, que veio humilde e ensinando virtudes morais interiores para a eternidade, não vitórias em guerras na Terra, muitos cristãos, esperando o fim do mundo errado, estão despreparados para o verdadeiro fim do mundo de Deus.
      A trágica consequência disso é que Jesus é crucificado novamente, não fisicamente, mas seus ensinos, não pelo anti-cristo, mas pelos próprios cristãos, achando-se esses que fazem a coisa certa, que zelam por suas crenças, e que obedecem a Deus. “Portanto, o que for prudente guardará silêncio naquele tempo, porque o tempo será mau” (Amos 5.13). Aqueles com olhos e ouvidos abertos, orem. 

23/03/23

Não ilumine o mal

      “E não comuniqueis com as obras infrutuosas das trevas, mas antes condenai-as. Porque o que eles fazem em oculto até dizê-lo é torpe. Mas todas estas coisas se manifestam, sendo condenadas pela luz, porque a luz tudo manifesta.Efésios 5.11-13

      Não lance luz sobre o mal e ele desaparecerá. Como não possui luz própria, o mal busca luzes externas a serem lançadas sobre ele para que possa aparecer. Isso é técnica de manipulação de informação usada na mídia, não levantar nem crítica sobre o opositor, pois a simples crítica mantém a pessoa em foco, que pode receber ou continuar recebendo publicidade. Há outra máxima no uso da mídia para autopromoção, “falem mal, mas falem de mim”, para quem quer aparecer, até notícia ruim sobre ele interessa, e hoje muitas pessoas não querem ser boas ou más, apenas famosas. 
      Isso revela algo muito importante sobre o mal. O que é o mal? Aquilo que se movimenta no sentido inverso à posição de luz do Deus Altíssimo, assim, para as trevas. Como sempre dizemos aqui, mal não é necessariamente fazer coisas más, ainda que quem se afaste de Deus não consiga fazer, ou pelo menos manter no tempo, boas ações. Muitos, contudo, parecem exercer boas ações, lutando por justiça e direito, zelando pela saúde, pela ciência e pelo planeta, contudo, como não obedecem a vontade mais alta de Deus, fazem isso por si só, para glória própria e neste mundo. 
      Como não possui luz moral própria, o mal nos tenta o tempo todo para chamar nossa atenção, assim, nossa luz baterá nele e refletirá nos outros. Aqueles que aliam todo o mal do universo a um “diabo” estão direcionando holofotes sobre o mal, promovendo-o, aliás, “diabo” é a mais eficiente invenção do marketing maléfico. Quando um ser ciente, inteligente, independente, é estabelecido, fica mais fácil direcionarmos a atenção, odiarmos, temermos, principalmente um ser que se opõe a Deus. O catolicismo e o protestantismo conservadores mantêm-se poderosos dessa forma. 
      Entretanto, esse também é o truque de extremistas políticos, criarem inimigos opostamente extremos, isso os fortalece, lhes dá razão para existir e lutar. Quem está num extremo sempre procura colocar opositores em outro extremo, não aceita a possibilidade do equilíbrio, e o que anula o extremo não é um extremo oposto, mas o meio termo. Jogamos luz sobre o mal quando não perdoamos alguém e mantemos rancor, mágoa e inveja dentro de nós. O mal é sujo e utiliza meios sujos para brilhar, assim o mal é ladrão e homicida, rouba virtudes e assassina reputações (João 8.44). 
      A fofoca e todo tipo de crítica destrutiva, a que não é feita em verdade diretamente para a pessoa avaliada, em amor e com o objetivo de construir a pessoa, são holofotes eficientes para iluminarem o mal e permitirem que ele faça seu showzinho. É triste como nós, muitas vezes com vidas que se esforçam para conhecer e obedecer a Deus, damos protagonismo a “diabos”, porque não conseguimos nos controlar, nos calar e só amar. Lembro que quando o mal é chamado vem com ele algum “demônio”, afoito por um momento de glória, que “gruda” naquele que o chamou. 

22/03/23

Ter poucas necessidades é ser rico

      “Porque nada trouxemos para este mundo, e manifesto é que nada podemos levar dele. Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes.I Timóteo 6.7-8

      Muitos dizem, e me incluo entre esses muitas vezes: “sou infeliz porque não posso ter tudo que preciso, o que gostaria de ter, tenho que me contentar com pouco, ainda que eu trabalhe muito, seja um cidadão honesto e bom religioso”. A isso, uma resposta: você está trabalhando para o patrão errado, para teu corpo indisciplinado, e não para teu espírito bem resolvido em Deus. É claro que não me refiro aqui a pessoas que realmente têm necessidades não satisfeitas para uma vida minimamente digna. 
      Ser rico não é ter muito para satisfazer muitas necessidades, mas é ter poucas necessidades a serem satisfeitas, assim poder ter pouco para satisfazê-las. Isso não conduz o sábio à ociosidade, mas permite-lhe mais tempo livre para se dedicar ao que mais importa, conhecer a Deus e servir ao próximo. Não podemos produzir toda riqueza que desejamos, somos limitados para isso, mas podemos reduzir nossas necessidades, fazendo boas escolhas morais e trabalhando para vencer vícios, paixões e vaidades. 
      O mundo atual, principalmente através da internet e da mídia, é especialista em criar necessidades e vendê-las, cabe a nós comprar ou não. Consumidores descontrolados são escravos de mentiras, só os livres dirão não às ilusões da matéria e se satisfarão com a vida eterna. Virtudes morais são riquezas espirituais, essas nunca viciam ou escravizam, mas libertam, alargam e elevam o espírito, duram para sempre, ainda que muitas vezes não sejam aprovadas nem reconhecidas pelos homens no mundo.
      Não é certo nem útil perder tempo com teorias conspiratórias, mesmo que seja interpretando textos bíblicos apocalípticos, contudo, não podemos deixar de ver o mundo atual conduzindo a humanidade para o caminho errado. Dizem que todos têm direitos iguais a tudo, e isso em si não está errado, é a história respondendo à história, faz parte da evolução civilizatória, mas o que muitos não aceitam é que nessas lutas sociais por direitos o ser humano está sendo materializado, não espiritualizado. 
      Jovens não são ensinados a lutarem pelo direito de conhecerem e confiarem em Deus, e isso indiferente da religião, nem estou puxando a sardinha para o lado do cristianismo. Jovens são doutrinados a lutarem pelo direito de consumirem produtos materiais, de fazerem sexo quando e com quem quiserem, de ouvirem música de má qualidade para executarem danças vulgares, de exporem seus corpos como pedaços de carne em açougues. Sim, tudo isso cada um pode fazer se quiser, mas não é o melhor. 
      Nisso as necessidades aumentam, os meios para que elas sejam satisfeitas diminuem, o corpo é explorado, enquanto valores morais e eternidade espiritual são desprezados como meros moralismos ultrapassados. Isso não fere só o cristianismo, mas toda religião séria que se propõe orientar o ser humano em uma evolução moral para o bem e para a luz. Aqui não me refiro às instituições do mundo, mas aos princípios religiosos puros e originais, entregues a muitas religiões pelos seus fundadores. 
      Como já disse outras vezes aqui, creio que isso é só uma fase, e cada fase tem acertos e erros, o que vem depois, o equilíbrio, é que permanece. A cobrança por justiça social pode ser imatura no momento, mas é necessária, vivemos séculos debaixo de intolerância, injustiças, sexismo e preconceitos, e isso permaneceu porque um cristianismo errado oprimiu o mundo por muito tempo. Mas depois, eu creio, Jesus será entronizado, valores morais eternos buscados, no final o céu vencerá o inferno. 

      “Há alguns que se fazem de ricos, e não têm coisa nenhuma, e outros que se fazem de pobres e têm muitas riquezas.Provérbios 13.7