28/08/24

Tirar do outro tira de nós

      “Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso. Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; soltai, e soltar-vos-ão. Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando, vos deitarão no vosso regaço; porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo.Lucas 6.36-38

      Dizem antropólogos que uma das coisas que incentivou a evolução da humanidade, na formação de grupos sociais e na linguagem, foi a fofoca. No final do dia, depois de caçar e colher para comer, quando a humanidade ainda era extrativista e nômade, antes de se fixar em vilas e cidades, criar animais e cultivar a terra, o homem se reunia para falar da vida alheia. Ainda não havia livro para ler, rádio para escutar, TV para assistir, rede social para interagir, mas o ser já era tão humano quanto é hoje. Mudaram os meios, as ferramentas, não as necessidades e intenções. O homem sempre gostou de saber da vida alheia e critica-la, isso é um vício, se é vício é porque acha-se algum prazer ou lucro nisso, pelo menos a princípio, qual?
      Enaltecer o defeito do outro parece tornar nosso defeito menor, mas falar mal de quem tem vida mais próspera que a nossa parece-nos ainda melhor. Deslegitimar o valor do outro por ser ou ter algo a mais que nós, ameniza nossa culpa e nossa ociosidade por não ser ou ter o que o outro é ou tem. Gostamos de falar mal dos outros, principalmente dos que invejamos, eis a verdade. Não vou dizer que isso é errado, todos sabem, só vou dizer uma coisa: cada vez que divulgamos erro ou defeito de alguém adicionamos a nós o mesmo erro ou defeito. Zombar da dívida alheia aumenta a nossa dívida. Quando difamamos a reputação do outro difamamos a nossa, mas sendo misericordiosos com o outro somos misericordiosos conosco. 

27/08/24

Além de binário

      “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” João 3.16

     “E criou Deus o homem à sua imagem: à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.Gênesis 1.27

      Para a interpretação que muitos fazem de Gênesis 1.27 respondo, não! Assumo esse posicionamento em bom som, diante dos seres humanos e de Deus. Assim, os que dizem que aqueles de sexualidade não binária (homem e mulher héteros) são aberrações geradas pelo pecado, podem até se basear num texto bíblico, mas não se baseiam nos ensinos de Jesus e muito menos nos propósitos e amor de Deus. Vou além, se alguns são considerados por muitos cristãos aberrações, todos nós, de alguma maneira, somos, assim o que muitos chamam de normal é uma utopia, a normalidade real é ser anormal. Fechar sexualidade em homem e mulher héteros é ver a humanidade com olhos limitados do passado, para dizer o mínimo. 
      Se alguém nega isso não se conhece nem a Deus, diferenças existem, não só na sexualidade, mas nas áreas afetivas e intelectuais, assim somos diferenciados também por problemas, transtornos, enfermidades psiquiátricas, que uma vida de amizade com Deus ajuda a administrar em paz, mas não cura totalmente. Deus conta com nossas limitações, com nossas especificidades, para que sejamos humildes para nos aceitar e amorosos para respeitar os outros dependendo dele. Não, a visão de Gênesis que Deus só criou homem, mulher e brancos, é uma visão judaica e antiga, que na melhor das circunstâncias explica a criação mítica da nação de Israel, não da humanidade. Hoje o Espírito Santo mostra-nos mais, quem quer ver, vê.

26/08/24

Para que a carne não se glorie

      “Porque, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados. Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante ele.I Coríntios 1.26-29

      Entendamos certo o ensino do texto inicial, o propósito principal de Deus não é incentivar ignorância, pobreza, mediocridade, limitações de alguma forma, fraqueza, seja na área que for. A vontade maior de Deus é que todos sejam completos em tudo, na matéria, na intelectualidade, na afetividade, na moralidade, na espiritualidade. Mas seu propósito principal, enquanto os seres humanos experimentam suas jornadas temporárias aqui, é que entendam a prioridade da existência, nela todos precisam buscar, achar e praticar as referências espirituais de Deus para suas vidas, não as do mundo, do homem, da ciência, da carne. Nisso, infelizmente, a maioria de nós tem que ser restringida, perder para ganhar, por causa de nossa rebeldia. 
      Quem não aceita isso vê aqueles que abrem mão dos valores do plano material para anexar valores espirituais eternos a seus homens interiores, como perdedores, derrotados, mesmo ignorantes e loucos, como os religiosos judeus do primeiro século viam Jesus. Mas quem aceita as referências de Deus não deve se sentir perdedor, derrotado, ignorante ou louco, mas um pequenino que o Senhor cuida e guia. Não tem como se ter as duas coisas, não no atual nível de espiritualidade do homem, por isso os ensinos do evangelho seguem relevantes, morrer para viver, dar para receber, humilhar-se para ser honrado. A glória é antes de Deus porque ele é nosso princípio, meio e fim, existimos para viver eternamente por ele e nele. 

25/08/24

Não seja lerdo para amar

      “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.João 13.34-35

      Não demore demais para expressar amor por alguém, amanhã pode ser tarde. Podemos dizer, “é tão difícil gostar dessa pessoa, mesmo porque ela não está nem aí comigo”. Você não precisa gostar das escolhas de alguém, aprovar seu estilo de vida, pode até te faltar forças emocionais para sentir afeto. Amar, contudo, é mais que isso, é vocação dos santos, é ferramenta de Deus para abençoar os seres humanos, é o modo espiritual de se viver. Se buscarmos a Deus, com empenho e boa sinceridade, o Senhor nos dará forças para amar. Aquele que é espiritual escolherá amar, ainda que tenha dificuldades para isso, porque sabe que é o melhor a fazer, assim achará forças em Deus para amar a tempo de ser útil para alguém.
      A dificuldade que temos para amar é desvincular amor do conceito mundano, onde se ama quem se gosta e que pode retornar algum tipo de prazer, mas isso não é amor verdadeiro. O maior amor custa um preço, a Cristo custou a vida, esse amor dá trabalho e pode não retornar prazer imediato. Como sempre alerto quando falando nesse assunto, não estou aqui defendendo relação abusiva, onde uma pessoa insiste em permanecer afetivamente ligada a alguém que a trata mal, que a agride. Por outro lado, não podemos alegar não amar por ser difícil, alguns parentes, colegas de trabalho, mesmo irmãos de igreja, temos que nos esforçar e amar, para isso às vezes basta um contato telefônico perguntando como estão as coisas.

24/08/24

Segurar e largar

      “Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas.Mateus 10.16

      A vida é um alternar entre segurar e largar, como os movimentos das ondas, trazem águas à praia, depositando na areia muitos elementos, depois retornam ao mar fazendo perder os elementos na imensidão das águas. Em si nada de errado há em segurar ou em largar, são momentos diferentes e necessários para aprendermos e melhorarmos nesta vida, a sabedoria está, como sempre, no equilíbrio, nos extremos pode haver vício e cárcere. Quem a nada se prende e nunca, perde uma das melhores oportunidades que temos no mundo para evoluir, fazer e manter alianças de afeto e responsabilidade. Casamento e vínculo profissional implicam em segurarmos alianças, aprendemos muito na restrição, além de sermos protegidos dentro delas.
      No casamento aprendemos porque assumimos a obrigação de sermos fiéis em nossa intimidade com uma pessoa, isso gera virtudes em nós, virtudes que não são necessárias na liberdade promíscua de não se ter aliança com alguém. Mas restritos em aliança afetiva somos protegidos do desconhecido, conhecemos melhor com quem vivemos por mais tempo, assim somos menos surpreendidos por decepções. O mundo atual celebra a liberdade, mas quem é livre demais está preso a tudo achando que não é preso a um só. Contudo, largar também é necessário, não de quem amamos e nos ama, mas de quem não nos respeita, assim como de ilusões do mundo que nenhum valor têm na eternidade e que não levaremos daqui para lá.

23/08/24

No que mais pensamos?

      “Mas a sabedoria que do alto vem é, primeiramente pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia.Tiago 3.17

      A existência é mental, já dissemos isso aqui, vivemos muitos mais no que pensamos e sentimos que no que de fato fazemos de forma física. Ainda que não nos locomovamos, falemos, ajamos e reajamos com as pessoas, mesmo que não olhemos e ouçamos, nós pensamos, e como pensamos. Não podemos parar de pensar, mesmo quando dormimos nossa mente trabalha e sonha. Nossa relação com o plano espiritual é pela mente, indiferente do espaço e do tempo em que estamos, falamos com Deus e espíritos e os ouvimos. A existência mental nos dá a noção de como será a existência espiritual na eternidade, nosso corpo físico morrerá, mas nossa identidade mental é eterna e terá liberdade na potência e dimensões do pensamento. 
      Entretanto, como pensamos bobagens. Adiantamos na nossa cabeça coisas que ainda não existem e que muitas vezes nunca existirão, sonhamos com o que queremos ter, mas mantemos vivas por anos memórias que nos machucam ou nos acusam. Fazemos sofrer não só a nós, mas também aos outros, já que podemos criar pessoas em nossas mentes, assim julgá-las, condená-las mesmo idolatra-las ou nos apaixonar por elas, pessoas que na verdade não existem, ou pelo menos, não mais. Penso como devia ser a mente do Cristo homem, como ele interagia com seu universo mental, ainda que de fato soubesse a verdade sobre tudo, tinha uma mente leve, em paz, dava atenção só ao que valia a pena, não armazenava bobagens e morte. 

22/08/24

Aprendendo a viver certo

      “Rogamo-vos, também, irmãos, que admoesteis os desordeiros, consoleis os de pouco ânimo, sustenteis os fracos, e sejais pacientes para com todos. Vede que ninguém dê a outrem mal por mal, mas segui sempre o bem, tanto uns para com os outros, como para com todos.I Tessalonicenses 5.14-15

      Algo que aprendemos quando amadurecemos certo e no Senhor é discernir as pessoas, o que elas falam e mostram e o que de fato elas desejam e precisam. Isso não nos faz frios e displicentes, mas nos leva a ser diretos, sofrendo menos e sendo mais úteis. Algumas pessoas são cobradoras obsessivas, o são quando mais jovens e não conseguem se curar disso quando envelhecem, ao contrário, podem se achar ainda mais no direito de cobrar os outros. Todos temos carências, ninguém recebe criação familiar equilibrada, e mesmo que receba cai na tentação de cobrar dos outros mais do que dá aos outros. Ninguém está no mundo por ser perfeito, estamos por ter defeitos, o quanto antes os admitirmos e buscarmos solução para eles, melhor.
      Importante assumirmos responsabilidade por erros, fazermos nossa parte e não cobrarmos, ainda que os outros estejam em falta legítima conosco. Quando paramos de cobrar entendemos o verdadeiro equilíbrio do universo, a vitória não está em suportar a fraqueza presente do outro, mas em aceitar a fraqueza passada nossa que leva o outro a nos cobrar. A dívida é nossa, não do outro, quem vê a vida assim sempre fará mais, não menos, assim estará com crédito, não em débito. O maduro ama, no amor administra cobrança dos outros com paciência, sem tomar o problema para si. Ele discerne de forma clara a cobrança injusta de gente imatura e não se sente cobrado e acusado por ela, mas faz sua parte quando pode e segue em paz.