sábado, setembro 18, 2021

Se há riqueza, sejamos pobres

       “Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis. E nisto dou o meu parecer; pois isto convém a vós que, desde o ano passado, começastes; e não foi só praticar, mas também querer. 
      Agora, porém, completai também o já começado, para que, assim como houve a prontidão de vontade, haja também o cumprimento, segundo o que tendes. Porque, se há prontidão de vontade, será aceita segundo o que qualquer tem, e não segundo o que não tem. 
      Mas, não digo isto para que os outros tenham alívio, e vós opressão, mas para igualdade; neste tempo presente, a vossa abundância supra a falta dos outros, para que também a sua abundância supra a vossa falta, e haja igualdade.” 
II Coríntios 8.9-14

     Vou contar a vocês uma história, não é uma parábola, é baseada em fatos. Um homem sente a chamada de Deus para pregar o evangelho, além da chamada autêntica e dos dons espirituais recebidos ele já possui um carisma natural, uma voz clara, um jeito afetuoso, uma presença marcante que chama para si a liderança sem muito esforço. Esse homem se põe a trabalhar, começa como pregador, depois se torna pastor, com o tempo o templo fica pequeno para todos os que querem ouvi-lo, assim ele aumenta o lugar. De uma igreja outras nascem, baseadas na visão que ele tem da obra, e essas novas igrejas também crescem, o homem percebe que tem algo grande nas mãos. 
      Algo grande requer grandes recursos para ser mantido, assim, ainda que inicialmente a intenção seja boa, o homem incentiva a coleta de dízimos e ofertas para que seu ministério, agora um grupo de igrejas, siga crescendo. Mas o dinheiro sempre tenta, e os recursos que antes o homem deliberava só para o ministério agora ele começa a usar para sua vida pessoal, afinal ele começa a achar que o trabalho que teve para construir o ministério merece receber recompensa no mundo. Quando isso ocorre o líder e fundador perde a pureza, ao mesmo tempo que percebe que seu ministério segue forte pelo que ele é, não necessariamente pela qualidade moral e espiritual de sua vida pessoal. 

      Quando um pastor, dos recursos materiais recolhidos pela igreja, usa para si mais que o que precisa para ter uma vida minimamente digna, ele se torna um herege, essa é a opinião do “Como o ar que respiro”, esse é o ponto divisor de águas entre um pastor de Deus e um “mercador da fé”. O problema pode nem estar em recolher muito, já que as pessoas podem dizimar e ofertar com boa sinceridade e para Deus, além disso num Brasil com tanta pobreza, recolher muito pode ser útil. A verdade é que se houvesse justiça social no mundo bastaria às igrejas dividirem os gastos que têm com manutenção do templo, água, luz, faxina e aluguel, e mais nada, fazendo coletas ocasionais só para ajudar necessitados. 
      Incentivar dízimos e coletas sem motivos santos é heresia, e muitos fazem isso não para ajudar os necessitados ou mesmo aumentar o ministério para servir a mais pessoas, mas para que os líderes invistam em suas vidas pessoais e em outros negócios. Atividades envolvidas com mídia e comunicação, como redes de televisão, de rádio etc, são as preferidas dos hereges, porque são eficientes, não para pregar o evangelho puro, mas para estabelecer um marketing de venda de um produto lucrativo, ainda que seja um produto com o formato de Jesus e do cristianismo. São eficientes também para se produzir candidatos políticos elegíveis, levando os hereges a mais uma heresia, envolver-se com a política do mundo. 
      Paulo é claro no texto inicial, “não digo isto para que os outros tenham alívio e vós opressão, mas para igualdade, neste tempo presente, a vossa abundância supra a falta dos outros, para que também a sua abundância supra a vossa falta, e haja igualdade”, o ponto é igualdade! Nada no evangelho justifica a riqueza de cristãos, por isso os hereges criaram a teologia da prosperidade baseada, não no novo testamento, mas no antigo. Sim, na nação de Israel havia homens de Deus que eram reis e latifundiários, isso era necessário para testemunhar Deus numa humanidade imatura, num mundo materialista, onde vitória em guerras físicas e posse de bens eram sinônimos de vidas agradáveis a Deus. 
      Repetindo o que tanto já dissemos aqui, as referências de qualidade de vida do evangelho de Jesus são interiores e espirituais. Muitos podem dizer, “o que o pastor faz com meu dízimo é problema dele, eu dizimo para Deus”, mas é esse raciocínio que mantém hereges, pode parecer espiritual, mas é imaturo, covarde e só corrobora para que aumente a injustiça social no mundo. Outros podem dizer, “a igreja está cheia, muitos ouvem o evangelho, a palavra do pastor é poderosa, minha fé é fortalecida”, mas ainda assim, se houver incentivo à prosperidade material exagerada é heresia. 
      Um pastor pode até iniciar certo, mas se começa a achar que tem direito à prosperidade material ele se desviou, ignorando que as provações de Deus para nossas vidas, que nos fazem evoluir espiritualmente, baseiam-se na falta, não na abundância. Se somos pobres, devemos buscar a dignidade, mas se somos ricos devemos dar o que temos e aprendermos a viver com o mínimo. Se todos os cristãos devem viver isso, muito mais os líderes, que se dizem homens de Deus, que são pessoas públicas e cujos testemunhos influenciam a muito mais pessoas. Pensar diferentemente disso é ser herege.
      “Para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no homem interior” (Efésios 3.16), as riquezas que a nova aliança de Cristo oferece são morais e consequentemente espirituais, são as que poderemos levar desta vida para a outra. Não que nos simples fato de ser pobre haja espiritualidade inerente, mas talvez a coisa que mais nos enriqueça espiritualmente seja abrir mão das riquezas materiais, e também sem fazer isso de forma extremada, porque no querer aparentar-se espiritual também há vaidade e um tipo de riqueza desnecessária. 
      A sabedoria mais alta de Deus sempre está no equilíbrio pessoal que busca a igualdade coletiva. Se falta, busquemos ter, se sobra, doemos, se há pobreza, sejamos ricos, se há riqueza, sejamos pobres, não nos acomodemos em extremos, mas trabalhemos o tempo todo pelo meio termo. “Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis”, o assunto de Paulo no texto inicial é sobre coleta para os pobres, seguindo o exemplo primeiro de Jesus. Pratiquemos o evangelho genuíno e não aceitemos hereges. 

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