18/06/23

Enviado, convicto, iluminado (2/2)

      “Eu vim em nome de meu Pai, e não me aceitais; se outro vier em seu próprio nome, a esse aceitareis.” João 5.43

      Interessante que Jesus, apesar de seu nome ter sido usado para fundar uma das religiões (se não a religião) mais importante, poderosa e duradoura do mundo, teve poucos seguidores mais próximos durante sua vida como homem. Mesmo seus apóstolos não o ajudaram em seus últimos dias antes de sua morte. Uma pergunta precisa ser feita: será que Cristo tinha alguma intenção de fundar uma instituição religiosa? Sendo mais específico: Jesus foi o fundador da igreja católica? Hoje, como espírito, ele aprova o que ela faz? Não, não e não, ainda que ame muito os católicos e os abençoe sempre.
      Em muitas passagens bíblicas lemos registros de Jesus dizendo que não veio em seu nome, que não fazia as coisas para sua glória, que queria mostrar o caminho para outro ser, o nome, a glória e o caminho são os de Deus. Eis um critério de avaliação para separarmos egocêntrico de iluminado. O egocêntrico, mesmo que use o nome de Deus, fundamenta-se em si mesmo, se usa como modelo, se dá exclusividade da verdade, mas talvez até pior que isso, ele anatemiza os outros, demoniza-os. O discurso do egocêntrico nunca contém perdão, amor e misericórdia, só condenação, guerra e destruição. 
      Sim, o nome de Jesus tem poder e ele deixou bem claro isso, contudo, tem poder porque ele abdicou do poder, se anulou, se humilhou, se ofereceu como sacrifício de morte. O poder que o nome de Cristo tem foi adquirido depois de sua vida como homem, não nela. Eis outro critério para separar egocêntrico de iluminado, egocêntrico quer glórias de homens, poder em vida e sem fazer sacrifícios, a não ser dos que considera seus opositores. O louco, convencido e egocêntrico quer a posição, mas não paga os preços por ela, simplesmente porque não tem chamada legítima para ser o que diz ser.
      Jesus, como homem, teve missão legítima e exclusiva de enviado de Deus, tinha uma convicção baseada na verdade e que não se apoiava em aprovação de homens. Ele foi um homem iluminado, e atualmente e para sempre, é um espírito superior, posicionado nas regiões espirituais mais altas da luz do Altíssimo. Quem o tem como amigo não precisa de salvador no mundo, de líder na política, de lugar de fala entre homens. O poder que damos a seres humanos é inversamente proporcional ao poder que damos a Jesus. Para quem Jesus basta, homem egocêntrico não pode enganar.
      O que leva algumas pessoas a desejarem poder? É isso que vemos em muitos que se levantaram na internet e redes sociais, principalmente a favor da direita extremista e equivocada nos últimos anos no Brasil. Alegando liberdade de opinião, de expressão, fake news têm sido criadas para darem palco a troco de ódio, e ódio é argumento de quem quer poder ilegítimo. Pessoas que deveriam ter a humildade de se aceitarem como são e como lhes foi permitidas ser por Deus, negam a si mesmas, negam a Deus, negam o amor, negam o direito, só para aparecerem e terem poder, isso é doentio. 
      É muito triste ver católicos, protestantes, evangélicos, e dando nomes, assembleianos, adventistas, batistas, querendo poder e fama, por serem pessoas psicologicamente doentes, auto-convencidas e egoístas, justamente pessoas que podem ter passado a vida ouvindo de púlpitos palavras bíblicas. Ou são surdas ou são mudas, e digo isso espiritualmente, ou não ouviram o que lhes ensinaram ou não foram ensinadas, ainda que dentro de igrejas. A atual situação política do Brasil e o apoio que muitos cristãos estão dando a um egocêntrico é preocupante, não entenderam ainda o que Cristo ensinou. 
      Sejamos enviados de Deus para testemunhar do amor e da paz por obras e como simples seres humanos, não como políticos ou celebridades em redes sociais. Tenhamos nossa convicção para nós, não precisamos entrar em polêmicas para jogar nossas verdades na cara dos outros, aliás muitos nem precisam saber o que cremos, só precisam de nosso amor e nossa misericórdia. Alcancemos a iluminação espiritual mais alta, essa não está nas religiões exotéricas, mas no lado esotérico delas, que Deus revela aos humildes, santos, preparados e chamados para serem discretamente luzeiros no universo.

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

17/06/23

Louco, convencido, egocêntrico (1/2)

      “Levanta-te, ó Deus, pleiteia a tua própria causa; lembra-te da afronta que o louco te faz cada dia.” Salmos 74.22

      Uma linha tênue separa o louco do enviado, o convencido do convicto, o egocêntrico do iluminado. É tênue porque ao olhar do desatento, que avalia só pela forma, não pelo conteúdo, o maluco parece dizer coisas novas, o convencido parece ter certeza de que o que diz funciona e o egocêntrico mostra segurança, ainda que seja porque não olha para mais nada, a não ser para o próprio umbigo. Por isso muitos consideram fundadores de religiões, mesmo Jesus, não como pessoas especiais que desejaram melhorar a humanidade, mas como homens que só quiseram dominar outros homens.
      A dificuldade está no meio do processo, onde egocêntricos e iluminados parecem iguais, contudo, no início e no fim são bem diferentes. O que motiva o egocêntrico a querer mudar a sociedade são seus recalques e vaidades, seu objetivo final é satisfazer anseios pessoais, ele não quer dar aos outros um mundo melhor, mas satisfazer interesses egoístas e baixos, o que nasce pequeno será assim até o fim. Mas que fique claro, ainda que homens mal intencionados usem iluminações legítimas para fundarem religiões e explorarem homens, há pureza e legitimidade em muitos iluminados.
      Isso não significa que algo que começou certo fique errado no final, não, o que inicia-se corretamente seguirá eternamente assim. Não foi Jesus quem mudou, foi a igreja católica que usou indevidamente seu nome para fins errados. O que Cristo praticou e ensinou segue mudando a humanidade até hoje, através da ação do Espírito Santo, que abençoa os seres humanos apesar do catolicismo e do protestantismo. Quanta humildade mostra-nos Deus, ainda que sua palavra seja corrompida nas vidas de líderes egocêntricos, convencidos e loucos, ele ama e cura mesmo pelas bocas desses. 
      A palavra de Deus é viva e poderosa, pode ser escrita em folhas de papel reciclado como em películas de ouro, não importa, e ainda que a preguem homens com intenções erradas ela agirá benignamente (Filipenses 1.15-18). É claro que os hipócritas serão punidos por isso, muito mais os que se dizendo homens de Deus escandalizarem os mais fracos na fé, contudo, o que pratica a palavra de Deus permitirá que ela transforme as pessoas silenciosamente. Esses são os realmente iluminados, que entenderam a ação espiritual da palavra de Deus, que glorificam a Deus, não a seus egos. 
      Se em religião a princípio pode ser difícil distinguir as intenções de líderes, na política pode ser mais fácil identificarmos loucos, convencidos e egocêntricos, que querem dominar com prepotência e violência, e não administrar a sociedade para o bem da sociedade. Ainda que inicialmente usem artimanhas para ludibriar eleitores, o tempo revela a verdadeira intenção dos egocêntricos. Um ponto é importante ser analisado nesse estabelecimento de critérios para separar joio de trigo, a sedutora mistura de política com religião, algo tão antigo quanto a história da humanidade.
      Política trata da vida do homem neste mundo, religião trata da existência eterna do ser, tanto aqui quanto na eternidade, teocracia até poderia ter alguma legitimidade nos tempos antigos quando sacerdote tinha até mais poder que monarca. Atualmente, contudo, misturar religião com política pode ser só uma estratégia para dominar mundo material em nome de algo espiritual, o que é uma covardia e uma blasfêmia. Nas sociedades de hoje pessoas têm crenças diferentes, assim é injusto líder político ser também representante religioso e querer impor sua ótica religiosa a todos.
      Líder político deve governar para todos, não só para os de uma religião, se seres humanos com o mínimo de lucidez entendem isso, Deus muitíssimo mais elevado também sabe disso, e dá livre arbítrio aos homens. Com certeza, e estou certo disso, Deus não apoia mistura de religião com política nem tem preferidos, no que se refere a administrações das coisas deste mundo. Levantar-se, principalmente no Brasil, uma nação tão plural, se dizendo enviado de Deus de uma visão religiosa, é coisa de louco egocêntrico, convencido por suas psicoses e por líderes cristãos hereges. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão

16/06/23

Só alguém para odiar?

      “Mas a vós, que isto ouvis, digo: Amai a vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam; bendizei os que vos maldizem, e orai pelos que vos caluniam.” Lucas 6.27-28

      Todos nós já tivemos essa experiência, assim como também a vimos em outras pessoas, o quanto nos enchemos de razão, de palavras, de energia quando sabemos ou vemos alguém cometendo um delito grave, e se for uma injustiça direta contra nós, então, nos achamos com todos os direitos de erguermos a voz, e se não nos controlarmos, até de usar palavras de baixo calão. A crítica sempre revela mais sobre o crítico que sobre o criticado, isso é certo. Mas o que mais nos dá motivos para viver, o que nos enche de forças, o que entrega-nos propósito de vida? É o amor ou é termos alguém para odiar, alguém em quem possamos jogar a culpa por nossos sofrimentos, alguém que vemos como pior que nós e não digno de ser respeitado? 
      Talvez você diga que isso não é sobre você, que você a ninguém odeia, que é um ser humano de bem, um cristão. Mas muitos de nós, e eu me incluo nesses, temos lá no fundo uma revolta muito grande contra algumas pessoas, às vezes especificamente contra uma pessoa. Triste o homem que tem como Sol o ódio, não o amor, Sol negro é esse, não ilumina, só cega e conduz ao erro. Ódio pode ser tão forte que acaba definindo nossa identidade, reforça nossas escolhas, é álibi para que sejamos de um jeito, não de outro, nos dá referência, não do que devemos ser, mas do que não queremos ser. Ainda que isso possa parecer positivo, é idolatria, pois considera referência para a vida o homem, não Jesus, e alguém que se odeia. 
      Avalie-se com honestidade, até que ponto o ódio é mais forte que o amor em você? Até que ponto não pensamos, ainda que sem verbalizar para ninguém, “não sou perfeito, mas não sou tão ruim e fraco como aquela pessoa”, ou, “essa pessoa só me faz mal, quanta injustiça tenho que suportar por causa dela, mas a hora dela vai chegar”? Sob crítica obsessiva mantém-se ódio velado, que instala vingança, ainda que sutil. Se criticamos demais alguém é porque esse alguém nos incomoda, nos incomoda quem achamos que se coloca como melhor que nós, ainda que achemos que não é, assim procuramos defeitos na pessoa para anular o incômodo que ela nos causa, tentando convencer a nós mesmos que somos melhores que ela.
      Muitos vivem para terem alguém para odiar, é o pai, o irmão, o cunhado, o chefe, o patrão, o pastor, o prefeito, o presidente, se não tiverem alguém com quem se revoltarem suas vidas ficam vazias. Eles amam, mas friamente, enquanto que o ódio ferve seus corações, sendo assim também não acreditam no amor dos outros por eles. Contudo, a lição do evangelho é uma só, amai mesmo os que vos odeiam, e muitos nos incomodam por causa de coisas que existem só em nossas cabeças, já que muitos nem fazem ideia que existimos, até convivem conosco, mas não dão a nós a importância que damos a eles, principalmente para nos odiarem. Cuidado, ódio é fácil e forte, pode ser muleta para nossas existências por anos e anos a fio. 
      Assumo que tenho que vigiar sobre isso, mesmo que Deus já tenha curado ódios que levei por anos e que construíram doenças em mim, cura que me fez assumir responsabilidade por meus erros e não achar desculpas nos erros dos outros para continuar errando. Só a humildade nos livra de termos o ódio como deus, e muitos falsos moralistas adoram esse deus, não dando novas oportunidades aos que erraram, condenando vidas inteiras por erros do passado. Só os humildes, que se conhecem e ao amor de Deus, podem amar mesmo ao que lhes é mais odiável. “Vós, que amais ao Senhor, odiai o mal” (Salmos 97.10a), não aos seres humanos, e se eles são maus conosco os entreguemos nas mãos de Deus e fiquemos em paz. 

15/06/23

Comunhão, não só palavras

      “Porque em tudo vocês foram enriquecidos nele, em toda a palavra e em todo o conhecimento, assim como o testemunho de Cristo tem sido confirmado em vocês, de maneira que não lhes falta nenhum dom, enquanto aguardam a revelação de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele também os confirmará até o fim, para que vocês sejam irrepreensíveis no Dia de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é Deus, pelo qual vocês foram chamados à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor.I Coríntios 1.5-9

      Deus não nos atende só porque pedimos ou só porque agradecemos, mas essencialmente porque estamos em comunhão com ele. Quando oramos, pedindo e agradecendo, nossa vontade de estarmos conectados com ele e de o agradarmos, obedecendo-lhe, nos coloca numa íntima ligação com ele. Nessa comunhão conhecemos sua vontade e temos forças para fazê-la, conexão com Deus é mais que diálogo, palavras em nossas mentes ou verbalizadas pelas nossas bocas, e palavras que lemos na Bíblia ou ouvimos do Espírito Santo. Podemos estar em comunhão íntima com o Senhor mesmo sem pedirmos ou agradecermos, mas também podemos pedir e agradecer sem estarmos conectados com Deus. 
      O mistério a ser entendido aqui é que ligação com um Deus espiritual se faz de maneira espiritual pelo Espírito Santo com o nosso espírito. Palavras ouvidas no plano físico, ou mesmo só pensadas em nossas cabeças, têm um valor secundário, tanto as que pedem quanto as que agradecem. Isso eleva nossa comunhão com Deus ao patamar certo, algo além de liturgias, ritos e religiões. Ainda que seja importante vivenciarmos uma ligação social com o divino, como testemunho e ensino, essa não é mais importante que nossa ligação pessoal, muitas vezes estabelecida na solidão e mesmo em lugares os mais diversos possíveis neste mundo. Na eternidade espiritual nossa ligação será somente espiritual, assim, plena. 
      Procuro repetir esse assunto porque tem bastante relevância para termos períodos de oração realmente satisfatórios e eficientes. Você já deve ter experimentado um tempo de oração onde falou e falou, até chorou, mas no final ainda se sentia sem paz, insatisfeito, parece que tuas palavras não passaram do teto. Isso acontece quando pedimos e agradecemos, mas só com nossas bocas e mentes, não com nossos espíritos no Espírito de Deus. Quem nos move ao Altíssimo é o amor de Deus, disponibilizado por Jesus, através do Espírito Santo, a avenida espiritual que nos liga a Deus. Em Jesus temos perdão, que libera o amor que nos atrai a Deus, tudo pelo Espírito Santo, sem ele não há comunhão com Deus. 
      O texto bíblico inicial é o início de uma epístola de Paulo aos cristãos de Corinto, nessa carta um tema importante são os dons espirituais. Diferente do que muitos que não querem os dons espirituais hoje pensam, procurando mesmo usar os textos dessa carta como álibi para isso, Paulo não proíbe os dons, muito menos o tão útil dom de línguas espirituais estranhas. Paulo dá orientações para organizar o uso dos dons, de modo que esses atinjam o propósito maior de Deus com eles, permitir que os homens conheçam e façam sua vontade. Nossa vocação maior é estarmos em comunhão com Deus por Jesus, a porta para o Altíssimo, essa vocação é desempenhada no Espírito Santo e pelo uso dos dons espirituais. 
      Comunhão com Deus pelo Espírito Santo é um maravilhoso mistério. Muitas vezes Deus pede que falemos, que nos abramos, mesmo que choremos, outras vezes somos levados a adorar a Deus, e quando isso vem pelo Espírito é tão forte e sincero, que achamos não haver palavras para expressarem nossa adoração. Contudo, algumas vezes o Espírito Santo pedirá de nós silêncio profundo, para pararmos de falar, de nos preocuparmos, mesmo de chorarmos, e em serenidade de alma ouvirmos o que Deus tem a nos dizer. Ore sempre, ore mais, seja amigo de Deus, creia em sua existência, em sua santidade e em sua ação por amor, mas acima de tudo, tenha comunhão íntima com Deus, ainda que sem palavras.

14/06/23

Prazer na justiça de Deus

      “Justo és, ó Senhor, e retos são os teus juízos. Os teus testemunhos que ordenaste são retos e muito fiéis. O meu zelo me consumiu, porque os meus inimigos se esqueceram da tua palavra. A tua palavra é muito pura; portanto, o teu servo a ama. Pequeno sou e desprezado, porém não me esqueço dos teus mandamentos. A tua justiça é uma justiça eterna, e a tua lei é a verdade. Aflição e angústia se apoderam de mim; contudo os teus mandamentos são o meu prazer. A justiça dos teus testemunhos é eterna; dá-me inteligência, e viverei.Salmos 119.137-144

      Este trecho do salmo 119 mostra o sofrimento do justo diante da injustiça dos homens, o justo não convive com a injustiça com indiferença, ainda que cuide de sua vida e não da vida dos outros sente a opressão que existe no universo por causa da injustiça, que muitos fazem e deixam que os outros façam. Isso não significa ser xerife do mundo, querer fazer justiça com as próprias mãos, se achar melhor por ser justo, não, a reação correta à injustiça é calada porque é um efeito espiritual de uma causa espiritual. 
      Não são só os homens no mundo sendo injustos, desobedecendo leis, zombando do que é certo, fazendo outros sofrerem para que usufruam de prazeres egoístas, essa disposição acha empatia em seres espirituais invisíveis do mal, que incitam a injustiça e se comprazem nela. O justo percebe esse clima espiritual pesado e sofre, mas sendo espiritual busca solução para esse desconforto em Deus, o Senhor do universo, tanto do físico quanto do espiritual, Deus pode emanar sua luz mais alta e destruir a ação da injustiça no justo. 
      “O meu zelo me consumiu, porque os meus inimigos se esqueceram da tua palavra”, quem é sensível sente e quem sente sofre, o que aprova o mal ou o despreza não sofre, mas nisso mata sua sensibilidade espiritual e morre por dentro. Não tenhamos inveja do que parece estar inabalável diante do mal, esse pode ser, não um forte, mas um morto, que às vezes se matou porque não teve forças para resistir diante de tanta dor que sentia. Aceitemos uma verdade, viver num mundo injusto dói, refrigério para isso só em Deus.
      “Pequeno sou e desprezado”, ser espiritualmente sensível e sofrer por isso não faz do justo alguém popular no mundo, aprovado, mesmo dentro de igrejas cristãs, mas um marginal, às vezes um pária. Mas nesse caso não devemos sofrer como pecadores e errados, nem com auto-comiseração ou vitimismo, mas como justo que tem ao seu lado Jesus, o justo dos justos. Jesus, que tendo ele mesmo como homem sofrido as maiores injustiças, entende os que sofrem diante da injustiça e os ajuda com carinho especial. 
      “Aflição e angústia se apoderam de mim, contudo os teus mandamentos são o meu prazer”, acharmos em Deus o prazer maior e melhor, eis a única coisa que soluciona a dor de termos os olhos abertos para ver a injustiça, de termos almas sensíveis e vivas, de sermos luz num mundo em trevas. Se não acharmos esse prazer seremos piores que os das trevas, seremos oprimidos por esses, os veremos fazer e acontecer enquanto nós permaneceremos amarrados, ainda que vendo a Deus não conseguiremos testemunhar dele. 
      Achar o prazer maior e melhor e pô-lo em prática implica numa experiência espiritual de duas partes, só a primeira, a sensibilidade viva para o mal, não basta, é preciso que o bem impressione nossas almas, sentimentos e pensamentos, nos eleve e nos liberte. Assim, além de vigiarmos dia a dia para não sermos mortificados pela injustiça do mundo, temos que ter experiências de profunda comunhão com o Altíssimo, pelo mover do Espírito Santo até a porta Jesus que nos dá acesso às regiões espirituais mais altas de Deus. 
      Sempre que buscamos a Deus ele nos fala e ainda que não o busquemos ele nos atrai, nada é desculpa para andarmos sem paz. Se em nós há humilde diligência não existe contingência do impossível fora de nós, o Senhor, de alguma forma, sempre atende ao que depende dele e o consola, de uma maneira tão simples quanto poderosa, de forma que tenhamos forças para seguirmos em paz. O mundo é injusto e o justo sofre com isso, mas esse sofrer aperfeiçoa-o para a eternidade, é propósito dos desígnios de Deus.

13/06/23

Problemas ou oportunidades?

     “No coração dos que maquinam o mal há engano, mas os que aconselham a paz têm alegria. Nenhum agravo sobrevirá ao justo, mas os ímpios ficam cheios de problemas.Provérbios 12.20-21

      Reclamamos de certos problemas, de certas pessoas, de certos esforços, mas será que nossas vidas teriam sentido ou utilidade se tudo isso não existisse? Vivemos para resolver problemas ou será que os problemas existem só para que nós os resolvamos? Será que se os problemas não existissem nós existiríamos, teríamos identidade, mudaríamos o mundo? Problemas realmente existem, são invenções nossas ou são só oportunidades?
      Sei que muitos vão dizer, meus problemas existem, são bem reais, se eu não resolvê-los não sobrevivo, não me alimento, não tenho roupas para vestir nem um lugar para morar, entretanto eu não me refiro a isso. Isso são necessidades, não problemas, são irremediáveis, sempre existirão para quem vive neste mundo, e quem vê essas coisas como problemas pode estar com algum problema emocional, que precisa ser tratado antes de outros problemas.
      Ocorre que justamente na solução dessas coisas inevitáveis é que podemos achar a alegria mais fácil, feliz o homem que tem prazer no trabalho e na convivência diária com colegas de trabalho. Nessa alegria mais simples podemos encontrar forças para não sermos presas de tristezas mais profundas, essas advindas dos verdadeiros problemas existenciais. Alguns problemas mais sérios podem nascer da má administração dos problemas inevitáveis. 
      Outros podem dizer que se não tivessem problemas teriam mais tempo para divertirem-se, descansarem, viajarem, dedicarem-se à arte, à leitura, para cuidarem de si mesmos. Contudo, muitos estão bem financeiramente, têm tempo, e ainda assim não são felizes, são seres estagnados, sem desafios, instalando problemas emocionais e sendo cidadãos inúteis. Ausência de problemas só cria mais problemas, e problemas que para nada servem. 
      Mas existem outros problemas, esses vêm ao mundo conosco, não são gerados pelo meio ou por escolhas ruins, estão latentes dentro de nós durante a infância e início da adolescência e vêm à tona quando adquirimos consciência de nossa existência. Isso normalmente ocorre no início da juventude, mas algumas pessoas, com almas doentes, adquirem essa consciência mais tarde, postergando também a ciência de certos problemas e respectivas soluções. 
      Problemas que vêm “de fábrica” conosco são específicos, cada ser humano tem o seu, são as provações que temos que superar para sermos aquilo que Deus quer que sejamos. Um dos segredos de felicidade na vida é identificar esses problemas e focar neles, obviamente, na escola da vida, só faz curso superior quem é aprovado no fundamental e no médio, assim se não conseguimos nem sobreviver, como venceremos problemas mais profundos? 
      Todavia, pode-se não querer resolver um problema para se achar nele uma conveniente identidade, a de vítima. Há vantagens em estar vítima, nela o agressor é o outro, o problema é causado pelo outro, e a vítima tem o álibi de não ter que resolver o problema porque não foi ela quem o causou. Quando resolvemos o problema que os outros causaram somos confrontados com o problema que causamos, mudamos de personagem, de vítima para agressor.
      Nos encararmos como agressores pode ser muito difícil, assim é melhor seguirmos como vítimas sem resolver o problema, mas também podemos projetar essa disposição equivocada nos outros, muitos gostam de se relacionar com pessoas problemáticas, como amigos, namorados ou até como cônjuges. Será que são almas caridosas querendo ajudar gente com problemas, ou será que só tentam suportar o insuportável para se sentirem especiais? 
      Não há nada de errado em ajudar os outros, como cristãos somos vocacionadas para isso, mas existem limites, principalmente com pessoas que não querem solução, mas só sócios para manterem problemas que lhes dão identidade. Assim, volto às questões iniciais, vivemos para resolver problemas ou são os problemas que existem para os resolvermos? Problemas inevitáveis, problemas ”de fábrica” ou simplesmente oportunidades para sermos úteis?
      Copo pela metade, é meio vazio ou meio cheio? O que vê problemas como oportunidades verá sempre o copo meio cheio, ele não vê barreiras, mas desafios, não vê dificuldades, mas degraus, trabalhando para superar problemas reais, não inventados, e na força sua e de Deus em conjunto. A vida encarnada no mundo é manutenção de uma existência defeituosa, a perfeita só existirá na melhor eternidade de Deus, assim viver é resolver problemas.
      Encarar a vida e seus inerentes problemas assim, só o humilde e temente a Deus consegue, e dessa forma só ele pode achar de fato a felicidade. Os outros, ainda que resolvam grandes problemas, se sentirão injustiçados, achando que fazem o que não era para eles fazerem, serão cobradores e juízes dos mais fracos, não entendem que seus problemas são oportunidades que Deus lhes dá para serem úteis, para crescerem, para serem felizes. 

12/06/23

Você sabe qual é tua prova?

      “E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens. Sabendo que recebereis do Senhor o galardão da herança, porque a Cristo, o Senhor, servis.Colossenses 3.23-24

      Julgar que uma pessoa está sendo ociosa ou que faz mais que precisa, implica, não em saber se alguém é ou não produtivo e próspero neste mundo, mas em saber por qual prova moral essa pessoa precisa passar para ser aprovada no outro mundo. Entretanto, se muitas vezes não sabemos nem qual é a prova na qual temos que ser aprovados, como podemos saber qual é a prova do outro? Vê as pessoas assim, sob o ponto de vista espiritual, quem já se olhou certo, só se olha certo quem olha diretamente para o Deus Altíssimo, com fé, humildade e santidade.
      Tem gente se esforçando para passar em vestibular de medicina, repetindo e repetindo a prova por anos a fio, quando se fizesse vestibular para matemática passaria com mais facilidade. Mas fazem para medicina porque ser médico dá mais aparência que professor de matemática para os homens. Isso é só um exemplo, usando de metáforas, a prova não está em fazer algo mais difícil ou algo mais fácil, mas em fazer a coisa certa. O maior esforço que temos que executar muitas vezes não é exercendo um trabalho, mas descobrindo que trabalho temos que fazer. 
      Muitos passam a vida fazendo coisas erradas, mas no final, já cansados, quando entendem o que de fato têm que fazer, descobrem felicidade fácil em algo simples, tão leve quanto é o fardo que Jesus nos chama a carregar com ele, e não os pesados fardos que os homens e nós mesmos colocam sobre nós (Mateus 11.29-20). A vitória está na obediência, não no sacrifício, está na virtude interior, não na aparência externa, está em Deus, não no mundo. Você sabe qual é a tua prova? Ore mais a Deus e não pare de buscá-lo até ter certeza qual é, depois submeta-se a ela. 
      A prova de Jesus foi uma morte injusta e cruel, e ele sabia disso desde o início. Podemos até achar que temos que pagar preços no mundo, mas sempre para termos um final feliz, principalmente por acharmos que nossa fé nos dá direito à honra. Não digo que podemos ter a mesma prova de Cristo, ninguém neste mundo está preparado para isso, mas pode ser semelhante, ainda que só um pouco. Pode ser que tenhamos que encerrar nossas jornadas com menos que começamos em termos materiais, para levarmos mais em termos espirituais à eternidade. 
      Muitos trabalham bastante, têm retorno financeiro para uma vida digna, mas ainda assim são infelizes, esses não se satisfazem só com trabalho e dinheiro, querem prestígio no mundo. Para esses a prova pode não ser o trabalho físico em si, nem terem que viver nos limites dos salários que recebem, mas em não dependerem de aprovação humana, aliás, essa é prova que a maioria de nós precisa ter aprovação. Quem busca glória humana não está satisfeito com a glória divina, e essa, independente de dinheiro ou erudição, todos nós podemos experimentar. 
      Se as pessoas buscassem mais que religião, se esforçassem-se além de assistir cultos, cantar louvores e fazer orações rápidas, se de fato se alimentassem espiritualmente com o vivo pão e as vivas águas do Santo Espírito, elas sofreriam menos com as ilusões e injustiças deste mundo. Assim entenderiam em que provas precisam ser aprovadas para construírem o céu dentro delas, e terem a melhor eternidade de Deus, ao invés de se gastarem em tolos e inúteis trabalhos, que precisam ser feitos de um jeito ou outro, mas que são menores que a glória de Deus.