21/11/21

A melhor maneira de se apagar o fogo

      “Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus.” Salmos 51:17  

      Só existe uma maneira de se apagar o fogo, retirando o oxigênio próximo a ele. Na prática isso não é tão fácil, é mais fácil jogar água sobre ele, contudo, se entendermos como o fogo funciona, veremos que ele se alimenta de oxigênio, quando jogamos água no fogo limitamos o oxigênio ao seu redor. Não é a diferença de temperatura que o apaga, mas a ausência de oxigênio, que uma quantidade suficiente de água exerce sobre a região em que ele está. Nesse processo gastamos água, mas um pouco mais perigoso, e que surte o mesmo efeito, é jogarmos um pano sobre a chama, se for rápido e em toda a superfície que está queimando, apagaremos o fogo e não queimaremos o tecido. Como com a água, não foi o pano que apagou a chama, mas a diminuição de oxigênio ao redor dela, sendo assim podemos usar qualquer material sólido. 
      Podemos usar isso como metáfora para entendermos lutas morais e espirituais que enfrentamos contra o pecado. Todos sabemos que nossas vidas é um apagar de incêndios, quando conseguimos dar conta de um, outro surge, e assim vamos. Incêndios são lutas, são imprevistos, tanto nos conflitos necessários que temos para sobreviver no mundo, quanto nas batalhas pessoais de espírito contra a carne, onde o inimigo é o pecado. Frisando: nosso inimigo é o pecado gerado dentro de nós, não é o diabo, espíritos maus ou homens. Somos responsáveis pela criação desse mal interior, assim como temos livre arbítrio para decidirmos se o mal morrerá ali, no campo das ideias dentro de nossas consciências, e não se transformará em palavra ou ação no mundo físico exterior, envolvendo ou não outras pessoas e mesmo seres espirituais do mal. 
      Você já sentiu algumas vezes, que por mais água que jogasse, por mais panos que usasse, o fogo seguia forte? Em certos casos água e panos não resolvem, temos que ir direto à origem, tirar o oxigênio, anularmos não o efeito, mas a causa, não o mal, mas aquilo que o mantém vivo. Quando você estiver perdendo muito tempo, e ainda assim não conseguir vencer uma luta, a solução não é lutar mais, mas usar melhor o tempo. Talvez o inimigo esteja te vencendo porque ele está achando tempo disponível para isso, tempo que você mesmo está dando a ele. Tempo livre ou gasto com algo errado, pode ser o oxigênio que o mal está usando para te vencer, então, pare e reavalie como usa teu tempo. Podemos perder batalhas não por sermos fracos, mas por estarmos engajados nelas, em batalhas erradas, quando devíamos estar fazendo coisa melhor.

20/11/21

Necessidade ou merecimento?

      “O qual recompensará cada um segundo as suas obrasRomanos 2.6a

      Alguns necessitam mas não merecem, outros não merecem mas necessitam, outros ainda merecem e não necessitam, em que grupo estamos? Alguns, por carência afetiva, por insegurança, desejam ansiosamente serem reconhecidos, contudo, não merecem esse reconhecimento, isso por um de dois motivos. Um motivo é não terem feito por merecer, não trabalharam para isso, não construíram uma obra íntegra e sincera, que resistisse ao tempo e que fosse de fato algo bom, que contribuísse de forma positiva para sua vida e para as outras vidas. Assim, seguem iludidos pela vaidade, vulneráveis a feridas não curadas, achando que a solução está fora deles, no que os outros pensam, e não dentro deles e em Deus.  
      O segundo motivo de alguns desejarem reconhecimento, mas não o merecerem, é que ainda que tenham trabalhado para construírem algo íntegro e sincero permaneceram inseguros, vaidosos, até fizeram algo certo, mas por motivos equivocados, dessa forma o reconhecimento poderia lhes fazer mais mal que bem. Eles não estão prontos para administrar mesmo o merecimento, não neste mundo, pois construíram para os outros, se preocuparam com o mundo e esqueceram-se de suas almas, assim, é o próprio Deus protegendo-os deles mesmos que não permite que certas honras se realizem. Esses terão que sofrer um pouco mais de injustiça, de anonimato, para que aprendam a trabalhar com o coração certo e para o Senhor certo.
      Mas existem outros, que ainda que não tenham feito tudo aos olhos dos homens, fizeram tudo que podiam aos olhos de Deus, o Senhor os conhece, sabe que a honra que não lhes foi dada foi usurpada por homens, esses sim, injustos e egoístas, que julgam pela aparência e pelo passado. O Senhor sabe que esses esquecidos não necessitam de reconhecimento para satisfazerem inseguranças e vaidades, mas porque já estão cansados, e mesmo assim permanecendo fiéis ao Senhor, não baseando suas persistências no que os outros pensam, mas no que Deus pensa deles. Para esses a injustiça tem limite, na hora certa Deus os honrará, não para que dependam de homens, mas para que sejam fortalecidos e louvem a Deus. 
      Existe, contudo, um terceiro grupo, os que merecem reconhecimento, mas não necessitam dele, não de reconhecimento humano. Deus, o pai, desejaria que todos os seus filhos estivessem nesse grupo, nele estão os que trabalham, e muito, e que ainda que não sejam valorizados pelos homens, não ligam para isso. Esses já aprenderam a satisfazerem-se com a intimidade do Senhor como sua maior recompensa, esses veem em fazer o bem um fim em si mesmo, sem necessidade, pelo menos neste mundo, de recompensa. Esses podem até ser importantes no mundo e diante de homens, mas têm como prioridade o aperfeiçoamento espiritual, o amor que serve, a santidade sem fingimento que agrada a Deus, esses amadureceram certo. 

19/11/21

Precisamos dos outros

      “Então veio a ele a palavra do Senhor, dizendo: Levanta-te, e vai para Sarepta, que é de Sidom, e habita ali; eis que eu ordenei ali a uma mulher viúva que te sustente. Então ele se levantou, e foi a Sarepta; e, chegando à porta da cidade, eis que estava ali uma mulher viúva apanhando lenha; e ele a chamou, e lhe disse: Trazê-me, peço-te, num vaso um pouco de água que beba. E, indo ela a trazê-la, ele a chamou e lhe disse: Trazê-me agora também um bocado de pão na tua mão.I Reis 17.8-11

      Algumas pessoas fazem de tudo para não dependerem dos outros, é preciso entender que isso a princípio não é ruim, é um instinto básico de sobrevivência física do ser humano prevalecendo. No mundo material, com tanto egoísmo, com tanta maldade, com tanta injustiça, de fato é importante que entendamos o quanto antes que precisamos ser independentes, ensinar isso a filhos é sábio. Mas a questão é que não somos só corpos físicos, somos também espíritos eternos, esses crescem não só com independência, onde se é senhor responsável de si, mas também sendo servo humilde.
      Crescemos espiritualmente servindo, não sendo servidos, dando, não recebendo, entender isso nos dá o dever de ajudarmos os outros, mas também o direito de sermos ajudados pelos outros, ambas as coisas não são danos, mas privilégios, no equilíbrio e na harmonia que o universo controlado por um Deus sábio experimenta o tempo todo. O orgulho, contudo, é muito forte em nós, e em alguns de nós mais forte ainda, assim para não dependermos dos outros, devermos algo a alguém, podemos fazer muitas coisas, inclusive sermos trabalhadores esforçados e religiosos fiéis, crentes em Deus. 
      Alguns, para não passarem por aquilo que consideram ser vergonhoso, algo que para eles seria a diminuição de seus valores diante dos homens, visto que só se consideram algo diante de homens se mostrarem-se sempre fortes, independentes, se tornam ótimos cristãos e profissionais prósperos, dependerem de Deus para eles tudo bem, mas de homens, jamais. Sim, o certo é dependermos só de Deus, mas Deus sabe até que ponto uma disposição nossa nesse sentido é sincera e humilde, ou é só desculpa para mantermos uma arrogância que nos exiba como melhores diante de pares. 
      Se agirmos assim, por um orgulho teimoso, o Senhor poderá dirigir nossas vidas a uma situação onde tenhamos que precisar da ajuda dos outros, e muitas vezes justamente daquela pessoa que mais não queríamos depender. Deus não humilha ninguém, muito menos desnecessariamente, mas tenhamos cuidado, não persistamos no orgulho, ajudar é bom, mas permitirmos sermos ajudados é melhor, no sentido que revela, não só a providência do Senhor levantando alguém para nos auxiliar num momento difícil, mas também dando oportunidade para alguém servir e para nós sermos servidos.
      O exemplo de Elias é marcante para mim, já refletimos alguns vezes a respeito aqui. Ele tinha segurança em Deus de sua missão, sabia que precisava da ajuda dos outros, não porque era vagabundo, mas porque dedicava o tempo de sua vida a algo importante, servir a Deus. Por isso se Deus levantasse alguém para servi-lo, ainda que fosse uma viúva pobre, ele humildemente aceitaria. Quem lê superficialmente I Reis 17 pode achar Elias um insensível, folgado, mas ele sabia que Deus podia sustentá-lo tanto quanto honrar quem fosse usado para isso, que isso não seria um sacrifício, mas uma honra. 

18/11/21

Como um passarinho

      “Disse-lhe Jesus: Não te hei dito que, se creres, verás a glória de Deus?João 11.40

      Se nos sentarmos na grama de um jardim e permanecermos lá quietos e calados por algum tempo, pode ser, que em algum instante, um passarinho pouse bem perto de nós, e numa situação ainda mais difícil, pode ser até que pouse sobre uma de nossas mãos, aberta e relaxada sobre a grama. Contudo, pelo menor gesto, ao mais baixo som, mesmo por uma respiração mais profunda, ele será espantado, voará para longe. A nós só restará olhá-lo de longe, voando livre no céu.
      Assim é com uma experiência mais profunda com o Espírito Santo, requer de nós muita paz, muito silêncio, muita consagração, muita fé, muita perseverança. Mas ao mesmo tempo que é trabalho espiritual, é abrir mão de esforço físico, emocional, do ego, de fazer qualquer tipo de troca com Deus, de achar que temos algum direito por termos algum crédito, algum merecimento. Podemos ver a “glória” de Deus? Sim, é possível, mas é algo tão poderoso quanto delicado. 
      Por que é assim? Porque assim como pássaros foram criados para voarem livremente, e por serem frágeis têm o instinto de ficarem longe de homens ou de quem possa lhes fazer algum mal, nós seres humanos, vivendo encarnados no mundo, não podemos entender e conviver com total plenitude com o mundo espiritual e com o Espírito Santo de Deus. Ainda assim podemos ter profundas experiências com Deus, se nos dermos ao trabalho de “não trabalharmos”. 
      O texto desta reflexão parece vago, impreciso? Pois ele é, experiências mais profundas com Deus não podem ser padronizadas, o caminho para elas não pode ser detalhado, como um mapa para se chegar a um lugar. No máximo podemos dar a direção geral, como com uma bússola, dizer que um local está ao norte, mas detalhes só descobre o que se põe a caminho e por si mesmo experimenta como as coisas funcionam para aquilo que Deus pode mostrar especificamente a ele. 
      Uma coisa eu sei, “um passarinho pode pousar em nossas mãos”, e quando isso acontece é maravilhoso, diferente de tudo, faz toda a nossa vida ter sentido, entendemos coisas que por muitos anos carregamos dentro de nós como mistérios. Quando “vemos a glória de Deus” queremos experimentar isso de novo, mas é só a partir da segunda vez que começamos a entender como as coisas funcionam, a trabalhar para “não trabalharmos”, e que isso é só o início de uma jornada. 

17/11/21

Perdão muda tudo

      “Se tu, Senhor, observares as iniquidades, Senhor, quem subsistirá? Mas contigo está o perdão, para que sejas temido.Salmos 130.3-4

      Nossa relação com as pessoas só muda quando experimentamos perdão de Deus. O perdão muda tudo, primeiro nos muda quando entendemos que necessitamos dele, depois muda nossa relação com Deus quando cremos que Deus existe, nos ama, nos perdoa, e que isso é suficiente para que tenhamos paz. Mas quando mudamos, para nós e para Deus, mudamos no universo, a imagem que temos de nós muda. Não nos sentimos mais deuses com direito de exigirmos dos outros devoção por sermos melhores, nem inferiores sem deveres, com direito de sermos vítimas, e como tais, com necessidade de sermos servidos pelos outros, não de servirmos.
      A experiência do perdão, que todos em alguma instância deveriam provar, já que não existe um justo no mundo, todos carecem da graça de Deus, põe nossos pés no chão, para podermos olhar todos como semelhantes, mas nossos corações no céu, para entendermos que todos dependemos de Deus e de seu amor. Isso nos faz iguais, não superiores nem inferiores, como iguais podemos amar com justiça, sabendo que também precisamos das pessoas tanto quanto elas precisam de nós. Isso ocorre numa relação de serviço em humildade, de generosidade, que não nega perdão aos outros, já que também se provou perdão e por ele se obteve paz.
      O texto bíblico inicial revela um daqueles mistérios que a Bíblia maravilhosamente contém. Podemos pensar, equivocadamente, que temos poder sobre alguém por sabermos de seu pecado, assim, como acusadores, acharmos ter uma posição superior, na qual podemos agredir e controlar alguém. Mas o Salmo 130 diz o contrário, Deus é temido, é superior, justamente por perdoar. A mesma coisa deve ser conosco, só perdoando é que temos, não o medo das pessoas, para dominarmos sobre elas, mas o respeito, para que elas sejam nossas amigas sinceras, numa relação de amor. Queremos ser melhores? Humildemente amemos e perdoemos. 

16/11/21

Seguremos a paz

      “O Senhor dará força ao seu povo; o Senhor abençoará o seu povo com paz.Salmos 29.11

      Nos sentirmos culpados por algo que não fizemos ou por algo que já fomos perdoados, é porta para fazermos algo que realmente possa nos deixar culpados. A culpa, seja legítima ou não, sempre nos enfraquece, mas quando acolhida sem motivo é arma mentirosa do “diabo”, que pode vencer mesmo o que não fez nada de errado. Por isso é importante orarmos constantemente, vigiarmos espiritualmente, alcançarmos a paz de Deus e a retermos.
      Paz de Deus é segurança de estarmos com as vidas acertadas com ele, perdoados e não acusados, por nada, se Deus se agrada de nós nenhuma culpa pode nos atormentar, assim como estamos fortalecidos contra qualquer ataque de mentira do “diabo”. Quem é o diabo? Pode ser tanto um ser espiritual das trevas, a nossa própria insegurança, como a insegurança de homens, que não se humilham diante de Deus, e que só crescem diminuindo os outros. 
      Nós somos seres variáveis, volúveis, emocionalmente não confiáveis, assim podemos viver fases onde parece que retemos paz por mais tempo, mesmo não tendo uma vida de oração como deveríamos ter. Em outros momentos, porém, podemos experimentar uma grande dificuldade em reter a paz, mesmo que estejamos orando bastante e tendo uma vida agradável a Deus. O segredo é persistirmos buscando a Deus e não confiarmos em nós mesmos.

15/11/21

Aceitar ou repreender?

      “O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância.João 10.10

      Quando algo que não é o melhor de Deus para nossas vidas vai acontecer, pelo menos algo que não seja até o momento o melhor, pode ser por dois diferentes motivos. Ou é Deus mudando alguma variável para que cresçamos, ainda que seja a diminuição ou a perda de algum usufruto material, ou é o mal querendo nos roubar algo, e nesse caso devemos orar para saber como repreendê-lo. As duas coisas serão a vontade de Deus sendo feita e por isso serão boas para nós, mas no segundo caso Deus quer nos fazer participantes da vitória exercendo luta espiritual em oração. 
      Tendo vida de oração recebemos de Deus discernimento para sabermos que algo pode mudar, essa vigilância é necessária para não sermos pegos despreparados por mudanças, achando que a existência é zona de conforto onde podemos nos acomodar. Neste mundo existir é lutar até nosso último instante de vida, assim o próprio Deus mexe nas variáveis para que sejamos motivados a crescer. Crescemos nos adaptando a mudanças autorizadas por Deus, assim como lutando contra aquelas mudanças indevidas, que o mal tenta fazer em nossas trajetórias.  
      O importante é estarmos vigilantes para sabermos o que fazer na hora certa, seja suportando uma mudança ou lutando contra uma. Jesus disse que nos concede vida abundante, assim se a mudança for sua vontade, ainda que limitando-nos de algum jeito, será para termos uma vida espiritual melhor. Por outro lado Jesus disse que o “ladrão” vem para roubar, perder para ele não é o melhor de Deus, “ladrão” deve ser confrontado e de maneira alguma aceito passivamente. De um jeito ou de outro temos que entender e fazer a vontade de Deus, nisso há vitória e paz.