22/06/21

Forte para não lutar

      “Nesta batalha não tereis que pelejar; postai-vos, ficai parados, e vede a salvação do Senhor para convosco, ó Judá e Jerusalém. Não temais, nem vos assusteis; amanhã saí-lhes ao encontro, porque o Senhor será convosco.II Crônicas 20.17

      Estejamos fortes o suficiente para não lutarmos, para podermos resistir à oposição do agressor injusto com serenidade. Por isso tinha Jesus uma vida de constante oração, não para estar forte numa batalha e vencer, mas para resistir a ela, calado e humilde. Ah, como somos seres enganados, queremos ser fortes para prevalecer, queremos estar no melhor de nossas formas, em todas as áreas, para sermos soldados superiores no ataque. Não entendemos que só estarmos de pé, no lugar e no momento certo, basta, não para lutarmos, mas para permitirmos que Deus lute por nós. 
      Nessa força não precisamos fazer nada? Precisamos, sim, lutar contra nossos principais inimigos, nós mesmos, resistindo ao egoísmo, à insegurança, à vingança e à autocomiseração, que podem nos fazer reagir do jeito errado, seja com agressividade ou com covardia. Quem acha que não é preciso ser forte para não fazer nada, engana-se, é, principalmente para não fazer nada do jeito certo. Para isso é preciso força adquirida num caminhar próximo a Deus, isso nos permite permanecer inabaláveis ainda que tenhamos que parecer, pelo menos a princípio, passivos diante de homens.
      Enfrentamos uma grande tentação quando estamos fortes, a de querermos exibir essa potência para os outros, principalmente quando é uma capacidade adquirida com esforço pessoal, por isso o evangelho diz que é mais difícil para o rico entrar no reino de Deus e mais fácil para o pobre. Entendamos o termo rico não só como o que tem mais bens materiais, mas também como aquele com capacidade intelectual, emocional e mesmo espiritual superior, esse será tentado pela vaidade para se impor diante do mais fraco e consequentemente exibir a si mesmo, não a Deus. 
      Mas quem é mais vencedor, o que vence os outros com suas forças e capacidades ou o que vence a si mesmo, principalmente a dor de ser mais fraco, mais limitado e mais pecador, não ainda em pecado, mas perdoado? O perdoado entendeu que se tem uma vida de paz e honra no presente é porque teve seu passado perdoado, principalmente por Deus e por ele mesmo, assim tem a obrigação moral de exaltar a potência do Senhor, não a sua. Cruel, contudo, é o que humilha um perdoado em Cristo, cruel e perigoso, esse não luta contra o pecador, mas contra aquele que o perdoou.
      Por isso bem-aventurado é aquele que teve seus pecados perdoados, isso significa que ele assumiu seus erros e confiou em Deus para começar uma vida diferente, esse tem em sua essência a consciência de que o homem nada é e de que Deus é tudo. Esse não humilhará ninguém, não entrará em batalhas para se exaltar, não dependerá da aprovação e da honra do homem no mundo por suas vitórias e capacidades. Esse descobriu o segredo da espiritualidade eterna, estar em Deus para seguir para Deus e a Deus exaltar, esse é forte o suficiente para não lutar e deixar Deus brilhar. 

21/06/21

Perto está o Senhor

      “Justo é o Senhor em todos os seus caminhos, e santo em todas as suas obras. Perto está o Senhor de todos os que o invocam, de todos os que o invocam em verdade. Ele cumprirá o desejo dos que o temem; ouvirá o seu clamor, e os salvará.Salmos 145.17-19

      Algumas vezes dizemos, “parece que Deus está longe de mim, eu o procuro, mas não o encontro, por que isso”? Deus está sempre próximo daqueles que querem obedecer seu propósito, não porque ele seja prepotente e egoísta, mas porque ele é bom, sabe o que é melhor para nós e deseja que façamos isso para que sejamos felizes. Por isso, algumas vezes olhamos para um lado, não vemos Deus e nos desesperamos, mas não percebemos que ele está muito próximo, mas do lado oposto, não é Deus quem se afasta, somos nós que olhamos para o lugar errado. 
      Olhamos para o lugar errado porque de alguma maneira, por alguma razão, procuramos lá aquilo que achamos ser a coisa melhor a ser feita, isso por vários motivos. Podemos preferir fazer algo porque é mais fácil, porque será visto pelos homens, porque é algo que já fizemos e Deus aprovou, mas o Senhor pode estar querendo que façamos algo novo, que a princípio não será tão fácil de fazer e que muitas vezes não terá nenhuma aprovação ou ajuda humana. Novidade de vida em Deus é constante, e implica diretamente em encararmos o desconhecido para nós.
      Mas não se assuste, isso não é necessariamente algo complicado, muitas vezes aquilo que não estamos querendo aceitar é algo óbvio, que Deus já estava nos preparando para que nós fizéssemos há algum tempo, pode ser só algo que nossa humanidade não enxerga, ainda que esteja na nossa cara. Isso pode parecer difícil no momento que está acontecendo, mas depois acharemos até engraçado, como não vimos algo tão claro? Isso é só para nos lembrarmos quanto é importante termos uma visão espiritual e pela fé da existência, não só material e racional. 
      Aquele que anda constantemente com temor a Deus, em humildade, aberto para a manifestação espiritual de uma vontade do Senhor ampla e irrestrita, não terá dificuldades para fazer seu trabalho, seja aquele pela sobrevivência diária material, seja o espiritual para se ajudar e aos outros no amor de Deus, como diz o texto inicial, Deus “cumprirá o desejo dos que o temem”. Meus queridos, Deus está sempre muito perto de nós, sempre, se não o vemos é porque estamos olhando para longe, para os mundos, físico e espiritual, e não para dentro de nós.

20/06/21

Faça porque é o certo a fazer

      “Quanto a mim, Daniel, o meu espírito foi abatido dentro do corpo, e as visões da minha cabeça me perturbaram. Cheguei-me a um dos que estavam perto, e pedi-lhe a verdade acerca de tudo isto. E ele me disse, e fez-me saber a interpretação das coisas.Daniel 7.15-16

      Nossa jornada com Deus é simples e sempre será, não precisamos de provas, os que pedem uma prova sempre pedirão uma outra, precisamos de uma oportunidade para entregarmos nossas vidas e as de nossos próximos nas mãos de Deus e seguirmos em paz. Caminhe com o Deus que te trouxe até onde você está, com uma fé sincera e um coração limpo, lave-se no seu perdão e procure, com toda a alma, manter-se santo. Deus se agrada dos que se quebrantam diante dele e que amam sua santidade, Deus cuida dos que não fazem exigências e só querem ser acolhidos pelo seu amor.
      O homem é mal, o mundo, tenebroso, os tempos são estranhos, lá longe no horizonte uma tempestade cinza se forma, já ouvimos os trovões, nós ficamos mais velhos e mais frágeis a cada dia, a morte é certa para todos, ninguém se engane. Mas ao que persiste em buscar ao Senhor, a vida eterna o abraça, e nela há consolo e esperança, Deus é bom, em todo o tempo, resiste aos soberbos e sorri para os que reconhecem suas fraquezas e esperam nele. Fique em paz, Deus se agrada de ti e vê tua luta, sabe de teus limites e faz por você aquilo que você não pode fazer se você deixar. 
      Nada falta para os que buscam fazer o bem pelo simples motivo disso ser o que é certo fazer, por nenhuma outra razão e mesmo sem esperar recompensa ou honra, a esses basta a paz que cai suavemente como chuva fresca no solo de seus corações sedentos por justiça. Bom é nos aproximarmos de Deus, em todo o tempo, ter nas madrugadas, sozinhos no escuro de nossos lares, enquanto nossas famílias repousam, encontros com o pai de amor. O Senhor está sempre com os braços estendidos e abertos, prontos para nos receberem, o Senhor é sempre paciente e misericordioso. 
      Não dependa de estar em paz para buscar a Deus, mas busque a paz sempre, não se acostume com menos, e creia, o Senhor sempre pode nos dar a paz, mesmo em meio ao vendaval, mesmo debaixo de relâmpagos. O vale da sombra da morte muitas vezes não pode ser evitado, mas não é por isso que devemos ficar nele, vales da sombra da morte são para serem ultrapassados, deixados para trás enquanto rumamos ao monte onde o Altíssimo habita. No cume do monte entenderemos o porquê da angústia, e saberemos que a dor do vale é infinitamente menor que a alegria do monte.  

19/06/21

“Endemoniado” e “louco”

      “E, quando os seus ouviram isto, saíram para o prender; porque diziam: Está fora de si. E os escribas, que tinham descido de Jerusalém, diziam: Tem Belzebu, e pelo príncipe dos demônios expulsa os demônios.” “Chegaram, então, seus irmãos e sua mãe; e, estando fora, mandaram-no chamar.” Marcos 3.21-22, 31 (por favor, leia todo o capítulo três para melhor entendimento)

      É senso comum que o que confere legitimidade a alguém é o apoio da maioria, e se for da minoria terá que ser a considerada mais sábia ou poderosa, mas isso pode não ser verdade. Por outro lado, o bom senso diz que é adequado ouvir conselhos, buscar referências externas e não confiarmos só em nossos pontos de vistas, não somos Deus e podemos nos enganar redondamente sobre as coisas. Infelizmente, nos dias atuais, as pessoas acham que os outros são privilegiados por poderem desfrutar de suas opiniões, elas querem ser “cristos”, mas não aceitam o preço que Jesus pagou para sê-lo. 
      Jesus não tinha apoio de ninguém. A liderança religiosa de sua época o considerava endemoniado, “tem Belzebu”, sua família talvez achasse que ele tivesse perdido a sanidade, “está fora de si”, mas ele obedecia autoridade superior e tinha segurança, de forma a não se importar com o que os outros diziam. É triste como aqueles que muitas vezes mais deveriam entender e apoiar nossa experiência com Deus, serem justamente os que mais nos desaprovam, e mais que isso, entendem de maneira oposta nossas vidas, tomando por mal, o bem, por insano, o lúcido, por inútil, o fiel. 
      Tenhamos, contudo, calma na generalização desse ensino, devemos, sim, ouvir a opinião dos outros, principalmente de cristãos, de pais e de irmãos, esses, mais provavelmente, podem ser os que mais nos amam e mais querem nos ajudar, enxergando, talvez, coisas que nem nós estamos conseguindo ver em nossas vidas. Principalmente quando se refere a problemas mentais, referências externas ao doente são de suma importância, já que enfermos psicológicos perdem referências, assim como oprimidos espiritualmente não podem entender com clareza, visto estarem cegos por um mal exterior. 
      Depois de nos lembrarmos desse porém de sensatez, saibamos, então, que se estivermos bem de saúde e sem influência de espírito ruim, estando nós em nosso perfeito juízo, e se isso for de fato a vontade específica de Deus para nossas vidas, podemos ser levados, não por nós, mas pela nossa vocação, a receber séria oposição, mesmo de cristãos e de família. Numa situação assim, onde sabemos pelos frutos que estamos obedecendo a Deus, e quem está em Deus sempre tem paz e produz bons frutos, precisamos não temer os homens assim como não tentar convencê-los sobre quem somos. 
      Cristo não tinha apoio da minoria, talvez mais importante para ele, mas ele tinha apoio da maioria? Durante um tempo pareceu ter, mas no final, não, se tivesse o povo teria feito algo para impedir sua morte, “e, respondendo todo o povo, disse: O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos” (Mateus 27.25). Cuidado, os que confiam em apoios populares, a história já mostrou que eles existem por motivos fúteis e egoístas, dê pão e circo e o povo dará apoio, mas basta que o pão e o circo acabem, ou que outro dê um pão e um circo mais conveniente, e o apoio da maioria cessará. 
      Esta reflexão nos remete a outro tema, comum nos dias atuais, a polarização política. Muitas pessoas nos demonizam quando não concordam conosco, não aceitando que possa haver um ponto de vista diferente e talvez igualmente legítimo. Quando não podem destruir nossos argumentos tentam nos destruir. Que Jesus tivesse uma ótica religiosa diferente da religião oficial e um estilo de vida diferente daquele de sua família, tudo bem, mas que por isso ele estivesse a mando do diabo ou fosse louco são extremismos, usados por quem não tinha argumentos contra pontos de vista diferentes do seu.

18/06/21

Semelhantes se atraem

      “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem” João 10.27

      Semelhantes se atraem e diferentes se repelem. Mas ocorre algo interessante com muitas pessoas que têm em comum conosco os defeitos, elas nos criticam, não aceitam nos outros o que não aceitam nelas mesmas. Se tais pessoas fossem melhores, seriam diferentes, assim não nos condenariam, não promoveriam nossas fraquezas. Por que elas nos criticam, se tem os mesmos defeitos que nós? Porque jogando holofotes em nossos tropeços deixam na escuridão os delas, exibindo-nos, se escondem, colocando-nos como errados, se postam como corretas. Atraímos não só bons semelhantes, mas também os maus. 
      Entendamos uma coisa, aquela pessoa que mais nos incomoda é justamente aquela que é mais parecida conosco, pelo menos em nossas fraquezas e defeitos, assim, quando criticamos de maneira destrutiva alguém, é sobre nós mesmos que estamos falando. Projetamos nos outros os nossos erros, quando não queremos consertar esses erros, contudo, o inverso também ocorre quando nos assumimos e nos acertamos. Nesse caso, aprendemos que errar causa sofrimento, a nós e a outros, e assim queremos mudar e desejamos que as pessoas entendam essa nossa nova consciência, clamamos profundamente por misericórdia. 
      Crítica destrutiva está diretamente ligada à pessoa não resolvida, já quem se resolve prova misericórdia e assim quer ser misericordioso com os outros. Resolvidos procuramos semelhanças boas nos outros, seremos atraídos pelo bem, não pelo mal, para construir algo junto, não para destruir, buscamos por pontes, não por muros, desejamos fazer alianças que fortaleçam todos, elogiando, incentivando, amando, e esse bom plantio sempre colhe consideração igual de benignidade. Quem te atrai? Quem ocupa mais espaço mental em tua vida? Sente-se satisfeito em achar o lado bom do outro ou prazer tóxico no seu pior lado? 
      Todos temos qualidades e defeitos, coisas resolvidas e outras nem tanto, mas nossa atração maior revela nossa intenção mais profunda, se boa para o bem, se má, para o mal. Semelhantes se atraem, mas todos somos parecidos com todos em alguma instância. O caminho melhor é buscar a luz, achar prazer na luz e contribuir para que o próximo também esteja na luz. Isso não é um caminho fácil, nossa maior batalha é contra nossas trevas interiores, de maneira que os “demônios” não achem em nós frequências simpáticas com suas baixas vibrações, antes, sejamos limpas moradas para o Santo Espírito do Altíssimo.
      Quem anda com Jesus, com Jesus quer se parecer, quem tem vida profunda de oração, que dialoga com o Senhor pelo Espírito, apreende a maneira de Deus agir e reagir, a suavidade grave de sua fala, o fogo santo de seu olhar, a calma revigorante de seus pensamentos, o amor que o move sempre para nos acolher, ainda que sejamos crianças mimadas e teimosas, infiéis e desanimadas, que perdem a fé diante de qualquer ventinho de engano. Não adianta falar de Deus, escrever sobre Deus, estudar a respeito de Deus, tem que se ter intimidade com o Senhor, respondendo sim à sua atração para sermos semelhantes a ele. 

17/06/21

Quem teme a Deus tem ampla visão

      “A transgressão do ímpio diz no íntimo do meu coração: Não há temor de Deus perante os seus olhos. Porque em seus olhos se lisonjeia, até que a sua iniquidade se descubra ser detestável. As palavras da sua boca são malícia e engano; deixou de entender e de fazer o bem. Projeta a malícia na sua cama; põe-se no caminho que não é bom; não aborrece o mal.Salmos 36.1-4 (versão Almeida Corrigida e Fiel) 

      “Há no coração do ímpio a voz da transgressão; não há temor de Deus diante de seus olhos.” (versão Nova Almeida Atualizada)
      “Há no meu íntimo um oráculo a respeito da maldade do ímpio: Aos seus olhos é inútil temer a Deus. (versão NVI, Nova Versão Internacional)
Salmos 36.1

      Fiz questão de postar mais de uma versão bíblica do versículo um visto diferenças significativas nas traduções, mas que não alteram o ensino principal. Traduzir a Bíblia não é trabalho fácil, mas algo que confronta os tradutores é o cuidado para não ir por um caminho muito diferente das traduções mais antigas e tradicionais. Isso tem mudado nos últimos anos, uma visita a uma livraria evangélica nos colocará diante de muitas versões, é interessante fazer comparações, usar dicionários das línguas originais, que abrem os termos, permitindo-nos traduções “customizadas”. 
      Apesar da ênfase do “Como o ar que respiro” não ser estudo bíblico convencional, mas mais filosofia e reflexão sobre a prática cristã, sempre tentando responder à pergunta, “onde o cristianismo dos homens nos levou?”, pela graça de Deus tenho mais de trinta Bíblias em minha biblioteca, com versões diferentes. Creio que conhecimento bíblico profundo é o início do conhecimento de Deus, e não o fim, entretanto devemos começar certo para chegarmos ao melhor lugar, mas vamos à reflexão de hoje, completando a sequência de três palavras sobre o tema “temor do Senhor”. 

      Temor do Senhor estabelece referências, evita que nos enganemos superestimando o que é menor ou subestimando o que tem importância. Uma pergunta: quem enxerga melhor, quem caminha pelo vale, dando volta na montanha, ou quem está em cima da montanha? Ainda que veja as coisas menores, o que está acima pode ver tudo, já quem caminha só vê pouca distância à sua frente ou atrás de si. Quem busca a Deus e nele se refugia coloca-se num lugar espiritual alto e desse local tem discernimento das coisas, vê o que pode haver no final do caminho, sabe de efeitos e causas, não se ilude com as partes, enxerga o todo. 
      Temor do Senhor ensina-nos a não julgar as pessoas, e mais, a não condená-las, ele nos faz humildes, sabemos que não podemos desprezar ninguém e que todo mundo, em algum momento, pode precisar de todo mundo. Ele nos liberta das ilusões do mundo material, entendemos que a vida aqui é curta e passageira e que da eternidade espiritual viemos e para ela voltaremos. Temor do Senhor nos leva a louvar a Deus em todo o tempo, por tudo, a depender dele nas mínimas coisas, a saber que nada acontece sem sua permissão e que Deus ama a todos, mesmo àqueles que consideramos inimigos ou que se colocam assim contra nós. 
      Temor do Senhor vê irmãos em todos, nos liberta de preconceitos e nos dá uma disposição realmente espiritual, ainda que não saibamos tudo, ainda que estejamos limitados por religiões. Mesmo que numa religião descriminada pelas outras, por algum motivo, o que teme a Deus nunca está em trevas, de algum jeito alcança a verdade necessária para ser cuidado pelo Senhor. “Deus salva cristãos e condena os outros?” Afirmar isso é não temer a Deus, e é preciso não só não dizer isso, mas não sentir isso, vigiando dentro de nós com a mais pura e reta intenção. O amor de Deus só pode ser compreendido com temor a Deus. 
      Temor do Senhor é virtude que só pode ser retida no mais profundo do nosso ser, não pode ser falseada, inventada, manipulada, e quando existe é percebida, mas também só pelos que verdadeiramente temem a Deus, já os outros zombarão, desdenharão, duvidarão, ninguém pode ver no outro algo que não tem em si. O que teme, ainda que não seja entendido ou honrado, a todos entende, não pode ser enganado, só o espírito limpo tem visão espiritual abrangente pois Deus acha nele liberdade para manifestar a mais alta sabedoria. O que não teme a Deus está só e em trevas, será amante do engano visto que não amou o Senhor. 
      O que teme a Deus vê tudo e cala, o que não teme acha que vê e fala, o que teme é sábio, o que não teme é malicioso, o que teme para Deus caminha, o que não teme de Deus foge. O que teme a Deus tem medos? Sim, muitos, mas isso não é fraqueza, é sensibilidade espiritual, que lhe mostra o caminho melhor para prosseguir e conquistar, não as ilusões do mundo, mas o reino de Deus. O que não teme bate no peito e diz que mata um leão por dia, mas dentro de si teme a morte. “Porém o ímpio não irá bem e ele não prolongará os seus dias, que são como a sombra, porque ele não teme diante de Deus” (Eclesiastes 8.13).

16/06/21

Temor do Senhor, tesouro melhor

      “Melhor é o pouco com o temor do Senhor, do que um grande tesouro onde há inquietação.Provérbios 15.16
 
      Como adquirir o temor do Senhor? Respondo essa questão com outra: como é a tua oração? Quanto tempo separa para orar? Ora na igreja pois lá você consegue ser devotado? Ou é daqueles, e aqui não vai qualquer juízo de valor, que diz que não precisa de igreja para ter vida com Deus, que fala o tempo todo com o Senhor, que diz que tua vida é uma constante oração? Somos especialistas em tentar enganar a nós mesmos e aos outros, mas a Deus não se engana, e quem não está perto de fato dele não pode sequer entender o que é temor do Senhor, ainda que ache que entenda. 
      Conhecemos alguém mantendo diálogo aberto, respeitoso e por muito tempo com ele, nos relacionamos com Deus orando, pedindo seu perdão, entregando a ele nossos projetos profissionais e afetivos, solicitando sua aprovação. Contudo, para adquirir o temor do Senhor é preciso mais que isso, mais que oração protocolar e ritualizada, mais que uso mesmo meticuloso de fórmulas. As religiões cristãs, grosso modo, são fábricas de fórmulas, podem até fazer de seus adeptos pessoas que têm medo de Deus, por ele ser onipotente e juiz, mas são limitadas para ensinarem sobre temor. 
      Achar um tesouro do Senhor implica numa busca diferenciada, que nos exibe por inteiros na luz de Deus, à medida que purifica nossas intenções e nos permite conhecer o Altíssimo. Por ser isso algo raro e caro, não é porta que se abre a qualquer um e de qualquer maneira, assim, adquire temor quem avalia sua prática de vida numa oração que vai além de pedir e agradecer pelo que recebeu. Teme a Deus quem vivencia e aprimora os dons espirituais numa experiência profunda de comunhão com o Senhor, quando conseguimos vislumbrar o mundo espiritual com clareza e santidade. 
       Desculpe-me se você é um cristão de igreja tradicional, que não convive com os dons espirituais, ou convive e nem se dá conta disso, ou é um cristão dos chamados pentecostais e se dá conta dos dons, mas de forma limitada, de acordo com as “fórmulas” de sua igreja, seja como for, todos nós precisamos entender que achar o tesouro do temor do Senhor é uma intimidade séria com Deus. É experimentar o Espírito Santo como o mestre que Jesus disse que enviaria depois que partisse, essa experiência só se inicia quando nossa alma se cala e enfim nos abrimos para o mundo espiritual.
      Infelizmente é justamente nesse momento, depois que clamamos e educadamente agradecemos, quando nossa ansiedade foi satisfeita, que muitos de nós param de orar, paramos no momento em que ela deveria seguir, não mais usando Deus como “caixa de banco”, para depositar e sacar, mas se prostrando diante dele como mestre mais alto. Para isso é preciso paciência e sensibilidade, abrir mão das preocupações com os tesouros do mundo, para que depois que todas as nossas vozes interiores, e mesmo as exteriores, se calarem, discernamos a voz única e maravilhosa do Senhor.