Contemplai-o e sereis iluminados

      “Busquei o Senhor, e ele me acolheu; livrou-me de todos os meus temores. Contemplai-o e sereis iluminados, e o vosso rosto jamais sofrerá vexame. Clamou este aflito, e o Senhor o ouviu e o livrou de todas as suas tribulações. O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem e os livra.” Salmos 34.4-7

      Quem busca o Senhor é acolhido por ele. Se dizemos que buscamos e não fomos livrados, é porque não buscamos direito. Buscar direito é orar, mas fazer isso com calma, colocando antes a vida em ordem, recebendo perdão e dando perdão, entregando as necessidades do dia a dia, então, depois de falarmos tudo o que precisamos, pararmos para ouvir. Às vezes precisaremos ficar algum tempo quietos, deixando assentar e sair ansiedade e descrenças, para, então, conseguirmos ouvir a voz do Espírito Santo. Deus não se faz difícil, nem complica as coisas, mas nós precisamos saber com quem estamos falando, isso é respeitar quem é origem e destino de nossas almas. 

      Deus não precisa de nós, somos nós que necessitamos dele, orarmos certo não nos dá créditos para recebermos algo do Senhor, mas nos muda por dentro, nos conduz à serenidade necessária para estabelecermos a mais íntima comunhão com Deus. Se buscarmos corretamente receberemos, primeiro no coração uma paz única, depois na mente uma palavra simples, mas direta para responder às nossas aflições, finalmente no mundo físico se manifestará a vontade de Deus, se isso for necessário. Deus nos livra de todos os nossos temores, de todas as nossas tribulações, quando permitimos que ele aja, no tempo e do jeito dele, o mundo espiritual precisa de muito respeito. 

      Que mistério maravilhoso existe na palavra contemplai-o e sereis iluminados, essa experiência é vivida quando oramos certo, o final dela é isso, a contemplação da glória do Senhor. Você já viu a glória de Deus? “Disse-lhe Jesus: Não te hei dito que, se creres, verás a glória de Deus?” (João 11.40). Isso é possível, se buscarmos com fé, humildade e santidade, quem tem essa experiência é iluminado de forma singular, com o espírito iluminado não somos envergonhados pelos homens e pelos espíritos malignos. Essa experiência não deveria ser opcional, ainda que só seja vivida pelos que escolhem vivê-la, todos deveriam prová-la, ela é o que nos fortalece e nos ensina de forma especial. 

      Muitos cristãos sinceros, mas ansiosos demais para saírem da presença de Deus e terem respostas rápidas, não conhecem a Deus acima de religiões e tradições humanas, não veem a glória do Senhor, assim andam sempre fracos, inconstantes, angustiados. Se quisermos e acalmarmos nossos sentimentos e pensamentos, veremos a glória do Senhor, e sairemos da oração transformados, iluminados. Contra a luz de Deus o mal não resiste, o diabo foge, os maus se calam, enquanto o humilde permanece calado, quieto, mas seguro, firme na rocha, pronto para enfrentar a vida e a morte. Mas o texto bíblico inicial ainda tem um último ensinamento importante, sobre o anjo do Senhor. 

      O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem, será que de fato entendemos o que isso significa? O salmista está dizendo que uma presença espiritual real e poderosa de luz nos cerca por todos os lados. Ainda que os olhos físicos não vejam, tanto espíritos malignos como seres humanos sintonizados com o mal, sentem essa proteção ao redor do que buscou ao Senhor do jeito correto e foi cercado pelo anjo do Senhor. Isso não é só força de expressão, uma ideia, uma superstição, é uma manifestação espiritual poderosa, que o Senhor dá a quem o busca, para que esse possa seguir em paz e fazer a vontade de Deus. Queridos, contemplemos a Deus e sejamos iluminados! 

Felicidade

      “Bem-aventurado aquele que teme ao Senhor e anda nos seus caminhos. Pois comerás do trabalho das tuas mãos; feliz serás, e te irá bem.” Salmos 128.1-2

      Somos felizes no dia a dia, em momentos, não em todo o tempo. Achar felicidade é procurar com cuidado, ainda que ela não esteja escondida, o que está na luz de Deus a achará com facilidade. Felicidade foge dos que correndo atrás do vento das vaidades, ocupam-se em buscar honra de homens pelas riquezas materiais, não nas virtudes, esses estão em trevas, e nelas não enxergamos a felicidade pertinho deles. Tantos, que viveram com pessoas próximas a eles, que eram felizes e que podiam fazer com que fossem felizes, chorarão profundamente quando seus olhos forem abertos na eternidade, a felicidade estava-lhes tão fácil e eles não a tiveram porque só quiseram prevalecer como maiores e melhores. 

      A felicidade está justamente em nos colocarmos como semelhantes, humildemente na mesma altura, o humilde sempre é feliz porque não cobra, oferece e sente-se satisfeito com o que Deus lhe dá. Sermos iguais permite que nos compartilhemos com os outros e tenhamos cúmplices, não opositores, na cumplicidade achamos consolo e apoio, de iguais que fazem com que nos sintamos acompanhados, ainda que administrando a dor da solidão intrínseca em todos os seres. Se experimentarmos a felicidade assim, dia a dia, achando tempo para encontrarmos pequenas pepitas de ouro, seremos muito bem-aventurados no final, quando olharmos para trás e entendermos que fomos ricos porque fomos felizes.  

Luz

      “Porque em ti está o manancial da vida; na tua luz veremos a luz.” Salmos 36.9

      Usar o termo luz para se referir à espiritualidade não é algo popular no meio cristão protestante e evangélico, o motivo é algo que falamos tanto aqui, antropomorfização de Deus. Num divino materializado, a figura de um homem forte ou de ancião sábio, com limites bem definidos fisicamente, são mais adequados para se visualizar Deus, essa era a ótica do antigo testamento que o cristianismo do homem teima em manter. Mas a verdade é que Deus é espírito, e se os ensinos de Jesus nos trouxeram a relevância de virtudes interiores sobre exteriores, portanto, do espírito sobre a carne, é a presença do Espírito Santo entre nós hoje que nos revela um Deus desligado da corrupção da matéria.

      Deus é a luz mais alta, e isso não é só claridade para vermos melhor, é pureza de virtudes, é santidade e vida eterna, ainda que nessa luz moral possamos ver a verdade maior. Desejar a luz de Deus sobre os homens é pedir, autorizar e fazer emanar, as virtudes do Altíssimo sobre a humanidade, permitindo que essa conheça as prioridades melhores da existência e tenha capacidade para vivê-las. O fogo consumidor que homens do antigo testamento viram é essa luz, que arde, mas não queima, que deixa o ser humano com temor. A luz afasta as trevas, nos conectarmos a Deus em oração permite que uma emanação da luz de Deus desça do alto, reflita em nós, ilumine uma região espiritual ao nosso redor e daqueles pelos quais oramos, afugentando demônios.  

Vida

      “E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.” João 17.3

      Não basta escaparmos da morte, precisamos ter um bom motivo para seguirmos vivendo e para sempre. Muitos fazem de tudo para vencerem a morte inerente em todo ser humano, lutam, guerreiam, usufruem, colocam-se no topo. Cada ser humano tem sua torre de Babel, uma posição onde quer ser visto, onde possa falar alto e ser ouvido, como um deus, mas isso é só a celebração da morte, não a conquista da vida. 

      Neste mundo, ser eterno não é não ter fim, já que todos morremos, mas é não desejar esse fim e querer viver para sempre. Contudo, e eis aí o paradoxo, só recebe vida eterna espiritual o que não valoriza a existência passageira e vã na matéria, só vive para sempre o que morre para viver e não o que vive para morrer. Eis o grande mistério da existência, um antagonismo vivido e ensinado pelo Cristo homem.

      A gente vem para o mundo para entender e praticar esse antagonismo, é ele que nos desafia para sermos melhores e evoluirmos, se ele não existisse desejaríamos a morte e nos satisfaríamos com ela. Morrer para viver e não, viver para morrer, quem entende isso constrói o céu em seu espírito, esse será o céu na eternidade, céu não é um lugar externo, mas um estado interno. 

Verdade

      “Envia a tua luz e a tua verdade, para que me guiem e me levem ao teu santo monte, e aos teus tabernáculos.” Salmos 43.3

      As religiões se levam a sério demais, se acham donas de alguém que não tem dono, mas que de tudo e de todos é o dono. Como nesse engano suas intenções são impossíveis de serem realizadas, submeterem Deus às suas vontades, elas se submetem a homens que se acham deuses. Quem deve ser levado a sério é Deus, e só quando isso é feito é que o homem de fato é levado a sério. Só Deus ama o homem do jeito que ele precisa ser amado para ser alguém melhor. Nesse amor o homem é iluminado, então, confrontado com a verdade espiritual mais alta e santa, verdade que as religiões gostariam de possuir, mas não possuem.

      Temos que começar em algum lugar, e é para isso que as religiões servem, para darmos os primeiros passos, nos libertarmos de vícios, adquirimos forças para, então, sozinhos, conhecermos a verdade mais alta de Deus. O que é a verdade? Se alguém te disser o que é, é porque não é, a verdade maior Deus revela a cada um de nós de forma especial, quando a conhecemos não a revelamos com facilidade e nem a qualquer um, a guardamos como o tesouro mais caro. Religiões querem ser mercadoras de verdades, mas a verdade de Deus não se vende, nem se compra, se busca, se acha, se vive, então, se guarda.

Paz

      “Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti; porque ele confia em ti.” Isaías 26.3

      Acha a paz quem para de buscá-la, quem para de tentar retê-la, de vigiar seus limites como um rico fazendeiro olha suas terras. A paz desce do céu e descansa natural e simplesmente no interior do que se esvazia de todo medo e expectativa, ela fala no silêncio, permanece no que se admite fraco, pobre, comum e dependente de Deus. Não os violentos, os gananciosos, mesmo os que fazem mais, mas os mansos herdarão a terra (Mateus 5.5), porque acharam riquezas dentro de si mesmos, e a maior riqueza é interior, não exterior, só ela produz uma paz verdadeira e que permanece. 

      Ah, quantos pregadores já não disseram isso, quantas vezes todos nós já ouvimos isso, e ainda assim não aprendemos, “do que vale ganhar o mundo e perder a alma (Marcos 8.36)?” E ganhar a alma é alcançar a paz de Deus, nela as lutas cessam, as competições, o querer dar a última palavra, o tentar estar no lado aprovado pelo mundo, com os homens, com os religiosos, com os políticos. Só quem está do lado do príncipe da paz tem paz (Isaías 9.6).

Ferramentas da conexão (2/2)

      “O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus.” Romanos 8.16

      Tem um ensino, que recebi logo no início de minha jornada cristã, demônios só ouvem o que dizemos em voz alta, assim a oração que fazemos mentalmente eles não podem saber. Há um mistério espiritual genuíno nesse ensino, mas um pouco mais amplo que muitos evangélicos acham. Isso pode explicar porque protocolos mágicos e ocultistas (que muitos chamam simplesmente de “satânicos”) são estabelecidos sobre três bases: convicção emocional, imaginação e evocação. Convicção emocional é fé, mas que no caso de comunicação com espíritos baixos, pode utilizar um foco imoral para energizar o ritual, pondo na mesma vibe evocador e evocado, por isso o uso de sacerdotisas meretrizes, por exemplo, em certos rituais. 

      Imaginação é importante porque contato com o mundo espiritual é definido pela mente, imaginar não é só inventar artisticamente algo, é dar limites e características para o que queremos nos comunicar no outro lado. Quem imagina um Satanás com pés e rabo de bode, chifres e vermelho, poderá se comunicar com um ser assim. Existe de fato um ser assim? Os seres, do mundo espiritual, principalmente os que não forem anjos de luz e servos de Deus, podem assumir aparências diversas, conforme querem enganar os que querem ser enganados. Evocação é dizer em voz alta quem e para que se quer chamar um ser espiritual. Em poucas palavras, “demônios” precisam ser chamados de forma específica e por muita vontade humana. 

      Serei sincero, não creio, diferentemente do que ensina a tradição judaica-cristã, que muitas coisas sejam impossíveis, falsas ou até proibidas, são só perigosas e complexas, por isso a regra é: não faça. Por isso Jesus e o Santo Espírito são os meios seguros de nos colocarmos em comunhão com o Deus Altíssimo, e quanto mais pura for essa busca, mais eficiente será. Por isso, também, uso de rezas fixas (um jeito cristão de fazer evocações mágicas do bem, digamos assim), de imaginações materiais, como de figuras e imagens de intermediários humanos falecidos, ainda que esses tenham sido servos de Deus (os santos católicos), não facilitam, complicam, ainda que Deus ouça a todos e o faça pela intenção, pelo conteúdo, mais que pela forma. 

      Protocolos mágicos impregnam o homem em todas as áreas, emocional, racional, por palavras, ações e movimentos, para estabelecer contato com “outros espíritos”, mas isso na verdade é uma proteção de Deus. Isso exige uma autorização explícita e convicta do ser humano para que tais “espíritos” se manifestem, já pensou se fosse fácil e simples? Haveria endemoniado saindo pelo ladrão. Já o contato com o Santo Espírito de Deus, esse, sim, é simples e fácil, basta fé e humildade, depois vêm santidade, amor e paz, efeitos únicos e maravilhosos da comunhão com a luz mais alta. O Senhor responde a todos, em qualquer hora ou lugar, ainda que seja para informar, “para esse assunto deve se preparar mais e aguardar”. 

      Tenho aprendido que mesmo falando diretamente com Deus, que conhece tudo e não tem limites, algumas vezes sinto de não fazer uma oração em voz alta, mas só mentalmente. É o Espírito Santo me orientando fazer uma chamada privada, digamos assim, para me proteger de ouvintes indesejados. Você pode perceber isso quando, ao começar a pensar sobre algo para dizer na próxima frase da oração, sentir um temor maior, uma voz dizendo, “cuidado, esse assunto é sério, não revele-o a todos”. Só tenho orado mentalmente, ultimamente, e quando em público, evito certos assuntos. Experiência com o Espírito de Deus só adquirimos andando com o Senhor, e como tenho dito aqui, aprendendo mais a ouvir que a falar. 

      À medida que amadurecemos percebemos as nuanças que existem na comunicação espiritual, no que podemos falar, o que podemos perguntar, em como Deus responde, nas sugestões que espíritos malignos colocam em nossas mentes, seja diretamente, seja através das palavras das pessoas. Deus nos chama para amadurecer, entretanto, não aceitando isso, muitos acham que Deus não fala-lhes mais, quando na verdade não fala mais de maneira infantil, mas os chama para um diálogo mais maduro. Assim como a comunicação que podíamos fazer quando crianças com as pessoas fica mais sofisticada à medida que crescemos, quando podemos entender muitas coisas mesmo no silêncio, só pelo olhar das pessoas, assim é espiritualmente. 

      Evangélicos, não são todos, seria injusto generalizar, mas muitos, ainda que se considerem donos da verdade e com mais direito ao céu que outros, que sejam assíduos em cultos em igrejas por décadas, são crianças espirituais, por isso são tão facilmente manipulados por homens. Dialogar com Deus é uma experiência maravilhosa, a única coisa que nos fortalece para praticarmos a vontade do Senhor, mas esse diálogo espiritual é algo gradativo, que nos põe cada vez mais na intimidade de Deus. Até onde você foi nessa experiência? Amadureceu ou é apenas uma criança, pedindo coisas materiais e agradecendo pelas que recebeu, sem de fato ter aulas avançadas com o professor Espírito Santo através de Cristo Jesus? 

Leia na postagem de ontem

a 1ª parte desta reflexão