23/11/18

Como nascem os monstros (parte 2)

      “E Jesus, tendo ouvido isto, disse-lhes: Os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento.Marcos 2.17

      Os monstros nascem do egoísmo, de adultos físicos, mas não emocionais, que se ocupam com seu assuntos, com seus prazeres, e não se importam com os seres humanos que colocam no mundo. Os monstros nascem da indiferença de crianças fazendo crianças porque também não tiverem pais que as criassem de forma correta, e que depois acabaram tendo que criar netos. Os monstros nascem da estupidez, de quem até quer ter uma família, que trabalha e muito para mantê-la materialmente, mas que acha que comida na mesa basta, desprezando o afeto. Monstros nascem de “pais” perturbados, obsessivos, que querem controlar espaço e tempo e acham que crianças e adolescentes só atrapalham, assim os punem de maneira desproporcional por bobagens, tirando dos pequenos o direito de serem pequenos, de brincarem e serem felizes. 
      Monstros nascem na privacidade de lares, cercados pelas paredes da lei, escondidos nos quartos e consumindo ilusões, querendo achar atenção e intimidade, aliás, os monstros nascem de quem não sabe administrar intimidade, que expõe demais as suas e invadem demais as dos outros. Monstros nascem na ausência de boa cumplicidade, aquela que sabe rir de si mesmo, que deixa a vida leve, que entrega referências para os que estão crescendo, para que saibam que sempre terão um lugar para onde voltar, um lugar de amor, não necessariamente material, mas dentro das boas lembranças da alma. Monstros nascem da falta de pai e mãe, que não são necessariamente os biológicos, nem de sexos opostos, mas seres humanos, que sabem deixar pra lá a si mesmos e se sacrificam por quem veio ao mundo sem pedir.
      O que temos que entender de uma vez por todas, é que podemos, sendo filhos de monstros ou mesmo monstros em potencial, dar um fim ao processo, contudo, a grande dificuldade é que monstros, muitas vezes e até um momento de suas vidas, não sabem que são monstros, não têm consciência disso. Alguns carregam transtornos tão íntimos, principalmente os na área da sexualidade, têm tanto medo ou tanta vergonha de verbaliza-los, que desenvolvem duas personalidades, uma que convive com a sociedade para sobreviver, para ser profissionalmente produtivo, uma do dia, e outra da noite, quando buscam prazer. Se alguém não ajudá-los a tempo, poderão se tornar de casos psiquiátricos, casos policiais, cometendo atos criminosos e machucando muita gente. 
      Monstros são como roedores, insetos e demônios, fogem com a luz, mas mais que isso, com a luz do evangelho, monstros podem ser destruídos, dando lugar a seres humanos renascidos em amor e lucidez. Conheço pessoas que eram monstros, mas que se sujeitando ao Espírito Santo, deixando-se tratar por Jesus, o médico dos médicos, foram curadas, receberam perdão, se perdoaram e perdoaram, eu conheço gente assim, e muito bem. Contudo, para aqueles que se consideram normais, se é que o são, uma orientação do Senhor, tenhamos misericórdia dos monstros, são homens e mulheres, que foram muito maltratados, nos aproximemos deles e os ajudemos. Jesus morreu e ressuscitou por eles também, se são enfermos, foi pra eles que Jesus veio.
      Depois de curados, que possamos dar a eles uma nova chance, um voto de confiança, não os julguemos como monstros eternos, nem Deus os julga assim, não se houve consciência e vontade de mudar. Nesse caso há vitória a ser festejada, mesmo que às vezes com consequências ruins que eles terão que conviver pelos restos de suas vidas aqui. Mas quem de nós não tem que conviver com consequências ruins de escolhas erradas? E muitos só não convivem porque escondem, guardam segredos a oito chaves mesmo de pessoas próximas. Assim tenhamos com os outros a mesma misericórdia que queremos receber, lembrando sempre que “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.” (Romanos 8.1).

Leia a primeira parte desta reflexão no LINK.

22/11/18

Como nascem os monstros (parte 1)

      “Até meados do século XIX, os cientistas acreditavam que os seres vivos eram gerados espontaneamente do corpo de cadáveres em decomposição; que rãs, cobras e crocodilos eram gerados a partir do lodo dos rios. Essa interpretação sobre a origem dos seres vivos ficou conhecida como hipótese da geração espontânea ou da abiogênese (a= prefixo de negação, bio = vida, genesis = origem; origem da vida a partir da matéria bruta). Pesquisadores passaram, então, a contestar a hipótese de geração espontânea, apresentando argumentos favoráveis à outra hipótese, a da biogênese, segundo a qual todos os seres vivos originam-se de outros seres vivos preexistentes.” 

      Monstros não nascem por “geração espontânea”, eles são criados, por alguém, geralmente outros monstros. Traduzindo: um filho mal criado teve uma criação ruim dos pais, ninguém use a desculpa que fez tudo certo mas o filho foi influenciado por má companhia. Aliás, a companhia que um jovem escolhe, se for ignorado pelos pais, é qualquer uma, aí está entregue à sorte da vida, mas se for criado com boa e próxima presença dos pais será igual aos pais. Buscamos aquilo que nos é bom, e bom é uma referência adquirida. 
      Chegando ao ponto da reflexão: num mundo moderno onde todos queres direitos mas não deveres, precisamos assumir responsabilidades, eu, você, eles, o mundo não está como está por culpa de ninguém, a culpa é nossa. Mas mais que o mundo, nossos jovens e crianças são nossos, filhos, sobrinhos, netos, alunos, ovelhas, se não forem devidamente ensinados, exortados, disciplinados, por nós, serão criados pelo mundo, pelo estado, pelas escolas, pela polícia, pelo doutrinadores políticos. Tenha certeza de uma coisa, o diabo tem muito interesse em nos distanciarmos de crianças e jovens, quando fazemos isso, ele os seus se aproximam e fazem a coisa do jeito deles. 
      Quando vejo alguma dessas notícias terríveis na TV, sobre algum crime horroroso, sobre violência contra vulnerável, contra mulheres, contra crianças, não recrimino em primeiro lugar o agressor, mas questiono, quem criou e como foi criado tal pessoa de maneira que se transformasse num monstro? Um monstro, um dia, foi criança, foi adolescente, foi vulnerável, mas sua boa criação, por alguém, foi negligenciada e ele se tornou um monstro. Sim, a responsabilidade, para um adulto e com a mínima sanidade, é antes de tudo pessoal, senão a culpa do mal de toda a humanidade seria somente da serpente, ou de uma “eva” ou de um “adão”. 
      Ocorre também que depois que um monstro foi criado, muitas vezes, pouca coisa se pode fazer. Alguns monstros precisariam permanecer para o resto da vida vigiados, de forma digna, mas nunca com direito à liberdade plena, guardados pelo estado e pela família, protegidos de si mesmos. Contudo, o que podemos fazer agora para que um monstro não seja criado? Ou então, o que podemos fazer agora para que um monstro não cometa uma monstruosidade? Precisamos nos importar mais com os outros e pararmos de usar o álibi “cada um que cuide de si, não tenho nada a ver com a vida dos outros”. Muitas vezes, enquanto dizemos isso confortavelmente, uma vizinha está apanhando do esposo, uma colega de trabalho está sendo abusada pelo chefe, uma criança está sendo violentada por um parente. 
      Precisamos assumir responsabilidades, com sabedoria, com cuidado, mas como adultos proativos e benignos. Mas nós cristãos temos uma responsabilidade maior ainda, porque temos o Espírito Santo de Deus dentro de nós, o Espírito de justiça e misericórdia, isso precisa ser convertido em atos de bem. Infelizmente, muitos de nós estão assinando como coautores de monstros, simplesmente por se fingirem de mortos enquanto outros estão sendo mortos, enquanto crianças, mulheres, negros e homoafetivos são maltratados, enquanto pastores hereges exploram pobres e ricos, enquanto maus políticos corrompem o país. 

Leia a segunda parte desta reflexão no LINK.

21/11/18

O que nos amadurece

      “O arco dos fortes foi quebrado, e os que tropeçavam foram cingidos de força.

      “O Senhor empobrece e enriquece, abaixa e também exalta.

I Samuel 2.4 e 7


      O que mais nos amadurece em Deus, não são as decisões certas que tomamos para fazer as melhores coisas, mas as certas que tomamos, depois de tomarmos as erradas e as reconhecermos como tais. Por que isso? Porque somos, muitas vezes, orgulhosos e desobedientes. Muitos fazem todo o possível para não errar, assim se planejam, tentam prever todas as possibilidades, se esforçam e então agem, mas esses não buscam a Deus de fato, e nem são gratos ao Senhor quando tudo dá certo. Antes, mesmo de maneira discreta e velada, honram a si mesmos e ficam felizes com isso. Esses se protegem tanto que não dão a eles uma oportunidade de conhecerem a verdade da vida, verdade que Deus dá só através do Espírito Santo em Cristo Jesus.
      Infelizmente, muitas vezes, a vida conta com nossos erros para se mostrar de fato, mesmo que muitos humanistas, intelectuais, pessoas de boa formação acadêmica e que buscam fazer sempre as melhores escolhas, seja na saúde, na área afetiva ou na “espiritualidade”, não aceitem, o homem é inviável para ser feliz, não se deixarem o Deus do evangelho fora da equação. Esses, “duros na queda”, levarão um tempo maior para entenderem as coisas, os fortes sempre sofrem mais, enquanto os fracos, que entendem cedo que nada são ou podem sem Deus, acham a paz e a felicidade simples a tempo de desfrutarem de escolhas melhores muito antes. 
      Como tenho visto, com tristeza, esse equívoco, gente fazendo e acontecendo porque confia em si mesma, porque acha que pode tudo, mas numa insistência nessa arrogância tomar uma decisão que não pode suportar, assim dá um passo maior que a perna e cai, lá de cima, para passar diante de todos a vergonha que tanto lutou para não ter. Mas só depois dessa humilhação é que os corações de muitos são quebrantados e ficam prontos para ouvir a mensagem de salvação do evangelho, infelizmente, talvez depois de se colocarem numa situação de luta que terão que enfrentar até o final de suas existências neste mundo. Em Deus, contudo, sempre há consolo para viver a realidade, por pior que ela seja, com dignidade e paz.
      Oremos todos os dias, admitamos o tempo todo, digamos com todo o coração e com todo o entendimento, nada nos acontece se Deus não permitir, só sincronizados e sintonizados em Deus temos vitória, sempre, mesmo que aparentemente e temporariamente ela pareça uma derrota. Deus sabe o que faz e o adoremos por isso, e entendamos, a assunção de nossa impotência na dor, depois de uma queda, aperfeiçoa muito mais nosso caráter que a alegria depois da constatação que permanecemos de pé após uma batalha. Na satisfação após a vitória permanecemos no mesmo nível, mas na esperança após a derrota, crescemos e aprendemos mais sobre nós mesmos e sobre o Senhor, mas quem anda sempre quebrantado nunca precisa ser humilhado.

20/11/18

O perdão não solicitado

      O perdão mais difícil de ser exercido é aquele que precisamos dar a alguém que não o pediu a nós. O Espírito Santo já nos convenceu que o erro não foi nosso, e em muitos casos, talvez nunca tenha sido, mas ainda assim a pessoa insiste em se colocar como inocente. Pior ainda, quando além de não assumir a culpa, a pessoa a joga sobre nós e diz isso aos outros, invertendo as coisas e colocando ela, como nossa vítima. O ser humano é complexo, e muitas vezes cruelmente doentio, nesse caso temos que ter muita segurança em Deus para não comprar do outro um problema que não nos pertence. 
      O perdão sempre será a maior arma que temos contra o mal, se perdoados temos autoridade contra os demônios, inimigos espirituais, perdoando temos paz contra o homem, quando se coloca malignamente como um inimigo físico nosso. Mas isso temos que fazer sozinhos, pois nessa situação o outro não quer se acertar conosco, na verdade nem pensa que precisa, assim, se ele não assume, temos que assumir por ele. Essa artimanha do coração que não quer assumir seu erro tenta dar continuidade ao mal jogando-o para nós, se nós o aceitarmos estaremos perpetuando o mal, assim, cabe ao homem de bem dar um fim nisso.
      Como? Perdoando, isso anula o processo e o limita ao coração de quem de fato o criou, nos pondo fora do conflito. É preciso, contudo, que nós vençamos uma necessidade que pode existir em nosso coração de nos sentirmos vítimas. Como já foi dito outras vezes aqui, sentir-se vítima pode ser uma posição cômoda e confortável para quem quer continuar como está, passivo, colocando a culpa no outro. Mas se agirmos assim estaremos agindo da mesma maneira que aquele que não assume o erro e nos culpa, assim só o nosso perdão pode encerrar esse jogo de empurra-empurra. 
      Perdoemos, mesmo que alguém não tenha nos solicitado perdão, mesmo que alguém ache mesmo que a culpa nem é dele, mas nossa, mesmo que a pessoa espalhe isso por aí, nos caluniando. Isso é mais que impedir uma disposição humana errada, é anular as forças espirituais do mal, pois os demônios têm intenção de promover essa inversão de valores e são veículos de falsa acusação e calúnia. Todavia, num perdão feito numa oração de um justo, uma oração solitária, mas verbalizada em voz audível, não para que o homem ouça, mas para que o reino das trevas ouça, há destruição da obra espiritual dos espíritos acusadores assim como anula a força motriz da fofoca.

19/11/18

Sacrifício que agrada a Deus

      “Pois não desejas sacrifícios, senão eu os daria; tu não te deleitas em holocaustos. Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus.Salmos 51.16-17


      Outro dos meus textos bíblicos favoritos, revelador, consolador. O salmo 51 foi escrito por Davi? Alguns dizem que não, mesmo que muitas Bíblias tragam no início a informação que Davi escreveu após o profeta Natã ter-lhe exortado sobre seu pecado de adultério com Bate-Seba. Seja como for é revelador ver o rei Davi falando sobre inutilidade de sacrifício. Ele, que deu início à construção do templo fixo de Jerusalém, o centro da religião de seu povo, religião que tinha como princípio básico uma troca, sim, uma troca, troca de morte por morte. A morte espiritual, certa para aqueles que pecam, era trocada pela morte física de animais, sacrifícios eram feitos para que perdão de pecados fosse concedido e a religação do homens com o Senhor fosse feita. Contudo, ao menos no caso exclusivo do suposto autor do salmo 51, Davi, o ponto de oferecer um sacrifício para consertar as coisas já havia sido ultrapassado.

      Na verdade, após o sacrifício exclusivo e válido universalmente de Cristo, o ponto de se fazer sacrifício para se obter perdão de Deus já foi ultrapassado para toda a humanidade. Agora só a fé na obra redentora de Jesus pode nos conceder perdão de Deus. Se foi Davi o escritor do salmo 51 e se ele o escreveu após a experiência que teve, infelizmente, neste caso, custou muito caro para ele deixar para nós uma revelação tão importante. O homem tem um desejo intrínseco de se sacrificar para barganhar as coisas, sejam físicas, emocionais ou espirituais, mas o salmo 51 ensina o que realmente é importante para Deus. Mais que trocar morte por morte, mesmo porque Jesus já morreu por todos, mais que uma atitude externa e vista pelos outros, de autosacrifício, de obra, Deus é tocado por aquilo que está dentro de nossos corações, no nosso interior, aquilo que realmente nos motiva.

      Coração quebrantado e contrito, espírito humilde, atitude realmente de deixar o orgulho de lado e fazer o que é certo, isso agrada ao Senhor. Mas isso também nos leva a fazer sacrifícios, não por vaidade, mas por entendimento de que é o melhor e a única coisa possível a se fazer para resolver um problema, principalmente em questões sociais. Nesse caso não fazemos porque receberemos algo em troca, mas porque é o único jeito de solucionar principalmente desentendimentos com as pessoas. Esse tipo de sacrifício o Senhor vê, e se o fazemos sem cobrar nada dos outros, se tomamos a iniciativa de nos aproximarmos de alguém para estabelecer uma aliança de bem, de amizade, mesmo que antes tenhamos recebido da mesma pessoa uma porta fechada, isso é um sacrifício que Deus honra. 

      Na verdade sacrificar-se para se aproximar de alguém, mesmo que doa muito nosso coração, mesmo que tenhamos de vencer um terrível medo, não é um sacrifício para ganharmos a nossa alma, mas para ganharmos a alma do outro, dar ao outro uma chance de não seguir como inimigo, inimigo nosso. Esse tipo de sacrifício é um sacrifício de misericórdia, de amor, contudo, não o faça sem receber de forma clara uma ordem de Deus. O Senhor não pede a ninguém que seja tolo, que não tenha amor próprio, nem que dê pérolas aos porcos. Por mais difícil que pareça, se fazer esse sacrifício for vontade do Senhor, o resultado será uma vitória imensa, que resultará em alegria e paz sem limites. Numa situação assim entenderemos, no final, que só tínhamos que enfrentar a nós mesmos, os nossos próprios temores, e que a batalha já estava ganha antes mesmo de começarmos a lutá-la e de nos sacrificarmos.

18/11/18

O que é pecado? (parte 2)


       O pecado provoca culpa, culpa dói. Dor por culpa é um sistema de alarme da nossa moral e ética, se não doesse não saberíamos que fizemos algo de errado e não tentaríamos evitar, numa próxima vez, a dor, agindo corretamente. Contudo, não é toda culpa que é consequência de pecado pessoal ativo. Podemos nos sentir culpados por algum tipo de insegurança ou acovardamento. Assim, fazer algo errado é pecado, mas omissão de algo certo, também é, mesmo que seja nos fazer sofrer por uma acusação mentirosa. 
      Nesse processo as coisas podem mudar e tomar caminhos diferentes, no tempo de nossas existências, principalmente porque o ser humano tem uma característica marcante, adaptabilidade. Se a dor não passa, nós nos adaptamos para tentar anula-la, mesmo que seja de um jeito não mais agradável a Deus e de fato melhor para nós. O primeiro instinto humano é de sobrevivência e para sobreviver podemos fazer muitas coisas para nos mantermós vivos e produtivos, tentando não dar atenção à dor e à culpa.
      Seres humanos fisicamente adultos, que já saíram da infância, e psicologicamente sãos, se sentirão desconfortáveis diante do pecado, não precisarão ter tido necessariamente uma educação cristã. Com educação moral e ética suficiente, um jovem quando cometer um pecado pela primeira vez, se sentirá mal, se sentirá culpado. Crianças ainda não estão amadurecidas para isso, são inocentes, contudo, o momento exato que alguém deixa de ser criança e passa a ser adulto é algo relativo e muitas vezes difícil de se localizar. 
      Alguns são adultos no corpo, mas não nos pensamentos e sentimentos, esse desincronismo pode causar ou ser doenças emocionais. Doentes emocionais, ou intelectuais, e nesse caso é uma característica que pode ser de nascença, também podem não sentir culpa diante do pecado, mas saber quem de fato é normal é algo que também é complicado. Crianças que nascem absolutamente normais podem sofrer violências tantas ou terem uma educação tão libertina e degenerada, que podem ter dificuldades para discernir o pecado e consequentemente sentir culpa.
      Levando tudo isso em consideração, muitas vezes, o que é pecado para alguns pode não ser para outros, e no mundo atual, com tanta liberdade e ausência de responsabilidade de famílias, santidade, que é a ausência de pecado, deve ser ensinada com mais clareza nas igrejas cristãs. Novamente neste caso, pastores que querem manter igrejas grandes e que dizimam, evitam falar sobre pecado, para não esvaziar templos. Quando ensinam sobre santidade a relacionam a experiências emocionais de sentir a presença de Deus em ocasiões especiais, e não a viver de forma separada do mundo durante todo o tempo.
      De maneira geral o homem sempre extremiza o pecado, ou é quase tudo ou é quase nada, a única pessoa que pode realmente nos ensinar sobre o pecado é o Espírito Santo. Esse não se experimenta com clímaxes emocionais causados pelo uso imaturo dos dons espirituais, mas com a assunção da realidade. A experiência legítima do Espírito Santo que nos leva a querer deixar o pecado e ser santo nos conduz a um temor de Deus que cala nossas almas e silencia-nos plenamente. Mais do que nunca é preciso que busquemos uma vida de real comunhão com Deus, por Jesus e através do Espírito Santo.
      Não podemos relativizar o pecado, contudo, Deus, nosso pai, nos conhece, a cada um de nós, sabe de nossas lutas e de nosso desejo de segui-lo, assim como de nossas fraquezas e carências. Alguns dizem que sentir culpa é fraqueza, esses, que se acham fortes não provam da fortaleza que existe na cruz de Cristo, esses tem a alma fria, o espírito mortificado e o corpo escravizado. Agradeça a Deus por ser fraco, por sentir culpa, e então leve a ele seu pecado e seja lavado pelo sangue do cordeiro, só assim os seres humanos provam a plenitude do poder da existência fundamentada no Senhor.
      Não deixe esfriar o coração, morrer a alma, envelhecer a mente, seja rápido para pedir perdão, e deseje com convicção não pecar mais, e seja assim até o fim. A Bíblia não filosofa sobre o que é pecado, o evangelho fica procurando culpados, mas Jesus é a cura gratuita para a dor da culpa pelo pecado, a nós basta humildemente aceitar esse remédio e agradecer a Deus por ele. Entre na presença do Senhor, só pare de clamar depois de se sentir totalmente perdoado, depois siga vigilante, o perdão é a arma mais eficaz contra o mal, mas só o experimenta o pecador que se assume como tal.

      “Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.I Coríntios 6.19-20

17/11/18

O que é pecado? (parte 1)

      “Entre todo este povo havia setecentos homens escolhidos, canhotos, os quais atiravam com a funda uma pedra em um cabelo, e não erravam.Juízes 20.16
      “Se o sacerdote ungido pecar para escândalo do povo, oferecerá ao Senhor, pelo seu pecado, que cometeu, um novilho sem defeito, por expiação do pecado.Levítico 4.3

A palavra לְהַחטִיא (lehachti) carrega a ideia de cometer um erro ou errar um alvo. Em Juízes 20:16, a expressão לֹא_יַחֲטִא (lo yachti) se refere aos guerreiros de Benjamin que nunca erraram um alvo. Em Levítico 4:3, aparece a palavra חַטָּאת (chatat), que significa "oferenda de pecado" no Templo de Jerusalém. No entanto, a raiz hebraica para pecado, oferenda de pecado e errar o alvo tem outro significado. Muito mais profundo. 

      Pecado é violar um preceito religioso. Essa é uma definição bem simplista de pecado, uma das leituras mais razas e pouco informadas que existem a respeito, a mesma que diz que alguém está em pecado ou se acha em pecado porque desobedeceu um “mandamento” da igreja que frequenta, uma ““ordem do seu pastor ou padre””, e em se tratando do verdadeiro cristianismo, como se religião fosse só seguir normas. Mas, sim, pecado para muitos é só ir contra a própria religião e infelizmente muitos dentro de denominações cristãs evangélicas e protestantes pensam assim. Por quê? Porque seguem as palavras pregadas ou lidas e não a Deus, são amigos de religiosos, não de Jesus, têm comunhão com um grupo religioso, não com o Espírito Santo, dessa forma vivem um cristianismo sem profundidade. Esse conceito de pecado leva à hipocrisia, à vida de aparência, e mesmo de boas obras, mas sem a unção do Espírito Santo. 

      Pecado é dar-se aos prazeres da carne. Outra interpretação simplória de vida espiritual, e consequentemente de Deus e do pecado, que leva a pessoa a concluir que carne é errado, visto que Deus é espírito. Assim demonizam sexo, comida e bebida, por exemplo. Todavia, a carne que a Bíblia cita não é o corpo físico, a boca, os olhos, as mãos, os órgãos genitais, mas a natureza desviada do homem, a carne que a Bíblia fala é o espírito do homem sem Deus. Os diabos e os demônios são seres espirituais, não possuem corpos físicos, mas representam a essência da carne, porque negam a Deus em todas as instâncias. Essa visão equivocada leva a herege e pagã igreja católica ensinar que monges, freiras e outros crérigos podem ser mais santos, pecarem menos, simplesmente anulando os instintos do corpo, negando os prazeres da carne e vivendo de forma abnegada e reprimida.

      Pecado é seguir o diabo. Essa definição é bem extremista, e é verdadeira, contudo, lembro que muitos que seguem os diabos são pessoas que evitam excessos, respeitam o planeta, buscam uma vida “espiritual” com auto-controle, equilíbrio emocional, etc. Os maiores e melhores seguidores do diabo não estão nos botecos se embriagando, nem nas zonas de prostituição, ou nos becos se drogando, muito menos são marginais, assassinos, ladrões ou traficantes. São bons cidadãos, pessoas influentes e líderes, em muitas áreas. Assim, quem não deve se iludir com essa ótica errada são os cristãos, que demonizam uns, para poder se autoafirmarem-se melhores. O diabo mora na alma de homens lúcidos, inteligentes, cultos, de hábitos limpos e saudáveis, mas que carregam no coração um ódio profundo contra Deus, verbalizado só na presença de pares, esses homens têm em si o pior tipo de pecado. 

      Pecado é desobedecer a Deus. Essa interpretação, ao meu ver, é a mais popular, e quase, repito, sob meu ponto de vista, a mais precisa, quase. Desobedecer a Deus já é pecar, mas ainda que o pecado não se exteriorize, quando desobedecemos ficamos numa posição vulnerável, sem a cobertura do Senhor, onde expandir o pecado da simples desobediência é só questão de tempo. Mas a ressalva que faço sobre essa definição é a mesma que fiz com relação à primeira, “pecado é violar um preceito divino”. Interpretar vida com Deus só como obediência de leis, mesmo que sejam claramente leis bíblicas, é perigoso, pois nos conduz para longe da intimidade do Senhor. A única regra é o Espírito Santo, assim, tudo deve ser levado a ele em muita oração e consagração, mesmo a interpretação de muitas passagens bíblicas que muitos tomam como leis atemporais e indiscutíveis.

      Pecado é adorar algo que não seja Deus. Você pode obedecer sem sentir prazer nisso, e sim, isso nos desvia do pecado, mas o cristão maduro obedece com alegria, adorando a Deus. Por outro lado, muitos amam muitas coisas que estão na cânone bíblico, no meio cristão, dentro de igrejas e denominações, mas ainda assim estão em pecado, pois colocam tudo isso acima de Deus. Conforme a definição inicial, da palavra em hebraico, pecado é errar o alvo. Os 10 mandamentos mosaicos estão na Bíblia? Sim, mas não são o centro o alvo, assim como guardar o sábado, dar o dízimo, obedecer ao pastor homem, frequentar cultos com assiduidade, venerar um “santo”, etc, etc, etc. O centro do alvo é Jesus e na terra ele só deixou um embaixador oficial ao qual devemos seguir, o Espírito Santo. Assim, não pecar é conhecer, obedecer e amar Deus pai e Deus filho através de Deus Espírito Santo. 

      “Todavia digo-vos a verdade, que vos convém que eu vá; porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, quando eu for, vo-lo enviarei. E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo. Do pecado, porque não crêem em mim; da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis mais; e do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado.” João 16.7-11  

      “Na verdade vos digo que todos os pecados serão perdoados aos filhos dos homens, e toda a sorte de blasfêmias, com que blasfemarem; Qualquer, porém, que blasfemar contra o Espírito Santo, nunca obterá perdão, mas será réu do eterno juízo. (Porque diziam: Tem espírito imundo).” Marcos 3.28-30


Leia amanhã, dia 18/11/18, a segunda parte e conclusão desta reflexão