21/10/22

Que fim do mundo eu quero? (82/92)

      “Mas vós vede; eis que de antemão vos tenho dito tudo. Ora, naqueles dias, depois daquela aflição, o sol se escurecerá, e a lua não dará a sua luz. E as estrelas cairão do céu, e as forças que estão nos céus serão abaladas. E então verão vir o Filho do homem nas nuvens, com grande poder e glória. E ele enviará os seus anjos, e ajuntará os seus escolhidos, desde os quatro ventos, da extremidade da terra até a extremidade do céu.Marcos 13.23-27

      O mundo vai acabar? A ciência diz que sim, quando o Sol consumir todo o hidrogênio, o combustível que ele usa para queimar e manter sua coesão, se expandirá e queimará principalmente os planetas mais próximos, incluindo a Terra, mas calma, isso acontecerá só daqui a mais ou menos cinco bilhões de anos, pois é, demora um pouco. Podemos achar apologia para esse fim do mundo na Bíblia? Sim, até para esse, no texto bíblico inicial e em outros, que falam de caos cósmico.
      Contudo, será que é esse fim científico do mundo que esperamos, ou melhor, que queremos? Não é o que querem muitos protestantes e evangélicos, esses aguardam um fim do mundo que justifique a história do mundo conforme o que entendem ter sido relevante nessa história. Esses cristãos veem o mundo como um ringue de luta entre Deus e o diabo, assim, o fim de mundo que desejam é o que derrota o diabo e os que o seguem, aprisiona esses no inferno, e aloja os outros no céu com Deus. 
      Muitos cristãos protestantes e evangélicos, e veja que não são todos já que católicos e cristãos de algumas denominações não têm a mesma interpretação literal do Apocalipse, mas muitos dizem que não são eles que desejam esse fim do mundo, mas é esse fim do mundo que Deus disse a eles que ocorrerá. Baseados em que afirmam isso? Na interpretação que fazem da Bíblia. Essa é a verdade de Deus? Não necessariamente, interpretações diferentes podem ser feitas dos mesmos textos bíblicos. 
      Já refletimos aqui sobre como a Bíblia, apesar de conter registros verdadeiros de experiências de homens antigos com Deus, foi construída por interesses de homens, judeus, católicos e protestantes. Não penso que Deus escolha homens (ainda que Marcos 13.27 use o termo), ele ama a todos e quer que todos se salvem, seria melhor dizer que ele seleciona os preparados. Mas creio no livre arbítrio humano, que o homem escolha não a Deus, mas aquilo que quer acreditar sobre Deus.
      Nunca abrirei mão de Jesus, como ser espiritual que me conduz de forma exclusiva a Deus, e como modelo de vida neste mundo pelo homem que foi no passado, o evangelho são os ensinos espirituais mais elevados que a humanidade já recebeu, e digo isso respeitando todos os líderes e fundadores de outras religiões, assim como os adeptos de outras religiões. Também não nego a relevância do livro de Apocalipse e de outros textos que falam do fim do mundo na Bíblia, há verdades neles.  
      A pergunta não é o que Deus diz, mas o que queremos acreditar que Deus diz, e talvez mais, por que queremos acreditar de um jeito e não de outro? O que isso revela, não sobre Deus, mas sobre nós mesmos? Fins do mundo diferentes revelam coisas diferentes sobre pessoas diferentes, e muito mais que só sobre suas interpretações escatológicas, mas sobre como interagem com outras pessoas, principalmente com aquelas que pensam de maneira diferente delas sobre Deus e espiritualidade. 
      Seres humanos que tiveram pais prepotentes e até violentos, enquanto não forem curados, poderão querer se relacionar com seres humanos com as mesmas características, querendo receber desses o que não receberam dos pais. Assim se submeterão a patrões estúpidos, a maridos e esposas possessivos, mesmo a pastores dominadores, da mesma forma, buscarão religiões moralistas, que pedem sacrifícios e fé cega. Não é a religião que define o homem, mas o homem que define a religião.
      O que é mais extremo que o fim do mundo? Pessoas extremas creem em coisas extremas, onde não há meio termo, mas só sim e não. Mas será que nós seres humanos somos isso, branco e preto, sem nuanças de variação? Podemos nos acomodar em polos porque é mais fácil, principalmente se não queremos pensar, ter trabalho intelectual e espiritual de entender as coisas, mas se buscarmos no Espírito Santo, com perseverança e santidade, veremos que a existência é muito mais complexa.
      Não posso convencer ninguém, mas posso contar minha experiência, eu também já fui extremista, via na Bíblia e no cristianismo aquilo que era mais fácil para mim ver, de acordo com minha formação familiar. Mas ouvi a voz de Deus e busquei a verdade, não, isso não foi para achar desculpas para desobedecer os preceitos de Deus e viver uma vida em pecado, e portanto infeliz, ao contrário. Minha busca me fez valorizar mais a santidade, assim como o preço que o pecado mais sutil cobra. 
      Entendermos que a humanidade tem uma história e que nela o ser humano evolui, adquire ciência, perde medos e aprende a ver as coisas por dentro, não só na aparência, é o começo. Mas o mais importante é entendermos que Deus fala a homens e são esses quem registram e tornam em religiões suas palavras, assim, nas crenças, no cristianismo e mesmo na Bíblia, há mão do homem, interpretando e usando conforme, não a imutabilidade atemporal de Deus, mas as limitações humanas. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão

20/10/22

Penitência, indulgência, purgatório (81/92)

      “Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma. Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras. Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demônios o crêem, e estremecem.Tiago 2.17-19

      Fé e obras, como equilibrá-las de modo a alcançarmos a melhor eternidade de Deus. Reflitamos a respeito comparando doutrinas católicas com outras. 
      Perdão pela fé no nome de Jesus é ponto passivo, agora se obras são para completar o pagamento desse perdão, para evoluir o espírito, para dar direito ao céu e consequentemente livrar do inferno, ou para retirar de um meio termo, o purgatório, são pontos que variam em diferentes teologias cristãs. Vejamos três conceitos importantes no catolicismo, indulgência, penitência e purgatório, que envolvem perdão e penas eternas (para mais detalhes clique nos links).
      Penitência são jejuns, orações, esmolas, vigílias e peregrinações, que fiéis oferecem a Deus como provas de que estão arrependidos dos seus pecadospagando um pecado cometido ou agradecendo uma graça recebida.
      Indulgência é a remissão total ou parcial da pena temporal devida para a justiça de Deus, pelos pecados que foram perdoados, ou seja, do mal causado como consequência do pecado já perdoado através da confissão sacramental. Embora no sacramento da Penitência a culpa do pecado é removida, e com ele o castigo eterno devido aos pecados mortais, ainda permanece a pena temporal exigida pela Justiça Divina, e essa exigência deve ser cumprida na vida presente ou na depois da morte, isto é, no purgatório. Uma indulgência oferece ao pecador penitente meios para cumprir esta dívida durante sua vida na terra, reparando o mal que teria sido cometido pelo pecado.
      A tradição do Purgatório tem uma história que remonta antes de Jesus, à crença encontrada no judaísmo de rezar pelos mortos, especula-se que o cristianismo pode ter tomado a sua prática similar. Desde os primeiros tempos, a Igreja honrou a memória dos defuntos e ofereceu sufrágios em seu favor, em especial o sacrifício eucarístico, a fim de que purificados, eles possam chegar à visão beatífica de Deus. Os católicos consideram que o ensino sobre o purgatório faz parte integrante da fé derivada da revelação de Jesus Cristo que foi pregada pelos apóstolos.

      No catolicismo, a penitência paga perdão por pecado neste mundo, a indulgência adianta no mundo, o pagamento por consequência do pecado, que teria que ser feito no purgatório, no outro mundo. Interessante que os mesmos que acreditavam no que a igreja católica dizia que condenava ao inferno, não praticavam o que a mesma igreja dizia dar direito ao céu, preferiam pagar o céu com bens materiais. É claro que a igreja incentivava isso porque era útil para ela. A reforma protestante aboliu essas doutrinas, assim aos evangélicos basta fé no nome de Jesus para terem perdão dos pecados, sem necessidade de qualquer pagamento adicional, seja aqui ou na eternidade (João 3.18). Também não há purgatório para protestantes, ou é céu ou é inferno, e eternos. 
      Indulgência e purgatório colocam o catolicismo mais próximo do espiritismo kardecista, já que essas doutrinas consideram a possibilidade de interferência de seres humanos do plano físico, na qualidade de vida dos seres desencarnados no plano espiritual. Quando se reza pelos mortos para tirá-los do purgatório e liberá-los para o céu, usa-se uma capacidade que protestantes não admitem que seja possível, para esses é impossível qualquer comunicação ou influência de vivos com mortos. O católico também se aproxima do kardecismo quando admite a intermediação dele com Deus por santos, portanto comunicação com espíritos de mortos, assim quando um santo lhe fala podemos dizer que uma espécie de mediunidade seja exercida. 
      Sobre muitos aspectos o catolicismo, talvez porque tenha refletido em concílios por séculos sobre tantas questões espirituais e filosóficas, é muito mais aberto que o protestantismo. Muitos evangélicos não sabem disso, aliás, sabem pouco sobre as doutrinas de suas igrejas, quanto mais das doutrinas das outras religiões. Aos que têm tanta certeza de penas extremas e eternas, será que de fato céu e inferno são para sempre? Purgatório parece um conceito mais justo e de acordo com o amor Deus, podendo depender de nossa intercessão aqui e de um arrependimento lá. Eis novamente o catolicismo se aproximando das doutrinas espíritas, para o kardecismo sempre há oportunidade para se livrar de uma condenação mais duradoura. 
      Como protestante reconheço benefício na doutrina da penitência, que se aproxima do ensino em Tiago 2.17-19, ela não facilita demais o perdão, não limita o acerto de contas à assunção do pecado e posse de paz com Deus pela fé. É preciso algo mais, mostrar por obras que custem um preço ao pecador o arrependimento. Penso que os evangélicos “vendem” o perdão de Deus barato demais, isso pode conduzir as pessoas a uma ociosidade moral, a acharem que entrada no céu e livramento do inferno é fácil. O lado negativo da penitência, que alcança o extremo na indulgência paga com dinheiro, é que confere ao homem a capacidade de ter perdão e entrar no céu, relegando a graça e a misericórdia de Deus a segundo plano. 
      Na verdade existe indulgência, mas não legislada, aplicada e cobrada pela religião ou pelos homens, mas por Deus, é a lei universal de “causa e efeito”, ou de se colher o que se plantou, usando termos mais bíblicos (Gálatas 6.7). Que arrogância da Igreja Católica achar que pode verificar, medir e fazer cumprir essa lei, com certeza só para obter algum lucro material com isso, por outro lado achou entre os homens seres tolos o suficiente para “comprarem” tal coisa. A Igreja Católica tenta materializar com todos os detalhes um reino de Deus no mundo, e ainda que isso não tenha dado certo, que só tenha atrasado a civilização ocidental, muitos protestantes e evangélicos tentam repetir isso atualmente, ao se envolverem com política. 
      É por esse motivo que leis são inviáveis para conduzirem o ser humano a uma espiritualidade madura, obedecer cegamente uma lei impede a reflexão, conduz a um extremo ou a outro, por isso uma velha aliança foi substituída por uma nova, por isso a Lei de Moisés deu lugar ao evangelho do Cristo. Só uma relação íntima com o vivo Espírito Santo, onde há a necessidade de uma interação inteligente com Deus, onde se fala e se ouve, onde se pensa e se sente, pode mostrar qual é a parte do homem e qual é a parte de Deus com equilíbrio, enfatizando a importância da coerência entre o que se crê e o que se pratica. Quando entenderemos que na eternidade não haverá religião? Só nós, confrontados diretamente com a luz de Deus. 

19/10/22

Salvação se perde? (80/92)

      “Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo. E provaram a boa palavra de Deus, e as virtudes do século futuro, e recaíram, sejam outra vez renovados para arrependimento.” “Porque a terra que embebe a chuva, que muitas vezes cai sobre ela, e produz erva proveitosa para aqueles por quem é lavrada, recebe a bênção de Deus; mas a que produz espinhos e abrolhos, é reprovada, e perto está da maldição; o seu fim é ser queimada.Hebreus 6.4-6a, 7-8

      Meus queridos, é de suma importância que vençamos fraquezas morais neste mundo. Não basta assumirmos erros, pedirmos perdão por eles a Deus em nome de Jesus, e ficarmos em paz, para depois repetirmos e repetirmos o processo ad infinitum. Isso não basta para termos a melhor eternidade com Deus, o céu. Não serei irresponsável com vocês, dizendo que as coisas são assim tão simples e fáceis, porque não são. Temos que lutar e vencer, vence-se mantendo-se numa nova condição de vitória sobre fraquezas morais no tempo. Responda a você mesmo com sinceridade: pode dizer que já deixou de praticar certas condutas, de dizer certas coisas, de pensar tantas coisas, testificando que de fato venceu certas fraquezas? 
      O texto bíblico inicial entrega um ensino bem sério, que deixa claro que uma decisão de fé tornando-se membro de uma igreja e mesmo tendo algum tempo de vida de acordo com a vontade de Deus, não bastam, caso depois se volte à prática de velhos pecados. Veja que na parábola do texto, a mesma água cai sobre sobre terras que dão frutos diferentes, uma dá erva proveitosa e outra dá espinhos e abrolhos, a água é simbologia do Espírito Santo. Se ambas recebem a mesma água, simbolizam seres humanos diferentes recebendo o mesmo Espírito Santo, portanto, sendo ambos “convertidos” ao evangelho, estando em igrejas e tendo vidas religiosas semelhantes, o que dá “espinhos” e “abrolhos” não é um ímpio ou incrédulo.
      O ponto aqui não é se opor ao entendimento que seres humanos não erram depois que conhecem o cristianismo, isso é o óbvio, mas é enfatizar que fé e perdão não bastam. Se não houver trabalho constante, o fim de quem começou certo pode ser até pior que o daqueles que nunca foram certos. “Se depois de terem escapado das corrupções do mundo forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro, melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se” (extraído de II Pedro 2.20-21). De quem mais sabe mais é cobrado, contudo, não sou extremista como parece ser o autor da carta aos Hebreus, acredito que sempre há novas oportunidades.
      Contudo, teimosia no erro aumenta o preço do arrependimento, não porque Deus negue perdão, mas porque podemos chegar num ponto que temos muita dificuldade de nos perdoar, assim, podemos nos afastar muito de Deus. Dificuldade para vencer fraquezas todos temos e sempre, muitas coisas só vencemos no final da vida, simplesmente por enjoarmos de fazer a coisa errada e ela não nos trazer mais prazer. Deus ama quem quer fazer a coisa certa porque é o certo a se fazer e agradável a ele, permitindo assim ao homem aperfeiçoamento moral e crescimento espiritual. Só isso nos faz cidadãos do céu, carimbar o passaporte para a melhor eternidade de Deus é algo feito aqui, com mudança real de vida que permanece. 
      Se você tiver mais fé que eu, pode aceitar o texto bíblico inicial na íntegra e ao pé da letra, mas isso implica em alguns posicionamentos extremados. O texto pode apoiar a crença que salvação se perde, a isso podemos contra-argumentar que só “perde” quem nunca teve, mas veja que ambas as terras receberam a mesma água, assim, tanto salvos como perdidos receberam o Espírito Santo, mas se salvação se perde o selo do Espírito é retirado. Por outro lado se salvação não se perde, muitos salvos que se desviaram podem estar vivendo vidas desalinhadas com o evangelho e ainda assim serem salvos, a isso podemos contra-argumentar que não sabemos o fim desses, quem sabe se não voltarão ao evangelho antes de morrerem? 
      Penso que salvação se perde e pode ser novamente adquirida, mas também creio que quem foi selado de maneira diferenciada com o Santo Espírito, pode até se afastar do convívio de igrejas cristãs, mas nunca perderá uma conexão espiritual especial e verdadeira com Deus. Quem é amigo de Deus sempre será, isso é mais forte que o mundo, que a vida, e a providência divina sempre conduzirá os amigos do Senhor a sua intimidade, a tempo de se prepararem o melhor possível para a eternidade. O problema é que amamos julgar mal as pessoas, condená-las neste mundo, se relativo ao direito que achamos ter de sermos juízes, tivéssemos o dever de sermos amigos, poderíamos ser instrumentos de salvação em muitas vidas. 

18/10/22

A vida é espiritual (79/92)

      “Então os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Também o reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo.Mateus 13.43-44

      Em 2018, no dia 10 de abril, meu pai faleceu. À noite, quando cheguei de viagem a Ribeirão Preto, fui até o velório, e vi pela primeira vez o corpo no caixão, uma percepção muito interessante me veio. Era noite, o local estava vazio, à meia luz, o enterro seria só na manhã seguinte, mas o responsável abriu o lugar para nós. Não me aproximei do caixão, olhei de longe, então, um sentimento forte me veio sem ao menos eu pensar no assunto, sem nenhuma racionalização, emoção expressa numa frase: “ele não está aí”. 
      Devemos respeito a todos, sempre, a quem perde entes queridos, mais ainda, a maneira como as pessoas expressam sentimentos pode variar, ninguém se ache melhor ou pior por se expressar de um jeito. Contudo, em nenhum momento senti vontade de correr ao caixão e interagir emocionalmente com o que restava de meu pai, confesso, e repetindo, com o maior respeito com todos, naquele momento não entendi quem desesperadamente abraça caixões. Talvez porque minha relação com meu pai não tenha sido tão próxima…
      Por favor, me entendam corretamente, não estou fazendo julgamento de valor, dizendo que isso é errado e aquilo é certo, mas eu senti um discernimento espiritual muito forte e claro, que me dizia que aquilo que eu conhecia como meu pai não estava naquela sala, não estava naquele lugar, não estava mais no mundo material, mas no plano espiritual. O consolo que isso me trouxe foi não mentalizar e registrar como memória um ser em decomposição, com a carne sem cor, os olhos sem brilho, enfim, matéria descartada. 
      A “imagem” que me veio depois, e que permanece em mim até hoje de meu pai, é a de um ser espiritual vivo e eterno. No texto bíblico inicial, de novo com a frase que enuncia mistérios, quem tem ouvidos, ouça, uma revelação, a última imagem que temos de quem parte, não representa o que podemos nos tornar, espíritos que brilharão como o Sol. Muitos, ainda que religiosos, têm visões materialistas da vida, passam anos em templos, mas não creem na eternidade, não a ponto de serem consolados por ela quando precisam. 
      Infelizmente muito do falso cristianismo leva os homens a celebrarem mais a morte que a vida, por isso um ícone tão usado é o de um “Cristo” ainda na cruz. Mesmo a visão de santidade é equivocada, privações e proibições que tentam mortificar o corpo ainda em vida, menosprezando o Espírito Santo. Só se aprende os mistérios da vida eterna dando liberdade ao vivo Espírito Santo, só ele pode dominar a matéria. Só quem tem essa experiência enfrentará a morte de maneira correta, ainda que com dor, mas com paz e certeza.
      A experiência que tive não é mera imaginação ou privilégio de alguns, é o discernimento que o Espírito Santo dá a todos que o buscam. A vida é espiritual, não material, a realidade é espiritual, a matéria que é uma ilusão passageira. Adquire-se esse entendimento e o retém quem pratica vida de íntima comunhão espiritual com Deus por Jesus e no Espírito Santo. Aos que sofrem com a partida de entes queridos, Deus vos ama e pode consolar-vos, se o buscarem com todo o coração. A morte não tem que ser dor sem fim. 

17/10/22

Onde tesouros não são consumidos (78/92)

      “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.Mateus 6.19-21

      Tanto tempo, tanta energia, tanta saúde, tanta preocupação, são gastos tentando ajuntar tesouros neste mundo. Sei que precisamos trabalhar e muito para darmos vidas materiais dignas às nossas famílias neste mundo, mas até que ponto? Acabamos ficando obcecados pelo mundo, não sabemos o momento de parar de nos gastar nele, buscarmos mais a Deus e crermos nele. Assim, muitos veem o que conquistaram por anos perdido por filhos que não souberam administrar o que receberam, e não souberam fazer isso porque lhes faltou a proximidade de pais, que ao invés de estarem obcecados por trabalho, deviam estar confiando em Deus e mais próximos a filhos. Acabamos achando que proteger nossos filhos de sofrerem como nós sofremos, é entregar-lhes bens materiais, esquecemos que o que eles mais precisam é de nós. 
      A visão que passei acima não representa grande parte das famílias atualmente, principalmente as de classes financeiramente mais baixas, talvez represente famílias do meu tempo e da geração seguinte, dos que hoje têm entre quarenta e sessenta anos e de classe média e acima. Hoje, a última geração, com menor poder aquisitivo e que representa a maior parte das pessoas, pelo menos, no Brasil, não consegue acumular algo para os filhos. Mantém famílias com ajuda dos pais também em condições difíceis, torcendo que filhos atinjam a idade mínima para trabalharem e ajudarem a sustentar lares desestruturados. Temos que tomar cuidado quando fazemos análises sociais hoje em dia, como representante da classe média, gente como eu não representa a maioria, minhas referências pouco dizem a uma grande parte de brasileiros. 
      Isso tem que me preocupar, porque a palavra do “Como o ar que respiro” precisa falar a quantos forem possíveis, não só a elites. Deus ama a todos e deseja que uma orientação de esclarecimento espiritual chegue a todos. Mas ainda que os de classes mais baixas não tenham condições de construir patrimônios para seus filhos, também perdem tempo, energia, saúde e preocupação com coisas erradas, e para esses ainda mais difíceis de serem conquistadas. Por isso cresce a marginalidade, instrumentalizada pelo crime e pelo tráfico de drogas, a qual muitos se aliam para obter aquilo que sabem que dificilmente conseguiriam com trabalho duro e honesto. De um jeito ou de outro, o ser humano teima em ajuntar tesouros na terra, onde traça e ferrugem consomem, e onde ladrões minam e roubam
      Como ajuntamos tesouros no céu? Estando próximos às pessoas em amor. O ser humano, de maneira geral, é social, gostamos de nos reunir com amigos, isso sempre é prazeroso. Mas o que compartilhamos nesses encontros, são palavras de graça e vida eterna, ou vãos prazeres, malícia e morte? Por mais gostoso que seja começar um churrasco em família, regado com muita cerveja, o final pode ser patético, o álcool revela prioridades e verdades das pessoas, não raramente reuniões de família acabam em brigas. Para haver graça e vida, deve haver Deus, e pode bastar uma luz para que todo o ambiente se ilumine. Ser luz de Deus não é ser moralista, evangelista inconveniente, religioso chato, falador dono da verdade, não, tem a ver com esperar com sabedoria, mais ouvir que falar, pronto para ser útil no momento adequado. 
      Os tesouros mais preciosos que existem não são ouro, prata e pedras preciosas, ou em valores atuais, um carro caro, roupas luxuosas, um cartão de crédito ilimitado ou o celular topo de linha, isso tudo se consome no tempo. Tesouros são virtudes morais nos espíritos dos seres humanos, generosidade, misericórdia, amor, santidade, paz, praticarmos isso e ajudarmos os outros a praticarem é ajuntar tesouros que não se consomem, porque podem ser levados deste mundo para a eternidade. Onde está nosso coração, nos tesouros do mundo ou nos eternos? Se está nos tesouros eternos, ainda que trabalhemos por vidas dignas no mundo, não damos tanto valor e não perdemos tempo demais com coisas materiais, não sofremos tanto com perder e não nos alegramos demais ao ganhar, sabemos que estamos aqui de passagem. 
      Nos preocupemos em amar e em sermos úteis às pessoas, aguardando sempre oportunidades para podermos ajudar, e como as pessoas precisam de ajuda, principalmente quando veem que os tesouros que ajuntaram neste mundo não resolvem seus problemas mais sérios. Os tesouros deste mundo não trazem de volta entes queridos que partiram, não compram cura para muitas enfermidades, não preenchem a solidão, não anulam culpas por coisas erradas que foram feitas e que não podem ser desfeitas. Mas muitos desistem da vida simplesmente porque perdem os tesouros que ajuntaram neste mundo, e nem é preciso que sejam milionários falidos, basta que sejam pessoas de classe média que se acostumaram a serem valorizadas pelos pares, não por virtudes morais, ainda que não fossem imorais, mas pela estabilidade financeira que tinham.

16/10/22

Resolvamos pendências aqui (77/92)

      “Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão. Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil.Mateus 5.25-26

      A passagem inicial faz parte do que considero o texto mais importante da Bíblia, os capítulos 5 ao 7 do evangelho de Mateus, nele estão registrados os ensinos de Jesus no chamado “Sermão da Montanha”. Os versículos acima falam de resolvermos pendências, de pedirmos perdão e acertarmos assuntos pessoais não resolvidos. Mas será que ele também pode revelar coisas sobre a eternidade, a duração de penas e até mesmo sobre a “inferno”? 
      Ninguém é perfeito e alguns de nós, como eu, são muito imperfeitos, assim pisam muito na bola, principalmente na falta de amor para com as pessoas. “A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor” (Romanos 13.8a), quem tem dívida deve procurar pagá-la o quanto antes, o melhor pagamento é fazer certo o que se fez errado, contudo, na impossibilidade disso, um pedido sincero de perdão, que não exige nada em troca, pode ser necessário. 
      Não tenhamos medo ou orgulho de pedirmos perdão, entretanto, alguns perdões de homens podem ser difíceis, assim, oremos antes e peçamos orientação de Deus, se sentirmos paz, peçamos perdão, senão, descansemos no perdão de Deus e oremos por quem pode não querer nos perdoar. Com alguns erros teremos que conviver por toda a vida, não devem impedir-nos de termos paz em Deus, mas devem ser lembrados com humildade.
      As coisas têm consequências nesta vida, às vezes bem duras, mas o sábio não se esquecerá de pendências, orará ao Senhor para que o coração de quem ele machucou seja quebrantado e possa, um dia, perdoá-lo. Mas existem outras pendências na vida, que não um erro que cometemos contra alguém. Percebo isso à medida que envelheço, desejo de reencontrar alguns que conheci em minha trajetória e tentar ser a bênção que não fui no passado. 
      À medida que o tempo passa teremos menos amigos próximos, pelo menos não novos, assim pode ser importante recuperarmos velhas amizades, das quais o mundo e o tempo nos separaram. Eu acredito que toda aproximação que fazemos neste mundo tem um propósito especial, não convivemos com pessoas na família, nas escolas e universidades, nas empresas, mesmo nas vizinhanças de nossas casas, por acaso, Deus tem um bom propósito nisso. 
      Pessoalmente tive a chance de viver em muitas cidades, ser membro de muitas igrejas, mesmo numa cidade morar em muitos bairros, característica herdada de meu pai, tendência à vida cigana, que minha esposa tem compartilhado nos últimos vinte e cinco anos de vida. Isso é bom, não temos medo de encerrar coisas, não nos prendemos a tradições, temos oportunidade de conhecer pessoas, mas isso é ruim, nos sentimos sempre começando algo. 
      Talvez por isso eu tenha facilidade para avaliar as coisas e não me acomodar, mudando da água para o vinho sem perder muito tempo. Mas isso me faz hoje pensar em tantas pessoas que me conheceram numa versão inacabada de mim, me arrependo de não ter amado e ajudado alguns com mais qualidade. Por isso tenho pedido a Deus, que se for possível, me permita rever alguns neste mundo antes de partir, quem sabe ainda possa ser útil a eles. 
      Contudo, é na segunda parte da passagem bíblica inicial que pode estar escondido um mistério. “Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil”, a frase começa com uma declaração usada para enunciar mistérios, em verdade, como aquela que diz quem tem ouvidos, ouça, presente bastante em Apocalipse. O texto ensina sobre pagamento não eterno de dívidas, mas até que seja quitado o último “centavo”.
      Esse ensino não está presente só nessa passagem, mas ele é sempre ofuscado pelo senso comum cristão que diz que pela fé em Cristo todos os pecados são perdoados, sem que haja necessidade de qualquer pagamento feito pelo pecador. Mas a coisa não funciona bem assim, o perdão em Jesus nos deixa em paz com Deus, isso nos fortalece para trabalharmos e pagarmos nossas dívidas, e todas elas terão que ser pagas, de um jeito ou de outro.
      O jeito mais rápido está na humildade que clama a Deus e pede perdão aos homens, mudando depois de atitude para não repetir o erro e servir aos outros em amor. O jeito mais difícil é sofrendo na mão de quem faz conosco o que fizemos com os outros. Seja como for, zeremos nossas pendências o quanto antes. Você já deve ter visto pessoas que passam a vida seguindo em frente e empreendendo, trabalhando bastante e honestamente, sonhando alto.
      Elas podem até parecer, aos nossos olhos, fortes e resistentes, contudo, são insensíveis, passam por cima dos outros e não olham para trás. Essas são as que mais colhem surpresas ruins e constantes, parece que tudo acontece com elas, estão sempre envolvidas em acidentes de carro, sendo assaltadas, com vidas afetivas instáveis, vítimas nos empreendimentos financeiros de crises nacionais e mundiais, ganham bastante, mas também perdem muito.
      Pessoas assim podem possuir pendências não resolvidas, assim, o mundo espiritual das trevas recebe legitimidade para atormentar suas vidas, elas sofrem ações do ladrão, que vem matar, roubar e destruir (João 10.10a). Com dívidas não pagas não podemos só fazer de conta que não existem, devemos buscar forças em Deus e quitá-las, assim teremos direito à segunda parte de João 10.10, “eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância”. 
      Ser atormentado por espíritos malignos no mundo também é um jeito do universo cobrar dívidas, mas é um jeito ruim de se pagar, pior que isso é só poder pagar no plano espiritual. O que preferimos, o jeito de amor do Senhor, pagar neste mundo ao mal ou ser torturado na eternidade? “Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz e te encerre na prisão”. 

15/10/22

Será que funciona pra seus filhos? (76/92)

      “Bem-aventurada é a nação cujo Deus é o Senhor, e o povo ao qual escolheu para sua herança. O Senhor olha desde os céus e está vendo a todos os filhos dos homens. Do lugar da sua habitação contempla todos os moradores da terra.Salmos 33.12-14

      Muitos cristãos, pais de famílias, amam dizer o texto bíblico inicial, bem-aventurado o povo ao qual o Senhor escolheu para sua herança. Meu caros, eu quero dizer isso sobre minha mulher e minhas filhas, que são felizes porque recebem a herança de Deus. Mas qual é a herança do Senhor, seria dinheiro e bens? Não, isso vem na medida, mas não é o mais importante. A herança é elevação moral e clareza intelectual, de pessoas que fazem diferença no mundo por terem virtudes. Para isso Deus sempre funciona, ainda que as religiões não, busquemos o Senhor sempre, e construiremos famílias virtuosas e duradouras.
      A outra coisa que Salmos 33.12-14 diz é que Deus vê tudo, inclusive o que somos na privacidade de nossos lares. Há coerência entre o que somos lá e o que mostramos na igreja? Não estou dizendo que o que queremos mostrar na igreja seja o melhor, pode ser só um falso moralismo desnecessário. A segunda coisa que Deus mais ama em nós é sermos verdadeiros, mas a primeira coisa é vivermos uma verdade que o agrada. Talvez nossa religião não funcione porque estamos tentando viver uma verdade que não é nossa, e que nem Deus exige de nós, só as nossas culpas mal resolvidas é que exigem. 
      Sei que o que pretendo é difícil, visto que seres humanos só aprendem no tempo, errando e depois acertando, se é assim comigo, por que não seria com os outros? Mas a intenção desta reflexão é poupar tempo. Poupamos tempo quando exercemos a prática de pensar, avaliando se nossas escolhas atuais realmente estão funcionando, em se tratando de religião, se o que estamos ouvindo dentro de igreja reflete, pela menos numa parte considerável, nossa prática de vida e de nossas famílias. Não tenho dúvida que a genuína palavra de Deus sempre nos abençoa, mesmo em igrejas imperfeitas. 
      Se com todos devo ser misericordioso mais ainda com os que estão dentro de igrejas, Deus os ama profundamente e os atrai à sua luz mais alta em Cristo, contudo, pensemos melhor no que estamos fazendo com nossas vidas e de nossas famílias. Você pode ser alguém coerente, que tem alegria de ter filhos, que você criou em igreja, também frequentando cultos e de maneira sadia, mas entenda, isso não acontece com muitos. Muitos teimaram em ficar em igrejas estranhas, achando que cultos criariam seus filhos, não a vida real do dia a dia dentro de seus lares, assim se afastaram e os perderam. 
      Enfrentamos tempos difíceis, o mundo está super populoso, falta emprego e líderes políticos são em grande parte corruptos, além disso a liberdade irresponsável têm multiplicado pseudo-famílias, que pesa sobre alguns o trabalho de sustentar filhos. Faltam pais, faltam mães, falta maturidade, que com a ajuda da mídia que prega ideologias libertárias, produz indivíduos que querem só desfrutar e nunca servir. Muitas crianças e adolescentes são criados só pela avó, incentiva-se tudo para que cada um tenha seu prazer, menos evitar filhos quando ainda não se está preparado para criá-los melhor.
      As igrejas, principalmente as pentecostais, que recebem pessoas de níveis financeiros mais baixos, refletem a maior parte do mundo real. Enquanto católicos e protestantes tradicionais permanecem fechados em seus guetos, fora da realidade, distante de tudo que poderiam fazer como conhecedores do evangelho e com nível financeiro mais alto, lideres oportunistas e mal intencionados se aproveitam da culpa não resolvida para enriquecerem. Que importa a esses que crianças e jovens sejam atendidos de forma adequada, para serem e seguirem sendo bons cristãos no complexo mundo moderno? 
      Não, meus queridos, a religião cristã não funciona para muitos, não como é possível funcionar de acordo com o evangelho original de Jesus. Infelizmente muitos só vão aceitar isso tarde demais, quando verem filhos perdendo tempo em prioridades erradas, sem base moral e cultural para serem luzes no mundo, não só religiosamente, mas intelectualmente. Coerência se obtém com pés na terra e coração no céu, vivendo e andando no Espírito. Equilíbrio se conquista priorizando valores interiores e praticando-os, não sendo sepulcros caiados como os fariseus que queriam só aparentar. 
      Atualmente interação com cultura, arte e tecnologia, é imprescindível para ser cidadão do planeta, criar filhos longe disso é aliena-los, tornando-os despreparados para serem seres humanos produtivos e prósperos. Vejo pais em igrejas ensinando filhos a serem fiéis com agendas religiosas, se orgulham se veem seus filhos em “congressos” de jovens, liderando o louvor, orando em público, mas não se preocupam adequadamente com o bom desempenho escolar dos mesmos. O maior equívoco ocorre com casamento, querem que jovens se casem o quanto antes, com receio deles “pecarem”. 
      Existe um momento, e isso é mesmo antes de filhos terem vidas econômicas independentes e morarem em outras casas, que pai e mãe cristãos devem convidar filho para ir à igreja, não obrigar, respeitando caso a resposta seja, “não quero ir”. Acredite, se você criou seu filho sem hipocrisia, coerente com o que você é, ainda que ele não concorde cem por cento com tudo que é feito na igreja, ele irá à igreja. Nesse caso, como você, ele saberá tomar o que é bom, deixar para lá o que não é, enquanto faz suas escolhas no mundo, nos estudos, na profissão e na área afetiva, temendo a Deus, não à religião. 
      A verdade é que religião institucionalizada só funciona para líderes mal intencionados e como retorno material. A pastores e ovelhas sinceros do bem, que querem realmente a Deus, pode até funcionar no início, mas chegará um momento que Deus pedirá mais e a religião não terá para dar. Tenhamos essa consciência, aconselhemos os que não tem, e a esses sempre com cuidado, só Deus sabe o tempo de cada um, o que cada um está preparado para saber e ser, é preciso ser fiel no pouco antes de almejar mais. Mas tenhamos coragem para admitir quando a coisa não está mais funcionando.
      Sei que é difícil aos pais, para mim é difícil, mas nossos filhos são de fato o que se revelarem na juventude e na maturidade, infância e pré-adolescência são ilusões. Temos oportunidades únicas de ensinar nossos filhos aquilo que achamos importante, e isso ficará dentro deles para sempre. A escolha final, contudo, deve ser deles, não devemos tirar deles esse direito, ainda que os amando, orando por eles e aconselhando-os com respeito. Eu, contudo, creio que uma boa criação transforma alguém, talvez não em curto prazo, mas sempre dará aos filhos portos seguros para onde retornarem. 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão