09/06/23

Calai-vos com os que se calam

      “Alegrai-vos com os que se alegram; e chorai com os que choramRomanos 12.15

      Já refletimos aqui na passagem bíblica acima, mas desta vez gostaria de pensar nela de uma forma mais abrangente, que vai além da empatia que nosso amor cristão precisa ter com todos. Se a alegria de alguns e a tristeza de outros podem ser compartilhadas com pessoas generosas e amigas, que são empáticas com os sofrimentos alheios e não sentem inveja da alegria dos outros, outras disposições também podem pedir igual reação para que amor verdadeiro, não rancor, seja exercido. Calai-vos com os que se calam! Isso é respeitar, não sentimentos extremos e opostos que gritam por atenção, mas o direito que discretamente alguns pedem por silêncio e certo distanciamento, mas repito, é útil se feito por amor, não por rancor. 
      Alguns choram e não querem que você chore com eles, são tímidos demais para compartilharem fraquezas, para serem vistos fragilizados. Outros se alegram e não expressam isso facilmente, são reservados, não mostram a qualquer um aquilo que lhes faz felizes. Isso também é o orgulho protegendo algo importante para o orgulhoso, orgulhoso é sempre medroso. Algumas pessoas parecem simples, mas no fundo são complexas, nos mostram só a superfície, escondem com fortes mecanismos de defesa suas dores e suas alegrias mais fortes. Ainda que tenham muitos amigos e admiradores, porque não são egoístas, nunca levam o jogo para que seja sobre elas, pode não ser fácil ter acesso ao amor maior de gente reservada.
      Apaixonar-se por pessoa reservada não é fácil. Por orgulho, por timidez, por medo ou por insegurança, pessoa assim se esconde e se sentir-se ferida, não reagirá, se fechará mais, ainda que mantendo calma no rosto. Mas se apaixonar por gente que fala demais também não é fácil, contudo, pessoas extrovertidas, com temperamento oposto ao das reservadas, que dizem com facilidade o que pensam, podem atrair as reservadas. Opostos se complementam, entretanto haverá necessidade de amor paciente de ambos os lados para que a relação seja feliz. O reservado deve confiar no extrovertido e se abrir, mas o extrovertido deve ter cuidado com o que diz, e estar pronto para ouvir mesmo o que não é dito, não por palavras audíveis
      Se houver maturidade, relação afetiva entre opostos será satisfatória e eficiente, como aliança um terá uma capacidade que o outro não tem, o outro um entendimento que o primeiro não possui. Mas achar equilíbrio entre dois extremos não é fácil. Minha experiência como o lado falante é ter muito cuidado com o que digo, e principalmente, aprender a ouvir, contudo, se for necessário calar-me diante de alguém que se cala. Palavras dizem muito, mas o silêncio pode dizer mais, palavras externas só surtem efeito quando palavras internas foram ouvidas antes. Muitos não precisam ouvir, só de tempo para se ouvirem, ninguém convence ninguém, pode ajudar, mas não mudar, as palavras que nos transformam estão dentro de nós. 
      Há outro tipo de pessoa, que muitas vezes necessita de nosso silêncio, não são pessoas ligadas a nós em relações mais íntimas, como em namoro e casamento. Depois de nossa aliança com o Senhor, que é eterna, nossa aliança de casamento é a que mais deve ser duradoura, e o ideal seria durar enquanto estivermos neste mundo, contudo, outras alianças não precisam ser duradouras. Nessas não são compartilhadas tanta proximidade, tanto tempo, outras vidas, como filhos, assim, com certas pessoas, apesar de termos responsabilidade de amor como cristãos e de respeito como seres humanos, não temos responsabilidade de amizade. A muitos podemos amar, todos devemos respeitar, mas só será nosso amigo quem de fato desejar. 
      Realidade que muitos conhecem, a de parentes próximos, dos quais não conseguimos ser amigos, muitas vezes até irmãos de sangue. Temos que amá-los, orar por eles, tratá-los com o respeito que todo ser humano merece, mas por aquilo que eles mesmos permitem não devemos sofrer se não forem nossos amigos. Essas são relações que muitas vezes só podem existir se nos calarmos e nos distanciarmos, caso contrário não teremos disposição nem para irmos a festas e reuniões de pessoas que gostamos muito, e que esses parentes também gostam e frequentam. Calemo-nos com os que se calam, empatia sem rancor, sem o mais sutil desejo de vingança, só para não perdermos a paz com quem não nos quer assim tão próximos. 

08/06/23

O dia do Senhor será contra o soberbo

      “Porque o dia do Senhor dos Exércitos será contra todo o soberbo e altivo, e contra todo o que se exalta, para que seja abatido, e contra todos os cedros do Líbano, altos e sublimes; e contra todos os carvalhos de Basã; e contra todos os montes altos, e contra todos os outeiros elevados; e contra toda a torre alta, e contra todo o muro fortificado; e contra todos os navios de Társis, e contra todas as pinturas desejáveis. E a arrogância do homem será humilhada, e a sua altivez se abaterá, e só o Senhor será exaltado naquele dia. E todos os ídolos desaparecerão totalmente.Isaías 2.12-18

      Não é fácil sermos humildes, mantermo-nos humildes é o trabalho mais difícil de se fazer, somos tentados o tempo todo pela arrogância, que flerta conosco tentando nos seduzir. Exaltar-se é achar que só oprimindo os outros pode-se ser feliz, ainda que seja uma opressão educada. Que valor usamos em jogo de poder para tentarmos nos exaltar sobre as pessoas? É o fato de sermos mais ricos materialmente, mais estudados e mais cultos, mais morais e religiosos, mais espirituais? Que poder as nações usam para prevalecerem no mundo, mesmo para que justifique invadirem outras nações? 
      O Líbano era rico por seus cedros, Basã por seus carvalhos, essas nações tinham riquezas naturais diferenciadas no passado. Outros se achavam melhores religiosos porque faziam sacrifícios em montes mais altos, como tantos que celebram missas e cultos em catedrais e templos antigos e luxuosos hoje. Outros tinham poder de defesa porque possuíam cidades fortificadas e muradas, com altas torres de vigia, como nações atualmente com frotas navais e aéreas, grande quantidade de armas, ogivas atômicas, vastos exércitos. Todo poder em que se confia, mais que em Deus, torna-se ídolo. 
      O profeta Isaías diz que a arrogância do homem será humilhada, só o Senhor será exaltado naquele dia. Quando será esse dia? Acontecerá em tempos diferentes, para pessoas diferentes e para propósitos diferentes de Deus. Em primeiro lugar Deus nos trata como indivíduos, no mundo Deus pode nos quebrar para que nos separemos da arrogância e nos casemos com ele. Esse quebrantamento é constante, interior e discreto para o humilde, mas pode ser extremo, exterior e público para o que insiste na altivez. Quem anda humilde nunca é humilhado, quem permanece de joelhos não é derrubado. 
      Mas todos serão quebrados na eternidade, quando a luz de Deus confrontar as pessoas, isso é o que podemos chamar de juízo. Quantidade de inferno está diretamente relacionada à quantidade de orgulho, e muitos estão orgulhosos mesmo como religiosos fiéis. O humilde tem certezas, mas em Deus e para Deus, não para se prevalecer sobre os outros, assim olha todos com paciência e misericórdia, não julgando nada. Quantidade de inferno está diretamente relacionada à quantidade de julgamento, de pré-conceitos, de certezas que arrogamos ter ou usar sem terem sido dadas e aprovadas por Deus. 
      Contudo, existirá um juízo cósmico, a Bíblia fala sobre ele, ainda que sob compreensões de homens antigos. Para esses homens, vulcões, tsunâmis, queda de meteoros, tempestades, furacões, não eram eventos explicados ou previsíveis, eram interpretados como ações poderosas de Deus para quebrar a arrogância dos inimigos. Mas haverá um quebrantamento planetário, digamos assim, sobre toda a matéria, contudo, esse demorará ainda um bom tempo para ocorrer, talvez nem devamos nos preocupar com ele. A nós importa mais um andar humilde hoje, para não termos surpresas depois. 
      Vigiemos, arrogância, mesmo a mais discreta e não verbalizada, é porta para outros males, discussões inúteis, ira, que nos conduzem para o modo inverso ao do servo amoroso. Vigiemos em primeiro lugar dentro de nós, em nossos pensamentos e sentimentos, não sejamos presunçosos, cobradores e condenadores. O altivo cega-se, assim não sabe por onde anda, perde direito à luz de Deus, e pode cair em armadilha sem saber. Humildade é ter os olhos espirituais sempre abertos, vendo em primeiro lugar Deus, o Altíssimo, depois a si mesmo como um igual aos outros, não como superior. 

07/06/23

Quando iguais se encontram

      “A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira. A língua dos sábios adorna a sabedoria, mas a boca dos tolos derrama a estultícia. Os olhos do Senhor estão em todo lugar, contemplando os maus e os bons.Provérbios 15.1-3

      Muitas tragédias ocorrem no mundo porque duas pessoas com as mesmas características se confrontam. No trânsito, quando dois alterados, por álcool ou por algum estresse, se aproximam para lutarem por seus interesses, cada um vendo só seu lado e não o do outro, algo terrível pode ocorrer, desde brigas, às vezes com uso de armas, até acidentes fatais. Diz o ditado, “quando um não quer, dois não brigam”, mas quando dois querem, mesmo que ambos tenham certo nível de razão, grande violência, atingindo inocentes que nada têm a ver com o assunto, pode acontecer. Direitos, vivemos um momento no mundo onde todo mundo tem mais direitos que obrigações, principalmente por muitos se acharem com justos direitos. 
      Ser real conhecedor de Deus e obediente à sua vontade é quebrar o loop do mal, praticar o antagonismo evangélico, dar sem receber, se num confronto um agir assim, o mal exterior é evitado, ainda que o interior, dentro de quem quis exteriorizá-lo, dependa desse para ser anulado de vez. Muitos seguem, sem arrependerem-se, sem perdoarem, achando-se mais dignos de cobranças, porque se acham melhores por algum motivo. Muitos ricos se consideram melhores só por terem mais dinheiro e bens, muitos intelectuais, ainda que de forma mais polida, também possuem essa arrogância. Mas cristãos, e de uma forma ainda mais velada, podem se achar com mais direitos por acharem que seguem a Deus mais de perto. 
      Somos iguais a quem, aos humildes e pacificadores, ou aos briguentos, sempre cheios de razão, sempre com mais direitos, ainda que por nos sentirmos mais vítimas? Devemos procurar ser iguais ao Cristo homem, agirmos e reagirmos como ele agia e reagia, Jesus anulava o mal, ainda que lançado sobre ele não o tomava para si, não lhe dava acolhida. Mas mais que como exemplo de como temos que viver neste mundo para quebrarmos loops pessoais, Jesus quebrou um loop coletivo quando morreu, por isso recebeu de Deus o direito a uma posição espiritual exclusiva, que permite à humanidade ter perdão e paz com Deus. Cada vez que agimos ou reagimos nos perguntemos: com quem nos parecemos? Jesus faria assim? 
      O mundo está estranho, muitos com a violência à flor da pele, e existem motivos para isso, instabilidade geral, principalmente para se ganhar o pão de cada dia. Devemos tomar muito cuidado, ainda que numa discussão no trânsito o máximo que podemos fazer é reagir verbalmente, mesmo sem usar palavrões, muitos só precisam de um disparo emocional para dispararem armas e machucarem alguém. Precisamos perseverar para que a luz prevaleça sobre as trevas, e neste mundo, ainda que Deus esteja em todo lugar e sempre, sua luz só brilha quando é refletida nos filhos da luz e toca os filhos das trevas. A responsabilidade é do filho da luz, não do filho das trevas, de ser pacificador, paciente, controlado e misericordioso. 

06/06/23

Onde, quando e para quem

      “Também os teus testemunhos são o meu prazer e os meus conselheiros.Salmos 119.24
      “Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério.II Timóteo 4.15

      Todos nós temos missões a desempenhar neste mundo, em maior ou menor instância nas três áreas principais de nossas vidas, afetiva, profissional e ministerial. Na área afetiva resolvemos necessidades sociais e nos associamos mais proximamente a outros indivíduos estabelecendo famílias. Na área profissional exercemos habilidades físicas e talentos intelectuais e artísticos para trocarmos trabalho por bens para sobrevivência material neste mundo. Na área ministerial interagimos com religiões, praticando o que aprendemos nos lugares onde escolhemos vivenciar espiritualidade. 
      Fazer aquilo que Deus tem para nós nessas áreas é o que pode nos fazer felizes, essa felicidade é o que dá forças para vivermos neste mundo, dá sentido, uma luz para olharmos e continuarmos vivos e ativos. Quem busca com todo o coração verá que o que faz em Deus dá prazer, não faz mal aos outros e ajuda as pessoas de uma maneira exclusiva, cada um de nós tem algo único para contribuir com o bem geral. Contudo, mesmo com consciência disso, precisamos saber onde fazer, quando fazer e com quem fazer, caso contrário mesmo um bem certo pode ser instrumento equivocado do mal. 
      Morremos por dentro quando não desempenhamos nossas missões, e muitos são presas de depressões e consequentes vícios, usados para obter prazer como fuga de tristezas, porque fogem de suas verdadeiras missões. Se não soubermos onde, quando e com quem fazer, poderemos não achar oportunidades para sermos úteis, não porque elas não existam, mas porque nós não tivemos paciência, persistência e sabedoria para saber onde, quando e com quem fazer. Esta reflexão é uma palavra de consolo: você pode ser feliz sendo você em Deus, só tem que saber onde, quando e com quem ser. 
      Ainda que tenhamos coisas formidáveis a serem ditas, não devemos falar às pessoas erradas, que não estão preparadas para ouvir o que temos a dizer. Ainda que façamos coisas singulares não devemos fazer em qualquer lugar, não é em todo lugar que o que fazemos de melhor é relevante. Ainda que saibamos onde e para quem compartilhar nosso melhor, devemos saber quando fazer, o momento certo é aquele em que Deus preparou as pessoas e as condições certas para que sejamos úteis em nossa máxima eficiência. Só querer não torna algo legítimo, é preciso saber onde, quando e com quem. 
      Há gente falando em bares com a cabeça entorpecida de álcool e tabaco o que deveria estar falando com a alma limpa em templos, são pastores fujões de suas chamadas. Há gente gritando em púlpitos o que deveria falar entre amigos em mesas de bar, são mulheres e homens carismáticos, mas sem chamadas ministeriais, e aqui não estou fazendo juízo de valor, seja com templos ou com bares, cada um tem seu momento. A verdade é que nossas missões são mais fortes que nós, se não as desempenhamos adequadamente seremos vistos como tolos inoportunos, sem noção e infelizes. 

05/06/23

Sem medo, rancor e culpa, quem somos?

      “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida. Desvia de ti a falsidade da boca, e afasta de ti a perversidade dos lábios. Os teus olhos olhem para a frente, e as tuas pálpebras olhem direto diante de ti. Pondera a vereda de teus pés, e todos os teus caminhos sejam bem ordenados! Não declines nem para a direita nem para a esquerda; retira o teu pé do mal.Provérbios 4.23-27

      Se for retirado de nós o espaço ocupado por medos, rancores e culpas, o que é que fica? Restará menos espaço que o espaço retirado, restará mais espaço e ocupado com virtudes, ou só ficará o vazio? Posso começar esta provocação com outra pergunta: o que nos define? Luz, amor e paz, ou medos, rancores e culpas? Os que nos amam, não nossos inimigos de plantão, são os que podem dizer o que demonstramos ser. 
      Muitas vezes lutamos tanto por virtudes morais, passamos tanto tempo dedicados às nossas guerras interiores, que não olhamos no espelho e aceitamos o que na prática somos na maior parte do tempo. Somos uma coisa, podemos parecer ser outra coisa, os outros podem nos ver de outro jeito, eis três pontos de vista, mas tem um quarto, o de Deus. Só Deus vê nosso coração, só ele sabe quem realmente somos. 
      Quem está sempre de cara fechada pode parecer sempre descontente, quem reclama demais parecerá um eterno insatisfeito, quem fala demais em doença pode parecer sempre à beira da morte, quem chora o tempo todo pode parecer sempre infeliz. Mas reações externas de fato demonstram o que somos por dentro? Nem sempre, podem ser só mecanismos de defesa, ou então, sintomas de carência querendo atenção. 
      O ideal é haver coerência entre nosso mundo interior e como o compartilhamos com o mundo exterior, isso podemos conseguir só com o tempo, quando amadurecemos. Infelizmente muitas vezes o que nos define na sociedade é só medo, rancor e culpa, se tirar isso de nós, nada somos. Muitas vezes achamos lugar na dor, para mantê-la seguramos coisas ruins, que nos dão uma identidade para chamarmos de nossa.
      Para curar o medo, se perdoe e prossiga para a luz. Para curar o rancor, perdoe os outros e siga em amor. Para curar a culpa, aposse-se do perdão de Deus e fique em paz. Muitas vezes nossos rostos não são os mais abertos, nosso sorriso é contido, para dentro, a vida nos deixou marcas, carregamos a noite mais forte que o dia em nós, mas quem olhar nossos olhos verá, lá no fundo, nosso coração, esse está iluminado. 
      Se nosso coração estiver amolecido por lágrimas de verdadeiro arrependimento, a culpa dará lugar à paz que tem aquele que tem certeza que Deus se agrada de sua vida e está feliz com o que ele se tornou. Se nosso coração estiver confiando em Deus, e só nele, o medo não nos vencerá. Se nosso coração tiver encontrado o verdadeiro amor de Deus, não haverá espaço para nenhum rancor, só para o mais puro amor. 

04/06/23

Voltemos às primeiras obras

      “Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres.Apocalipse 2.5

      Há quanto tempo não nos arrependemos? Há quanto tempo não pedimos perdão a alguém? Há quanto tempo não nos humilhamos? Ainda que arrependimentos e perdões sejam as portas do evangelho, muitos estão há algum tempo como cristãos, e muitos assíduos em cultos, sem terem experiência emocional forte de arrependimento e sem sentirem necessidade de pedirem perdão a outras pessoas. Não é que muitos cristãos estejam insensíveis ao pecado, não, eles admitem que erram, mas aqueles pecados gerais, como devaneios sexuais, iras, e por esses erros até pedem perdão a Deus. Contudo, se acomodaram em ser o que conseguiram ser num momento de suas vidas, isso bastou para eles. 
      Podemos nos acomodar de maneiras diferentes, uma delas é para nos adaptarmos à sobrevivência no mundo. O mundo é duro e injusto, implacável em suas exigências, temos que nos adaptar ou perecemos. Acordarmos todo dia e termos que enfrentar um período longo de trabalho, muitas vezes fazendo algo que não gostamos e não queremos, machuca principalmente nosso emocional. Muitos até fizeram boas faculdades, mas por não terem sabido escolher, por pressa ou para agradarem os pais, acabaram em profissão, às vezes até rentável, mas que lhes faz profundamente infelizes. A esses um conselho, essa situação pode ser revertida, com alguma força de vontade e fé em Deus. 
      Não vou enganar ninguém, chega um momento que não temos mais volta na área profissional, mas nos dias atuais fazer cursos, mesmo à distância, outras faculdades e formações, é algo muito mais fácil que era antigamente. Não entreguemos os pontos, nos informemos, na internet acha-se fácil opções de atualização profissional em várias áreas, não tenhamos medo de recomeçar, mesmo do início, e se o emprego atual não pode ser deixado, cursos noturnos, que com certeza exigirão mais esforço, podem ser feitos. Tive várias viradas em minha vida, várias profissões, mas me arrependo de não ter feito outras faculdades, mudando de exatas para humanas, para poder exercer algo que me deixasse mais feliz. 
      Entretanto, a pior acomodação é a moral, essa pode prejudicar não só a área profissional, mas também a afetiva e a ministerial em igrejas. Nos acomodarmos moralmente é assumirmos certos pecados como normais na vida, não nos arrependendo mais deles, resolvendo que eles não podem ser mudados. Nessa acomodação podemos usar artifícios para termos alguma paz interior, um deles é jogar a culpa nos outros. Como existem pessoas amargas, que por seguirem sofrendo se acham no direito de exigir dos outros também sofrimentos. Sempre encontram motivos para não se arrependerem, para terem razão, adquiriram grossas cascas, que protegem aquilo que de fato são e que fica escondido.
      Revelar as próprias verdades é extremamente dolorido para algumas pessoas, como não se arrependem, também não pedem perdão e não perdoam, isso só cria novas e duras cascas. Rancorosos e empedernidos acham pares em outros seres amargos, se consideram sinceramente superiores a muitos, que chamam de fracos, machucam a si mesmos e também machucam os outros, não param para refletir a respeito. Que lugar tem o Espírito Santo em vidas assim? Muito pequeno, a voz de Deus é sufocada pelo ego, assim, ainda que em igrejas e com conhecimento bíblico, criam outras religiões para elas, usando moralidade cristã, mas para cobrar os outros, não a si mesmos, já se acham fazendo bem suficiente. 
      Se chegamos num ponto onde o errado é sempre o outro, onde a obrigação de pedir perdão é sempre do outro, onde sempre achamos justificativas para sermos quem somos e fazermos o que fazemos, não achando mais que erramos, não seriamente o bastante para termos que nos arrepender e pedir perdão, podemos estar num ponto sem volta. Deus sempre, sempre respeita nossos limites, e mesmo os duros ele usa, principalmente para abençoar na área material os fracos. A missão de muitos neste mundo é ser duro, não os julguemos, mas se somos humildes, arrependamo-nos, não nos cansemos de perdoar e de pedir perdão, aproveitemos bem o tempo aqui, fiéis às nossas vocações.

03/06/23

Sabedoria no tempo certo

      “A Sabedoria grita nas ruas; nas praças, levanta a sua voz. Do alto das muralhas clama, à entrada dos portões e nas cidades profere as suas palavras: 
      “Até quando vocês, ingênuos, amarão a ingenuidade? E vocês, zombadores, até quando terão prazer na zombaria? E vocês, tolos, até quando odiarão o conhecimento? Deem ouvidos à minha repreensão; eis que derramarei o meu espírito sobre vocês e lhes darei a conhecer as minhas palavras. 
      Mas porque clamei, e vocês se recusaram a ouvir; porque estendi a minha mão, e não houve quem atendesse; — pelo contrário, rejeitaram todo o meu conselho e não quiseram a minha repreensão — também eu darei risada da desgraça de vocês; ficarei zombando quando chegar o terror, quando o terror chegar como a tormenta, quando a calamidade chegar como o redemoinho, quando lhes sobrevierem o aperto e a angústia.”” 
Provérbios 1.20-27

      Se você tem algo a dizer, qualquer coisa, diga, nada há de errado nisso, mas diga no melhor momento e para as pessoas certas. Todos nós temos algo de importante para dizer e ajudar alguém, todos temos porções de sabedoria da vida, sopradas em nossos ouvidos pelo Espírito Santo. Podemos ser mais estudados, mais cultos, mais articulados, e muitas vezes em temas que os mais importantes e poderosos do mundo acham mais relevantes, mas ninguém se considere mais legítimo para ajudar alguém, com mais prioridade para ser ouvido. É importante, contudo, que aceitemos humildemente o grau de importância do que temos a dizer.
      Ainda que para o Altíssimo ciência e religião, saber e crer, tenham valores igualmente úteis, a sabedoria que conduz a valores morais, à santidade genuína, ao amor paciente e à profunda verdade espiritual, pode fazer um bem muito mais alto, mesmo a uma pessoa mais bem informada e através da boca de alguém com nenhuma formação acadêmica. A utilidade da ciência acaba na morte, já experiências com Deus leva-nos a usarmos a ciência para vivermos bem aqui e tratarmos bem as pessoas e ao planeta, mas também nos preparam para a melhor eternidade com Deus. Ateus, não se enganem, a sabedoria maior está em Deus. 
      É certo que existe um tipo de pessoa que paga para ficar quieto, são naturalmente tímidas, mas não se enganem sobre essas, também têm muito a dizer, apreciam serem ouvidas, só são mais cautelosas. Mas se na cautela exagerada pode haver covardia, na coragem irresponsável pode haver estupidez. As pessoas do tipo que não tem receio de expressar o que sentem, a qualquer hora e lugar, e para qualquer um, cuidado. Nossas palavras são úteis quando são construtivas, encharcadas em amor, mas principalmente quando ditas no tempo e para o público certo. Sabedoria implica diretamente em amor que sabe aguardar o tempo. 
      Há sabedoria no tempo, não só no argumento. Quando aprendemos a amar as pessoas, entendemos que muitas vezes temos que esperar por anos, até que elas estejam preparadas pela vida e por Deus, para ouvirem um conselho que temos certeza que pode livrá-las de dores. Muitos terão que sofrer, enquanto sabemos que o que temos a dizer a eles pode livra-los do sofrimento, até que aceitem o sábio conselho e mudem de vida. Nós, enquanto isso, devemos amar, orar e calar, palavra dita no tempo errado, mesmo a certa, se torna errada, e pode vulgarizar uma chance exclusiva que alguém tem para mudar de vida. 
      Vivemos um tempo onde a sabedoria da Bíblia tem sido vulgarizada, maravilhosos textos bíblicos têm sido usados de qualquer maneira, por qualquer um e para qualquer fim. O versículo João 8.32 é uma prova disso, isso é algo que deveria entristecer bastante os que amam verdadeiramente a palavra de Deus. O texto bíblico inicial não fala de uma pessoa, de um sábio, de um falador, mas da própria sabedoria. Quem a diz? Meus queridos, Deus sempre levanta alguém, nas vidas de todos nós, para nos exortar de maneira sábia, para chamar nossa atenção para uma correção de percurso, para fazermos uma escolha de mais qualidade. 
      O texto bíblico acima exorta alguns tipos especiais de pessoas, ingênuo, zombador e tolo. Uns se fazem de ignorantes, argumentam que não foram avisados, outros se fazem de cínicos, zombam dos avisos, e outros simplesmente são tolos, agem com irreverência diante dos alertas. Ninguém será tido por inocente quando o momento do juízo chegar, e ateus e materialistas, não se enganem, o momento seguinte às suas mortes neste mundo será de confronto com a luz daquele que administra, distribui e a todos dá oportunidades justas para conhecerem os caminhos mais sábios, que levam às prioridades mais altas. 
      O alerta é seríssimo, porque clamei e vocês se recusaram a ouvir, rejeitaram todo o meu conselho, darei risada da desgraça de vocês, quando lhes sobrevierem o aperto e a angústia. De maneira nenhuma pensemos que essa é a atitude de Deus, o Senhor não zomba de ninguém em nenhuma hipótese, quem faz esse trabalho são outros que também não deram ouvidos à sabedoria, homens maus e espíritos malignos. Quando não somos sábios, e o caminho da sabedoria começa na humildade e na fé, Deus pode permitir algo muito grave, para que acordemos, algo vergonhoso e humilhante, diante de homens e do mundo espiritual. 
      Quanto a você, que tem algo a dizer, seguem conselhos de um prolixo assumido. Espaços virtuais como o “Como o ar que respiro” podem ser instrumentos bem úteis nas mãos do Espírito Santo, nossas reflexões ficam anotadas na internet, a ninguém perturbamos, e se Deus quiser poderá usá-las para ajudar alguém. Por outro lado, com alguns, que Deus já nos mostrou que estão andando errado e persistindo nisso, sejamos pacientes, oremos por eles, vigiando para não nos apressarmos em falar o que Deus nos revelou. Se muitos são tratados para estarem preparados para ouvir, outros são para esperarem o melhor momento de falar.