domingo, maio 21, 2023

Nem tradições, nem seitas (2/2)

      “Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão.” Gálatas 5.1

      “”Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado.” A frase, plenamente oportuna aos dias atuais, é parte do slogan do Partido, figura utilizada por George Orwell para representar o Estado totalitário em seu universo distópico, criado no fim da década de 1940. O futuro, simbolizado pelo ano 1984 – antes distante –, prevê uma sociedade completamente autômata, onde não existe livre arbítrio nem liberdade: os indivíduos são monitorados e controlados, literalmente, de forma absoluta e integral. Assim como a mídia, a cultura e a ciência, que servem de ferramentas para alimentar o poder de quem domina e a alienação de quem é dominado.“ Fonte

      Não é só no meio religioso que existe manipulação, também existe em partidos políticos, em torcidas organizadas de futebol e mesmo em carreiras militares. Carentes por fazerem parte de algo maior que eles, que lhes dê identidade e propósito, pagarão todos os preços para vestirem uniformes e serem mais um em fileiras sem individualidades, sendo só números e parte de uma coletividade impessoal. Toda igreja cristã, em graduações diferentes, pode manipular seres humanos, mesmo que nem seja esse o objetivo da igreja ou do líder. Insisto nisso, a eficácia da manipulação está antes no manipulável, não no manipulador, quem quer ser manipulado será escravizável mesmo num clube do livro ou em reunião para vender tupperware
      Há, contudo, algo abominável que pode ocorrer em seitas. Ao mesmo tempo que exigem moralidade extremada, podem ser liberais no sexo, usando o argumento de que isso é a vontade de Deus. Algumas seitas são verdadeiros grupos de swing e locais para trocas de casais, chegando mesmo a incentivarem sexo com menores. Se puder leia “Meninos de deus” (não ouso pôr Deus como nome próprio nesse caso), mas vá com estômago preparado, é das seitas mais horrorosas que já apareceram. Por mais deplorável que essa seita seja, não existiu porque obrigou pessoas a participarem dela, ainda que muitas crianças tenham sido levadas a ela pelos pais. Quando vemos coisas assim perdemos a fé na humanidade, mas Deus é mais. 
      Sob determinado ponto de vista, cristianismo é seita do judaísmo, catolicismo é seita do cristianismo, a maior das seitas, protestantismo é seita do catolicismo, pentecostalismo é seita do protestantismo. O termo seita aqui significa cisão, não necessariamente no pior sentido, como as seitas norte-americanas do século XX, mas usado para identificar seitas com algum grau de desvio da religião original. O cristianismo tradicional manipula as pessoas até hoje, controlando a interpretação do passado. Quem controla o passado, controla o futuro, e no caso do conservadorismo cristão, mantém interpretações da Bíblia ao pé da letra e fora de contexto, para impedir que os homens vivam aquilo que Deus tem para eles no futuro. 
      O apelo da tradição é vender algo como melhor por ter resistido ao tempo, por ter conservado qualidade por séculos desde a origem. Se queremos ser tradicionais sejamos com Jesus homem e Jesus Deus, quem tiver fé, humildade e santidade buscará a Deus e entenderá porque Jesus é especial, porque seu exemplo de vida no mundo, assim como sua posição espiritual hoje, são eternos. Mas o que os homens entenderam e mantiveram de Jesus, construindo religiões e as usando para seus benefícios egoístas e materialistas, pode ser antigo, guardado em enormes catedrais e sob dogmas extremos, mas não é uma tradição que agrada a Deus, ainda que o Senhor possa usá-la para abençoar quem não tem outro meio de conhecê-lo. 
      Tradição cristã e o verdadeiro cristianismo não combinam. Tradição se valoriza por manter algo velho e intacto, já a palavra que o Cristo entregou, pode ser antiga no mundo, mas nunca fica velha, é vivificada em nossos espíritos pelo Espírito Santo. Faz-se uso de tradição quando a palavra pura morre, assim cria-se ritos e liturgias para encenarem algo que foi vivo e não é mais. Jesus não precisa de tradição, nem de ritos, nem de liturgias, ele é palavra viva no coração dos homens que dão liberdade para o Espírito de Deus agir. Assim, não sejamos enganados, nem por seitas novas, nem por velhas tradições, façamos parte de religiões e igrejas, mas ouvindo antes a voz do Espírito Santo, que sempre nos conduz para a liberdade de Deus. 
      Cuidado, muitas vezes começamos certo, mas como na parábola do semeador (Mateus 13.3-23), acabamos nos desviando da pureza e da singeleza do evangelho do Cristo, isso dentro de igrejas. O segredo é sempre verificarmos teoria e prática, o que escutamos como sendo vontade de Deus e o que conseguimos viver. Se não estivermos vivendo e não por não querermos agradar a Deus, e todo aquele que avalia seu coração sabe se não vive porque não quer ou porque não consegue, pode ser que estejamos tentando viver o cristianismo de homens, não de Deus. Uma coisa é certa, o humilde e crente sempre acha forças para seguir os passos de Jesus, ser santo, amoroso, colher bons frutos que permanecem e segurar no coração a paz maior. 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

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