11/11/22

Aprendamos com Davi

      “Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias. Lava-me completamente da minha iniquidade, e purifica-me do meu pecado.Salmos 51.1-2

      O salmo 51 registra a oração que Davi fez após ser repreendido pelo profeta Natã (II Samuel 11-12) por ter adulterado com Bate-Seba e mandado matar Urias seu esposo. O pecado foi sério, as consequências à altura, mas Davi o assumiu, ainda que tardiamente e só após ter tentado acobertar o erro inicial com mais erros. Um trágico exemplo de como vergonhas podem se tornar vergonhas ainda maiores, se não houve pronta humildade para assumir as primeiras. Davi pede perdão a Deus com a certeza que isso seria suficiente para purificá-lo totalmente, isso fica claro na passagem. Por pior que seja o erro cometido o mínimo que podemos fazer é assumi-lo, confessá-lo a Deus e confiar na eficácia do perdão do Senhor.
      Davi poderia ter novamente a mesma atenção e a mesma proteção de Deus que tinha antes de pecar? Sim, contudo, fica a lição a todos nós, mesmo que haja paz com o perdão, os efeitos de certos pecados não desaparecem, devemos conviver com eles, ainda com mais humildade que a exercida para assumirmos o erro. Quem já não cometeu erros sérios, com consequências que não podem ser desfeitas? Deus não deseja isso a ninguém, mas em muitos casos pode ser a única maneira de sermos quebrantados e confiarmos no Senhor. Lições trágicas sofrem os teimosos, que ainda que tenham provado a honra de Deus, como provou Davi no estabelecimento de seu reinado, se esquecem dessa honra e não vigiam adequadamente.

      “Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mal à tua vista, para que sejas justificado quando falares, e puro quando julgares. Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe.” Salmos 51.3-5

      Nesses versículos Davi especifica sua confissão, sua condição de pecador imundo, e principalmente, verbaliza contra quem pecou em primeiro lugar, contra Deus. Confissão de pecado não pode ser genérica, mas detalhada, sentindo toda a seriedade que implica o erro. Interessante que Davi diz que conhece suas transgressões, mas parece que nos esquecemos que estamos pecando e desagradando muito a Deus em algumas situações, como quando Davi desejou e possuiu a mulher de outro homem. Que não cheguemos a estarmos fracos assim, por isso vigiemos, nos fortaleçamos em Deus, enxerguemos o pecado antes dele acontecer, e fujamos dele, bem depressa, senão as consequências serão terríveis.
      Que diferença a honestidade de Davi, concordando que qualquer juízo que Deus executasse seria justo e ele receberia sem reclamar, da atitude de muitos jovens hoje em dia, não admitindo erros, jogando a culpa nos outros, não assumindo responsabilidades pessoais, achando-se sempre certos, cheios de direitos. Por isso tantos não conhecem o verdadeiro Deus, ainda que frequentem igrejas, não são humildes e não amadurecem. Davi chega ao fundo em sua confissão quando reconhece que sua essência é pecaminosa, desde seu nascimento, parece exagerado, mas representa bem a situação de quem foi surpreendido e duramente exortado. Davi faz tudo que pode para recuperar sua posição anterior a seu erro.

      “Eis que amas a verdade no íntimo, e no oculto me fazes conhecer a sabedoria. Purifica-me com hissope, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais branco do que a neve. Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que gozem os ossos que tu quebraste. Esconde a tua face dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniquidades. Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto.” Salmos 51.6-10

      Depois de enfatizar sua condição de pecador, Davi enfatiza a santidade de Deus, confia na eficácia do perdão do Senhor e clama para ter novamente a alegria de viver de quem agrada a Deus. Ah, meus queridos, muitas vezes só valorizamos certas coisas quando as perdemos. Mas creiam, é muito ruim viver em pecado, traindo pessoas, desejando o que não é nosso, tendo o que não nos pertence. Em se tratando de sexo errado é adultério e roubo, e no caso de Davi, também homicídio. Um abismo chama outro abismo, se o homem se deixar levar por prazeres egoístas, pela carne, desprezando o Espírito, acabará em morte e como dizem alguns, num horroroso “carma”. Quanto temos que pecar para acordarmos? 
      O versículo dez é muito bonito, vai ao cerne do problema, que não está nos órgãos e sentidos do corpo que interagem com os apetites, mas no interior emocional, mental e espiritual do homem. Davi deseja de novo o homem que era antes de pecar, que ele perdeu, não no adultério ou no homicídio, mas antes. Adultério e homicídio foram só trágicas causas de seu afastamento de Deus, afastamento que não o levou à guerra junto do exército de Israel e o amarrou ociosamente no palácio. Creia, ninguém comete um grande erro assim, da nada, avisos são dados e muitos, mas não são ouvidos, até que algo sério ocorre e revela o grande desvio do homem de Deus. Aprendamos com toda essa triste história de Davi e nos cuidemos. 

10/11/22

Nosso sal tem sabor?

      “Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens.Mateus 5.13

      Nossa vida tem sabor? Que sabor tem? Que sabor gostamos que ela tenha? Várias coisas podem dar sabor às nossas vidas. Passamos muito tempo ao sabor das paixões, essas conferem tons fortes e vivos, que preenchem nossos dias, fazem com que nos sintamos vivos, relevantes para o mundo, para outras pessoas. Nos apaixonamos por um ofício, por uma profissão, por uma carreira, por um dom, nos esforçamos para conhecer essas ferramentas bem e sermos competentes no uso delas. Essas estão diretamente relacionadas com retornos financeiros, e dinheiro sempre dá sabor às vidas, compra-o, ao menos. 
      Mas é indiscutível que o que dá mais sabor às nossas existências neste mundo são nossas relações afetivas, por amor fazemos muitas bobagens, mudamos de cidade, de estado, de país, trocamos até carreiras promissoras para estar mais perto de alguém. Bem, pelo menos era assim para a minha geração, mas parece que para jovens bem formados dessa última geração, vida profissional tem sido prioridade, muitos têm preferido ficar solteiros, ainda que tendo relações íntimas ocasionalmente e sem compromisso. Muitos hoje não querem estar presos a nada a não ser a eles mesmos, mas será que as vidas desses têm sabor? 
      No texto bíblico inicial entendemos que sabor não é efeito de algo, mas algo que causa efeito em outras coisas, assim, paixões mudam nosso humor, nosso emocional, isso nos confere temperos que podem influenciar outras coisas. Apaixonados podem trabalhar melhor, ou pior, que seja, mas se tivermos vivendo uma paixão tudo o que tocarmos ganhará um sabor. A figura do sal tem um significado especial, não se come sal puro, ele é usado para dar sabor, e mesmo assim deve ser usado na medida certa. Mas isso se o sal estiver com suas características vivas, caso contrário, todo o sal do mundo não dará sabor aos alimentos. 
      O melhor sabor é o moral, ungido no Espírito Santo, esse dará mais que gosto, liberará o melhor dos seres humanos, e o melhor é eterno, não é vão e deste mundo. O resto, ainda que não seja necessariamente errado e tenha espaço e tempo em nossas vidas, é uma espécie de simulação da unção  espiritual. É importante entendermos que experiência espiritual não é algo fechado, parado, contido, frio, mas ainda que seja centrado e controlado é fogo que arde e não queima. A verdadeira experiência espiritual com o Deus Altíssimo nos confere o sal mais puro e saboroso, capaz de dar bom gosto ao mundo e aos seres humanos. 
      Unção envolve áreas moral, espiritual e emocional, é prazer de se estar em íntima ligação com Deus pelo seu Espírito. Mas a unção genuína só existe quando há qualidade moral, alguém de fato ungido tem capacidades espirituais, virtudes morais e emocionalmente sente-se iluminado, muito satisfeito. Quem está bem consigo, com Deus e se sente bem, com facilidade influenciará as outras pessoas, seja com palavras ou com atitudes, a estarem bem. O sal que Jesus se refere é essa unção, outros sabores, como as paixões, acabam conforme envelhecemos, mas o sabor da unção perdura e melhora, independente do tempo de vida.
      Interessante que o fim do sal com sabor e do sal sem sabor é o mesmo, a terra. Um salgará a terra e a influenciará para ter o seu sabor, o outro será pisado pelos homens e se tornará terra, será influenciado por ela. Isso propõe uma escolha de atitude, influenciar ou ser influenciado. Todos nos sentimos às vezes sal sem gosto, ainda que nossa vida no geral esteja de acordo com a vontade de Deus, parece que não nos resta outra coisa senão cairmos na terra e desfalecermos. Ao invés de procurarmos sabor nos vícios do corpo, o melhor é orarmos a Deus, buscarmos com todo o coração a unção do Altíssimo, que dá sabor ao nosso sal.

      “Clama a mim, e responder-te-ei, e anunciar-te-ei coisas grandes e firmes que não sabes.Jeremias 33.3

09/11/22

Deus é sol e escudo

      “Porque o Senhor Deus é um sol e escudo; o Senhor dará graça e glória; não retirará bem algum aos que andam na retidão.Salmos 84.11

      Por isso amamos a Bíblia, em poucas palavras nos são apresentados ensinos preciosos de vida eterna. Deus é sol, o que entendemos disso? O Sol brilha, forte, sempre, alimenta toda a natureza com seu calor. Ele é fiel, ainda que a noite venha, e em alguns lugares do planeta possa durar bastante, o dia chega, o Sol nasce no horizonte, a vida se renova, a esperança segue firme, fortalecendo os homens em suas lidas diárias no trabalho de ganhar o alimento.
      À luz do Sol o homem tem melhores condições de ser produtivo, não precisa de luz artificial, sabe onde anda, aproveita melhor seu tempo. Deus é Sol moral que orienta nossas escolhas, mostra-nos o que é certo fazer porque é o melhor, para nós e para os outros. Sob a luz espiritual mais alta os seres espirituais do mal fogem, tentam achar algum local nas trevas para se esconderem, quem anda no sol divino é protegido por ele, purificado por ele, acalentado por ele. 
      A mesma luz mais alta de Deus é escudo contra o mal, quem faz o que é certo vence o que está errado só pelo fato de agradar a Deus. Não precisamos empunhar armas contra os arrogantes e egoístas, gastarmos nossas forças agredindo-os, os retos não atacam ninguém, nunca. Nossa ferramenta de guerra é obedecer a Deus, com isso naturalmente um escudo se forma ao redor, embaixo e acima de nós, de maneira que as armas inimigas não possam nos tocar.
      Nada é tirado dos que andam na retidão, andarmos retamente é andarmos humildes diante dos homens, mas convictos com Deus, com calma no mundo, mas perseverantes na busca do Altíssimo. O reto não mente nem que lhe custe a vida, não perde tempo com polêmicas ou com defesa própria, se cala, confia em Deus pois sabe o Deus que tem. A esses Deus não negará nada porque esses sabem o que, como e quando pedir, para eles a vida melhora sempre. 
      Interessante que o texto não diz nada é negado, mas nada é retirado, parece que nossa dificuldade maior não é conquistar coisas, mas manter o que conquistamos. Assim, a disciplina que sofremos quando nos afastamos de Deus, não é deixarmos de ganhar, mas perdermos o que ganhamos. O reto nem precisa ganhar, mas o que tem multiplica-se. Ainda que nada mais possa fazer para ver suprida sua necessidade, Deus fará com que aquilo que ele tem baste.
      Graça dá o Senhor aos retos. Graça nos remete a dois sentidos, um é ganhar algo sem ter pago um preço, gratuitamente, mas os retos pagam um preço, creem em Deus de todo o coração e vivem vidas santas e humildes. O outro sentido é alegria de quem é feliz sem precisar de motivos, pelo menos de motivos materiais, graciosamente, retos são alegres sempre, se maravilham com as obras constantes de Deus porque têm olhos e ouvidos espirituais abertos. 
      Glória dá o Senhor aos retos. Glória é um brilho diferenciado, uma condecoração, não física, mas espiritual, advém não de riquezas do mundo e de honra de homens, mas de prática de virtudes morais diante de Deus. A verdadeira glória de cada ser só reconhece os realmente espirituais, os outros verão o que querem ver, serão enganados com falsas glórias, serão vaidosos e céticos, ainda que se achem bons religiosos, não conhecerão a glória de Deus. 

08/11/22

Andar no Espírito

      “Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra estas coisas não há lei. E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos em Espírito, andemos também em Espírito. Não sejamos cobiçosos de vanglórias, irritando-nos uns aos outros, invejando-nos uns aos outros.Gálatas 5.22-26

      Andar no Espírito é praticar três pilares da espiritualidade: oração realmente espiritual, mente vigilante e amor puro. Oração espiritual recebe unção que capacita e consola, não é só expressão intelectual, mas direta conexão com Deus por Jesus no Espírito Santo, que entrega um bom e poderoso sentimento. Mente vigilante fecha portas às vozes dos espíritos maus, às invejas dos homens maus e aos prazeres descontrolados do corpo, focando em Deus e em sua vontade, conquistando paz e santidade. Amor puro entrega sem pedir algo em troca, com paciência, elegância e buscando a glória de Deus, não do ego.
      Viver no Espírito é orar e louvar a Deus, focar no Altíssimo e amar sempre. Andar no Espírito é prática, é colher no passo a passo e no dia a dia o que se confessa como vida na oração. Não basta sermos fortalecidos em oração, acessarmos a vontade de Deus para nossas vidas e nos sentirmos muito satisfeitos com isso, temos que refletir isso em nossas relações diretas com a realidade, com as pessoas, com os negócios. Por isso à orientação de Paulo sobre viver e andar em Espírito, segue “não sejamos cobiçosos de vanglórias, irritando e invejando os outros”, frutos doces e que permanecem precisam ser colhidos. 
      Pode parecer óbvio, mas muitos conseguem entender os pilares da espiritualidade na oração, naqueles maravilhosos momentos de quebrantamento no coletivo das igrejas ou na privacidade de seus lares, contudo, não conseguem pôr em prática. Por isso estão sempre repetindo provas, voltando ao passo inicial da carreira cristã, isso até pode persistir por um tempo, mas depois pode enjoar, fazendo com que muitos desistam de praticar espiritualidade. Prática requer um andar cuidadoso, onde se retêm na alma a vontade de Deus e a confronta com a realidade à medida que se caminha. Isso requer fazer as coisas com calma. 
      Enquanto na oração as coisas podem ocorrer na velocidade do Espírito Santo, esse é rápido para agir e nem precisamos de muita racionalidade para entender, mais se sente que se pensa, o convívio com a realidade do mundo material requer tempo. Dessa forma, pôr teoria em prática exige paciência com nós mesmos e com os outros, mais pensar que falar. Se recebimento da unção é algo mais espiritual que intelectual, a prática do que se recebeu requer racionalidade, não para entender e fazer as coisas do jeito humano, mas para destrinchar o ensino recebido do Espírito Santo e pô-lo em prática, em cada atitude e em cada palavra.

07/11/22

24 horas com Deus

      “Eu, porém, invocarei a Deus, e o Senhor me salvará. De tarde e de manhã e ao meio dia orarei; e clamarei, e ele ouvirá a minha voz.Salmos 55.16-17

      Não olhemos para dentro de nós, mas para Deus. Nosso interior é local pouco confiável, principalmente quando não foi cheio do Espírito Santo. Pela manhã, quando acordamos, é um momento muito humano, uma noite mal dormida, sonhos de todas as espécies, lembranças do dia anterior e velhos medos do futuro, podem se assentar dentro de nós. Por outro lado temos compromissos a cumprir, pouco tempo para meditações e leituras da Bíblia, assim uma oração rápida e com convicção é útil para nos nivelarmos espiritualmente. O principal é olharmos pela fé para o Altíssimo, não para nós. 
      Lá pelo meio do dia, quando já nos adaptamos à realidade, conversamos com pessoas, as coisas começam a fazer sentido, já estamos sentindo mais as prioridades e nossa mente já está envolvida com a roda viva da vida, empurrando-nos à frente. Mas nesse momento uma atitude mental também de fé é importante para não nos perdermos, podemos cair tanto por nos sentirmos fracos quanto por nos acharmos fortes. Depois chegamos ao final do dia, em casa, cansados fisicamente, mas é à noite, após um banho e uma refeição, que busca por espiritualidade pode ser mais frutífera e fortalecedora.
       Num lugar protegido de interferências e distrações, principalmente auditivas, relaxemos e busquemos a Deus com tempo. Momentos como esse é que nos darão noites de sono tranquilas e que nos permitirão acordar no dia seguinte preparados para enfrentarmos a vida. Vivermos vinte e quatro horas perto do melhor de Deus neste mundo é desafiador, não é fácil, mas é o segredo para que nos preparemos para termos direito ao melhor do Senhor na eternidade. Nada acontece por acaso, sempre há esforço perseverante envolvido, mas aos homens de boa vontade a felicidade é viável.

06/11/22

Sem amor estreita-se a visão

      “Comunicai com os santos nas suas necessidades, segui a hospitalidade; abençoai aos que vos perseguem, abençoai, e não amaldiçoeis. Alegrai-vos com os que se alegram; e chorai com os que choram.Romanos 12.13-15

      De baixo para cima enxergamos o Deus Altíssimo, focando nossos olhos espirituais em linha reta e centrada nas regiões espirituais mais altas em Cristo, acima dos seres espirituais. Contudo, é olhando na mesma altura, e abrindo a visão, que enxergamos os seres humanos com amor. Só o amor abre nossa percepção do semelhante, sem ele nossa visão estreita-se e entendemos o outro egoisticamente. Essas definições talvez tenham sido um pouco místicas, mas quem tem a experiência de fazer uma oração diferenciada de fé, que redunda numa resposta certa e completa, entende o que quis dizer com olhar espiritual reto e centrado no Altíssimo.
      O ponto dessa reflexão, contudo, é a maneira como olhamos nossos semelhantes: com visão estreita ou com visão aberta? Quem não ama distancia-se, olha com frieza, seleciona só o que quer ver, que não vai comprometê-lo ou incomodá-lo. Quem olha estreito vê com filtros, não quer enxergar a realidade. Você quer saber se usa esse olhar? Responda: como você olha um mendigo numa calçada? Nem dá muita atenção, pensa, mas tem preparadas algumas considerações para interpretar a situação, de modo a não se envolver com a questão, para não ter que ser solução e não sofrer? Quem olha assim olha sem amor, enxerga estreitamente o semelhante. 
      Não temos que sair por aí resolvendo todos os problemas do mundo, nem podemos fazer isso, o mendigo foi um exemplo, ainda que nada façamos numa situação assim, não significa que não temos amor. Mas existem situações, bem triviais, em nossas vidas, em que Deus nos permite exercer amor. A visão estreita sempre olha de cima, a aberta olha na mesma altura, mas podemos também olhar de baixo, isso indica algum problema emocional em nós não resolvido, só Deus merece ser olhado com temor. Visão estreita é arrogante, na mesma altura é equilibradamente amorosa, mas a de baixo pode até conter amor, mas também conterá medo, que limita o amor. 
      Sem amor estreita-se a visão e nós fugimos da escolha mais espiritual, que interage com algo ou alguém como Jesus homem interagiria. Escolher o que ver e concluir sem refletir muito é mais fácil, mas contemplar toda a questão envolve trabalho emocional. O olhar aberto ouve antes de falar, não julga mal e torce pelo melhor. O olhar amoroso não vê inimigos nem em quem assim se coloca contra ele, mas vê alguém com uma ferida que precisa ser curada, não toma como pessoal nem a ira e nem a inveja mais estridentes. Olhar aberto abraça, o estreito despreza, o aberto não se acha parte do problema, mas da solução, por isso não tem necessidade de se defender. 
      Visão estreita a ninguém se associa sem que isso lhe traga alguma vantagem, mesmo que seja só para poder dizer depois a quem ajudou que esse lhe deve favores. A visão aberta vê todos os seres humanos como irmãos, tem uma ótica espiritual e eterna da humanidade, não vã e mundana. O que abre os olhos espirituais para enxergar o semelhante toma a iniciativa para amar, ainda que seja só para clamar anonimamente por alguém diante de Deus. Eis a maneira de ajudarmos muitos que nos impressionam por sofrerem tanto, orando, contudo, se pudermos ajudar financeiramente, o façamos, hoje, pobreza de tantos no mundo, é problema de todos. 

05/11/22

A cor do amor

      “Porque para Deus somos o bom perfume de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem. Para estes certamente cheiro de morte para morte; mas para aqueles cheiro de vida para vida.II Coríntios 2.15-16a

      Para a esquerda está na moda ser legal, por isso tanta publicidade usando diversidade de raças e sexualidades para agradar a causas sociais. Já para a direita cristã está na moda ser estúpida, cansou de se achar vítima, assim vinga-se posicionando-se politicamente. Mas enquanto a esquerda dá lugar de fala a vítimas reais, que sofriam preconceitos e opressão legitimamente, a direita cristã sai da posição que não devia ser de vítima, mas de humildade, e se desvia para um empoderamento extremado e equivocado. 
      Se alguém é negro, homoafetivo e cristão, pelo que pode lutar? Como negro pode lutar por igualdade, como homoafetivo por liberdade, mas como cristão deve viver em humildade. Percebe as diferenças? Por causas humanas e deste mundo luta-se com armas deste mundo, mas causas espirituais devem prevalecer com experiências espirituais. A diferença existe porque espírito não tem sexo ou cor, só níveis moral e intelectual, ainda que isso não impeça cristão de lutar por direitos de todos os seres e pelo bem do planeta. 
      O mais sábio é tentar não usar lugares inadequados para causas indevidas. Luta por igualdade de cor e de sexualidade não deve envolver religião, pois são relevâncias para seres humanos de religiões diferentes e mesmo sem religião. Quando dizemos religião, dizemos todas, afro-espíritas não têm mais legitimidade de lutar pelos direitos de afrodescendentes que cristãos. Ainda que o catolicismo tenha origem na Itália, não é exclusivo de italianos, como não é o protestantismo de alemães ou o Candomblé de africanos. 
      Religião, apesar de ter origem e ser fundamentada em fatores culturais e sociais de um povo, pode ser escolhida por seres humanos de qualquer origem, continente, país, raça ou tribo. Ou não? Ou só afrodescendentes podem ser da Umbanda e do Candomblé? Assim devemos separar cultura de origem africana de religião dessa origem, pode não ser fácil, mas é necessário, senão estaremos tirando da religião sua principal função, permitir a qualquer ser humano relacionar-se com o divino, o místico e o espiritual. 
      Já o compartilhar Deus, e o termo não é lutar por Deus, já que Deus não precisa e nem pede que ninguém lute por ele, deve ser feito com humildade, com ações não com discursos. Espiritualidade deve aparecer em nós como perfume, suave e especial, discreto, mas vivo. Digo isso não só a evangélicos, mas a todos, espíritas, afro-espíritas, muçulmanos, budistas etc. Imagine um mundo onde assembleianos lutassem pelos homoafetivos, onde umbandistas lutassem pelos luteranos, imagine, seria um wonderful world.
      Se cada fala estivesse em seu lugar e uma não tentasse tomar o lugar da outra, teríamos causas sociais de mãos dadas com causas morais, ciência amiga da religião, tudo harmonizado para que um ser humano completo e equilibrado cuidasse bem dos mais desfavorecidos e do planeta Terra. Contudo, os seres humanos ainda tendem à prepotência, todos eles. Quem esteve embaixo quer estar em cima, e fará com os que estavam em cima o que fizeram com ele. Sem temor a Deus não há igualdade, liberdade e humildade. 
      O mundo está mudando e mudará ainda mais, a direção já está sendo mostrada. Daqui a algum tempo ainda haverá problemas, mas a igualdade será maior, primeiramente física depois em outras áreas, a mistura maravilhosa de raças igualará os corpos àquilo que já existe nos espíritos. Se preconceituosos reclamam de verem tantos afrodescendentes em propagandas de TV, aceitem, no futuro não se verá mais brancos, mas também não se verá mais negros, só misturados. O ser humano do futuro só terá uma cor, a cor do amor.  

      “Depois destas coisas olhei, e eis aqui uma multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono, e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e com palmas nas suas mãos; e clamavam com grande voz, dizendo: Salvação ao nosso Deus, que está assentado no trono, e ao Cordeiro.” Apocalipse 7.9-10