11/04/20

Loucura (parte 7) Morte e espíritos

7. Morte e espíritos

      “E num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles. Então o Senhor disse a Satanás: Donde vens? E Satanás respondeu ao Senhor, e disse: De rodear a terra, e passear por ela.
Jó 1.6-7

      “E perguntou-lhe Jesus, dizendo: Qual é o teu nome? E ele disse: Legião; porque tinham entrado nele muitos demônios.
Lucas 8.30

      “Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados; Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados.
I Coríntios 15.51-52

      “Porque na ressurreição nem casam nem são dados em casamento; mas serão como os anjos de Deus no céu.” 
Mateus 22.30

      “E falando eles destas coisas, o mesmo Jesus se apresentou no meio deles, e disse-lhes: Paz seja convosco. E eles, espantados e atemorizados, pensavam que viam algum espírito. E ele lhes disse: Por que estais perturbados, e por que sobem tais pensamentos aos vossos corações? Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e vede, pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho. E, dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. E, não o crendo eles ainda por causa da alegria, e estando maravilhados, disse-lhes: Tendes aqui alguma coisa que comer? Então eles apresentaram-lhe parte de um peixe assado, e um favo de mel; O que ele tomou, e comeu diante deles.” 
Lucas 24.36-43

      “Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.”
João 17.21

      Após a morte do corpo físico, nossa mente continua viva, nossa identidade existe na eternidade, e ela se torna mais intimamente espiritual, livre de interferências e limites do corpo material (I Coríntios 15.51-52). Quando a Bíblia diz que na eternidade seremos como anjos (Mateus 22.30) ela se refere às nossas funções sexuais, por isso lá não haverá casamentos, nem reprodução física, mas penso que nossas identidades masculinas, femininas e demais, serão mantidas, e de um jeito muito mais puro, assim como as características físicas. Penso mais, que teremos a aparência do nosso melhor aqui, na faixa do trinta anos, tanto para os que morrerem com idade menor quanto maior que isso, estaremos com todos os membros do corpo e tão belos quanto for nossa luz espiritual, que em Jesus é sempre a mais pura (Lucas 24.36-43).
      Talvez só na eternidade é que muitos entenderão a relevância da sexualidade, perderão preconceitos e saberão que as coisas não são tão físicas como muitos interpretam o macho e a fêmea no Adão e na Eva míticos. Na eternidade, ainda que os que tenham alcançado iluminação mais alta em Deus (salvação eterna evangélica) através de Jesus experimentem uma comunhão plena com o Deus altíssimo, o pai das luzes (João 17.21), nossas identidades continuarão existindo, assim José ainda será José, Maria ainda será Maria, José Maria e Maria José ainda serão José Maria e Maria José (os que querem entenderão). 
      Isso é diferente nos demônios, os seres espirituais mais inferiores, eles não têm identidade pessoal, funcionam em comunidades (em legiões), suas características são as de seus grupos, têm consciências coletivas, não possuem gostos e preferências pessoais, mas a função ditada por seus líderes (Lucas 8.30), com legiões específicas dedicadas a pecados específicos (com por exemplo a denominada “pombagira” dos afro-espiritismos e kardecismo, para a prostituição, não é um espírito, mas um grupo). Isso nos faz pensar sobre pessoas que fazem parte de certos ajuntamentos, em torno de ideologias religiosas ou políticas, por exemplo, parecem legiões de demônios, sem identidade individual que obedecem cegamente a líderes. 
      Os líderes são os príncipes angelicais, diabos, anjos, arcanjos e outros seres espirituais, caídos ou não, mas de grau superior, esses exercem liderança sobre os inferiores, os principados, potestades etc. Debaixo da permissão de Deus, esses líderes têm alguma autonomia, já que suas vontades são obedecidas pelos seres abaixo deles (Jó 1.6-7), mas mesmo esses não têm a identidade que nós humanos, encarnados ou não, temos. Ocultistas dizem que os espíritos perdem suas identidades individuas nos dois extremos, quanto mais inferior, se parecem com seus líderes baixos, os grandes seres espirituais caídos, e quanto mais superiores se parecem com Deus, assim, nesse entendimento, há uma comunhão com os superiores nos dois lados e uma perda de identidade individual.
      Toda comunicação no plano espiritual é mental, “telepática” (ainda que seres espirituais não tenham cérebros físicos), se um ser pensa, seus subalternos entendem e obedecem. Só Deus, contudo, é onisciente, sabe de tudo e pode se comunicar com todos, bem, esse é o meu entendimento sobre comunicação espiritual, se algumas coisas não estão claras na Bíblia também não estão claras que não são assim, ainda que possamos subentender por muitos textos. Mas isso fica mais claro quando temos experiência profundas de oração com Deus e de discernimento de espíritos, isso, contudo, é só para os que querem ter e saber, repetindo, o mundo espiritual é trancado com chaves, que as ganham os que as buscam, senão o caos universal seria geral. 
      Uma reflexão final, quem sabe uma parte da verdade sabe mais que quem diz que sabe toda a verdade, ninguém sabe tudo, mas quem diz que sabe, mente, e não sabe nada, nada é menos que uma parte. A verdade é que quanto mais sabemos, menos achamos que sabemos, e em se tratando de verdades sobre o mundo espiritual, sobre Deus, sobre a eternidade, sobre anjos caídos e sobre vida pós-morte, sabemos só o que queremos saber. Quem acha que sabe tudo, que tem toda a verdade sobre Deus e mundo espiritual, sabe só o que quis saber, assim esse pode até estacionar nesse limite, é um direito seu, mas não diga que sabe tudo, que tem a verdade, não arrogue isso. 

10/04/20

Loucura (parte 6) Podemos saber?

6. Podemos saber?

      “Multiplicando-se dentro de mim os meus cuidados, as tuas consolações reanimaram a minha alma.” 
Salmos 94.19

      Na 6ª parte do estudo sobre loucura, que será compartilhada na próxima postagem do blog, faremos uma reflexão sobre o mundo espiritual, esse assunto é bastante pensado aqui no blog, veja por exemplo o estudo “Desvendando o mundo espiritual”. Desta vez tentaremos entender algo impossível de ser provado pela ciência, a existência pós-morte, mas antes faremos uma reflexão introdutória sobre o porquê de levantarmos esse tema neste estudo sobre loucura.
      Conhecimento sobre a morte é algo que só podemos obter pela fé? Bem, pela fé se obtém bem mais que doutrinas teóricas, antes experiências fortes e claras, e que não deixam dúvidas aos que as têm, são provadas sobre muitas coisas do mundo espiritual e por muita gente. Essas coisas são loucuras ou de fato é possível comunicação com os mortos, com os espíritos, com anjos e outros seres espirituais? Isso fica com a fé de cada um, mas qual a relevância disso para o tema loucura? Muita relevância.
      Nas experiências envolvendo mediunidade, necromancia, possessão demoníaca, dons espirituais cristãos etc, a comunicação, ou suposta comunicação, é feita através de nossas mentes, é por ela que entidades, espíritos, humanos desencarnados, ou o Espírito Santo de Deus, se comunicam com os seres humanos. Não estou fazendo juízo de valor, pondo todas essas experiências no mesmo nível, seja doutrinário, espiritual ou moral, nem estou dizendo que isso é verdade ou mentira, contudo todas essas “experiências”, legítimas ou não, podem ser confundidas com alucinações auditivas ou visuais, que são psicopatologias, doenças, não experiências espirituais. 
      Sob o ponto de vista da doutrina protestante evangélica tradicional, experiências de comunicação espiritual podem ter três origens e meios, e em alguns casos fins, ou elas vêm de Deus, ou vêm de espíritos malignos ou são invenções de nossas mentes. O cristianismo tradicional não contempla comunicação com espíritos de homens desencantados e mesmo com anjos, e com demônios só na expulsão e em algumas situações (Jesus conversou com a “legião” em Marcos 5.9). Essa é outra abordagem que precisamos fazer para entender eventos subjetivos que se passam, pelo menos a princípio, só em nossas cabeças, para então podermos identificar a loucura. 
      Alguém pode dizer, “minha experiência é espiritual, não é mental”, mas o espírito precisa de um instrumento para ser entendido por nossas consciências. Antes que nosso corpo reaja e aja, se mova, sinta, é em nossas mentes, com visões e audições mentais (e às vezes com outros sentidos mentais como cheiro e paladar) onde a experiência “espiritual” se passa. Nossa mente é quem recebe o primeiro contato que nosso espírito faz com o mundo espiritual, e é ela quem passará ou não essa informação para o nosso corpo. Discernir de onde vem é importante, para decidirmos se uma experiência possa ser passada para frente ou ser anulada ali, na origem.

      Preciso também compartilhar mais uma coisa, antes de seguir o estudo sobre “Loucura”, aproveitando essa reflexão introdutória, o entendimento que tenho sobre muitas coisas do mundo espiritual é fruto de várias experiências. A primeira delas é conhecimento bíblico, graças a Deus posso ter várias versões de Bíblias e de comentários de Bíblias a mão, também, aos sessenta anos, sou de uma época que a maioria das igrejas Batistas tradicionais (CBB) tinham ótimas E.B.D.s, minha base de conhecimento bíblico é antiga, fundamentada assim como eclética. 
      Tive a oportunidade também de estudar teologia em seminário, assim possuo uma biblioteca extensa de livros técnicos, ainda que atualmente tenhamos excelentes materiais disponíveis gratuitamente na internet, para quem quiser ler e aprender. Infelizmente a disponibilidade de material cresce em relação inversa ao interesse que as pessoas têm nos últimos anos por adquirirem boa informação, que requer estudo e tempo, muitos preferem informações rápidas ainda que falsas. 
      Não expus tudo isso por vaidade, Deus sabe, não tenho em mim motivos para me exaltar, meu orgulho é poder provar de uma imensa misericórdia de Deus, mas ainda com todo o conhecimento que tenho de terceiros, meu entendimento também é baseado em experiências de primeira mão com o Senhor, na oração e através dos dons espirituais. Não, nem tudo é claro pelo cânone bíblico, e o que tenta se basear só nele ficará preso à palavra morta e perderá muito da palavra viva do Espírito Santo.
      Precisamos buscar em Deus o discernimento, mas precisamos aceitar que Deus é muito mais que as experiências registradas na Bíblia de homens antigos com ele. Não estou incentivando ninguém a crer em coisas que não estão claras na considerada palavra escrita de Deus, assim se o que é compartilhado aqui te escandaliza, procure outro espaço, fale com o seu pastor, ore a Deus, se informe mais, mas faça tudo isso com mente e coração abertos. 
      Ainda existe um senso comum entre os cristãos que não se deve tecer teorias sobre certos assuntos, e pior ainda, que não se deve nem pensar neles, sempre usando o texto de Apocalipse 22.18-19 para alegar como pecado qualquer adição ou subtração a qualquer doutrina bíblica. Penso que isso é mais uma ideologia católica que protestante, também creio que isso mais atrapalha que ajuda, não deixa as pessoas mais praticantes do que sabem, ainda que saibam com restrições, mas deixa os hipócritas mais ignorantes, condição conveniente para os manipuladores. 
      Repetindo sempre o que dizemos aqui, a palavra de Deus é o vivo Espírito Santo, e ele está sempre aberto a diálogo com os que temem o altíssimo através do nome de Jesus. Todavia, a conversão de muitos ocultistas ao evangelho (principalmente os da “mão esquerda”) tem trazido informações certificadas pelo Espírito Santo, para quem está, repetindo, aberto para o verdade. Sejamos mais aplicados em conhecer o mundo espiritual, os inimigos de Cristo têm se aprimorado, enquanto muitos cristãos continuam católicos, ainda que se denominem protestantes evangélicos.

08/04/20

Loucura (parte 5) Ciência e religião

5. Ciência e religião

       Nesta 4ª parte do estudo sobre loucura, uma reflexão sobre o antagonismo que muitos criam entre ciência e fé. O que precisa ser acreditado para existir é o que não pode ser provado pelo menos antes que passe a existir, a ciência prova que coisas existirão mesmo antes de existirem. Por exemplo, sabemos que surgirá fumaça se um material for queimado, a fumaça ainda não existe, mas sabemos que existirá não só pelas nossas observações, mas porque a ciência provou que uma transformação ocorre quando um material é submetido à alta temperatura. Se há conhecimento, não se precisa de fé, se há comprovação científica, temos que aceitar, simples assim. 
      Mas a existência humana vai muito além do plano físico e de coisas que podem ser comprovadas, ainda que funcionem mesmo sem que saibamos bem o porquê. Ter certeza que algo improvável e mesmo impossível fisicamente vai acontecer, antes de acontecer, por crermos nisso, é experiência do plano espiritual, assim tudo que é crença pessoal e não pode ser provado cientificamente pode de alguma maneira em algum momento ser considerado loucura. Contudo, mesmo as coisas que não são explicadas pela ciência, podem ser submetidas a algum tipo de aprovação de legitimidade, isso para sabermos se elas vêm daquilo que cremos como ser o nosso Deus ou de outros lugares. Deus também é uma experiência que se tem por fé, não pode ser provado, mas ter essa experiência por anos a fio nos ensina o que é o “nosso” Deus, o que vem dele e o que podemos ter dele através de fé. 
      As religiões estabelecem limites para uma experiência espiritual, entregam caixas, nós homens aceitamos religiões como nossas verdades espirituais porque achamos nelas algo que nos toca de maneira pessoal, nos sentimos partes delas, conseguimos encaixar nelas nossos limites de subjetividade. Mas isso, como foi dito, é pessoal, a religião adequada para um não é para outro, aquela na qual alguém pode se sentir confortável para exercer fé pode não ser confortável para outro. Isso varia de acordo com uma série de coisas, desde a personalidade de cada ser humano, do lado emocional de cada um, assim como de acordo com o nível intelectual, e é claro, social e cultural de cada ser humano. 
      Sabemos que algo vem de Deus (ou do “nosso” Deus pessoal) quando encontramos aprovação para isso em nossa religião, e o ser humano é tanto complexo para ter visões religiosas diferentes, quanto limitado para se fechar numa visão e achar que ela é a verdade e as outras são falsas, ela é do bem e as outras são do mal, ela é de Deus e as outras são do diabo. Talvez esse limite, essa caixa, que nos prende a uma verdade, seja o que nos proteja da loucura, pois nele tentamos achar coerência, exercemos fé e esperamos resultados, provamos para ver a qualidade dos resultados e aprendemos para exercer fé numa próxima vez, dessa forma a fé também pode ser racional.
      Religião é construção humana, é aplicação de fé numa verdade individual, e ninguém arrogue achar que é aberto e esclarecido o suficiente para aceitar muitas religiões ao mesmo tempo, a caixa por maior que seja tem paredes. Não que ter essa iluminação seja errado ou impossível, mas não tê-la talvez seja o jeito de não enlouquecermos, de nos mantermos na caixa onde podemos viver como seres humanos minimamente lúcidos. Alguns, todavia, não muitos, conseguem ir além, terem uma visão mais alta do divino, casar muitas crenças, achar o elo perdido, isso não é a visão de um homem, curta e rasa, mas a visão de Deus, altíssimo, eterno e profundo (mas na verdade essa é a vontade ideal do divino para todos). 
      “Não sejas demasiadamente justo, nem demasiadamente sábio; por que te destruirias a ti mesmo? Não sejas demasiadamente ímpio, nem sejas louco; por que morrerias fora de teu tempo?” (Eclesiastes 7.16-17), esse texto nos dá uma lição de equilíbrio. Por que o ele diz que ser sábio demais pode nos destruir? Porque podemos ter tantos cuidados, querer controlar sozinhos tantas coisas, nos prendendo a tantos conhecimentos, que acabamos nos matando em vida, tendo uma existência sem alegria, sem aventura. Por outro lado, se nos desligarmos demais da realidade, sendo egoístas ou loucos, acreditando em ilusões, viveremos uma vida irresponsável que pode nos por em risco de morte antes do tempo, e de uma morte violenta. 
      Veja que aqui o termo louco foi interpretado como quem crê em fantasias, assim o crente religioso, apesar de pretender o bem, foi colocado junto do ímpio, que faz maldades, não pelos fins que desejam, que são opostos, mas pelos meios que usam, que são os mesmos. Aqui estamos analisando os meios, não os fins. Se obras demais podem nos enfraquecer, fé demais pode nos matar, umas pelo excesso de responsabilidades e outra pelo excesso de irresponsabilidade, o problema não está na fé nem nas obras, mas nos excessos delas. A loucura pode estar nos extremos, mesmo querer ser complacente demais, científico demais, zeloso demais, pode ser loucura tanto quanto ser crente demais. O ser humano é complexo demais para ser escravo de extremos, assim, o que acha equilíbrio encontra uma harmonia que pode livrá-lo da insanidade, seja ela qual for. 

06/04/20

Loucura (parte 4) Deuses e monstros

4. Deuses e monstros

      Nesta 3ª parte do estudo sobre loucura refletiremos mais sobre os textos citados na 2ª parte com os entendimentos de antigos gregos e outros estudiosos sobre o assunto, as passagens bíblicas a seguir serão citadas nesta reflexão, direta ou indiretamente.

      “Porque a ira destrói o louco; e o zelo mata o tolo.” 
Jó 5.2
      “Lembra-te disto: que o inimigo afrontou ao Senhor e que um povo louco blasfemou o teu nome.” 
Salmos 74.18
      “Ninguém se engane a si mesmo. Se alguém dentre vós se tem por sábio neste mundo, faça-se louco para ser sábio.” 
I Coríntios 3.18

      Como em outras áreas, em eventos climáticos, por exemplo, os povos mais antigos aliavam aos deuses a loucura, esses possuindo a consciência dos seres humanos, não só nas experiências religiosas (nos oráculos, os médiuns espíritas atuais ou os profetas cristãos), mas mesmo na arte, nos artistas criando sob influências de musas. Os gregos viam deuses em tudo, mas será que isso é diferente em muitos evangélicos pentecostais atuais que veem demônios em tudo? Seguindo na evolução do pensar humano sobre loucura, aliou-se loucura à maldade, se alguém fazia atrocidades era controlado pela loucura, e esse devia pagar por isso, muitos ainda pensam assim. Na Bíblia a palavra louco é usada com intenções distintas, às vezes indicando um homem violento, às vezes um incrédulo, e às vezes até ensina que ser “louco de Deus” é algo bom, veja textos acima.
      A humanidade evoluiu mais no entendimento da loucura quando separou-a da moral e da criminalidade, assim, por ser louco, alguém não deveria ser condenado pelo mal que fizesse, já que não poderia responder pelos seus atos, o louco não era malvado, mas alienado. Durante um período, contudo, os considerados loucos eram isolados, muitas vezes em ambientes nada melhores que as prisões para criminosos. Com o desenvolvimento da farmacêutica e de outras ciências isso mudou, loucos passaram a ser doentes que podem ser tratados com remédios, terapia e outros métodos não desumanos, não precisam ser necessariamente isolados da sociedade. É importante que saibamos que num momento histórico homossexualidade era considerada doença mental, esse não é hoje o entendimento oficial da psiquiatria, por isso “cura gay” não é aceita pelos profissionais da área médica.
      Todavia, uma mudança maior veio no entendimento de Hegel e Freud, que pensaram loucura como algo comum a todos os seres humanos, de acordo com eles doentes são só os que não conseguem viver na realidade com essa loucura latente. Os cristãos carismáticos e espíritas precisam saber que para muitos psiquiatras suas experiências com dons espirituais e com mediunidade são consideradas sintomas de loucura, visto que a consciência individual é tomada por uma entidade externa ou uma identidade diferente da considerada normal. É claro que se isso não impedir a pessoa de conviver com sua realidade, na sociedade, tendo uma vida produtiva e organizada, é uma loucura controlada (ou nem é).
      Essas considerações e definições são variáveis, existem níveis diferentes de doenças mentais ou psicopatologias, que ainda que prejudiquem menos o humor ou o senso de realidade da pessoa, podem ser diagnosticadas e devem ser tratadas. Com certeza todos nós, de alguma maneira, seremos considerados, por alguém em alguma instância, loucos. Hoje em dia esse termo nem é mais ofensivo, depois da revolução cultural dos anos 1960, louco virou sinônimo de gente independente que não se deixa levar pelas tradições sociais humanas, ser louco passou a ser chique. Mas é na área espiritual ou religiosa, por ser um campo onde as coisas são mais subjetivas, relativas às percepções de cada pessoa, de acordo com a fé de cada um, onde mais se taxa as pessoas de malucas, e é, conforme alguns estudos sérios, onde de fato existe muita gente com transtornos mentais, é muito importante que os crentes evangélicos tenham ciência disso. 

04/04/20

Loucura (parte 3) Os gregos e os psiquiatras

3. Os gregos e os psiquiatras

      O louco sabe tudo menos que é louco. Se você achar que está passando do limite daquilo que pode ser e ter, procure ajuda de outra pessoa, não confie só em sua própria noção de consciência. O outro extremo, contudo, achar que não pode nada, também pode ser sintoma de alguma doença mental, mas seja megalomaníaco ou persecutório, um adicionando e o outro subtraindo, ambos os delírios podem indicar algum nível de insanidade. Existem várias espécies de loucura no ser humano, afetando áreas diferentes de sua vida, mas ainda que se iniciem em uma área, a loucura sempre acaba afetando todo o nosso ser, em todas as áreas, física, mental e espiritual. Nessa segunda parte do estudo sobre loucura, conheceremos um pouco sobre o que pensavam os antigos gregos e estudiosos como os do século XIX sobre o assunto. 

      “A loucura ou insanidade é segundo a psicologia uma condição da mente humana caracterizada por pensamentos considerados anormais pela sociedade. É resultado de doença mental, quando não é classificada como a própria doença. A verdadeira constatação da insanidade mental de um indivíduo só pode ser feita por especialistas em psicopatologia. Algumas visões sobre loucura defendem que o sujeito não está doente da mente, mas pode simplesmente ser uma maneira diferente de ser julgado pela sociedade. 
      Na visão da lei civil, a insanidade revoga obrigações legais e até atos cometidos contra a sociedade civil com diagnóstico prévio de psicólogos, julgados então como insanidade mental. Na profissão médica, o termo (loucura) é agora evitado em favor de diagnósticos específicos de perturbações mentais, a presença de delírios ou alucinações é amplamente referida como a psicose. Quando se discute a doença mental, em termos gerais, psicopatologia é considerada uma designação preferida.
      As significações da loucura mudaram ao longo da história. Na visão de Homero, os homens não passariam de bonecos à mercê dos deuses e teriam, por isso, seu destino conduzido pelas "moiras", o que criava uma aparência de estarem possuídos, ao qual os gregos chamaram "mania". Para Sócrates, este fato geraria quatro tipos de loucuras: a profética, em que os deuses se comunicariam com os homens possuindo o corpo de um deles, o oráculo. O ritual, em que o louco se via conduzido ao êxtase através de danças e rituais, ao fim dos quais seria possuído por uma força exterior. A loucura amorosa, produzida por Afrodite, e a loucura poética, produzida pelas musas.
      Philippe Pinel alterou significativamente a noção de loucura ao anexá-la à razão. Ao separar o louco do criminoso, afastou o aspecto de julgamento moral que constituía até então o principal parâmetro da definição da loucura. Hegel afirmou que a loucura não seria a perda abstrata da razão: "A loucura é um simples desarranjo, uma simples contradição no interior da razão, que continua presente". A loucura deixou de ser o oposto à razão ou sua ausência, tornando possível pensá-la como "dentro do sujeito", a loucura de cada um, possuidora de uma lógica própria. Hegel tornou possível pensar a loucura como pertinente e necessária à dimensão humana, e afirmou que só seria humano quem tivesse a virtualidade da loucura, pois a razão humana só se realizaria através dela.” Fonte Wikipedia
      A loucura está inconsciente e existe em todos nós, loucos seriam os que sucumbiram à luta constante na sua relação com esse inconsciente, isso é o que diz Freud, pai da psicanálise, em outras palavras, de perto todo mundo é louco.

      Essas visões sobre loucura são mutuamente exclusivas? Penso que não, não pense que no século XXI a significação que usamos é a última, a mais recente, não, ainda podemos ler as loucuras mesmo conforme conceitos antigos. Penso que loucura é tudo isso que é citado nesse texto inicial e mais alguma coisa, assim vou usar as citações neste estudo (na 3ª parte), que não são de qualquer pessoas, são filósofos, estudiosos eruditos, cientistas da medicina e da psiquiatria, são conceitos que devemos considerar. “Se clamares por conhecimento e por inteligência alçares a tua voz, se como a prata a buscares e como a tesouros escondidos a procurares, então, entenderás o temor do Senhor e acharás o conhecimento de Deus, porque o Senhor dá a sabedoria, da sua boca é que vem o conhecimento e o entendimento.” (Provérbios 2.3-6).
      Muitos clamam por sabedoria, oram, jejuam, mas não se dão ao trabalho de estudar, de fazer uma faculdade, de ler bons livros. A boca de Deus não fala só pela Bíblia ou pela voz direta do Espírito Santo, seja em nossos corações ou pelas vidas de outras pessoas cristãs, Deus usa muitos homens sábios neste mundo para nos ensinar sua sabedoria. Principalmente na ciência, podemos aprender mesmo com homens que nem tenham entendimento ou que não assumam que a sabedoria que possuem é verdade de Deus, no caso deles não do mundo espiritual, mas do mundo material. Assim estejamos abertos, com temor e devidos filtros, para aprendermos com médicos, psiquiatras, assim como com químicos, físicos, matemáticos e tantos outros estudiosos sábios de suas áreas.

03/04/20

Loucura (parte 2) Nem tudo que parece é

2. Nem tudo que parece é

       “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá? Eu, o Senhor, esquadrinho o coração e provo os rins; e isto para dar a cada um segundo os seus caminhos e segundo o fruto das suas ações.” 
Jeremias 17.9-10

      Iniciando o estudo sobre loucura, uma reflexão sobre dois fenômenos psicológicos, entendimento interessante para quem quer conhecer mais a mente humana, uma parte do nosso ser que vai além de nosso cérebro físico, interface que liga nosso espírito ao nosso corpo. Seguem duas definições sobres esses fenômenos.

      “pareidolia é um fenômeno psicológico que envolve um estímulo vago e aleatório, geralmente uma imagem ou som, sendo percebido como algo distinto e com significado. É comum ver imagens que parecem ter significado em nuvens, montanhas, solos rochosos, florestas, líquidos, janelas embaçadas e outros tantos objetos e lugares. Ela também acontece com sons, sendo comum em músicas tocadas ao contrário, como se dissessem algo. A palavra pareidolia vem do grego para, que é junto de ou ao lado de, e eidolon, imagem, figura ou forma. Pareidolia é um tipo de apofenia.” Fonte Wikipedia 

      “Apofenia é um termo proposto em 1959 por Klaus Conrad para o fenômeno cognitivo de percepção de padrões ou conexões em dados aleatórios. É um importante fator na criação de crenças supersticiosas, da crença no paranormal e em ilusão de ótica. Inicialmente descrita como sintoma de psicose, a apofenia ocorre no entanto em indivíduos perfeitamente saudáveis mentalmente. Do ponto de vista da estatística é um Erro do tipo I, ou seja, tirar conclusões de dados inconclusivos. Em um exame pode levar a um resultado falso positivo. Psicologicamente é um exemplo de viés cognitivo. Ocorrências de apofenia frequentemente são investidas de significado religioso e/ou paranormal ocasionalmente ganhando atenção da mídia como a impressão de ver Jesus em uma torrada.“ Fonte Wikipedia 

      Experimentar os fenômenos acima não é sinal de psicose, ou necessariamente de algum transtorno psiquiátrico, é na verdade algo comum e útil. Revela a capacidade que o cérebro humano tem de “arredondar”, digamos assim, a interpretação de certas informações para chegar a conclusões de percepção mais rapidamente economizando tempo e energia. Mas essa capacidade precisa de cuidado, há de se ter discernimento para saber quando estamos vendo, ouvindo ou sentindo, coisas que na verdade não existem ou que não condizem com a realidade. Conclusões precipitadas podem levar a grandes enganos, e crer nesses enganos pode levar, sim, à instalação de doenças mentais, algumas de difícil reversão.
      Por que levantei esse tema aqui no blog? Porque em assuntos religiosos e na vida espiritual, que viajam em planos ainda não comprovados cientificamente e que são deveras subjetivos, variam de interpretação de pessoa para pessoa, é onde mais podemos provar pareidolias e apofenias (acho que muitos nunca tinham ouvido falar desses termos antes de ler aqui no “Como o ar...”, ainda que provem esses eventos o tempo todo). Sempre acredito num homem em harmonia com todos as suas áreas, física, emocional e racional, e espiritual, enfim, ter corpo, alma e espírito equilibrados, um ajudando o outro a entender e praticar o que é real de acordo com cada plano, creio que essa é a plena vontade de Deus para nós.
      As coisas na vida não são tão claras, como quer nos fazer crer a ciência, e nem tão relativas e infinitas, como quer nos fazer aceitar sem discussão as metafísicas (ainda que sejam, sim, relativas e infinitas). Na harmonia entre corpo, alma e espírito, achamos o equilíbrio, escapando da insanidade, evitando as diabrices, e nos libertando dos vícios, ou qualquer extremos que nos conduzam a alucinações. Se admitirmos que nós somos mais que matéria e mente, acharemos essa harmonia e seremos equilibrados, como sempre o critério de avaliação para isso é checar os frutos, plante certo e colherá bem. Chegaremos a nada delirando, assim conhecer a Deus, a nós mesmos e ao resto, é caminho que nos livra da ignorância e da loucura.

01/04/20

Loucura (parte 1) Introdução

      A partir de hoje e indo até o final deste mês, às segundas, quartas, sextas-feiras e aos sábados, o “Como o ar que respiro” estará compartilhando uma série de dezesseis reflexões sobre o tema “Loucura”. Segue hoje uma introdução, se puder, acompanhe este estudo, considero o texto mais profundo e verdadeiro (como testemunho pessoal) que já compartilhei aqui no blog, além de ser um assunto para lá de relevante a todos. 

1. Introdução

      Este é um estudo especial comemorando a entrada do blog “Como o ar que respiro” em seu 10º ano de existência, pela graça do Deus altíssimo. É uma série de dezesseis reflexões sobre o tema “Loucura”, ou Transtornos Mentais, o termo mais técnico, várias discussões serão feitas, abrangendo vários aspectos da insanidade, em várias áreas. Não é para esgotar o assunto, mas para nos ajudar a pensar mais nele. Se você acha loucura falar nesse assunto, saiba que ele está mais próximo de todos nós que achamos ou que queremos assumir que está, e se não de nós, de pessoas próximas a nós, que podem estar sofrendo numa enorme e injusta solidão.

1. Introdução 
2. Nem tudo que parece é
3. Os gregos e os psiquiatras
4. Deuses e monstros 
5. Ciência e religião 
6. Podemos saber? 
7. Morte e espíritos 
8. Loucura de Deus
9. Espírito Santo, o diabo e a mente
10. Origem da loucura
11. Processo da loucura
12. Podemos escolher?  
13. Sobre medo
14. O mal não entrará em ti
15. Informações de profissionais 
16. Conclusão 

      Não quero de maneira alguma tratar este tema de forma leviana, contudo, ele também não precisa nos assustar, ninguém necessariamente precisa, nos dias de hoje, ser internado e estigmatizado, por ter algum transtorno mental, com descanso, medicação e aconselhamento de profissionais sérios, todos podemos conviver com nossas características não normais. Alguns de nós passam a vida flertando com a insanidade, admirando-a, falando com ela, e às vezes até permitindo que ela domine, ainda que seja só nós pensamentos, mas todos nós temos algum nível de anormalidade. Isso na verdade talvez seja o que mais nos faz normais, ou mais semelhantes a todos os demais seres humanos. 
    O termo loucura, que usarei neste estudo, não é tecnicamente o mais correto, mas é um jeito de chamar a atenção da maioria para o tema. O que precisamos aceitar é que nossa existência é muito mais mental que física, nossa vida real se passa muito em nossas cabeças, às vezes mais até que no mundo físico. Já se deu conta em tudo o que você pensa e sente, mas não realiza? Isso também é sua vida, e uma parte muito importante dela, consome tempo e energia, assim como cria registros de sua existência. Saúde mental pode ser mais importante que física, já que ela pode influenciar todo o nosso corpo, assim como distorcer as informações que recebemos em nossa comunhão espiritual com Deus. 
      Sempre que compartilho reflexões sobre este assunto, por responsabilidade, gosto de deixar bem claro que eu não sou profissional da área médica de doenças mentais, ou de qualquer outra especialidade, assim, se está precisando de ajuda nesse assunto, para você ou para alguém que conhece, procure um médico, neurologista, psiquiatra ou psicólogo competente, não use qualquer opinião ou declaração feitas aqui no blog como orientação de diagnóstico ou de tratamento. Mais uma coisa, não confie mesmo em religioso, seja pastor, pregador, missionário, profeta, ou qualquer outro título que se dê nas igrejas evangélicas atuais, não em qualquer um, no que se refere a problemas mentais deixe a ciência cuidar daquilo que é dela. 
       Repetindo, alguns termos usados neste estudo não tiveram o compromisso de estarem tecnicamente 100% adequados à psiquiatria, à psicologia ou à neurologia, o estudo não é feito por um profissional da medicina, assim termos mais simples e de uso mais popular foram preteridos, ainda que se tenha pretendido ser claro e correto. Dediquei, contudo, a reflexão “Informações de profissionais”, para compartilhar textos com informações profissionais sobre o tema, que nos dizem, por exemplo, que médicos não chamam pessoas com transtornos mentais de doentes, mas de portadores de certas características mentais consideradas não normais. Seja como for minha intenção é ajudar, sem mistificações mas com seriedade. 

José Osório de Souza, 08/03/20