sábado, junho 19, 2021

“Endemoniado” e “louco”

      “E, quando os seus ouviram isto, saíram para o prender; porque diziam: Está fora de si. E os escribas, que tinham descido de Jerusalém, diziam: Tem Belzebu, e pelo príncipe dos demônios expulsa os demônios.” “Chegaram, então, seus irmãos e sua mãe; e, estando fora, mandaram-no chamar.” Marcos 3.21-22, 31 (por favor, leia todo o capítulo três para melhor entendimento)

      É senso comum que o que confere legitimidade a alguém é o apoio da maioria, e se for da minoria terá que ser a considerada mais sábia ou poderosa, mas isso pode não ser verdade. Por outro lado, o bom senso diz que é adequado ouvir conselhos, buscar referências externas e não confiarmos só em nossos pontos de vistas, não somos Deus e podemos nos enganar redondamente sobre as coisas. Infelizmente, nos dias atuais, as pessoas acham que os outros são privilegiados por poderem desfrutar de suas opiniões, elas querem ser “cristos”, mas não aceitam o preço que Jesus pagou para sê-lo. 
      Jesus não tinha apoio de ninguém. A liderança religiosa de sua época o considerava endemoniado, “tem Belzebu”, sua família talvez achasse que ele tivesse perdido a sanidade, “está fora de si”, mas ele obedecia autoridade superior e tinha segurança, de forma a não se importar com o que os outros diziam. É triste como aqueles que muitas vezes mais deveriam entender e apoiar nossa experiência com Deus, serem justamente os que mais nos desaprovam, e mais que isso, entendem de maneira oposta nossas vidas, tomando por mal, o bem, por insano, o lúcido, por inútil, o fiel. 
      Tenhamos, contudo, calma na generalização desse ensino, devemos, sim, ouvir a opinião dos outros, principalmente de cristãos, de pais e de irmãos, esses, mais provavelmente, podem ser os que mais nos amam e mais querem nos ajudar, enxergando, talvez, coisas que nem nós estamos conseguindo ver em nossas vidas. Principalmente quando se refere a problemas mentais, referências externas ao doente são de suma importância, já que enfermos psicológicos perdem referências, assim como oprimidos espiritualmente não podem entender com clareza, visto estarem cegos por um mal exterior. 
      Depois de nos lembrarmos desse porém de sensatez, saibamos, então, que se estivermos bem de saúde e sem influência de espírito ruim, estando nós em nosso perfeito juízo, e se isso for de fato a vontade específica de Deus para nossas vidas, podemos ser levados, não por nós, mas pela nossa vocação, a receber séria oposição, mesmo de cristãos e de família. Numa situação assim, onde sabemos pelos frutos que estamos obedecendo a Deus, e quem está em Deus sempre tem paz e produz bons frutos, precisamos não temer os homens assim como não tentar convencê-los sobre quem somos. 
      Cristo não tinha apoio da minoria, talvez mais importante para ele, mas ele tinha apoio da maioria? Durante um tempo pareceu ter, mas no final, não, se tivesse o povo teria feito algo para impedir sua morte, “e, respondendo todo o povo, disse: O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos” (Mateus 27.25). Cuidado, os que confiam em apoios populares, a história já mostrou que eles existem por motivos fúteis e egoístas, dê pão e circo e o povo dará apoio, mas basta que o pão e o circo acabem, ou que outro dê um pão e um circo mais conveniente, e o apoio da maioria cessará. 
      Esta reflexão nos remete a outro tema, comum nos dias atuais, a polarização política. Muitas pessoas nos demonizam quando não concordam conosco, não aceitando que possa haver um ponto de vista diferente e talvez igualmente legítimo. Quando não podem destruir nossos argumentos tentam nos destruir. Que Jesus tivesse uma ótica religiosa diferente da religião oficial e um estilo de vida diferente daquele de sua família, tudo bem, mas que por isso ele estivesse a mando do diabo ou fosse louco são extremismos, usados por quem não tinha argumentos contra pontos de vista diferentes do seu.

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