23/09/21

Sozinho o ser sofre (1/2)

      “Porque o Senhor consolará a Sião; consolará a todos os seus lugares assolados, e fará o seu deserto como o Éden, e a sua solidão como o jardim do Senhor; gozo e alegria se achará nela, ação de graças, e voz de melodia.Isaías 51.3

      Solidão, a maior dor e o principal motivo das pessoas se perderem em escapismos e vícios. O ser humano é só? Sim, ainda que busque no mundo o tempo todo por apoio, ainda que queira achar nas relações sexuais mais companhia que prazer, no casamento mais cumplicidade que status, e nas amizades a família que pode não ter tido, o ser é só. É como se no plano físico ele quisesse negar o que é no plano espiritual, uma entidade independente, que deve responder por si, que não precisa responsabilizar os outros por seus erros e carências. Espírito também não se reproduz, assim não tem sexualidade, característica predominante no ser enquanto matéria, característica responsável por tantas escolhas e descaminhos. Sexo sempre busca companhia, ainda que só mental ou virtual. 
      Entretanto, o ser não sofre por ser só, mas por fugir da companhia daquele que o completa, seu criador, que depois lhe dá a companhia de outros seres para que ele os sirva em amor. No mundo isso é mais difícil, Deus coloca o espírito num corpo físico e sexual, assim está criado o conflito. Deus permite esse conflito para que o ser sofra? Não, para que seja provado, aprovado, conheça a Deus, dê a ele a relevância certa, então cresça. O fato de Jesus homem, diferente de outros fundadores de religiões, ter sido solteiro em sua caminhada neste mundo, nos fala muito sobre o ideal e a vocação maior do ser humano. Mas essa é só mais uma diferença que faz do Cristo a verdade mais alta do Altíssimo dada aos homens, existem outras, e essa característica não foi causa de sua espiritualidade, só efeito. 
      Não temos ideia do que as pessoas fazem para se consolarem em suas solidões, os preços que pagam, as alianças que fazem e as que traem, só Deus na “causa”, como se diz, mas vencer a solidão é nosso maior desafio no mundo. Muitos, ainda que se mostrem prósperos financeiramente e profissionalmente, ainda que sejam versáteis para se moverem entre lugares, empresas e eventos, ainda que tenham o respeito de muitos, são solitários, e à noite, num quarto confortável de hotel, entre um compromisso e outro, sofrem. Outros sofrem mesmo em famílias bonitas e honradas pela sociedade, homens, mulheres, mas antes de tudo, seres humanos, cujos espíritos não se satisfazem com sexualidades binárias, ou mesmo nem com as não binárias. O ser sofre sempre sendo só. Mas o que é a solidão? 
      Solidão é morte presente na ausência de movimento espiritual para Deus, quando se para, desliga-se de Deus, se morre e nisso o espirito está só. O inferno é solitário, e mesmo que os seres procurem a proximidade de outros seres também parados, serão companhias frias e negras, sem o calor e a luz do amor de Deus. João 17.21, “para que todos sejam um como tu, ó Pai o és em mim e eu em ti, que também eles sejam um em nós para que o mundo creia que tu me enviaste”, é um dos meus textos bíblicos favoritos, cito-o com frequência aqui, tem uma das revelações espirituais mais profundas e importantes. Ele fala justamente da interação espiritual que existe entre seres e seu criador, possível através de Jesus, essa interação é a única coisa que livra o ser da solidão. 
      No céu, a melhor eternidade com Deus, não haverá solidão porque os seres estarão unidos numa comunhão que vai além de proximidade física e compartilhamento de coisas em comum. Não podemos ter, como homens no mundo, a exata noção do que é essa interação, mas ela é muito mais plena e livre, visto que no céu não seremos delimitados por matéria, espaço e tempo. “As coisas que o olho não viu, o ouvido não ouviu e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que o amam, mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito” (I Coríntios 2.9-10a). Provará a companhia espiritual maior quem se libertou das falsas companhias da carne, por isso persistamos nas melhores virtudes, ainda que sozinhos entre os homens, com a companhia do Espírito de Deus. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão.

22/09/21

Deus do tempo presente

      “E, endireitando-se Jesus, e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais.João 8.10-11
      “Não vos inquieteis, pois, pelo dia amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.Mateus 6.34

      Permanecer em Deus e consequentemente permanecer na paz que nos dá forças para vencer o “pecado” e seguir em frente, é permanecer no tempo espiritual melhor, o “presente de Deus”. Somos tentados o tempo todo, e antes que por seres espirituais ou homens maus, pela nossa própria mente, ela não para de pensar, de imaginar, de lembrar, de querer, de não querer. Nas viagens que nossas mentes fazem somos levados numa máquina do tempo, que ora nos lança ao passado, ora ao futuro, e ambos podem ser mentiras. Se do futuro ninguém sabe do passado também não temos certeza, não quando tentamos interpretar as coisas só sob o nosso ponto de vista humano e pequeno. 
      Por isso precisamos aprender a permanecer espiritualmente em Deus, só o Espírito Santo pode assentar nossas emoções e nossos pensamentos e nos conduzir a uma disposição de vitória no tempo presente de Deus. Preste atenção em como começa um “pecado”, usando o termo aqui para definir tudo que fere de alguma forma nossa paz em Deus, avalie com cuidado o processo que nos tira de uma disposição de vitória e nos entrega ao mal. Sempre se inicia com devaneios temporais, que nos tiram da realidade, do aqui e agora, e nos colocam numa ilusão, seja passada, seja futura. Daí nasce o desconforto e esse pode nos levar a buscar consolo nos prazeres mais baixos do corpo, consumando o pecado. 
      O trabalho de vigilância moral é o trabalho de não embarcarmos na máquina do tempo de nossas mentes. Sim, podemos reavaliar o passado para nos conscientizar de erros, assumi-los e obter perdão deles, também podemos planejar o futuro, querer o melhor e visualizar isso. Contudo, para melhorar de forma prática nosso tempo presente, seja não repetindo erros passados, seja trabalhando para construir o futuro, mas de forma alguma para reter culpa ou instalar ansiedade. Deus é um ser presente, para ele não existe passado nem futuro, ele sabe e faz tudo aqui e agora, assim o Espírito Santo nunca nos acusa nem nos pesa, ele é direto e possível, orientando-nos a sermos nosso melhor hoje. 
      Quem tem experiência real com o Espírito Santo, ouvindo sua voz em profecia, tendo revelação ou interpretando línguas estranhas, e eu disse experiência real, não falsificações como as que existem por aí, que na melhor das circunstâncias só usam clichês de palavras que um dia podem até terem vindo de Deus, sabe que o Espírito Santo é sempre positivo, sempre luz, sempre conduz à paz. Essa palavra realmente espiritual sempre levanta e põe em movimento o espírito humano em direção ao Altíssimo, a assunção do pecado ocupa só um instante, no qual Deus não perde “tempo”. O nosso tempo deve ser usado para agirmos certo, não para nos culparmos pelos erros e muito menos para tornarmos a errar. 
      Permanecer no presente espiritual é permanecer vivo espiritualmente, experimentando pelo menos em parte o que teremos na melhor eternidade de Deus, onde não seremos corrompidos, quando só teremos um trabalho a fazer, amar. Os textos iniciais mostram Jesus interagindo com o tempo de forma direta e positiva, sobre o pecado passado, ele diz está perdoado, simplesmente vai-te, e não peques mais. Sobre as necessidades futuras, basta a cada dia o seu mal, eis uma orientação realista, que não nega a existência de problemas e erros futuros, mas que ensina a não nos ocuparmos antecipadamente com isso. Viver o tempo que se chama hoje em Deus, eis o desafio maior neste mundo para todos nós. 

      “Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado.” Hebreus 3.13

21/09/21

Não deixe nem começar!

       “Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele.Provérbios 22.6

     Algumas coisas temos dificuldades para terminar, mas podemos evitar que comecem. Vício é fazer algo errado pela segunda vez, só bastam duas vezes para nos viciarmos em algo. Não se vicia em coisas diretamente ruins, pelo menos não são ruins para quem as faz, ninguém cheira cocaína porque é ruim, cheira porque lhe dá prazer. O que livra as pessoas de vícios não é dizer a elas que algo é ruim, mas é acostumá-las com algo melhor. Vamos diferenciar vício de costume, costume não é vício, vício é aquilo que nos controla, costume é só a repetição de algo, sobre isso temos controle.  
     O ser humano até poderia provar algumas coisas, ao menos uma vez, e eu disse algumas coisas, se tivesse controle sobre si mesmo e se conhecesse. Temos controle sobre algo quando percebemos que algo não nos oferece uma satisfação completa, que de alguma maneira prejudica nosso corpo, nossa alma ou ambos, por isso o rejeitamos. Conseguimos nos livrar de vícios quando temos percepção suficiente para discernir se algo nos faz bem ou não, ainda que seja agradável. Só temos essa percepção quando temos sensibilidade baseada em referências altas de qualidade de vida física e moral. 
      Tem gente que prova uma vez bebida alcoólica, não gosta e nunca mais prova, outros, ainda que não gostem, por motivos diversos, incluindo ser aceito num grupo social, tornam a provar até que se viciam. Uma das principais características do ser humano é a adaptabilidade, ela é necessária para sobrevivência neste mundo. Contudo, assim como o ser humano pode se adaptar e gostar de algo que a princípio lhe é desconhecido, mesmo desagradável, mas que lhe faz bem, ele também pode se adaptar, e infelizmente com mais facilidade, a algo que não lhe faz bem e que lhe dá um prazer. 
      Bebidas alcoólicas podem prejudicar o fígado, assim como tabagismo pode prejudicar os pulmões, mas entorpecem o cérebro e entregam prazer, seja de calma ou de euforia. A quem interessa esses prazeres artificiais? A quem não encontra prazer equilibrado e não nocivo na vida real, no que bebe, no que come, na ocupação produtiva que exerce, nos relacionamento sociais e íntimos que tem. Alma angustiada, magoada, solitária, desocupada, é terra fértil para vícios, solução para todos esses problemas só vida com Deus, que experimenta e entrega perdão, que respeita a si e aos outros. 
      Ensine uma criança o que é melhor, seja na área que for, e ela não será presa do mal e de vícios, mas ensine-a de forma que ela tenha alegria no melhor, senão poderá ter efeito contrário. Muitos pecam simplesmente por falta de opção, não conhecem nada melhor para fazerem e terem prazer, assim se entregam a sexo antes do tempo e com pessoas erradas, buscam apoio em amizades tóxicas, porque não têm ninguém mais perto e com melhor intenção por companhia. Mas outros ainda que tenham tudo se viciam, porque insistem em andar longe de Deus, e eu disse de Deus, não de religião.
     Mas ensinemos a criança do jeito certo, dando exemplos práticos do que é ensinado e monitorando de perto, com amor e paciência. Falar sem dar exemplo ou estar longe, pode levar a criança a sentir aversão pelo que aprende, ainda que seja algo bom. O melhor é ocuparmos tempo e energia com coisas boas, assim o mal não terá oportunidade nem para uma primeira vez. Muitos têm se viciado na internet por acharem no mundo virtual companhia e prazer que não têm no mundo real, mas ela pode ser uma grande mentira, nos aproximemos de quem nos ama de verdade, isso nos protege de vícios. 

20/09/21

Só pelo prazer?

      “Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum. Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.Isaías 53.3-5

      Como o Cristo Jesus conseguiu exercer por três anos um ministério, vivendo, ensinando, amando, com paciência, com esperança, com calma, com alegria, sabendo que no final lhe aguardava algo terrível, extremamente doloroso e cruel? Ainda se ele soubesse que o que construiu por três anos o ajudaria de alguma maneira, não para livrá-lo da morte, mas pelo menos para dar a ele companhia de amigos que o apoiassem, gratos pelos milagres, curas e maravilhas que provaram através de seu trabalho, mas não.
      Se ele olhasse só para o final poderia achar até que era inútil se esforçar tanto, amar tanto, se sacrificar tanto, afinal muitos dos que foram abençoados por ele fariam parte do coro que escolheria livrar o criminoso Barrabás em seu lugar. Mas ele cumpriu sua missão até o final, e só colheu de fato um resultado bom depois que ressuscitou, a salvação de toda a humanidade. Jesus não teve nenhum prazer como recompensa, sua passagem no mundo foi dor e injustiça, e ainda assim foi o modelo de homem perfeito. 
      Ah, como estamos distantes desse ideal de vida, somos seres viciados em prazer, tudo o que fazemos é visando prazer, ainda que trabalhemos e soframos um pouco, o fazemos porque sabemos que logo depois poderemos desfrutar algum prazer. Somos seres mimados, imaturos, todos carnais, ainda que disfarçados de espirituais, não estamos preparados para sofrer. Alguns visam prazeres baratos, outros mais caros, outros ainda mais sofisticados e eruditos, não materiais mas intelectuais e artísticos, mas sempre prazer egoísta. 
      Mas mesmo religiosos visam prazeres, ainda que seja cantando louvores, usando os dons espirituais, ainda que não seja prazer diretamente no corpo, mas querem sentir na alma êxtases resultantes de experiências espirituais. Será que nós cristãos, se Deus nos dissesse que não teríamos mais que o suficiente para estarmos fisicamente vivos e que ainda assim teríamos que ser santos e servir os outros, sem esperar nenhum prazer como pagamento, pelo menos neste mundo, será que ainda assim seríamos cristãos? 

19/09/21

Sábia criança pobre

      “Melhor é a criança pobre e sábia do que o rei velho e insensato, que não se deixa mais admoestar. Porque um sai do cárcere para reinar; enquanto outro, que nasceu em seu reino, torna-se pobre.Eclesiastes 4.13-14

      Amo a sabedoria contida em antagonismos bíblicos, que nega o óbvio, que surpreende a malícia humana, que deixa claro tanto a teimosia do homem em fazer escolhas erradas quanto a insistência de Deus em dar uma nova chance para que o ser humano acerte. Nos dois versículos iniciais de Eclesiastes dois desses antagonismos, um entre a criança e o velho, outro entre o pobre e rico. Talvez a pergunta que o texto inicial tenta responder seja, quem tem direito à paz? Eu disse paz, não vitória ou prosperidade, porque muitos conquistaram muitas coisas e são prósperos no mundo, mas não têm paz, não a paz espiritual mais alta que permanece e que não pode ser comprada. Seria a criança, o velho, o pobre ou o rico? 
      Antigamente o velho era valorizado, crianças e jovens deviam aprender com ele, ele era depositário e compartilhador de experiências, passava conhecimentos de uma geração para outra. É claro que existia injustiça, sempre houve, há e haverá por muito tempo, crianças não eram respeitadas, jovens não eram valorizados. Para mudar isso na pauta atual de direitos o jovem ganhou valor, sua falta de experiência é compensada pelas novas ideias que tem, principalmente porque crianças são criadas hoje próximas à internet e a tecnologias. A internet e seus ilimitados bancos de dados, substituíram os velhos e seus conhecimentos, para que perguntar ao pai ou à vovó se pode-se perguntar ao Google ou à Alexa? 
      O texto de Eclesiastes não fala em riquezas materiais, ele ensina que essas são menores em relação às virtudes morais e à espiritualidade, por isso diz “melhor é a criança pobre e sábia do que o rei velho e insensato que não se deixa mais admoestar”. A sabedoria é confrontada com a negação da admoestação, não ser sábio não é necessariamente estar errado, mas não se deixar admoestar, o errado pode sê-lo sem o saber, mas a partir do momento que sabe acerta sua vida. Contudo, o que sabe que está errado e não muda, e nem aceita que alguém lhe diga que está errado, esse pode ser até um rei, rico e velho, cheio de experiências e bens, mas será um tolo, menos espiritual que uma criança pobre e inexperiente. 
      O texto inicial diz mais, “porque um sai do cárcere para reinar, enquanto outro, que nasceu em seu reino, torna-se pobre”. Não posso deixar de pensar em Salomão, pretendido autor de Eclesiastes, quando leio esse texto, num velho rei fazendo auto-análise, avaliando sua vida, suas escolhas, sua paz. Lembro-me também de Mateus 19.30, “porém, muitos primeiros serão os derradeiros e muitos derradeiros serão os primeiros”. O texto diz algo que o arrogante tem dificuldade para aceitar, a graça de Deus, ela contempla mudança de vida, nova oportunidade e aquisição de algo sem merecimento prévio. Não nego a importância de obras e trabalho, mas enfatizo a intenção do bem que muda o homem de dentro para fora. 
      Nos vem à mente Mateus 19.14, “Jesus, porém, disse, deixai os meninos e não os estorveis de vir a mim, porque dos tais é o reino dos céus”, assim como João 3.7, “não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo”, quando lemos o texto inicial, textos onde Jesus ensina simplesmente sobre a necessidade de recomeços. Aqueles que acham mérito em nunca terem recomeçado na vida, ou são perfeitos, algo que não é impossível mas é improvável, ou são arrogantes e imaturos, que mesmo dentro de igrejas cristãs não entenderam o que é o evangelho de Cristo. Você já nasceu de novo?  E não me refiro a reencarnar, mas em ressurgir da morte de um velho eu, de velhos hábitos e mesmo de grupos sociais, sem deixar o mundo.
      Na verdade temos que nascer de novo todos os dias, sermos meninos o tempo todo, não na ingenuidade e na inexperiência, mas na pureza moral e na mais alta iluminação espiritual. Isso é possível e os que têm essa disposição não só estão preparados para a melhor eternidade de Deus como são recompensados pelo próprio Deus com honra e dignidade neste mundo, é isso que diz o final do texto inicial. Deus o pai de amor nos tira do cárcere para reinarmos, ainda que não tenhamos origem nobre, ainda que tenhamos errado muito, só basta-nos a humildade de uma sábia criança pobre. Uma palavra aos ricos, não necessariamente na área financeira, mas em alguma segurança não firmada em Deus, mesmo que seja religiosa.
       “Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca. Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu; aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e roupas brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas. Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê pois zeloso, e arrepende-te.” (Apocalipse 3.15-19). Que nos achando satisfeitos, lúcidos e protegidos em nossas obras, não sejamos achados espiritualmente pobres, cegos e nus. 

18/09/21

Se há riqueza, sejamos pobres

       “Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis. E nisto dou o meu parecer; pois isto convém a vós que, desde o ano passado, começastes; e não foi só praticar, mas também querer. 
      Agora, porém, completai também o já começado, para que, assim como houve a prontidão de vontade, haja também o cumprimento, segundo o que tendes. Porque, se há prontidão de vontade, será aceita segundo o que qualquer tem, e não segundo o que não tem. 
      Mas, não digo isto para que os outros tenham alívio, e vós opressão, mas para igualdade; neste tempo presente, a vossa abundância supra a falta dos outros, para que também a sua abundância supra a vossa falta, e haja igualdade.” 
II Coríntios 8.9-14

     Vou contar a vocês uma história, não é uma parábola, é baseada em fatos. Um homem sente a chamada de Deus para pregar o evangelho, além da chamada autêntica e dos dons espirituais recebidos ele já possui um carisma natural, uma voz clara, um jeito afetuoso, uma presença marcante que chama para si a liderança sem muito esforço. Esse homem se põe a trabalhar, começa como pregador, depois se torna pastor, com o tempo o templo fica pequeno para todos os que querem ouvi-lo, assim ele aumenta o lugar. De uma igreja outras nascem, baseadas na visão que ele tem da obra, e essas novas igrejas também crescem, o homem percebe que tem algo grande nas mãos. 
      Algo grande requer grandes recursos para ser mantido, assim, ainda que inicialmente a intenção seja boa, o homem incentiva a coleta de dízimos e ofertas para que seu ministério, agora um grupo de igrejas, siga crescendo. Mas o dinheiro sempre tenta, e os recursos que antes o homem deliberava só para o ministério agora ele começa a usar para sua vida pessoal, afinal ele começa a achar que o trabalho que teve para construir o ministério merece receber recompensa no mundo. Quando isso ocorre o líder e fundador perde a pureza, ao mesmo tempo que percebe que seu ministério segue forte pelo que ele é, não necessariamente pela qualidade moral e espiritual de sua vida pessoal. 

      Quando um pastor, dos recursos materiais recolhidos pela igreja, usa para si mais que o que precisa para ter uma vida minimamente digna, ele se torna um herege, essa é a opinião do “Como o ar que respiro”, esse é o ponto divisor de águas entre um pastor de Deus e um “mercador da fé”. O problema pode nem estar em recolher muito, já que as pessoas podem dizimar e ofertar com boa sinceridade e para Deus, além disso num Brasil com tanta pobreza, recolher muito pode ser útil. A verdade é que se houvesse justiça social no mundo bastaria às igrejas dividirem os gastos que têm com manutenção do templo, água, luz, faxina e aluguel, e mais nada, fazendo coletas ocasionais só para ajudar necessitados. 
      Incentivar dízimos e coletas sem motivos santos é heresia, e muitos fazem isso não para ajudar os necessitados ou mesmo aumentar o ministério para servir a mais pessoas, mas para que os líderes invistam em suas vidas pessoais e em outros negócios. Atividades envolvidas com mídia e comunicação, como redes de televisão, de rádio etc, são as preferidas dos hereges, porque são eficientes, não para pregar o evangelho puro, mas para estabelecer um marketing de venda de um produto lucrativo, ainda que seja um produto com o formato de Jesus e do cristianismo. São eficientes também para se produzir candidatos políticos elegíveis, levando os hereges a mais uma heresia, envolver-se com a política do mundo. 
      Paulo é claro no texto inicial, “não digo isto para que os outros tenham alívio e vós opressão, mas para igualdade, neste tempo presente, a vossa abundância supra a falta dos outros, para que também a sua abundância supra a vossa falta, e haja igualdade”, o ponto é igualdade! Nada no evangelho justifica a riqueza de cristãos, por isso os hereges criaram a teologia da prosperidade baseada, não no novo testamento, mas no antigo. Sim, na nação de Israel havia homens de Deus que eram reis e latifundiários, isso era necessário para testemunhar Deus numa humanidade imatura, num mundo materialista, onde vitória em guerras físicas e posse de bens eram sinônimos de vidas agradáveis a Deus. 
      Repetindo o que tanto já dissemos aqui, as referências de qualidade de vida do evangelho de Jesus são interiores e espirituais. Muitos podem dizer, “o que o pastor faz com meu dízimo é problema dele, eu dizimo para Deus”, mas é esse raciocínio que mantém hereges, pode parecer espiritual, mas é imaturo, covarde e só corrobora para que aumente a injustiça social no mundo. Outros podem dizer, “a igreja está cheia, muitos ouvem o evangelho, a palavra do pastor é poderosa, minha fé é fortalecida”, mas ainda assim, se houver incentivo à prosperidade material exagerada é heresia. 
      Um pastor pode até iniciar certo, mas se começa a achar que tem direito à prosperidade material ele se desviou, ignorando que as provações de Deus para nossas vidas, que nos fazem evoluir espiritualmente, baseiam-se na falta, não na abundância. Se somos pobres, devemos buscar a dignidade, mas se somos ricos devemos dar o que temos e aprendermos a viver com o mínimo. Se todos os cristãos devem viver isso, muito mais os líderes, que se dizem homens de Deus, que são pessoas públicas e cujos testemunhos influenciam a muito mais pessoas. Pensar diferentemente disso é ser herege.
      “Para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no homem interior” (Efésios 3.16), as riquezas que a nova aliança de Cristo oferece são morais e consequentemente espirituais, são as que poderemos levar desta vida para a outra. Não que nos simples fato de ser pobre haja espiritualidade inerente, mas talvez a coisa que mais nos enriqueça espiritualmente seja abrir mão das riquezas materiais, e também sem fazer isso de forma extremada, porque no querer aparentar-se espiritual também há vaidade e um tipo de riqueza desnecessária. 
      A sabedoria mais alta de Deus sempre está no equilíbrio pessoal que busca a igualdade coletiva. Se falta, busquemos ter, se sobra, doemos, se há pobreza, sejamos ricos, se há riqueza, sejamos pobres, não nos acomodemos em extremos, mas trabalhemos o tempo todo pelo meio termo. “Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis”, o assunto de Paulo no texto inicial é sobre coleta para os pobres, seguindo o exemplo primeiro de Jesus. Pratiquemos o evangelho genuíno e não aceitemos hereges. 

17/09/21

Que Cristo seja exaltado!

      “Mas que importa? Contanto que Cristo seja anunciado de toda a maneira, ou com fingimento ou em verdade, nisto me regozijo, e me regozijarei ainda.Filipenses 1.18

      Tenho caminhado com Deus por mais de quarenta e cinco anos como cristão batizado em igreja protestante, mas creio que Deus tem me guardado em todos os meus sessenta e um anos de vida. Trabalhei muito em igrejas, conheci tanto a visão das igrejas chamadas de tradicionais quanto a de igrejas pentecostais. Fiz seminário teológico, dei aulas em curso teológico, como músico gravei discos gospel, e quem me acompanha aqui sabe que compartilho reflexões cristãs há mais de dez anos, tudo pela misericórdia do Senhor, com muita sinceridade e sem ter retorno material direto por isso, ainda que sempre sustentando por Deus dignamente. 
      Com minha experiência prática, adquirida de forma dolorosa muitas vezes pela dureza de meu coração, que me trouxe ao que sou hoje, com uma família bonita e correta, curado de muitos vícios e enfermidades, e sustentado em honra neste mundo, tenho chegado a algumas conclusões. Essas podem se opor a muitos entendimentos que muitos evangélicos têm sobre suas crenças e a doutrina protestante tradicional. Não peço que você concorde com tudo que vou dizer, mas leia e ore a respeito. Eu estou sempre pronto a mudar de opinião, creio que o Deus vivo que nos guia e cujo Espírito nos habita conduz-nos a mudanças constantes para que melhoremos. 
      Não sou a favor do crescimento do número de igrejas cristãs, mas em sua diminuição, no meu ponto de vista existem igrejas evangélicas ruins demais. Penso que o governo deva estabelecer leis que coíbam o som alto que as igrejas fazem no período de louvor, a música cristã não precisa ser tão barulhenta. Acho que deva cessar a isenção de impostos para igrejas, não se muitas delas são na prática entidades com fins lucrativos. Creio que deva ser judicialmente criminalizada discriminação sexual feita em púlpito, ainda que usando Bíblia como apoio. Acredito que deva haver separação entre atividade religiosa e política, quem tem uma atividade não pode ter a outra. 
      Isso não diminuirá a obra de Deus no mundo, mas limitará a falsa obra. Isso exigirá que muitos líderes cristãos se posicionem, ou de fato como pastores de um reino espiritual ou só como empresários num mundo material. Isso levará os cristãos a permitirem que o Espírito Santo lhes mostre como Deus pode tratar o ser humano hoje, mais preparado que o dos tempos bíblicos para a verdade espiritual mais profunda. Isso fará de igrejas cristãs instrumentos de justiça e caridade num mundo desigual, e não só parte de agendas de ódio, preconceito e materialismo. Isso entregará Jesus como bem puro e precioso que é, não vendido como produto barato e banal.
      Se algo funcionou há trinta, cinquenta, cem anos atrás, foi pela misericórdia de Deus que respeitou os limites intelectuais, sociais, morais e espirituais de um homem de trinta, cinquenta, cem anos atrás. Mas os tempos mudaram, não dá para fechar os olhos a todas as reivindicações que estão sendo feitas hoje no mundo, sejam contra racismos, machismo, homofobia e tantas outras fobias, que até algum tempo eram aceitas como normais. Deus não muda, o homem sim, assim o cristianismo precisa mudar. O Espírito Santo sempre entendeu o ser humano sem diferenças, Jesus pregou isso há quase dois mil anos atrás, chegou o momento do homem entender isso e praticar. 
      Infelizmente vemos no Brasil muitos cristãos que não aceitam o “próximo nível do jogo”, retornam ao nível anterior over and over again. Nesse equívoco já pregado e crido há anos em muitas igrejas, embusteiros acham eleitorado interessante, juntam a ele conservadorismos também equivocados, adicionam pitadas de extremismos de direita e outras maluquices estúpidas, e pronto, é criado um falso “mito”, que não é mais que um aproveitador querendo poder e planejando mantê-lo por um bom tempo. Quando o coração mente acha no mentiroso sua verdade, o enganador só se eleva quando há enganáveis, eis o trágico resultado de um cristianismo que nega o Cristo. 
      Mas isso não é o fim, é só o fim que muitos acreditam que seria, Jesus sempre será caminho na Terra e porta para Deus no céu, as religiões cristãs, contudo, terão que ser humilhadas para que Cristo seja exaltado. Foi assim com a nação de Israel, se afastou de Deus, foi levada cativa a outras nações e das doze tribos só Judá, Benjamim e Levi não se perderam. Os judeus seguem lutando em vão, hoje contra palestinos para terem de volta sua terra original, não aceitam que sua Canaã agora é celestial. O mesmo ocorre com muitos cristãos brasileiros que não aceitam que o país pelo qual devem lutar é o céu, não politicamente pelo Brasil, ao Brasil basta-lhe serem bons cristãos.