Afasta de mim a inveja

      “Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de sabedoria. Mas, se tendes amarga inveja, e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade. Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica. Porque onde há inveja e espírito faccioso aí há perturbação e toda a obra perversa.” Tiago 3.13-16

      Como a vingança, muitas vezes sutil e disfarçada, inveja também pode habitar os quartos do fundo do nosso coração. Se inveja está sob controle pode ser admiração, valorizamos a qualidade de alguém, gostaríamos de tê-la, mas não queremos rouba-la de alguém ou então desejar mal a quem a tem, podemos chamar isso de “boa inveja”. Contudo, se perde o controle pode se transformar em ódio, não aceitamos que alguém tem algo que não temos, assim tentamos inferiorizar o invejado, ao invés de admirar algo que ele tem tentamos tirar a legitimidade disso. Inveja ruim é admiração não assumida, e não é assumida por causa de orgulho, mas se formos humildes daremos honra a quem honra merece e aprenderemos com o honrado.

      Eis aí o mistério, geralmente quem invejamos tem algo que precisamos ser ou ter, assim temos que aprender com ele, não tentar destruí-lo. Mas isso não é fácil, isso exige assumirmos que não somos e temos tudo que alguém pode ser ou ter. Isso exige admitirmos que há pessoas em posições superiores às nossas, mas isso não significa que esse nivelamento será para sempre. Podemos ser e ter se aprendermos a ser e ter, assim evoluirmos, mas só aprendemos sendo ensinados. Mas se não damos legitimidade ao professor, como aprenderemos? Professor não se inveja, se acata, todos que se tornaram professores legítimos um dia foram alunos dedicados, que aprenderam e mudaram. Aprenda, não inveje, o humilde sempre pode ser melhor. 

Afasta de mim a vingança

      “O Senhor Deus, a quem a vingança pertence, ó Deus, a quem a vingança pertence, mostra-te resplandecente. Exalta-te, tu, que és juiz da terra; dá a paga aos soberbos.” Salmos 94.1-2

      De muitas coisas importantes que temos que clamar a Deus, uma delas é que todo desejo de vingança seja afastado de nossos corações. Muitas vezes, depois de muito sofrermos, de muito errarmos e de muito nos acertarmos e então esperarmos em humildade a honra de Deus, ainda alimentamos, lá no fundo, bem escondido em nossas almas, um desejo de vingança contra tantos que foram injustos e cruéis conosco. Podemos esconder muito bem esse desejo, até apelidá-lo de justiça de Deus, contudo, se quisermos ser exaltados pelo Senhor só para sairmos à forra contra quem nos fez mal e não acreditou em nós, então o principal motivo para termos passado tanto tempo aguardando a honra do Senhor não entendemos. 

      Pode ser difícil de compreender isso sob a ótica do evangelho, que perdoa e abençoa inimigos, quando lemos no antigo testamento tantos textos solicitando que Deus se vingue dos inimigos dos homens. Mas o desafio maior de Deus para nossas vidas está na mensagem do novo testamento, essa nos ensina a nos livrarmos de qualquer resquício de vingança, ungindo nossos corações com o mais puro e duradouro amor. Cada um colhe o que planta, o injusto colherá injustiça, o justo não precisa desejar isso ou ser instrumento para isso. Lute com todas as tuas forças em Deus, mas não permita que haja desejo de vingança em você, isso é crescer espiritualmente, para isso somos provados, isso terá um valor precioso na eternidade. 

O bom é usado para o bem

      “Nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado por instrumentos de iniquidade; mas apresentai-vos a Deus, como vivos dentre mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça.” Romanos 6.13

      Sejamos instrumentos de Deus, mas para somar, não para subtrair, ainda que Deus dê e tire e use pessoas diferentes para isso. O mau será punido pelo mau, mas o bom abençoará a todos, Deus não usa o bom para retirar o bem. Quando não houver quem precise ser corrigido, não haverá mais instrumentos de correção, e ser corrigido nunca é agradável. Jesus, que nasceu, viveu e morreu sem pecado, precisou ser punido. Por seus erros? Não, pelos nossos. Isso era plano de Deus, necessário para que toda a humanidade fosse salva. Contudo, ainda assim, Deus usou alguém mau, ganancioso e traidor, como instrumento para tirar do Cristo a vida, foi Judas Iscariotes, ainda que esse se achasse instrumento só da própria maldade. 

      Muitos se exaltam ao verem-se usados para disciplinar o errado, mas muitas vezes o errado é punido e muda, aceita a disciplina como vontade de Deus e corrige seu percurso. Contudo, aquele que foi usado para correção, que teve um poder num determinado momento, e ninguém tem autoridade se Deus não lhe der, poderá seguir arrogante. Muitos erram e não são punidos, não no mundo, porque não querem a Deus, ainda que cometam menos erros que outros se satisfazem com a própria justiça e não autorizam o Senhor a se aproximar deles. Deus respeita isso. Outros erram, mas não são felizes com isso e buscam o Senhor, por isso Deus os trata, isso dói, então eles aprendem a lição e se põem na posição de somar, não de subtrair. 

Compensemos com Deus

      “Não te alongues de mim, pois a angústia está perto, e não há quem ajude.” Salmos 22.11

      Na vida, se não compensamos o sofrimento, os sacrifícios, os esforços, as injustiças, que ainda que não sejam reais, sentimos como sendo, se não fazemos isso do jeito melhor, fazemos do jeito errado, para vivermos com o mínimo de sanidade temos que buscar compensações. O jeito melhor é compreender a existência em Deus, isso vai além da religião, pede uma busca persistente e sincera ao verdadeiro Deus. Isso nos faz entender, e se tivermos humildade, aceitar, o porquê de certos preços, que não somos subtraídos por eles, ainda que pareça isso no mundo e diante de homens, mas adicionados moralmente, o que nos enriquece para a eternidade espiritual. Se o mundo tira, Deus dá e compensa toda aparente perda. 

      O jeito errado é todo vício, toda obsessão, toda fuga, toda mentira, todo prazer do corpo ou da mente descontrolado, portanto nos levando a quebrar alianças, a trair cônjuges, a violentar e agredir. Entenda que quando queremos compensar nos achamos no direito legítimo de fazer coisas erradas, assim, ainda que sejamos bons maridos e esposas, se depois de nos esforçarmos muito para manter um casamento funcionando, afetiva e financeiramente, vermos que nossa companheira ou companheiro não nos dá o retorno que queremos, nos pomos no direito até de trai-los. Muitos pecam e não se acham pecando, só compensando injustiça, ainda que do seu jeito, do jeito errado, não do jeito santo, amoroso e justo de Deus.

Amar é o objetivo

      “E, finalmente, sede todos de um mesmo sentimento, compassivos, amando os irmãos, entranhavelmente misericordiosos e afáveis. Não tornando mal por mal, ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo; sabendo que para isto fostes chamados, para que por herança alcanceis a bênção. Porque quem quer amar a vida, e ver os dias bons, refreie a sua língua do mal, e os seus lábios não falem engano. Aparte-se do mal, e faça o bem; busque a paz, e siga-a. Porque os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os seus ouvidos atentos às suas orações; mas o rosto do Senhor é contra os que fazem o mal.” I Pedro 3.8-12

      O objetivo com as diferenças, de pontos de vista, de escolhas, de ideologias políticas mesmo de religiões, não é um tentar convencer o outro, ou pior, um se opor com algum tipo de violência contra o outro. O objetivo de Deus permitir isso, e aceitemos, Deus permite isso no mundo, é desafiar nosso amor. É fácil amar quem é semelhante a nós, quem concorda conosco e nos apoia, mas é difícil amar quem discorda de nós. O propósito final de Deus é que haja justiça no mundo? Sim, mas isso ainda demorará bastante. Por enquanto devemos aceitar que não se administra o planeta como se administra uma comunidade religiosa, nessa há menos diferenças, no mundo há muitas, mas é o mundo que aperfeiçoa nosso amor, não a igreja.

      Apesar de bem intencionados, o erro que muitos cristãos cometem é acharem que Deus quer estabelecer seu reino no mundo. Para lutarem por esse objetivo muitos apoiam, não bons cristãos em cargos políticos, se é que isso é possível, mas quem aparecer falando mais alto que é político e cristão, mesmo que na prática nada siga o exemplo de Jesus. Desistam, deem testemunho individual, mas parem de buscar um cristianismo coletivo que possa influenciar o mundo, o reino é interior, pode estar nos corações! Igreja Católica há séculos tenta dominar o mundo com religião e só o atrasou, ela não terá sucesso pleno nisso, simplesmente porque isso não é agenda de Deus, é de homens que querem impor seus pontos de vista, não amar. 

Ouça quem pensa diferente de você

      “O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal, porque da abundância do seu coração fala a boca.” Lucas 6.45

      Não escondo minha posição sobre política, há dois pontos nela. O primeiro é que penso que cristão deve se envolver o mínimo com política, o segundo é que baseado no livre arbítrio que Deus dá a todos, e por isso existirem no mundo amigos de Deus e céticos, a política, que administra o mundo, não igrejas, deve ser laica e dar direitos iguais, naquilo que é possível, a crentes e a descrentes. Posto isso vamos ao tema desta reflexão, dialogando com quem pensa diferente de mim sobre cristianismo e política. Cito dois exemplos, o de uma pessoa que defendendo direita e conservadorismo troca ideias comigo com respeito, e outro, de alguém que leva a diferença de opinião para o lado pessoal e me vê como inimigo. 

      A questão não é pensar diferente, cada pessoa tem um jeito de ver a vida, constrói argumentos que para ela são legítimos e comprovam, pelo menos para ela, que seu ponto de vista é mais correto. Se nos dermos ao trabalho de ouvir os argumentos de quem pensa diferente de nós, veremos isso e poderemos aprender algumas coisas. Mas nem todos conseguem dialogar com respeito com quem pensa diferente, muitos levam o assunto para o lado pessoal e veem o diferente como inimigo, quando isso ocorre a teoria mais linda é invalidada. O problema não é como pensamos, acha-se pontos positivos e negativos em toda ideologia, a questão são as obras de justiça e de amor que mostram a prática das nossas teorias. 

As pessoas são complicadas

      “Melhor é o fim das coisas do que o princípio delas; melhor é o paciente de espírito do que o altivo de espírito.” Eclesiastes 7.8

      As pessoas, eu, você, todas elas, são complicadas, se não fossem, problemas que são simples (ou parecem simples) seriam resolvidos mais rapidamente. É preciso paciência em amor, e paciência em amor não só acompanha e convive com calma, mas deseja e espera a melhora, ainda que num futuro muitas vezes não tão próximo. Para ter essa paciência, sem se cansar ou desistir no meio do caminho, é preciso conexão viva com Deus, que recebe dele forças para caminhar muitas vezes numa distância educada e respeitosa de alguns, mas ainda assim de forma afetuosa e humilde, iluminando o caminho desses com oração discreta e desprovida de vaidade ou pressa. As pessoas são complicadas, aceitemos isso e sejamos pacientes. 

      Pensamos, “esse problema eu já passei e superei, fui alguém assim e não sou mais, por que essa pessoa não supera?”. Pensa se alguém tivesse exigido mudança rápida de você no passado, quando você ainda não entendia e não vivia certas coisas, adiantaria alguma coisa a exigência, a pressa? Com que olhos você teria visto o “pitaco” que alguém queria dar em tua vida? Hoje você entende porque o tempo passou e você mudou, mas assim como você precisou de tempo os outros também precisam, e o tempo de cada pessoa é diferente. Amar as pessoas apesar de suas complicações, é entender que Deus trabalha no tempo específico de cada ser, é olhar o ser humano com os olhos do pai, o mesmo olhar paciente que olha para você.