25/11/18

Vingança ou misericórdia?

      “Ó Senhor, Deus vingador; Deus vingador! Intervém! Levanta-te, Juiz da terra; retribui aos orgulhosos o que merecem. 
      Até quando os ímpios, Senhor, até quando os ímpios exultarão? 
Eles despejam palavras arrogantes, todos esses malfeitores enchem-se de vanglória. Massacram o teu povo, Senhor, e oprimem a tua herança; 
matam as viúvas e os estrangeiros, assassinam os órfãos, e ainda dizem: "O Senhor não nos vê; o Deus de Jacó nada percebe".
      Insensatos, procurem entender! E vocês, tolos, quando se tornarão sábios? Será que quem fez o ouvido não ouve? Será que quem formou o olho não vê? Aquele que disciplina as nações os deixará sem castigo? Não tem sabedoria aquele que dá ao homem o conhecimento? O Senhor conhece os pensamentos do homem, e sabe como são fúteis.
      Como é feliz o homem a quem disciplinas, Senhor, aquele a quem ensinas a tua lei; tranquilo, enfrentará os dias maus, enquanto que, para os ímpios, uma cova se abrirá. O Senhor não desamparará o seu povo; jamais abandonará a sua herança. Voltará a haver justiça nos julgamentos, e todos os retos de coração a seguirão.

      Davi, a quem é atribuído grande parte dos Salmos, era um homem que conhecia o Senhor com intimidade, um dos poucos personagens bíblicos que experimentava a presença do Espírito Santo de uma forma frequente, num momento, o da velha aliança, que Jesus ainda não tinha vindo como salvador e deixado o Espírito Santo como presença permanente nas vidas dos salvos. Uma das experiências marcantes de Davi foi sua relação com Saul, depois que esse soube que o reinado sobre Israel tinha sido retirado dele por Deus, por causa de seu pecado, e dado a Davi. 
      Não foi empossado oficialmente diante do povo rei assim, fácil, de um dia para o outro, Davi teve que enfrentar a perseguição de Saul que o levou a viver como marginal entre marginais. Ele, mais que ninguém, sentiu na pele um desejo de vingança e de vingança ilegítima. Mas o mais importante é que Davi teve a vida de Saul em suas mãos, para matá-lo, o que era legítimo para ele, e ainda assim não o fez. Na ocasião da morte de Saul, Davi teve a elegância e o temor a Deus de não se alegrar com o ocorrido, e disciplinou mesmo o que lhe trouxe a notícia como uma boa nova e que se identificou como o assassino de Saul. 
      Muitas coisas levam o homem a desejar vingança, mas quando o homem vê uma injustiça muito grande, um forte oprimindo um fraco, alguém tomando algo que não é seu à força, isso torna o desejo mais legítimo. Mesmo que ímpios que sofrem traições de outros ímpios também queiram vingança, a vingança mais legítima vem do coração do certo que sofre um dano do errado, e justamente por isso, por haver legitimidade, os justos podem ser muito mais tentados a serem escravos de um desejo de vingança que os ímpios. Os ímpios não desejam vingança, eles se vingam e pronto.
      Resistir a essa tentação, contudo, é o que pode levar o justo a um nível mais alto de real espiritualidade, mas é preciso entender bem o que é “a vingança a Deus pertence” (outra tradução do primeiro versículo do Salmo 94) e não usar isso como desculpa para manter o desejo de vingança no coração. Deixar de fato a vingança nas mãos de Deus é entregar totalmente o desejo nas mãos do Senhor e não mais senti-lo, mas é preciso entender que nosso coração não pode ficar vazio. Tirar mal e não colocar nada no lugar é deixar espaço para que outro mal seja acolhido, e o mal mais próximo é sempre o mais fácil de voltar.
      Entreguemos a Deus a vingança, de maneira clara e assumida, sem meias palavras ou hipocrisia, mas depois coloquemos no lugar, em nossos corações, misericórdia. Misericórdia é o contrário de vingança, se vingança busca que o mau receba o mesmo mal que ele injustamente deu ao bom, misericórdia deseja que o homem mau receba o contrário do que deu. Assim o misericordioso quererá para o que lhe prejudicou o bem. Essa administração da vingança em duas partes, confia que Deus fará do seu jeito para como o homem mau, mas deixa livre o coração do homem bom, com misericórdia, que cura e liberta. 
      Quando a vingança permanece, o homem mau tem vitória dupla, com o mal direto que ele fez ao outro mais a obsessão por vingança que deixou no coração do outro, e isso no caso do cristão verdadeiro é uma grande tentação, já que ele sabe que como tal não pode se vingar, mas se não agir da forma correta seguirá com o desejo no coração. Desejo de vingança não realizado causa doenças, amarga a vida e honra o diabo, mas substituí-lo por misericórdia glorifica a Deus e dá a ele legalidade para agir em prol do homem de bem. 
      O segredo é não reagir até que Deus mande, mesmo porque reagir, em muitos casos, de nada adianta. A vingança não é só desnecessária, é ineficiente, mesmo que sejam só palavras explicando para o injusto que ele está roubando um direito. Como o estúpido não há diálogo, assim nem tentemos, e se alguém não quer entender, não percamos nosso tempo, que ele diga a última palavra, abaixemos a cabeça e saiamos de cena, calados e pensando em Deus, vislumbrando a grandeza do Senhor, infinitamente maior que um homem mau.
      Além do mais, querer exigir algo do homem mau é concordar que ele tem poder sobre o que estamos exigindo, é concordar que ele é dono do que nos sonegou, e não é. Deus é dono de tudo, Senhor de tudo, falemos diretamente com ele é entreguemos nossa causa em suas mãos. A experiência de sentir desejo de vingança é crescimento e bênção para o homem de bem, para o justo, para o cristão genuíno, e oportunidade de libertação e cura, é momento de entronizar o Senhor no coração e descansar nele. 
      “Feliz o homem a quem disciplinas, Senhor”, melhor ser disciplinado pelo Senhor que sofrer a vingança de Deus, assim, para que aprenda a dar o bem pelo mal, o justo é disciplinado, e só se aprende isso sofrendo a injustiça, mas depois da disciplina o justo “tranquilo enfrentará os dias maus”. Contudo, “para os ímpios uma cova se abrirá”, uma armadilha e o poder que eles tanto achavam que tinham, oprimindo os justos, se mostrará inútil nesse dia. Não confiaram em Deus, mas em si mesmos, nos poderes do mundo, nos valores dos homens sem Deus, assim a própria vida se encarregará de ser a vingança da justiça sobre eles, no lugar e no tempo certo.

24/11/18

Como morrem os justos?

      Como morrem os justos? Não morrem, só passam, da existência física para a espiritual perto de Deus. Partem justificados, pelo sangue de Cristo, partem limpos, não por serem perfeitos, mas por confiarem naquele que é perfeito, não por serem melhores, mas por terem admitido que não eram, não por serem fortes, mas por terem deixado o todo poderoso viver neles. Os justos morrem em paz, não são surpreendidos pelo mal, mas passam com tranquilidade pelo final de um caminho que já conheciam, pelo qual sempre andaram, o caminho estreito do evangelho, da cruz, do quebrantamento muitas vezes, mas que nos final se mostra cheio da luz maravilhosa do Senhor. 
      Os justos não morrem sozinhos, em suas caminhadas fizeram amigos fiéis que estarão com eles no último momento, dos quais os melhores são esposa e filhos, que sabem que naqueles que partem estão seres humanos, mas que fizeram tudo o que podiam para acertar. Mas mesmo que lhes falte companhia de homens, terão a companhia dos anjos do Senhor e de uma alegria sem tamanho, da qual provaram um pouco quando oraram a Deus e receberam dele esperança para continuar até o fim. Os justos não morrem, são transformados para a vida eterna, acordam de vez para Deus, conhecem de fato aquele que sempre os conheceu e por eles lutou, Jesus, Deus que se fez homem e que honra aqueles que chama e que ouvem a sua voz. 
      Justos não morrem velhos, mesmo que com os corpos físicos cansados, eles morrem como crianças, pois souberam aprender o que é vida com Deus. No final trocaram vaidades por paz, aprovação humana por obediência a Deus, enfado de querer ser maior e rico por um coração de adorador, vícios e obsessões pelo prazer inefável que existe só na presença do Senhor. Os justos nunca perderam a sinceridade do bem, a verdade da alma, as virtudes do espírito, olharam firmes para seu objetivo e seguiram, que horizonte é mais aprazível que os braços abertos do pai nos esperando sempre? Os justos morrem íntegros pois nunca se venderam, pra ninguém.
      Os justo morrem com dignidade, com honra e no tempo certo, nem antes, nem depois, pois aprenderam a viver sincronizados com Deus, com sua sabedoria, assim plantaram quando podiam e colheram o melhor, quando não havia mais nada a se fazer. Os justos entenderam todos os tempos, deixaram o passado ficar leve e dele só reterem boas lembranças, não foram escravos do futuro e confiaram realmente em Deus, usufruíram do presente, o tempo mais divino de todos, o único em que se pode ser feliz de fato. Os justos morrem felizes, com todas as contas pagas, com a fé aprumada, com perdão dado aos homens e recebido, de si mesmos e de Deus. 

      “Ouve-me quando eu clamo, ó Deus da minha justiça, na angústia me deste largueza; tem misericórdia de mim e ouve a minha oração. Filhos dos homens, até quando convertereis a minha glória em infâmia? Até quando amareis a vaidade e buscareis a mentira? Sabei, pois, que o Senhor separou para si aquele que é piedoso; o Senhor ouvirá quando eu clamar a ele. Perturbai-vos e não pequeis; falai com o vosso coração sobre a vossa cama, e calai-vos. Oferecei sacrifícios de justiça, e confiai no Senhor. Muitos dizem: Quem nos mostrará o bem? Senhor, exalta sobre nós a luz do teu rosto. Puseste alegria no meu coração, mais do que no tempo em que se lhes multiplicaram o trigo e o vinho. Em paz também me deitarei e dormirei, porque só tu, Senhor, me fazes habitar em segurança.

Salmos 4

23/11/18

Como nascem os monstros (parte 2)

      “E Jesus, tendo ouvido isto, disse-lhes: Os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento.Marcos 2.17

      Os monstros nascem do egoísmo, de adultos físicos, mas não emocionais, que se ocupam com seu assuntos, com seus prazeres, e não se importam com os seres humanos que colocam no mundo. Os monstros nascem da indiferença de crianças fazendo crianças porque também não tiverem pais que as criassem de forma correta, e que depois acabaram tendo que criar netos. Os monstros nascem da estupidez, de quem até quer ter uma família, que trabalha e muito para mantê-la materialmente, mas que acha que comida na mesa basta, desprezando o afeto. Monstros nascem de “pais” perturbados, obsessivos, que querem controlar espaço e tempo e acham que crianças e adolescentes só atrapalham, assim os punem de maneira desproporcional por bobagens, tirando dos pequenos o direito de serem pequenos, de brincarem e serem felizes. 
      Monstros nascem na privacidade de lares, cercados pelas paredes da lei, escondidos nos quartos e consumindo ilusões, querendo achar atenção e intimidade, aliás, os monstros nascem de quem não sabe administrar intimidade, que expõe demais as suas e invadem demais as dos outros. Monstros nascem na ausência de boa cumplicidade, aquela que sabe rir de si mesmo, que deixa a vida leve, que entrega referências para os que estão crescendo, para que saibam que sempre terão um lugar para onde voltar, um lugar de amor, não necessariamente material, mas dentro das boas lembranças da alma. Monstros nascem da falta de pai e mãe, que não são necessariamente os biológicos, nem de sexos opostos, mas seres humanos, que sabem deixar pra lá a si mesmos e se sacrificam por quem veio ao mundo sem pedir.
      O que temos que entender de uma vez por todas, é que podemos, sendo filhos de monstros ou mesmo monstros em potencial, dar um fim ao processo, contudo, a grande dificuldade é que monstros, muitas vezes e até um momento de suas vidas, não sabem que são monstros, não têm consciência disso. Alguns carregam transtornos tão íntimos, principalmente os na área da sexualidade, têm tanto medo ou tanta vergonha de verbaliza-los, que desenvolvem duas personalidades, uma que convive com a sociedade para sobreviver, para ser profissionalmente produtivo, uma do dia, e outra da noite, quando buscam prazer. Se alguém não ajudá-los a tempo, poderão se tornar de casos psiquiátricos, casos policiais, cometendo atos criminosos e machucando muita gente. 
      Monstros são como roedores, insetos e demônios, fogem com a luz, mas mais que isso, com a luz do evangelho, monstros podem ser destruídos, dando lugar a seres humanos renascidos em amor e lucidez. Conheço pessoas que eram monstros, mas que se sujeitando ao Espírito Santo, deixando-se tratar por Jesus, o médico dos médicos, foram curadas, receberam perdão, se perdoaram e perdoaram, eu conheço gente assim, e muito bem. Contudo, para aqueles que se consideram normais, se é que o são, uma orientação do Senhor, tenhamos misericórdia dos monstros, são homens e mulheres, que foram muito maltratados, nos aproximemos deles e os ajudemos. Jesus morreu e ressuscitou por eles também, se são enfermos, foi pra eles que Jesus veio.
      Depois de curados, que possamos dar a eles uma nova chance, um voto de confiança, não os julguemos como monstros eternos, nem Deus os julga assim, não se houve consciência e vontade de mudar. Nesse caso há vitória a ser festejada, mesmo que às vezes com consequências ruins que eles terão que conviver pelos restos de suas vidas aqui. Mas quem de nós não tem que conviver com consequências ruins de escolhas erradas? E muitos só não convivem porque escondem, guardam segredos a oito chaves mesmo de pessoas próximas. Assim tenhamos com os outros a mesma misericórdia que queremos receber, lembrando sempre que “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.” (Romanos 8.1).

Leia a primeira parte desta reflexão no LINK.

22/11/18

Como nascem os monstros (parte 1)

      “Até meados do século XIX, os cientistas acreditavam que os seres vivos eram gerados espontaneamente do corpo de cadáveres em decomposição; que rãs, cobras e crocodilos eram gerados a partir do lodo dos rios. Essa interpretação sobre a origem dos seres vivos ficou conhecida como hipótese da geração espontânea ou da abiogênese (a= prefixo de negação, bio = vida, genesis = origem; origem da vida a partir da matéria bruta). Pesquisadores passaram, então, a contestar a hipótese de geração espontânea, apresentando argumentos favoráveis à outra hipótese, a da biogênese, segundo a qual todos os seres vivos originam-se de outros seres vivos preexistentes.” 

      Monstros não nascem por “geração espontânea”, eles são criados, por alguém, geralmente outros monstros. Traduzindo: um filho mal criado teve uma criação ruim dos pais, ninguém use a desculpa que fez tudo certo mas o filho foi influenciado por má companhia. Aliás, a companhia que um jovem escolhe, se for ignorado pelos pais, é qualquer uma, aí está entregue à sorte da vida, mas se for criado com boa e próxima presença dos pais será igual aos pais. Buscamos aquilo que nos é bom, e bom é uma referência adquirida. 
      Chegando ao ponto da reflexão: num mundo moderno onde todos queres direitos mas não deveres, precisamos assumir responsabilidades, eu, você, eles, o mundo não está como está por culpa de ninguém, a culpa é nossa. Mas mais que o mundo, nossos jovens e crianças são nossos, filhos, sobrinhos, netos, alunos, ovelhas, se não forem devidamente ensinados, exortados, disciplinados, por nós, serão criados pelo mundo, pelo estado, pelas escolas, pela polícia, pelo doutrinadores políticos. Tenha certeza de uma coisa, o diabo tem muito interesse em nos distanciarmos de crianças e jovens, quando fazemos isso, ele os seus se aproximam e fazem a coisa do jeito deles. 
      Quando vejo alguma dessas notícias terríveis na TV, sobre algum crime horroroso, sobre violência contra vulnerável, contra mulheres, contra crianças, não recrimino em primeiro lugar o agressor, mas questiono, quem criou e como foi criado tal pessoa de maneira que se transformasse num monstro? Um monstro, um dia, foi criança, foi adolescente, foi vulnerável, mas sua boa criação, por alguém, foi negligenciada e ele se tornou um monstro. Sim, a responsabilidade, para um adulto e com a mínima sanidade, é antes de tudo pessoal, senão a culpa do mal de toda a humanidade seria somente da serpente, ou de uma “eva” ou de um “adão”. 
      Ocorre também que depois que um monstro foi criado, muitas vezes, pouca coisa se pode fazer. Alguns monstros precisariam permanecer para o resto da vida vigiados, de forma digna, mas nunca com direito à liberdade plena, guardados pelo estado e pela família, protegidos de si mesmos. Contudo, o que podemos fazer agora para que um monstro não seja criado? Ou então, o que podemos fazer agora para que um monstro não cometa uma monstruosidade? Precisamos nos importar mais com os outros e pararmos de usar o álibi “cada um que cuide de si, não tenho nada a ver com a vida dos outros”. Muitas vezes, enquanto dizemos isso confortavelmente, uma vizinha está apanhando do esposo, uma colega de trabalho está sendo abusada pelo chefe, uma criança está sendo violentada por um parente. 
      Precisamos assumir responsabilidades, com sabedoria, com cuidado, mas como adultos proativos e benignos. Mas nós cristãos temos uma responsabilidade maior ainda, porque temos o Espírito Santo de Deus dentro de nós, o Espírito de justiça e misericórdia, isso precisa ser convertido em atos de bem. Infelizmente, muitos de nós estão assinando como coautores de monstros, simplesmente por se fingirem de mortos enquanto outros estão sendo mortos, enquanto crianças, mulheres, negros e homoafetivos são maltratados, enquanto pastores hereges exploram pobres e ricos, enquanto maus políticos corrompem o país. 

Leia a segunda parte desta reflexão no LINK.

21/11/18

O que nos amadurece

      “O arco dos fortes foi quebrado, e os que tropeçavam foram cingidos de força.

      “O Senhor empobrece e enriquece, abaixa e também exalta.

I Samuel 2.4 e 7


      O que mais nos amadurece em Deus, não são as decisões certas que tomamos para fazer as melhores coisas, mas as certas que tomamos, depois de tomarmos as erradas e as reconhecermos como tais. Por que isso? Porque somos, muitas vezes, orgulhosos e desobedientes. Muitos fazem todo o possível para não errar, assim se planejam, tentam prever todas as possibilidades, se esforçam e então agem, mas esses não buscam a Deus de fato, e nem são gratos ao Senhor quando tudo dá certo. Antes, mesmo de maneira discreta e velada, honram a si mesmos e ficam felizes com isso. Esses se protegem tanto que não dão a eles uma oportunidade de conhecerem a verdade da vida, verdade que Deus dá só através do Espírito Santo em Cristo Jesus.
      Infelizmente, muitas vezes, a vida conta com nossos erros para se mostrar de fato, mesmo que muitos humanistas, intelectuais, pessoas de boa formação acadêmica e que buscam fazer sempre as melhores escolhas, seja na saúde, na área afetiva ou na “espiritualidade”, não aceitem, o homem é inviável para ser feliz, não se deixarem o Deus do evangelho fora da equação. Esses, “duros na queda”, levarão um tempo maior para entenderem as coisas, os fortes sempre sofrem mais, enquanto os fracos, que entendem cedo que nada são ou podem sem Deus, acham a paz e a felicidade simples a tempo de desfrutarem de escolhas melhores muito antes. 
      Como tenho visto, com tristeza, esse equívoco, gente fazendo e acontecendo porque confia em si mesma, porque acha que pode tudo, mas numa insistência nessa arrogância tomar uma decisão que não pode suportar, assim dá um passo maior que a perna e cai, lá de cima, para passar diante de todos a vergonha que tanto lutou para não ter. Mas só depois dessa humilhação é que os corações de muitos são quebrantados e ficam prontos para ouvir a mensagem de salvação do evangelho, infelizmente, talvez depois de se colocarem numa situação de luta que terão que enfrentar até o final de suas existências neste mundo. Em Deus, contudo, sempre há consolo para viver a realidade, por pior que ela seja, com dignidade e paz.
      Oremos todos os dias, admitamos o tempo todo, digamos com todo o coração e com todo o entendimento, nada nos acontece se Deus não permitir, só sincronizados e sintonizados em Deus temos vitória, sempre, mesmo que aparentemente e temporariamente ela pareça uma derrota. Deus sabe o que faz e o adoremos por isso, e entendamos, a assunção de nossa impotência na dor, depois de uma queda, aperfeiçoa muito mais nosso caráter que a alegria depois da constatação que permanecemos de pé após uma batalha. Na satisfação após a vitória permanecemos no mesmo nível, mas na esperança após a derrota, crescemos e aprendemos mais sobre nós mesmos e sobre o Senhor, mas quem anda sempre quebrantado nunca precisa ser humilhado.

20/11/18

O perdão não solicitado

      O perdão mais difícil de ser exercido é aquele que precisamos dar a alguém que não o pediu a nós. O Espírito Santo já nos convenceu que o erro não foi nosso, e em muitos casos, talvez nunca tenha sido, mas ainda assim a pessoa insiste em se colocar como inocente. Pior ainda, quando além de não assumir a culpa, a pessoa a joga sobre nós e diz isso aos outros, invertendo as coisas e colocando ela, como nossa vítima. O ser humano é complexo, e muitas vezes cruelmente doentio, nesse caso temos que ter muita segurança em Deus para não comprar do outro um problema que não nos pertence. 
      O perdão sempre será a maior arma que temos contra o mal, se perdoados temos autoridade contra os demônios, inimigos espirituais, perdoando temos paz contra o homem, quando se coloca malignamente como um inimigo físico nosso. Mas isso temos que fazer sozinhos, pois nessa situação o outro não quer se acertar conosco, na verdade nem pensa que precisa, assim, se ele não assume, temos que assumir por ele. Essa artimanha do coração que não quer assumir seu erro tenta dar continuidade ao mal jogando-o para nós, se nós o aceitarmos estaremos perpetuando o mal, assim, cabe ao homem de bem dar um fim nisso.
      Como? Perdoando, isso anula o processo e o limita ao coração de quem de fato o criou, nos pondo fora do conflito. É preciso, contudo, que nós vençamos uma necessidade que pode existir em nosso coração de nos sentirmos vítimas. Como já foi dito outras vezes aqui, sentir-se vítima pode ser uma posição cômoda e confortável para quem quer continuar como está, passivo, colocando a culpa no outro. Mas se agirmos assim estaremos agindo da mesma maneira que aquele que não assume o erro e nos culpa, assim só o nosso perdão pode encerrar esse jogo de empurra-empurra. 
      Perdoemos, mesmo que alguém não tenha nos solicitado perdão, mesmo que alguém ache mesmo que a culpa nem é dele, mas nossa, mesmo que a pessoa espalhe isso por aí, nos caluniando. Isso é mais que impedir uma disposição humana errada, é anular as forças espirituais do mal, pois os demônios têm intenção de promover essa inversão de valores e são veículos de falsa acusação e calúnia. Todavia, num perdão feito numa oração de um justo, uma oração solitária, mas verbalizada em voz audível, não para que o homem ouça, mas para que o reino das trevas ouça, há destruição da obra espiritual dos espíritos acusadores assim como anula a força motriz da fofoca.

19/11/18

Sacrifício que agrada a Deus

      “Pois não desejas sacrifícios, senão eu os daria; tu não te deleitas em holocaustos. Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus.Salmos 51.16-17


      Outro dos meus textos bíblicos favoritos, revelador, consolador. O salmo 51 foi escrito por Davi? Alguns dizem que não, mesmo que muitas Bíblias tragam no início a informação que Davi escreveu após o profeta Natã ter-lhe exortado sobre seu pecado de adultério com Bate-Seba. Seja como for é revelador ver o rei Davi falando sobre inutilidade de sacrifício. Ele, que deu início à construção do templo fixo de Jerusalém, o centro da religião de seu povo, religião que tinha como princípio básico uma troca, sim, uma troca, troca de morte por morte. A morte espiritual, certa para aqueles que pecam, era trocada pela morte física de animais, sacrifícios eram feitos para que perdão de pecados fosse concedido e a religação do homens com o Senhor fosse feita. Contudo, ao menos no caso exclusivo do suposto autor do salmo 51, Davi, o ponto de oferecer um sacrifício para consertar as coisas já havia sido ultrapassado.

      Na verdade, após o sacrifício exclusivo e válido universalmente de Cristo, o ponto de se fazer sacrifício para se obter perdão de Deus já foi ultrapassado para toda a humanidade. Agora só a fé na obra redentora de Jesus pode nos conceder perdão de Deus. Se foi Davi o escritor do salmo 51 e se ele o escreveu após a experiência que teve, infelizmente, neste caso, custou muito caro para ele deixar para nós uma revelação tão importante. O homem tem um desejo intrínseco de se sacrificar para barganhar as coisas, sejam físicas, emocionais ou espirituais, mas o salmo 51 ensina o que realmente é importante para Deus. Mais que trocar morte por morte, mesmo porque Jesus já morreu por todos, mais que uma atitude externa e vista pelos outros, de autosacrifício, de obra, Deus é tocado por aquilo que está dentro de nossos corações, no nosso interior, aquilo que realmente nos motiva.

      Coração quebrantado e contrito, espírito humilde, atitude realmente de deixar o orgulho de lado e fazer o que é certo, isso agrada ao Senhor. Mas isso também nos leva a fazer sacrifícios, não por vaidade, mas por entendimento de que é o melhor e a única coisa possível a se fazer para resolver um problema, principalmente em questões sociais. Nesse caso não fazemos porque receberemos algo em troca, mas porque é o único jeito de solucionar principalmente desentendimentos com as pessoas. Esse tipo de sacrifício o Senhor vê, e se o fazemos sem cobrar nada dos outros, se tomamos a iniciativa de nos aproximarmos de alguém para estabelecer uma aliança de bem, de amizade, mesmo que antes tenhamos recebido da mesma pessoa uma porta fechada, isso é um sacrifício que Deus honra. 

      Na verdade sacrificar-se para se aproximar de alguém, mesmo que doa muito nosso coração, mesmo que tenhamos de vencer um terrível medo, não é um sacrifício para ganharmos a nossa alma, mas para ganharmos a alma do outro, dar ao outro uma chance de não seguir como inimigo, inimigo nosso. Esse tipo de sacrifício é um sacrifício de misericórdia, de amor, contudo, não o faça sem receber de forma clara uma ordem de Deus. O Senhor não pede a ninguém que seja tolo, que não tenha amor próprio, nem que dê pérolas aos porcos. Por mais difícil que pareça, se fazer esse sacrifício for vontade do Senhor, o resultado será uma vitória imensa, que resultará em alegria e paz sem limites. Numa situação assim entenderemos, no final, que só tínhamos que enfrentar a nós mesmos, os nossos próprios temores, e que a batalha já estava ganha antes mesmo de começarmos a lutá-la e de nos sacrificarmos.