20/01/24

Cuidado com os “amigos de Jó”

      “Ainda assim, agora mesmo, diz o Senhor: "Convertam-se a mim de todo o coração; com jejuns, com choro e com pranto. Rasguem o coração, e não as suas roupas." Convertam-se ao Senhor, seu Deus, porque ele é bondoso e compassivo, tardio em irar-se e grande em misericórdia, e muda de ideia quanto ao mal que havia anunciado.Joel 2.12-13

      “Eliú disse ainda: "Você acha que é justo dizer: ‘A minha justiça é maior do que a de Deus’? Porque você diz: ‘De que me serviria ela? Que proveito tenho, se eu não pecar?’ Eu darei a resposta a você e aos seus amigos também. Olhe para o céu e veja; contemple as altas nuvens acima de você." "Se você peca, que mal causa a Deus? Se as suas transgressões se multiplicam, que prejuízo isso poderia trazer a ele? Se você é justo, o que está dando a ele ou o que ele recebe da sua mão? A sua impiedade só pode fazer mal ao homem; e a sua justiça só pode dar proveito ao filho do homem."Jó 35.1-8

      Temos que ter certo cuidado ao ler o livro de Jó, boa parte dele são discursos de amigos que tratam a causa de Jó incorretamente. Eu sou seletivo para usar textos de Jó como palavra bíblica inicial aqui, podem não ser bem entendidos. Esse livro, que é um dos mais importantes e atemporais textos da Bíblia, possivelmente relatando, pelas mãos de Moisés, a história de um dos personagens mais antigos do cânone, talvez contemporâneo ou anterior a Abraão, deve ser lido por inteiro para compreendermos sua lição principal. As palavras dos amigos de Jó, ainda que citando Deus e entendimentos sobre o caráter e ações de Deus, não possuem um viés correto, mas isso fazia parte da provação de Jó autorizada pelo próprio Deus. 
      Algo que nos prova muito como cristãos é sermos atacados com a própria Bíblia, Jesus foi tentado assim por Satanás. Se não tivermos confiança maior em Deus poderemos nos perder da fé, principalmente se já estivermos em situação extrema de perdas materiais e afetivas como estava Jó. Jó não perdeu o temor a Deus quando lhe foram tirados bens e afetos, mas seus falsos amigos queriam tirar-lhe isso. No texto acima, Eliú parece defender Deus e atacar Jó, pessoas assim parecem conhecer Deus e a nós, mas não aproximam os seres humanos de Deus, os afastam dele. “Amigos de Jó” são arrogantes, não abrem portas por amor, trancam portas pela hipocrisia, como se ninguém fosse digno de passar por elas, só eles.
      Não que Jó estivesse certo, tanto que o Senhor o estava tratando, mas o Deus do evangelho não fala pelas vozes de falsos religiosos, essas só têm um propósito, fazer-nos desistir da fé. São vozes perigosas pois não negam Deus, nem muitas de suas virtudes, mas negam a iniciativa constante e eterna de amor do Senhor. “Deus é bom, mas se você errar não terá mais direito à sua bênção”, assim fala um “amigo de Jó”, que pode tanto ser humano como espírito. Isso não é verdade! Ao humilde, Deus acha, ainda que discipline e lhe permita privações, sempre dá consolo e esperança para que aguarde o tempo de honra com dignidade. Jó aprendeu mais sobre Deus e sobre si no final, após suportar sua prova e não dar ouvidos a falsos amigos.

19/01/24

Santidade, arma de Deus

      “Sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Alimpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai os corações. Senti as vossas misérias, e lamentai e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo em tristeza.Tiago 4.7-9

      Quando oramos a Deus, precisando e pedindo dele uma ação ativa e mais combativa, contra algum perigo ou algum mal que tememos e que pode estar atacando nossas vidas, podemos ter a percepção mental e emocional que Deus vence atacando e usando, ainda que espirituais, armas, que ferem e matam. Sim, podemos ter esse entendimento, afinal somos imperfeitos e Deus em seu amor perfeito nos atende ainda assim, mas na verdade, espiritualmente não é bem isso que acontece. A arma que Deus usa no plano espiritual é sua santidade, quando pedimos sua proteção ele emana sobre nós sua luz, essa é uma expansão do caráter perfeitamente santo do Altíssimo, cercados por essa luz estamos protegidos do mal. 
      Isso ocorre porque o mal é a negação da santidade do Senhor na qual reside todo o bem, bem e mal não podem ocupar o mesmo “espaço”, no mal há trevas porque não há o melhor de Deus, luz e trevas são mutuamente exclusivas. Dessa forma Deus não destrói os seres que estão fazendo o mal, mas os expulsa de um lugar para outro, Deus nunca destrói nenhum ser, mas pode reprimir suas ações. Podemos dizer que ele aniquila o mal, as trevas, de um determinado lugar, o lugar onde estão aqueles que confiam nele e clamam a ele por proteção e paz, começando pelo interior desses. Nós também temos essa arma, santos somos fortes e intocáveis pelo mal, as trevas fogem de nós pois não acham dentro de nós simpatia e aprovação. 
      Duas potências divinas movem o universo, o amor atrai os humildes, a santidade repele os arrogantes. Nisso se cria dois espaços, luz e trevas, ou céu e inferno, nisso somos vencedores por Cristo em Deus, ou derrotados pela ação santa e amorosa do Espírito Santo, dos anjos e de outos seres espirituais de luz do Altíssimo. Infelizmente muitos, mal educados pelo catolicismo, têm uma ideia errada de santidade, mais aparente que interior, mais para ser exibida aos homens que para nos aproximar de Deus. Por isso, para muitos, santidade lembra mais morte que vida, contemplação que trabalho. Libertemo-nos de preconceitos e tradições, e provemos o poder da santidade de Deus, só nela há iluminação, liberdade e vitória.

18/01/24

Paz apesar de nós

      “Cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé, tendo os corações purificados da má consciência, e o corpo lavado com água limpa, retenhamos firmes a confissão da nossa esperança; porque fiel é o que prometeu.Hebreus 10.22-23

      Já refleti sobre alguns aspectos deste tema, mas sinto que há mais a dizer. Nossa conversão ao evangelho não nos transforma instantaneamente, Deus não muda nossa essência num passe de mágica. O novo nascimento em Cristo, que o evangelho cita, ou a conversão, que protestantes valorizam ainda mais que católicos, e até que pentecostais, é um momento no tempo onde adquirimos uma nova consciência, principalmente porque pode ser o instante em que nos abrimos para o Espírito Santo. Assim, sentimos a seriedade de nossa condição de pecador longe de Deus, entendemos a exclusividade e a eficiência do perdão por Jesus, e com efeito experimentamos uma paz diferente de tudo que havíamos sentido até então.  
      Essa experiência não é definitiva, mas só a inauguração de um novo estado de consciência, que só pode ser mantido com trabalho, não só pela fé que inaugurou essa condição. A vivência com Deus é uma experiência espiritual gradativa, que sempre pedirá de nós fé, mas o que transforma moralmente nossa vida objetiva no mundo e entre os homens são perseverantes obras. O ponto que gostaria de enfatizar nesta reflexão tem a ver, não com ações, com sentimentos, é não entendendo isso que muitos desanimam e até desistem de serem amigos de Deus. Isso tem a ver com nossa missão principal neste mundo, com a prova mais difícil e mais importante que temos que vencer para termos direito a uma eternidade em paz.
      Ainda que nos arrependamos muitas vezes e depois consigamos viver por um bom tempo sem cometer os pecados mais graves do início de nossas jornadas, a sombra de todo o mal que fizemos, e mesmo de alguns males até piores que nunca fizemos, mas que sabemos que podemos fazer, essa sombra nos atormentará e até o fim de nossas vidas. Nos enganamos quando achamos que podemos nos livrar de certas dores, mas o desafio que Deus nos faz, é retermos paz, humildade e amor apesar disso. O próprio Deus não pode nos libertar dessa sombra, se o fizesse não conseguiríamos ser aprovados na prova que nos permite passar e que só acabará quando morrermos neste mundo, assim devemos perseverar até o final.

17/01/24

Aos justos nasce luz nas trevas

      “Aos justos nasce luz nas trevas; ele é piedoso, misericordioso e justo. O homem bom se compadece, e empresta; disporá as suas coisas com juízo; porque nunca será abalado; o justo estará em memória eterna. Não temerá maus rumores; o seu coração está firme, confiando no Senhor.” Salmos 112.4-7 

      Uma coisa é viver o tempo todo em trevas, outra coisa é passar por momentos de trevas. Mesmo o que vive em trevas experimenta momentos de luz, Deus ama a todos e a todos atrai a si. Mas o que persiste em viver na luz pode vivenciar momentos de trevas, e para esse as trevas podem parecer mais medonhas, visto ele não estar acostumado, pelo menos não mais, com elas. Trevas é falta de visão, portanto confusão e perdição, quem está nelas não sabe quem é, quem os outros são, de onde veio, onde está e para onde vai. Não significa que muitos que andam em trevas estejam experimentando vidas derrotadas, presas a vícios e sem objetivos, ao contrário, muitos desses têm até mais propósitos e prosperidade que os que estão na luz. 
      Trevas são mantidas no espírito, dominando a essência do ser humano, depois afeta sua moralidade, externando em suas associações afetivas e por último em seus negócios materiais. Em trevas não sabemos de onde viemos, portanto não assumimos erros passados, não sabemos onde estamos, o que nos faz dominadores ou dominados, não sabemos para onde vamos, confiamos e batalhamos por ilusões. Por causa de tudo isso não nos conhecemos, assim como não avaliamos os outros com verdade nem gostamos deles com sensatez. Trevas é fuga de Deus, no qual há toda a luz, é inferno interior, impede-nos de sermos humildes, pacificadores e amorosos. Trevas é morte, ainda que estejamos gozando honras e prazeres neste mundo. 
      Filhos da luz também experimentam momentos de trevas, e quando isso ocorre devemos ser crentes e rápidos, para não sermos presas do mal (I Pedro 5.8). Como essa situação confunde-nos não podemos nos fiar em nossos sentimentos, mas racionalmente aprumarmos nossa fé e fazermos uma oração de posse de vitória diante de Deus. O principal é sabermos que Deus não muda, nem suas promessas, assim se o chão parece inseguro é nosso coração que sente insegurança, não é Deus que mudou ou nos esqueceu. Fiquemos em paz, ao justo luz sempre nasce nas trevas, se formos humildes e tementes a Deus nossos olhos tornarão a se abrir, poderemos prosseguir no caminho para o Altíssimo, foi só um sonho escuro, a realidade é iluminada. 

16/01/24

Obedeça e fortaleça-se

      “Esforçai-vos, e ele fortalecerá o vosso coração, vós todos que esperais no Senhor.Salmos 31.24

      Há força na obediência a Deus, não porque os homens entendam ou aprovem o que fazemos, mas porque Deus manda e nós obedecemos. Se ele orienta, ele nos entende e nos aprova, indiferente do que os homens pensam, e isso é suficiente para estarmos em paz e felizes. Dessa forma prossigamos persistentemente em obedecer a Deus, fazendo aquilo que ele pede de nós, nesse trabalho somos fortalecidos, consolados e supridos. O que Deus pede de nós é tão honrado e digno quanto o que ele pede de qualquer outro ser, ainda que muitos não compreendam, aceitem isso e façam coisas diferentes, assim nos sintamos satisfeitos, não por estarmos fazendo algo, mas por estarmos fazendo o que Deus pede de nós.
      Obedecer é exercitar força da vontade, muitas vezes contra muitos obstáculos, incluindo uma tristeza inerente em todo ser humano, que se descontrolada conduz à depressão e outras enfermidades. É certo que algumas vezes temos que ter mais força de vontade para cessar uma atividade que para desempenha-la, mas quando temos que fazer uma coisa ou outra só descobrimos buscando a Deus com todo o coração, senão poderemos nos enganar e aos outros dizendo que somos esforçados quando só somos rebeldes. A rebeldia conduz a enfermidades mais que a ociosidade, já que uma ultrapassa limites e a outra deve ser ultrapassada para que conquistemos nossos limites. Força de vontade é perseverar principalmente na busca a Deus. 
      O mal trabalha nos extremos, pode destruir levando a fazer demais, como amarrar conduzindo a fazer menos. Muitas vezes paralizações emocionais se instalam porque estamos exaustos por estarmos represando negativismo e incredulidade em nós, estamos fazendo e muito, mas a coisa errada. A palavra de Deus sempre é de paz, luz e amor, se há pecado ela entrega perdão, se há porta fechada, descortina o impossível para nós, mostrando que Deus pode abrir outra porta. Recebe essa palavra quem crê em Deus mais que em si, nos homens e no que vê. Insista em buscar a Deus, em abençoar quem te persegue, em clamar por uma vida material e afetiva digna, e em confiar que o Senhor tem sempre o melhor para você. 

15/01/24

Os fracos movem a humanidade

      “Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte.II Coríntios 12.10

      Muitos criticam o sistema de inclusão no ensino, muitos defendem a meritocracia, muitos celebram os vitoriosos e saudáveis, mas menosprezam perdedores e doentes. A verdade é que na sociedade atual a regra é vencer quem teve mais condições para isso, em se tratando de vida material, condições estão relacionadas com vida profissional, essa a bons estudos e esses a meios de pagá-los. Conclusão: vencedores ainda são, com maior probabilidade, os mais ricos. Mas serão esses também os mais evoluídos espiritualmente? O mundo, seu desenvolvimento científico e suas revoluções sociais, não são movidos pela glória dos fortes, mas pela necessidade de respeito com os fracos, se não amamos, não evoluímos, ainda que ricos materialmente.
      Se chegássemos num ponto, aqui no plano material, onde não houvesse mais diferenças, pobreza, doenças, falta de alimentação, de natureza para haver uma vida sadia no planeta, o ser humano pararia de se desenvolver, viveria só para gozar prazeres, então, a estética moral e espiritual seria relegada de vez. O ser humano não está preparado para uma vida perfeita neste mundo, simplesmente porque não está preparado para ter uma vida iluminada no outro, por enquanto temos que evoluir em direção a Deus, e o que move essa evolução são nossas fraquezas. Essa evolução muitas vezes é levada à frente pelo esforço dos próprios fragilizados, não dos fortes. Negar os fracos, ao invés de fortalecê-los, é negar a principal razão de existir. 
      A escravidão de africanos foi mão de obra que desenvolveu a economia de muitos países, oprimindo seres humanos, mas mais que evolução econômica, é o clamor por igualdade e direitos de descendentes de africanos que gera evolução social. A diabólica eugenia nazista, levada por Hitler na Alemanha, pretendia “purificar” o povo alemão achando que isso era evoluir. Mas antes dos judeus, tentaram exterminar ciganos e outros, tentaram exterminar até doentes mentais e deficientes, achando que “fracos prejudicavam a sociedade”. Só há crescimento no amor, o melhor amor é praticado com diferentes e necessitados, se não houver fraqueza a ser superada e em Deus, não haverá necessidade de respeito e o ser humano não será incentivado a amar. 

14/01/24

Coragem para aprender e ensinar

      “O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados do coração, a pregar liberdade aos cativos, e restauração da vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor.Lucas 4.18-19

      É preciso coragem para enfrentar as consequências das escolhas erradas que fizemos. Coragem e humildade, afinal muitas vezes construímos toda uma vida sobre escolhas ruins, inventamos desculpas para termos feito o que fizemos, não admitimos para ninguém que erramos, pois não admitimos para nós mesmos. Deus sempre nos chama à luz, mas ele também sempre respeita nossa vontade, e nós podemos construir fortes muralhas mentais que nos protegem da verdade e nos mantêm na mentira. A verdade pode nos colocar numa fragilidade que não queremos enfrentar, porque equivocadamente achamos que temos que enfrentar sozinhos, sem Deus. Desistimos de Deus e achamos que ele também desistiu de nós. 
      Mas sábio é o que acha a tempo coragem para enfrentar no presente o que podem ser causas erradas, assim evitando efeitos ruins no futuro. Só na luz de Deus temos essa clareza, mas só ficamos nessa luz com humildade. O tempo sempre tenta nos ensinar, e o humilde ainda que tenha feito escolhas ruins, aprende com os frutos dessas e passa a andar com cuidado, escolhendo certo. Contudo, ter coragem para enfrentar escolhas erradas é ter amor e humildade também para ajudar os outros, primeiro nossos cônjuges e filhos, e depois parentes próximos e amigos. Ainda que tenhamos que respeitar o tempo das pessoas, temos que ter coragem para lutar por elas, isso é mais que agradar a Deus andando na luz, é conduzir os outros à luz. 
      Todos temos uma chamada, indiferente de nossas profissões seculares e de nossos ministérios em igrejas, a chamada de professor, o verdadeiro mestre o é dando exemplo em obras, não só em palavras. O verdadeiro mestre aprendeu com os próprios erros, assim deseja evitar que os que ama cometam os mesmos erros e colham frutos ruins. Se não ensinamos por amor e em humildade não somos mestres, somos só hipócritas tentando prevalecer sobre os outros por vaidade e insegurança, muitas vezes falando aos outros, mas tentando convencer a nós mesmos sobre algo que não vivemos. Que não sejamos corajosos para a crítica e para a arrogância, e negligentes para escolhermos certo e ajudar os outros a fazerem o mesmo.