Mude enquanto pode

      “Bendito o homem que confia no Senhor, e cuja confiança é o Senhor. Porque será como a árvore plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro, e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde; e no ano de sequidão não se afadiga, nem deixa de dar fruto.” Jeremias 17.7-8

      Mude de opinião, de religião, de ideologia política, de emprego, de igreja, e às vezes até de relações afetivas, só não mude de Deus. Mudar é amadurecer bem, e nenhum conselho é melhor que o de um velho que soube amadurecer corretamente. Por mais que o mundo atual empodere o jovem, relevando o novo como melhor, dando-lhe lugar de fala, respeito, e tudo isso está corretíssimo, alguém com experiência provada no tempo, no sofrimento, no erro assumido e corrigido, na humildade que abriu mão de orgulho e de vaidade para ser alguém melhor para si e para os outros, sempre será mais útil na vida. 

      Se os infinitos bancos de informações disponíveis na internet em real time e para qualquer um, estão substituindo o conhecimento que antes era armazenado nos velhos, que tinham a missão de passar seu saber para os mais jovens, arquivos digitais e acumulação intelectual na cabeça de jovens, com mais facilidade para fazer esse acúmulo, não substituem uma coisa, amor e experiência com Deus. Muitos que se dizem ateus, e isso é mais natural ao jovem, o são porque ainda não viveram o suficiente, e infelizmente ainda existem velhos assim, contudo, quando a verdade da vida bate, só Deus pode ajudar. 

      Muitos acham que o que confere-lhes reputação e valor é serem os mesmos por muito tempo, esses geralmente tiveram começos equilibrados, e foi isso que lhes ajudou a permanecerem em zonas de conforto. Assim, batem no peito com orgulho diante de outros que tiveram começos ruins, que tiveram a obrigação de mudar para serem seres humanos melhores. Vaidade, sempre o pecado preferido do mal, que acomete tanto escravos dos apetites do corpo físico, quanto os que, pelo menos em seus inícios de jornadas, deram prioridade para religiosidade e espiritualidade, vaidade conduz à idolatria de si mesmo. 

      Quando ego cresce, Deus decresce, ainda que o dono do ego esteja sentado, domingo após domingo em igreja ouvindo e se encantando com estudos bíblicos. A vaidade preferida do mal é justamente essa, a dos religiosos, que se consideram sinceramente superiores aos outros só por serem fiéis a igrejas. Quando a vaidade entra a primeira coisa que se vai é amor pelo outro, o vaidoso se acha no direito de fazer exigências, de ser servido principalmente pelo que ele acha que é pior que ele, que errou mais, que não foi por muito tempo a mesma coisa e muitas vezes no mesmo lugar, que, portanto, mudou. 

      Às vezes nos surpreendemos com o que acontece a certas pessoas, do lado de fora as julgamos por anos como pessoas corretas, nunca se meteram em escândalos, tiveram vidas conjugais e profissionais íntegras. Contudo, num determinado momento algo terrível ocorre, pode ser uma enfermidade, a perda de algo importante para eles, que de repente derruba por terra toda a reputação que construíram. Muitos passam a vida fugindo de Deus, e não é fazendo coisas erradas, mas fazendo tudo certo, para não serem envergonhados, para não serem inferiorizados diante de pares, mas vistos como superiores.

      Mudemos enquanto podemos, enquanto Deus não precisou ser mais rígido, enquanto não perdemos alguém que amamos, bens e dinheiro, ou só o funcionamento adequado de algum órgão em nossos corpos, entregando-nos a enfermidades irreversíveis. Mude para ser humilde e ter mais paciência para amar, para não ter que fazer um monte de coisas sempre só para ser aprovado por homens. Mude para parar de provar a si mesmo que não é a pessoa que alguém do teu passado, muitas vezes pais e irmãos, disseram que você era. Deus te assiste na mudança, te leva a ela, e ela te fará alguém muito melhor que você é hoje. 

Você pode ser melhor que acha é

      “Porque ao que tem, ser-lhe-á dado; e, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado.” Marcos 4.25

      Às vezes achamos que chegamos num bom lugar, trabalhamos, persistimos, fizemos bastante, nisso Deus nos deu paz e segurança neste mundo. Contudo, o trabalho de Deus em nossas almas nunca cessa, assim, se ele percebe que já conseguimos tudo que poderíamos do jeito que somos, ele muda nosso jeito para que sejamos ainda melhores. O vaso pode parecer cheio, isso nos dá a sensação de satisfação, mas muitas vezes junto das bênçãos de Deus, do conhecimento espiritual que adquirimos, do amor paciente e da misericórdia que aprendemos a dar para os outros, há também outros conteúdos nos vaso. Eles estão lá no fundo, bem escondidos, nós não vemos, ou fingimos que não vemos, mas Deus vê, assim segue nos tratando.

      Primeiro ele terá que retirar do vaso o conteúdo inútil, para que caiba mais dons e sejamos mais úteis em suas mãos. Não nos entristeçamos e não desanimemos, se após termos feito tanto, a vida continuar nos desafiando para darmos mais. Deus só deixa entrar na faculdade quem se diplomou no ensino médio. Mas o que nunca entrou na escola, porque não queria ter que estudar, se submeter a avaliações, correr o risco de ser reprovado, novamente ter que estudar, e até mais, para, então, ser aprovado, esse permaneceu no nível de bebê espiritual, desperdiçou o tempo de sua vida aqui. Mas saibamos uma coisa, o tempo que Deus usa para tirar o que não presta do vaso, pode ser difícil, e temos que enfrentá-lo com confiança no Senhor. 

      É difícil porque é tempo de plantar, e plantar sempre é momento de incerteza, o que vemos é pequeno, só uma semente, e onde plantamos também não vemos depois, fica debaixo da terra. “Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão; quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes.” (Salmos 126.5-6). Terra dura pode ser a dos nossos corações, mas essa é a terra que Deus mais nos chama para plantar, não é a terra do mundo ou dos corações dos outros homens. Às vezes uma plantação que nos deu trabalho para plantar e para colher, que nos forneceu alimento por anos, tem que ser arrancada da terra, para dar lugar a novas sementes, pelas quais crescerão árvores mais frutíferas. 

      O texto bíblico inicial é um daqueles paradoxos que Jesus usa para enfatizar o princípio do evangelho que antagoniza com a velha aliança: recebe quem dá, tem quem perde, vive quem morre. Quem está vazio nunca terá espaço para Deus, mas quem se satisfaz com Deus sempre achará mais espaço para Deus. Ter Deus é querer mais de Deus, não querer Deus é achar que se tem algo quando não se tem. Quem ama sempre desejará amar mais, quem é santo sempre precisará ser mais santo. Quem acha que está vestido, quando não está, até a roupa que tem lhe será tirada. Quem sabe que está nu sem Deus, será vestido com vestes mais limpas e iluminadas. Quem se veste para não se vestir de Deus acabará nu e envergonhado. 

      Calma, ainda cabe mais no vaso, só creia. Você pode não ver, mas Deus está trabalhando, e quando acabar, seu vaso estará cheio, do óleo perfumado e novo do Espírito. Não dê o espetáculo por encerrado antes do epílogo, o epílogo só Deus sabe quando será. O fim que você está vendo pode ser só o término de um ato, tua história pode virar e acabar melhor que você acha. Suporte com humildade o momento de limpeza do vaso, e não se sinta vazio depois, mas capaz e forte para ter experiências ainda mais profundas com Deus. A certeza que você tem hoje sobre você, pode estar aquém do que Deus ainda pode fazer em tua vida, alguém que faça diferença para melhor no mundo e esteja mais preparado para o céu na eternidade. 

Todo bem vem de Deus

      “Não erreis, meus amados irmãos, toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.” Tiago 1.16-17

      Se uma boa ideia vem à nossa mente, se uma inspiração arrebata nosso coração, se uma esperança eleva nossa alma, se uma força capacita nosso corpo, para fazermos algo bom, para buscarmos a luz e permanecermos nela, isso não é criação de nossas cabeças, ou fantasias de nossos corações. O bem, o amor, a paz, a justiça, a misericórdia, a unção, o trabalho, isso tudo não pode ser criado pelo ser humano, até pode ser desejado, mas não praticado e mantido. Isso só pode vir do Senhor, chegando a nós pelo Espírito Santo e nos conduzindo em vida. Assim, se você teve fé, se achou uma saída, se enxergou solução, se entendeu algo complicado, não foi por suas capacidades, foi Deus, tomando a iniciativa e conectando-te a ele. 

      Aceitarmos isso por fé é sábio e nos conduz em vitória, negarmos isso pode nos levar a extremos desertos, onde nos faltará até a vontade de viver, para entendermos que não depende de nós, de nossa fé ou de nossos esforços, ainda que estejamos bem intencionados. O mistério é ver nossas existências, não como as de seres inferiores sendo conduzidos por uma força superior, mas como espíritos harmonizando-se com o pai de todos os espíritos, como pequenas e temporárias labaredas desejando ser parte de uma chama eterna e com dimensões infinitas. Deus não chama os homens para serem escravos, mas amigos, todos um com Jesus e esse com o Altíssimo. Todo bem vem de Deus, quem nele está todo o bem tem e graciosamente. 

      O movimento de Deus não é para nos alimentar à distância, mas para nos aproximar dele de modo a recebermos o que necessitamos, bem perto dele. A luz mais alta de Deus não é só emanada em nós, mantendo Deus longe de nós, mas ela nos arrebata para que tenhamos íntima comunhão com o Altíssimo aproximando-nos dele. Mas mesmo aqueles que não creem em Deus, que não confiam nele, que não o buscam, se algum bem recebem vem de Deus, não deles mesmos. Se Deus interrompesse por um instante essa dádiva todos padeceríamos, não haveria alegria no universo. Por isso Deus deve ser adorado, e louvor não é só o homem na Terra agradecendo a um Deus no céu, é harmonizar o ser com seu criador e Senhor. 

      Quando Deus dá o bem ele nos une a ele, quanto nós lhe damos louvor nos unimos ao Senhor, dádivas do Senhor e adoração do ser humano são movimentos opostos na rodovia espiritual usada pelo Espírito Santo. A religião cristã muitas vezes nega esse princípio, ao invés de aproximar, distancia, ainda que o homem respeite e celebre a Deus muitas tradições cristãs mantêm o homem longe de Deus. Se negamos o ministério do Espírito ou o limitamos colocamos entulhos na rodovia espiritual, e ainda que Deus sempre se movimente em direção ao homem, a dádiva não colocará o ser humano em comunhão com Deus. O homem receberá a bênção e se desligará do pai, como criança que recebe o presente e esquece-se de quem deu. 

      Algo que me chama a atenção no texto bíblico inicial é a afirmação “descendo do Pai das luzes em quem não há sombra de variação”. Bênção que vem de Deus é completa, não vem pela metade nem parcelada, se Deus dá é por completo e basta-nos. Agora, se nós achamos que não temos o suficiente para sermos felizes uma de duas coisas pode estar acontecendo. Às vezes somos humilhados, ainda que satisfeitos, porque preferimos ser escravos de homens que amigos de Deus, assim não pedimos a Deus e vivemos dependendo de homens, tentando nos convencer que dependemos de Deus. Mas Deus pode estar dando, mas nós não estamos tendo humildade para aceitar que o que Deus dá sempre nos é suficiente.

Levanta-te e anda com saúde

      “Jesus disse-lhe: Levanta-te, toma o teu leito, e anda.” João 5.8

      Já fizemos aqui um estudo bíblico refletindo nos detalhes da passagem da qual o versículo bíblico inicial faz parte (link). Mas está reflexão dará algumas exortações, a mim e a quem mais precise, sobre a afirmação: levanta-te e anda. A compreensão é simples, ponha-se de pé e caminhe para a frente, não fique deitado numa situação que já não te pertence, teu presente é de curado e limpo por Deus, você pode prosseguir conquistando a vida eterna. Levanta-te e anda, olhe para o Altíssimo, é dia, a noite já acabou, é tempo de liberdade, não de prisão, tempo de saúde, não de enfermidades, tempo de paz e luz, não de conflitos e trevas. Levanta-te e anda, há muito para melhorar ainda no mundo para levar à eternidade. 

      Levanta-te e anda, administre melhor tua saúde, teu corpo, ele é o templo do Espírito Santo. Se puder faça um checkup com vários especialistas, cardiologista, endócrino, urologista ou ginecologista e outros. Veja se o coração está bom, se a pressão está certa, se não tem açúcar demais no sangue, previna-se de hipertensão, diabetes e outros males, alimente-se melhor, evite excessos, de gordura, de doces, de carnes, de sal, exista mais saudavelmente e ensine isso aos filhos. Muitos de nós muitas vezes querem agradar a Deus, ter vida moral de qualidade, mas são desleixados com o corpo, a consequência é que podem ter velhices ruins, sofridas, ainda que estejam com paz de espírito, porque não cuidam do corpo. 

      Levanta-te e anda, literalmente, faça caminhadas, ande de bicicleta, frequente academia e escola de natação. Ainda que tenhamos pouco dinheiro para tudo isso, muita coisa podemos fazer só evitando vícios de comida e bebida e não passando todo nosso tempo de descanso sentados no sofá maratonando séries na TV. Esses cuidados evitarão gastos nada pequenos com internações e cirurgias, mas também fazem bem à saúde emocional, mente sana, corpo sano, e nesse equilíbrio nosso espírito sintoniza-se com Deus e agrada-o com mais facilidade. Hoje não temos mais desculpas para permanecermos parados instalando doenças, uma rápida mas cuidadosa passada pela internet e encontraremos dicas e conselhos úteis. 

      Levanta-te e anda, e nada nos deixa mais inertes no chão que o passado. Paremos de olhar para trás, para o que fomos, mesmo de buscarmos alguma satisfação no que passou ainda que tenham sido momentos felizes. Deus tem mais e melhor para nós, mas só descobriremos e receberemos isso se nos pormos a trabalhar, resistindo ao egoísmo e à vaidade de nossos corações, assim como à injustiça e à malícia dos homens que permanecem mortos em seus pecados. Às vezes a opressão é grande, o acusador joga sujo, os homens nas trevas não se importam de nos agredirem, assim é preciso que nos levantemos pela fé, com a mente firme na palavra de Deus e o coração seguro de que temos paz com Deus e nada mais importa. 

O que é trabalho?

      “E por esta causa os judeus perseguiram a Jesus, e procuravam matá-lo, porque fazia estas coisas no sábado. E Jesus lhes respondeu: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também.” João 5.16-17

      Trabalho é tudo aquilo que você tem que fazer com hora marcada, em prazo estipulado, com deadline, como se diz em inglês. A coisa mais prazerosa que existe pode perder a graça quando vira trabalho, quando temos que fazer por obrigação, isso acontece com todos nós. Ainda que muitos das últimas gerações tenham dificuldade com responsabilidades, via de regra aceitamos a obrigação do trabalho para ganharmos dinheiro e termos nossa independência física neste mundo, mas e na área moral, até que ponto a vemos como trabalho? Como sempre, não me refiro a compromissos com igrejas, com cultos e ministérios, com religião, mas com Deus, trabalhando para evoluirmos espiritualmente e nos aproximarmos de Deus.

      “Todo trabalho do ser humano é para a sua boca; contudo, o seu apetite nunca se satisfaz” (Eclesiastes 6.7). Aquele que trabalha só para comer, beber, se vestir e pagar boletos, ainda que se esforce na religião para que tenha ajuda de Deus para isso, nunca estará satisfeito. Nosso corpo é nossa prisão e ele tem um carcereiro cruel, restringe nossa liberdade, impedi-nos de ver o que está fora da cela. Não se enganem os que acham que são livres ou estão em situações melhores, porque suas celas são de ouro, não de alvenaria, e seus carcereiros são educados, não estúpidos, prisão é prisão, carcereiro é carcereiro. Esses exigem de nós trabalho duro, que nos faz acordar a cada manhã tristes por termos que enfrentar um outro cansativo dia. 

      O melhor trabalho é o espiritual, nesse não temos carcereiros, mas o amigo Espírito Santo que conduz nosso espírito à liberdade. Esse trabalho nos alegra sempre, se mostra como uma maravilhosa aventura para vencermos as ilusões da matéria, conhecermos a Deus e amarmos o próximo. Quem dá prioridade para esse trabalho achará forças para os trabalhos físicos, pois não estará preso ao chão da Terra, mas terá o espírito elevado, perto do céu. Muitos líderes religiosos judeus não entenderam o trabalho de Jesus homem, porque estavam presos a tradições e vaidades, eles também não poderiam entender como o Cristo teve forças para seguir numa missão solitária até à morte. Com Jesus mesmo o trabalho mais duro fica leve e nos faz bem. 

Esperar, fazer, descansar

      “Descansa no Senhor, e espera nele; não te indignes por causa daquele que prospera em seu caminho, por causa do homem que executa astutos intentos. Deixa a ira, e abandona o furor; não te indignes de forma alguma para fazer o mal. Porque os malfeitores serão desarraigados; mas aqueles que esperam no Senhor herdarão a terra.” Salmos 37.7-9

      Às vezes é preciso esperar, às vezes é preciso fazer, mas tanto na não urgência quanto na urgência, devemos descansar em Deus. Em esperar não existe ociosidade, assim como em fazer não existe desespero, se em ambas as situações descansamos em Deus. Os homens podem nos ver esperando, mas isso é só do lado de fora, nosso espírito trabalha para descansar em Deus. Os homens podem nos ver fazendo, mas isso também é só do lado de fora, por dentro também descansamos em Deus. Não seremos avaliados por esperar ou por fazer, mas por descansarmos em Deus. Tanto quem espera quanto quem faz, se não descansar em Deus se fadigará e não terá paz, ainda que fazendo seja honrado pelos homens e esperando não seja. 

      Deus é Senhor de todos os tempos, mas um é o tempo do mundo e dos homens, outro é o tempo de nossos seres, outro é o tempo onde Deus nos dá o que mais precisamos. Muitas vezes o mundo e os homens dão, mas não é o melhor de Deus, assim temos que descansar nossas almas nas promessas de Deus e retermos a paz. Outras vezes, ainda que Deus esteja nos dando o que precisamos, não temos paz, porque não recebemos reconhecimento do mundo e dos homens. Bem-aventurados os que sincronizam suas almas com Deus, acham paz ainda que o mundo e os homens os desprezem, e mesmo que Deus ainda não tenha permitido materializar-se seu melhor para eles, esses são os justos que vivem por fé, não por vista. 

      Até que ponto aprendemos a descansar em Deus, ainda que tendo coisas urgentes a fazer? Até que ponto seguramos a paz, ainda que sabendo que nada podemos fazer para mudar uma situação? Não seremos julgados pelo que os homens veem, nem por posições e honras que o mundo dá, muito menos por nada fazermos na vida, todos temos trabalhos a fazer, sempre. Nosso maior trabalho, contudo, é moral, é guardarmos o coração, os olhos, os ouvidos e a boca, é perdermos na matéria para ganharmos no espírito, é sabermos o que Deus tem para nós e obedecermos, é resistirmos firmes no Senhor, em sua santidade, em seu amor, em fé. “Temei ao Senhor, vós, os seus santos, pois nada falta aos que o temem” (Salmos 34.9). 

Nem tradições, nem seitas (2/2)

      “Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão.” Gálatas 5.1

      “”Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado.” A frase, plenamente oportuna aos dias atuais, é parte do slogan do Partido, figura utilizada por George Orwell para representar o Estado totalitário em seu universo distópico, criado no fim da década de 1940. O futuro, simbolizado pelo ano 1984 – antes distante –, prevê uma sociedade completamente autômata, onde não existe livre arbítrio nem liberdade: os indivíduos são monitorados e controlados, literalmente, de forma absoluta e integral. Assim como a mídia, a cultura e a ciência, que servem de ferramentas para alimentar o poder de quem domina e a alienação de quem é dominado.“ Fonte

      Não é só no meio religioso que existe manipulação, também existe em partidos políticos, em torcidas organizadas de futebol e mesmo em carreiras militares. Carentes por fazerem parte de algo maior que eles, que lhes dê identidade e propósito, pagarão todos os preços para vestirem uniformes e serem mais um em fileiras sem individualidades, sendo só números e parte de uma coletividade impessoal. Toda igreja cristã, em graduações diferentes, pode manipular seres humanos, mesmo que nem seja esse o objetivo da igreja ou do líder. Insisto nisso, a eficácia da manipulação está antes no manipulável, não no manipulador, quem quer ser manipulado será escravizável mesmo num clube do livro ou em reunião para vender tupperware. 

      Há, contudo, algo abominável que pode ocorrer em seitas. Ao mesmo tempo que exigem moralidade extremada, podem ser liberais no sexo, usando o argumento de que isso é a vontade de Deus. Algumas seitas são verdadeiros grupos de swing e locais para trocas de casais, chegando mesmo a incentivarem sexo com menores. Se puder leia “Meninos de deus” (não ouso pôr Deus como nome próprio nesse caso), mas vá com estômago preparado, é das seitas mais horrorosas que já apareceram. Por mais deplorável que essa seita seja, não existiu porque obrigou pessoas a participarem dela, ainda que muitas crianças tenham sido levadas a ela pelos pais. Quando vemos coisas assim perdemos a fé na humanidade, mas Deus é mais. 

      Sob determinado ponto de vista, cristianismo é seita do judaísmo, catolicismo é seita do cristianismo, a maior das seitas, protestantismo é seita do catolicismo, pentecostalismo é seita do protestantismo. O termo seita aqui significa cisão, não necessariamente no pior sentido, como as seitas norte-americanas do século XX, mas usado para identificar seitas com algum grau de desvio da religião original. O cristianismo tradicional manipula as pessoas até hoje, controlando a interpretação do passado. Quem controla o passado, controla o futuro, e no caso do conservadorismo cristão, mantém interpretações da Bíblia ao pé da letra e fora de contexto, para impedir que os homens vivam aquilo que Deus tem para eles no futuro. 

      O apelo da tradição é vender algo como melhor por ter resistido ao tempo, por ter conservado qualidade por séculos desde a origem. Se queremos ser tradicionais sejamos com Jesus homem e Jesus Deus, quem tiver fé, humildade e santidade buscará a Deus e entenderá porque Jesus é especial, porque seu exemplo de vida no mundo, assim como sua posição espiritual hoje, são eternos. Mas o que os homens entenderam e mantiveram de Jesus, construindo religiões e as usando para seus benefícios egoístas e materialistas, pode ser antigo, guardado em enormes catedrais e sob dogmas extremos, mas não é uma tradição que agrada a Deus, ainda que o Senhor possa usá-la para abençoar quem não tem outro meio de conhecê-lo. 

      Tradição cristã e o verdadeiro cristianismo não combinam. Tradição se valoriza por manter algo velho e intacto, já a palavra que o Cristo entregou, pode ser antiga no mundo, mas nunca fica velha, é vivificada em nossos espíritos pelo Espírito Santo. Faz-se uso de tradição quando a palavra pura morre, assim cria-se ritos e liturgias para encenarem algo que foi vivo e não é mais. Jesus não precisa de tradição, nem de ritos, nem de liturgias, ele é palavra viva no coração dos homens que dão liberdade para o Espírito de Deus agir. Assim, não sejamos enganados, nem por seitas novas, nem por velhas tradições, façamos parte de religiões e igrejas, mas ouvindo antes a voz do Espírito Santo, que sempre nos conduz para a liberdade de Deus. 

      Cuidado, muitas vezes começamos certo, mas como na parábola do semeador (Mateus 13.3-23), acabamos nos desviando da pureza e da singeleza do evangelho do Cristo, isso dentro de igrejas. O segredo é sempre verificarmos teoria e prática, o que escutamos como sendo vontade de Deus e o que conseguimos viver. Se não estivermos vivendo e não por não querermos agradar a Deus, e todo aquele que avalia seu coração sabe se não vive porque não quer ou porque não consegue, pode ser que estejamos tentando viver o cristianismo de homens, não de Deus. Uma coisa é certa, o humilde e crente sempre acha forças para seguir os passos de Jesus, ser santo, amoroso, colher bons frutos que permanecem e segurar no coração a paz maior. 

Leia na postagem de ontem

a 1ª parte desta reflexão