Deus é fogo consumidor

      “Em Sião, os pecadores estão atemorizados; o tremor se apodera dos ímpios. Eles perguntam: "Quem de nós habitará com o fogo devorador? Quem de nós habitará com chamas eternas?" Aquele que anda em justiça e fala o que é reto; que despreza o ganho de opressão; que, com um gesto de mãos, recusa aceitar suborno; que tapa os ouvidos, para não ouvir falar de homicídios, e fecha os olhos, para não ver o mal. Este habitará nas alturas; as fortalezas das rochas serão o seu alto refúgio, o seu pão lhe será dado, e água nunca lhe faltará.” Isaías 33.14-16 (Nova Almeida Atualizada)

      Quem dera muitos dos que se autodenominam hoje cristãos, tivessem a sensibilidade dos que o texto bíblico inicial chamou de pecadores e ímpios, esses reconheceram que não estavam preparados para habitarem com o Deus Altíssimo. Na pergunta que fazem reconhecem uma característica do Senhor, fogo devorador, ou, chamas eternas. Hoje costumamos aliar essas figuras ao inferno, a um calor extremo que fará sofrer aqueles que não se converteram a Deus por Jesus, mas o sentido no texto de Isaías é outro, nada tem a ver com sofrimento, aliás, o sofrimento existe para os que não estão nesse fogo ou nessas chamas. 

      Não sabemos neste mundo qual é a substância do espírito, e se a dos espíritos daqueles que morreram neste mundo e estão no plano espiritual nos é mistério, mais é a dos anjos e de outros seres espirituais do bem, mas mais ainda é a aparência de Deus, ele é o espírito mais puro, mais alto, mais santo, mais pleno de todas as virtudes que existe. Essa aparência é citada por muitos relatos bíblicos como um fogo, ou uma chama, apesar da aparência humana, que podemos imaginar que teremos na eternidade, nossa essência que é um espírito eterno, também é isso, uma luz que emana de um fogo que queima sem perder substância. 

      A imagem de fogo aliada ao espírito não tem a ver com o fogo material, esse sim, tem mais a ver com o inferno, fogo físico queima, reduz a matéria, fere pelo calor, enfim, causa dor e sofrimento, assim condenados sofrerão no lago de enxofre do inferno. Mas também esse uso do fogo é equivocado, espírito não sofre dor em sua substância, nem pode ser queimado. Podemos, contudo, achar algo em comum, entre o fogo do inferno e o fogo consumidor divino, a luz emanada da chama do espírito tem extensão e clareza relativas à qualidade moral, assim, quanto mais santo e mais puro, mais forte o fogo e mais clara a luz. 

      “Porque o nosso Deus é um fogo consumidor” (Hebreus 12.29), quem sofre no inferno sofre porque não tem pureza moral, a luz mais alta de Deus, que brilha o tempo todo e sobre todos, o atormenta, o espírito do condenado sente a vergonha, de pecados não perdoados e de erros não corrigidos, revelada pela luz do Altíssimo, assim é consumido moralmente, não substancialmente. Por outro lado, os que se acertaram, que foram perdoados, se perdoaram e perdoaram, sentem-se atraídos pela luz do Altíssimo, agradam-se dela como ela deles, por isso querem se aproximar dela e terem comunhão plena com ela, isso é o céu. 

      Os condenados não sofrem porque estão nas trevas, mas porque estão sob a luz e ninguém pode fugir dessa luz, mas na tentativa de ficarem longe dessa luz eles fecham os olhos espirituais, assim nada veem e acham trevas para fugirem, não fora deles, mas dentro deles. Quem tem os olhos espirituais fechados cae num abismo eterno, eis o mistério, talvez uma das melhores formas de se definir o inferno. Esse inferno podemos provar mesmo encarnados neste mundo, ainda que aqui tenhamos os consolos dos prazeres do corpo para nos fazerem esquecer, ainda que temporariamente, o sofrimento de não querer ir para Deus. 

      Com olhos espirituais fechados até podemos construir coisas no mundo material, muitas até positivas, mas o cego não sabe para onde vai, perde-se e sempre acaba sendo infeliz e fazendo infeliz. O cego não anda em justiça, não fala o que é reto, lucra com a opressão, aceita suborno, aprova homicídios, se agrada só em ver o mal. Contudo, se ele abrir os olhos espirituais poderá conhecer sua verdade e assumi-la, Deus não pede mais que isso para começarmos a seguir em sua direção. Inferno é manter os olhos espirituais fechados, céu é abri-los, e quantas coisas maravilhosas nos são mostradas quando abrimos os olhos.

      “Este habitará nas alturas, as fortalezas das rochas serão o seu alto refúgio, o seu pão lhe será dado e água nunca lhe faltará”, eis as promessas para os que abrem os olhos e contemplam o fogo consumidor do qual emana a luz moral mais forte. Isso fala muito mais que de proteção material e de suprimento físico, fala de posição espiritual, acima dos homens, do mundo, do diabo e dos demônios, de principados e potestades, de toda a sorte de seres espirituais das trevas e da luz. Nessa posição está Jesus que chama para habitar com ele e receber o Espírito Santo, no qual reside todo conhecimento e glória do fogo divino. 

Problemas insolúveis

      “Melhor é o fim das coisas do que o princípio delas, melhor é o paciente de espírito do que o altivo de espírito.” Eclesiastes 7.8

      Poderia citar outros exemplos bíblicos, mas o de Abraão (passagem no final deste texto) reflete a realidade de problemas de família, presentes mesmo nas vidas de personagens importantes da história de Israel. Abraão e esposa, ainda que idosos, receberam a promessa de Deus que teriam uma descendência muito grande, mas na falta de fé de Abraão, que não soube esperar o tempo melhor de Deus, e na vaidade ferida de Sara, Abraão acabou tendo um filho com Agar, uma escrava. Pecado não se sustenta no tempo, o que começa errado acaba errado, assim Sara não suportou sua escolha e expulsou Agar. 

      Abraão não sabia, quando somos vencidos pela impaciência nunca sabemos das consequências disso, mas ainda que fosse um filho fora do melhor do plano de Deus para ele, Ismael, o filho da escrava, seria honrado pelo Senhor e daria origem a povos poderosos, que se oporiam contra a nação de Israel, o povo descendente de Abraão, Isaque e Jacó, até os dias de hoje. Aprendamos com Abraão, não apressemos a bênção, Deus é fiel com todos, até com inimigos que fazemos por não sabermos esperar nele, se a prova está difícil pode ficar ainda pior, se tentarmos resolver as coisas do nosso jeito. 

      Todos podemos ter problemas sem solução, com os quais precisaremos conviver, principalmente na área familiar. Ainda que crianças e adolescentes pareçam felizes e com futuros previsíveis, todos vêm a este mundo para fazerem escolhas, nisso com certeza erros serão cometidos. Muitos terão juventudes descontroladas, casamentos desfeitos, filhos em hora imprópria, verão sonhos transformarem-se em pesadelos. Hoje o mundo não categoriza casamentos desfeitos como problemas, mas como características, isso é bom porque desconstrói preconceitos, mas é mau porque banaliza sérios erros.

      “Nota o homem sincero e considera o reto, porque o fim desse homem é a paz” (Salmos 37.37), amo esse princípio compartilhado principalmente no livro de Salmos, ele é simples: sabemos quem é quem pelo seu fim, não pelo seu início. A vida é longa sob o ponto de vista da matéria, apesar de só um sopro sob o ponto de vista espiritual, assim problemas todos têm, e bem sérios, e se ainda não tivemos, teremos. A questão não são os problemas, mas o que faremos com eles no tempo, eu creio que o Senhor não permite que ninguém parta deste mundo sem a oportunidade de ter um fim digno e em paz. 

      Abraão teve o fim prometido por Deus em Isaque, filho que Sara gerou dele, mas o problema “Ismael”, criado por sua impaciência, não foi anulado. Viver é alcançar felicidade e segurá-la, mas também é administrar problemas insolúveis, a verdade é que aprendemos mais administrando o que não pode ser resolvido que o que pode. Solução plena só na eternidade, aqui devemos ter a humildade de assumir erros e a fé lúcida de confiar num Deus que não resolve todos os nossos problemas, já que ele é impedido por nós mesmos, pelos efeitos de nossas causas, e nisso outras vidas são envolvidas.  

      Como temos encarado o fim de muitas coisas em nossas vidas? Fins muitas vezes de casamentos, de profissões, de empresas, de amizades, de alianças com ministérios de igrejas? Desistimos quando vemos a verdade, de escolhas erradas e más colheitas? Ou temos a humildade e a fé de entendermos as coisas sob o ponto de vista do Altíssimo, aprendendo com nossos erros não solucionáveis para podermos levar desta vida a lição mais importante? Talvez a lição mais importante da vida seja saber esperar, ainda que tenhamos que perder muita coisa neste mundo para aprendê-la.

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      “Ora Sarai, mulher de Abrão, não lhe dava filhos, e ele tinha uma serva egípcia, cujo nome era Agar. E disse Sarai a Abrão: Eis que o Senhor me tem impedido de dar à luz; toma, pois, a minha serva; porventura terei filhos dela. E ouviu Abrão a voz de Sarai. Assim tomou Sarai, mulher de Abrão, a Agar egípcia, sua serva, e deu-a por mulher a Abrão seu marido, ao fim de dez anos que Abrão habitara na terra de Canaã. 

      E ele possuiu a Agar, e ela concebeu; e vendo ela que concebera, foi sua senhora desprezada aos seus olhos. Então disse Sarai a Abrão: Meu agravo seja sobre ti; minha serva pus eu em teu regaço; vendo ela agora que concebeu, sou menosprezada aos seus olhos; o Senhor julgue entre mim e ti. E disse Abrão a Sarai: Eis que tua serva está na tua mão; faze-lhe o que bom é aos teus olhos. E afligiu-a Sarai, e ela fugiu de sua face.” 

      “Disse-lhe mais o anjo do Senhor: Multiplicarei sobremaneira a tua descendência, que não será contada, por numerosa que será. Disse-lhe também o anjo do Senhor: Eis que concebeste, e darás à luz um filho, e chamarás o seu nome Ismael; porquanto o Senhor ouviu a tua aflição. E ele será homem feroz, e a sua mão será contra todos, e a mão de todos contra ele; e habitará diante da face de todos os seus irmãos.”

Gênesis 16.1-6, 10-12

Deus é que me cinge de força

      “Deus é que me cinge de força e torna perfeito o meu caminho.” Salmos 18:32 

      Você precisa saber de uma coisa, por mais que tua consciência fale o contrário, por mais que as pessoas digam diferentemente, você tem o direito de se sentir fraco, desanimado, sem forças para seguir. Saber isso, assumir isso e se dar a esse direito é o primeiro passo para você achar forças para ir em frente, porque isso mostra para Deus a verdade e Deus sempre ama a verdade. 

    O terreno sobre o qual Deus trabalha é a verdade, nela há humildade e nessa erva daninha, espinheiros e outros males, soltam-se com facilidade permitindo que o vento do Espírito sopre e limpe. Depois, a terra estará pronta para receber a semente da palavra de Deus, que sob a chuva da unção do Altíssimo se fará linda árvore, são os frutos dessa árvore que nos fortalecem.

      A mentira, a resistente negação da realidade, endurece a terra, segura o mal, impede a ação do Espírito Santo, tenta manter a terra forte sem Deus. Admita tua fraqueza, mas ainda assim busque a Deus, se não tem forças, vai sem forças mesmo, se não sente vontade de orar, ore sem vontade mesmo, mas esforce-se, pela fé, abra tua boca e clame ao Senhor por fortalecimento.

      Se você sofre por achar que não consegue acertar teu caminho, por ver que por mais que tente, erra, abre brecha na vigilância moral, não é paciente com os outros como deveria, acalme-se. Se tem entregue tua vida a Deus, esforçado-se para ser melhor, buscado fazer a vontade de Deus em todas as coisas, o Senhor tem guardado tua vida, e você tem acertado mais que acha.

      Muitas vezes nossas emoções e nossos sentimentos não refletem nossas ações, e isso para pior, muitas vezes agimos certo, mas ainda assim sofremos, achando que fizemos algo errado. Melhor assim, acertarmos achando que erramos que errarmos convictos que fizemos certo, contanto que a aflição não permaneça em nossas almas, Deus sempre aprova com paz os que confiam nele. 

      O Senhor aperfeiçoa o caminho do humilde que o teme, emana sua luz sobre esse de forma que ela seja refletida em todos ao redor. Creia e confie, se buscou a Deus com todo o coração, pronto para obedecê-lo, teu caminho agrada a Deus, e se por acaso houve alguma imprecisão o Senhor aperfeiçoará ainda mais tua jornada, de modo que tuas escolhas sejam sempre as mais corretas. 

O Senhor conhece o íntegro

      “O Senhor conhece os dias dos íntegros; a herança deles permanecerá para sempre. Não serão envergonhados nos tempos difíceis e nos dias da fome se fartarão. Os ímpios, no entanto, perecerão, e os inimigos do Senhor serão como as mais belas pastagens: desaparecerão, como desaparece a fumaça. O ímpio pede emprestado e não paga; o justo, porém, se compadece e dá. Aqueles a quem o Senhor abençoa possuirão a terra; e serão exterminados aqueles a quem ele amaldiçoa.” Salmos 37.18-22

      Um momento e podemos pôr muita coisa a perder, uma ira não aplacada, um desejo não controlado, uma culpa não resolvida que gera dor e procura qualquer prazer para ser suportada. Mas será que Deus nos julga por um simples momento? Nossa vida é mais longa que um momento, é complicada, não somos definidos por um erro, mas por várias escolhas certas, feitas dia a dia, ano após ano. Deus nos acompanha, nos pesa. Para nos julgar? Sim, ele é o justo juiz, mas não para nos condenar, Deus não condena ninguém, apenas está perto dos que dele se aproximam e longe dos que dele se afastam. 

      Na distância há o amor do Senhor que pacientemente espera que nos aproximemos dele, usando o Espírito Santo e seres espirituais de luz para nos atraírem, aguardando que façamos a melhor escolha. Na proximidade há misericórdia de Deus, mesmo se for num momento de deslize nosso, o Senhor sabe quem somos, de verdade, lá no fundo, o que persistimos em ser. O Senhor conhece nosso coração, aquilo que ele é na maior parte do tempo, aquilo que ele agregou à sua essência eterna, se é íntegro ou ímpio. De boas intenções o inferno está cheio? Não, mas o purgatório está, uma posição de pausa. 

      Ter boas intenções em si mesmo é um valor, Deus contempla isso e recompensa, obviamente não podemos passar toda nossa existência assim, é preciso convertermos fé em obras. Íntegro é alguém inteiro, completo, irrepreensível em sua conduta, honesto, incorruptível. Com certeza nenhum de nós sentimo-nos assim, nos achamos, ao contrário, partidos, imperfeitos, incoerentes tantas e tantas vezes. Integridade é converter boa intenção em prática, é isso que Deus julgará na eternidade, na maior parte do tempo que tivemos encarnados no mundo, mas cuidado, ninguém sabe quanto tempo tem aqui. 

      Alguns mostram integridade em trinta anos de vida, outros em sessenta, outros viverão noventa anos e não conseguirão ser íntegros no bem. Deus é misericordioso, mas ainda que seu amor não tenha fim, sua misericórdia tem, ele não pode permitir que nos enganemos para sempre, justamente porque nos ama sempre. Dessa forma, por nos amar pode ter que pôr fim num modo errado de vida e nos chamar para um juízo. Bem-aventurado o que sofre esse juízo ainda no plano físico, esse terá uma nova chance para acertar seu caminho, e ainda que todo juízo de Deus seja duro, aqui é menos duro que lá. 

Elevo meus olhos para os montes

      “Elevo os meus olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra. Ele não permitirá que os seus pés vacilem; não dormitará aquele que guarda você. É certo que não dormita, nem dorme o guarda de Israel. O Senhor é quem guarda você; o Senhor é a sombra à sua direita. De dia não lhe fará mal o sol, nem de noite, a lua. O Senhor guardará você de todo mal; guardará a sua alma. O Senhor guardará a sua saída e a sua entrada, desde agora e para sempre.” 

Salmos 121 (Nova Almeida Atualizada)

      É difícil eleger um salmo favorito, muitos são maravilhosos à medida que entregam não só curas emocionais, mas todo o processo do homem se aproximar de Deus. De inícios tristes e muito honestos, como devem ser nossas orações ao Senhor, até finais felizes, quando o salmista parece sentir poderosamente a resposta de Deus, vendo seu mundo interior assim como sua realidade transformados. Percebe-se mudança do locutor em muitos salmos, o homem fala com Deus, o Espírito de Deus fala ao homem, o homem fala ao homem sobre Deus, e ainda que refletindo a visão de mundo de um homem antigo, que acreditava num Deus antropomorfizado que destruía inimigos no plano material, em minha opinião, salmos são os textos mais atemporais da Bíblia, nunca ficarão envelhecidos. 

      Hoje o Salmo 121 é um texto que fala especialmente comigo, principalmente porque pelo Espírito eu o interpreto de uma forma muito espiritual, isso se nota logo no primeiro versículo. Elevo os meus olhos para os montes, ainda que interpretássemos isso como algo físico, no planeta Terra, já seria abençoador, se um monte pode ser alto e difícil de ser ultrapassado Deus é mais elevado, assim todos os empecilhos que podem se levantar em nossas jornadas, no tempo e no intento de homens maus, em Deus podemos vencer. O texto, contudo, diz mais que isso, ele se refere às potestades e principados espirituais, às hostes de seres espirituais das trevas, que podem também levantarem-se contra nós, e Deus, o Altíssimo, e como já disse aqui, meu adjetivo preferido de Deus, está acima de todos esses poderes. 

      O Espírito Santo tem me levado a olhar para o alto quando oro, indiferente do lugar onde eu esteja, e costumo orar com os olhos físicos abertos, ainda que quando possível com as luzes do ambiente apagadas. Assim eu posto meus olhos espirituais numa posição alta, mas que vão além das paredes e do teto do local físico. Isso é mais que um jeito de orar, que uma postura física, como outras que existem, como colocar-se de joelhos, fechar os olhos, olhar para baixo, erguer os braços, abrir as mãos e posicionar as palmas na posição de receber algo. Que fique bem claro, cada um deve orar do jeito que achar melhor, e ninguém deve impor seu jeito aos outros, mas eu tenho sentido de olhar para cima, como se estivesse mirando um ponto acima dos maiores montes da Terra, acima de minha casa ou de templo de igreja.

      Isso é mais que preferência pessoal, é posicionamento espiritual. Quando Deus abre nossos olhos espirituais, e ele só faz isso quando estamos preparados, podemos ver o mundo espiritual com mais clareza, assim, olharmos para o ponto mais alto é interagirmos com o Altíssimo, e com mais nenhum outro ser espiritual. Os simples só veem a Deus, e nisso não há qualquer diminuição de mérito, bem-aventurados os simples que olham só para Jesus, esses acham a Deus e são por ele cuidados. Essa simplicidade foi inaugurada pelo Cristo e é o plano de Deus para a humanidade nestes últimos quase dois mil anos. Mas pode-se crescer, isso é possível começando pelos dons do Espírito, e quem busca com perseverança esse crescimento verá mais, por isso é preciso “ajustar uma sintonia espiritual precisa”. 

      O mistério do Salmo 121 está contido na pergunta feita na primeira metade do primeiro versículo, quando o salmista entende a resposta, o meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra, e ela é maravilhosa porque a pergunta foi correta, o que vem depois é só consequência disso. Agora não é mais o salmista perguntando a Deus, mas testemunhando aos homens. O Senhor não permitirá que teus pés vacilem, ele é quem guarda você, é a sombra à tua direita, de dia não te fará mal o sol, nem de noite, a lua, o Senhor guardará você de todo mal, guardará tua alma, mas o final, guardará a tua saída e a tua entrada, é esplêndido. Se você entregou tua vida nas mãos de Deus e anda certo, nada precisa temer, Deus te guardará sempre, até a tua morte, tua saída final deste mundo para entrar na eternidade. 

Forte muro de bronze

      “Por que dura a minha dor continuamente, e a minha ferida me dói, e já não admite cura? Serias tu para mim como coisa mentirosa e como águas inconstantes? Portanto assim diz o Senhor: Se tu voltares, então te trarei, e estarás diante de mim; e se apartares o precioso do vil, serás como a minha boca; tornem-se eles para ti, mas não voltes tu para eles. E eu te porei contra este povo como forte muro de bronze; e pelejarão contra ti, mas não prevalecerão contra ti; porque eu sou contigo para te guardar, para te livrar deles, diz o Senhor. E arrebatar-te-ei da mão dos malignos, e livrar-te-ei da mão dos fortes.”

  Jeremias 15.18-21

      Um dia nós acordamos e a vida está diferente, percebemos que não precisamos fazer força para achar a paz melhor e segurá-la, o sofrimento teimoso ainda que muitas vezes calado, inerente às nossas existências, simplesmente parece ficar mais fácil suportar. Ninguém se engane, isso não acontece como mágica, ainda que pareça acontecer assim, é efeito de trabalho, da insistência de olharmos um objetivo e perseverarmos no caminho reto ao seu encontro por anos, não sendo parado ou desviado pelas margens tenebrosas, onde há armadilhas dos prazeres passageiros e do mal complicado do mundo.

      Não sei você, mas minha vida não foi fácil, nem foi com relação a sustento financeiro, nisso tive oportunidade de fazer uma faculdade e só começar a trabalhar já com um nível superior de ensino. Ainda que tenha começado uns quatro cursos diferentes e nunca tenha terminado algum deles, transitando pelas áreas da música, da computação, da teologia e das ciências sociais, me considero um autodidata, principalmente na literatura e na filosofia. Emocionalmente minha vida parece interagir com a área profissional, no sentido de ser diversificada, cheia de altos e baixos e de mudanças geográficas. 

      Aos sessenta e poucos anos não cheguei inteiro, não no corpo, ninguém chega, mas como disse Paulo, “não desfalecemos, ainda que nosso homem exterior se corrompa, o interior se renova de dia em dia” (II Coríntios 4.16), assim é impossível não colhermos enfermidades físicas e emocionais depois de passarmos tanto tempo lutando contra nossas fraquezas e as dos outros. Mas é útil que seja assim, cicatrizes são medalhas de guerras vencidas, mesmo sendo medicações que às vezes temos que ingerir para termos noites de sono regular, e nem toda consagração e oração nos livrarão disso na velhice.

      O segredo é não desistirmos, não sermos presas da vaidade e do orgulho, que buscam aprovação e honra de homens, que inventa mil desculpas para não ser verdadeiramente humilde e pacientemente amoroso, que confia em ídolos, em si mesmo, num falso cristianismo, não no Altíssimo. O segredo é entendermos que viver é se preparar para morrer, construir valores para a eternidade, não só deixar reputações e bens materiais neste mundo. Se tivermos a alegria de filhos, a melhor herança que eles podem receber de nós é temor a Deus, só isso lhes entregará a felicidade que resiste ao tempo e ao mundo.

      O texto bíblico inicial é muito especial para mim, o Espírito Santo entrega-me desde o início de minha juventude, e sempre fala comigo de maneira renovadora. Ele não se refere à aniquilação de inimigos, mas ao fortalecimento do que obedece a Deus, não fala de mudar os outros, mas a nós, a vitória está em nossa persistente resistência. Pois é, um dia você acorda e se sente como um forte muro de bronze, os opositores ainda baterão em você, mas não farão mais diferença, não te farão sofrer, não roubarão tua paz, não tocarão no que você tem de melhor e que construiu, não fora, mas dentro de você. 

Sejam fortes, não tenham medo!

      “Fortaleçam as mãos frouxas e firmem os joelhos vacilantes. Digam aos desalentados de coração: "Sejam fortes, não tenham medo. Eis aí está o Deus de vocês. A vingança vem, a retribuição de Deus; ele vem para salvar vocês." Então se abrirão os olhos dos cegos, e se desimpedirão os ouvidos dos surdos; os coxos saltarão como as corças, e a língua dos mudos cantará.” Isaías 35.3-6a

      Não podemos ler esse texto de Isaías sem nos lembrarmos do ministério do Cristo na Terra, mas a passagem fala ainda mais que isso. Como em tantas outras profecias bíblicas, vitória e saúde no plano físico são só simbolismos para a excelência da existência espiritual eterna. Se abrirão os olhos dos cegos, se desimpedirão os ouvidos dos surdos, os coxos saltarão como as corças, e a língua dos mudos cantará, olhos, ouvidos, pernas e boca, o que são esses sentidos no plano espiritual? Muitos estão bem sadios em seus corpos, fazem e acontecem no mundo, trabalham, se promovem, acham que veem tudo, que ouvem tudo, que podem ir a qualquer lugar, que podem falar o que querem, mas espiritualmente estão cegos, surdos, coxos e mudos. 

      Muitos vislumbram um mundo físico melhor em várias áreas, utilizam a acuidade científica em todo o seu potencial, mas não querem usar os olhos espirituais, só os intelectuais. Nossa experiência espiritual inicia-se com a abertura de nossos olhos espirituais, esse é o primeiro e mais difícil passo, porque não temos só que abrir os olhos, mas nos livrarmos dos óculos religiosos e olharmos para onde o Espírito Santo ilumina. Muitos abrem os olhos e reconhecem a luz do Espírito, mas continuam usando os óculos religiosos, assim conhecem a Deus, mas filtrados por doutrinas, por dogmas e tradições de homens. Outros abrem os olhos, se livram dos óculos, mas contemplam as trevas, assim se relacionam com espíritos enganadores, não com o Senhor. 

      O segundo nível de iluminação espiritual ocorre depois que enxergamos espiritualmente o lugar certo, ouvimos desse ponto a palavra de Deus, recebemos conhecimento pelo Espírito Santo, que nos ensina e nos fortalece para vencermos o pecado e praticarmos as virtudes morais. Mas ninguém se engane, olhar para o lugar errado do mundo espiritual ou com os óculos das religiões, nos fará ouvir homens ou demônios, esses até têm coisas bonitas e elaboradas para nos dizerem, que poderão nos enganar por muito tempo, se não olharmos para Deus e ouvirmos o que só ele pode nos dizer. Ouvir a ciência é sábio, útil nas mãos de Deus para nos auxiliar nesse mundo, mas a ciência é de homens, sobre a matéria, não pode nos ensinar caminhos morais de vida eterna.

      Sem pernas espirituais não se vai longe, ainda que se pegue um avião para o Rio de Janeiro e se volte no dia seguinte, não se entra nas regiões espirituais mais altas em Cristo. Nas regiões espirituais do Altíssimo só pisam os humildes, pernas espirituais não são força, agilidade e velocidade humanas, mas mansidão e paciência, que não presam a quantidade, mas a qualidade. Quem vê e ouve é livre para se mover, mobilidade espiritual nos dá liberdade, e eis uma orientação aos pais. Ensinem seus filhos, os influenciem positivamente no mais que puderem, mas cientes que não podem defini-los, limitá-los ou encaixotá-los. Eles têm que ter pernas espirituais livres para alcançarem seus objetivos em Deus, onde cada um deve chegar só Deus e cada um sabem.

      O último nível de espiritualidade nos permite falar as palavras de vida eterna com os outros, mas esse nível pode exigir de nós muita sabedoria. Primeiro para não jogarmos pérolas aos porcos, depois para não escondermos lâmpada debaixo da cama, é preciso cuidado e diligência, equilíbrio e fé. A verdade é que quanto mais vemos, ouvimos e andamos, menos queremos falar a respeito, pelo menos com a maioria dos seres humanos no atual estágio de espiritualidade da humanidade. Isso não é por arrogância, não é por nos sentirmos melhores, muito longe disso, mas por nos vermos pequenos diante do conhecimento espiritual mais alto, incompententes para mudarmos as pessoas. Quem tem muito a dizer acaba entendendo que é melhor amar e calar.