09/11/23

Paixão, bom ou ruim?

      “Que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e honra; não na paixão da concupiscência, como os gentios, que não conhecem a Deus.I Tessalonicenses 4.4-5

      Quando eu era jovem, tentando viver um evangelho utópico em igreja protestante tradicional, achava que espiritualidade era vencer as paixões e viver sem elas, mas só pensava assim porque estava apaixonado por uma utopia. Depois, quando amadureci um pouco, bem casado e com filhos, achava que ser maduro era manter paixões vivas, descobrir novas e manter as antigas, isso coincidiu com minha fase pentecostal. Se tem algo que pentecostal prova é emoção, na adoração e nas manifestações dos dons, vendo no êxtase das primeiras experiências com dons a espiritualidade maior e mais madura, e não só mais uma paixão.
      Contudo, finalmente, mais velho, e após ter experiências passionais em muitas áreas, percebo que a verdadeira maturidade espiritual é estar em paz e ser santo ainda que não se esteja apaixonado. Não porque não existam coisas e gente pelas quais podemos nos apaixonar, mas porque nossa alma não se apaixona mais, pelo menos não com a mesma extensão de tempo e de intensidade. Paixão é bom ou é ruim? É bom, claro que é, e podemos, sim, nos apaixonar sempre. O que não podemos é confiar na paixão, ela é efeito emocional de algo, não causa racional para nos manter sendo e fazendo algo. Paixão sempre termina. 
      Não percebemos, ou percebemos e não admitimos, mas somos viciados em paixão. O lado bom disso é que somos levados a começar algo novo e acreditar que será melhor, mas o lado ruim é que podemos ver a paixão como fim em si mesma. Muitos querem se apaixonar, não importa pelo que ou por quem, não importa os preços pagos, os corações machucados, o dinheiro perdido. Amadurecer é poder dizer não a uma nova e vã paixão para manter uma antiga e madura, e não é fácil negar prazer novo e fácil. Na força da paixão adquirimos super poderes, mas o que parece construir no início depois se mostra frio destruidor.
      Mas preciso confessar algumas coisas. Estou casado há mais de vinte e cinco anos e sou apaixonado pela minha esposa tanto quanto era no início, nunca foi assim com alguém. Contudo, minha paixão maior sempre é Deus, desde que tenho noção que existo há algo que me instiga para ver o invisível e ouvir os mistérios do Espírito Santo. Buscar a Deus para receber dele uma palavra nova é meu principal motivo de vida, aventurar-me em oração é apaixonante, nunca é igual e é sempre melhor. Meu corpo envelheceu, meus sentimentos não são mais tão impressionáveis, mas meu espírito ainda sente algo único pelo Senhor. 

08/11/23

Já abençoou um inimigo hoje?

      “Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos.Mateus 5.44-45

      Você já abençoou um inimigo hoje? Em primeiro lugar temos que entender que como amigos de Deus não podemos fazer e nem manter inimigos. A palavra inimigo também é um pouco forte, no dia a dia não nos confrontamos com inimigos explícitos, com gente má e que quer nos destruir, mas muitas vezes só com indisposições, de pessoas com as quais temos certos desconfortos, que agem e falam e nos incomodam por razões que conscientemente nem sabemos quais são. Mas são essas indisposições menores que são mais constantes, que nos roubam a paz e que podem nos levar a conflitos mais sérios, por isso precisamos ser rápidos para assim que sentirmos o desconforto abençoarmos quem nos fez senti-lo. 
      Verbalizar de forma clara e objetiva “eu abençoo essa pessoa, desejo de todo o coração o bem para ela, em todas as áreas de sua vida, afetiva, profissional, espiritual”, converte “energia ruim” em “energia boa”. Precisamos entender que sentimentos ruins não somem por nada, se estivermos vazios eles continuarão em nós, precisamos invocar coisas boas para que os substituam. O problema é que muitas vezes não damos a certos problemas a importância que eles têm, principalmente se já nos acostumamos a pensar que certas pessoas são chatas, nos incomodam e nós simplesmente temos que conviver com isso. Nessa disposição até não queremos o mal de alguém, mas não tomamos a iniciativa para querer o bem.
      Pensamento positivo, crer que vai dar certo, sem Deus são ineficientes, vazios, de curta duração, mas são ferramentas úteis para manter-nos construtivos e fortes. Esse é o espírito de Deus, sempre amor que atrai à luz, sempre nova oportunidade para fazer certo, sempre vendo o lado bom, e quase todos, mesmo quem te faz sentir-se mal por algum motivo, têm um lado bom. Por isso o texto bíblico inicial completa a exortação bendizei os que vos maldizem com vosso Pai que está nos céus faz que o seu sol se levante sobre maus e bons. Deus não te ama mais que aquele que você sente como teu opositor, e muitas vezes o sentimento teu é baseado num engano teu, a pessoa na verdade nada tem contra você. 

07/11/23

Peça perdão

      “Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça.I João 1.8-9

      Se magoamos alguém e pedimos perdão exercemos duas restaurações de paz, a nossa e a do outro. Se pedimos perdão é porque reconhecemos nosso erro e não queremos cometê-lo mais, assim restauramos a nossa paz, mas se pedimos perdão damos oportunidade para o outro restaurar a paz que ele pode ter perdido quando ficou magoado. Contudo, se não pedimos perdão, continuamos sem paz e jogamos para o magoado um trabalho que deveria ser prioritariamente nosso, o outro terá que tomar a iniciativa que não tomamos e nos perdoar, ainda que não tenhamos solicitado seu perdão. Nesse caso além de magoarmos alguém ainda exigiremos dele a grandeza de nos perdoar, o prejudicaremos duplamente.
      Quem é maduro espiritualmente não necessitará nem que o outro peça perdão por ter-lhe magoado para perdoar, e se for ainda mais gracioso procurará quem o magoou e buscará restaurar a paz do agressor. Isso não é tão fácil de ser feito, temos a tendência de nos acomodar na posição de vítima e achar que por sermos vítimas a responsabilidade de acertar as coisas é do agressor, não nossa como agredido. É claro que existe a possibilidade de pedirmos perdão e não sermos perdoados, mas aí o problema não está mais em nossas mãos, fizemos a nossa parte e podemos seguir em paz, ainda que sem o perdão do magoado. O humilde confia que o perdão de Deus está acima de tudo, não se faz presa de mal alheio. 
      Contudo, existe uma outra situação, magoarmos alguém e nem termos noção que magoamos, estarmos endurecidos de tal forma que achamos que o que fizemos era nosso direito, que o outro merecia nossa atitude dura e que é ele quem deve administrar a questão, não nós. Já tive oportunidade de conviver com gente assim, que diz o que pensa, quando quer, magoa-nos, mas não volta para pedir perdão, ao contrário, segue convivendo conosco como se nada tivesse ocorrido. Pessoas assim devemos perdoar, com toda nossa alma, não maquinar nem a mais sutil vingança, entregá-las nas mãos de Deus e pedir a ele orientação para conviver com elas com sabedoria, sem mágoa, mas com educada distância. 

06/11/23

O que é para você o bom combate?

      “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda.II Timóteo 4.7-8

      O que é o bom combate para você? No fim, o que te deixará em paz ter vivido? Não queiramos nos apropriar do texto bíblico inicial no contexto que o apóstolo-teólogo Paulo usou, não temos a espiritualidade, a capacidade nem a chamada dele. Paulo se referia à sua missão como pregador e fundador de igrejas, num momento que o cristianismo era novidade e perigosamente confrontado, tanto que ele acabou preso e morto. Hoje os tempos são outros, somos seres humanos diferentes, cristãos diferentes, com problemas e metas diferentes. Ainda assim Deus pede de nós, ao menos no final de nossas vidas, o sentimento que houve em Paulo no final de sua vida, consciência tranquila de quem fez o que devia fazer.
      Só faz o que devia quem faz a vontade de Deus, para fazê-la é preciso conhecê-la e ter coragem de executa-la, ainda que homens se oponham. As pessoas, e nós também, gostam de dizer aos outros como devem viver suas vidas, cobrar os outros faz com que se sintam menos cobradas, dá-lhes um álibi para serem o que são, as faz pensar assim, “não fiz tudo certo, mas quem faz? muitos erram até mais que eu”. Devemos atentar a conselhos sábios, e muitas vezes, se formos muito teimosos, Deus usa até “inimigos” para nos acordarem e fazermos o que precisamos fazer. Mas o que busca a Deus com humildade será orientado pelo Espírito Santo e não será humilhado, saberá o que, onde e quando fazer, para que tenha paz. 
      Muitas vezes somos desconfiados, invejosos, irados, não gostamos de ser confrontados, que vejam nossas fragilidades. Contudo, devemos lutar contra tendências vaidosas e egoístas até o fim, senão acabaremos possuídos pelo mal, e ainda que nossos corpos estejam envelhecidos e nossas mentes lentas para reagirem, nossos corações permanecerão atormentados. Pois bem, eis o combate que todos temos que fazer, contra nós mesmos, para que nosso ego seja diminuído e Deus, em seu amor, em sua justiça e em sua santidade, seja exaltado. Amar a vinda do Senhor é estar pronto para a morte, onde seremos confrontados pela luz do Altíssimo, avaliados e revelados, o que for revelado dirá se estaremos num céu ou num inferno.

05/11/23

Fim ou só outro início?

      “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.João 14.26

      Naquilo que muitos veem o fim do mundo, o apocalipse, a perdição, um anti-cristianismo, vejo só o cristianismo do mundo sendo desafiado a ser o cristianismo do Cristo. Vejo tradicionais religiões cristãs sendo confrontadas com aquilo que Jesus ensinou lá no primeiro século, mas que lideranças religiosas inescrupulosas, apoiadas por leigos acomodados, esqueceram ou esconderam, por medo de perderem poder no mundo. Desculpe-me se você não concorda, mas pense melhor em tantos ensinamentos do Cristo, que sempre estiveram na Bíblia e que muitos cristãos até entenderam do jeito certo, mas que não viveram porque se acostumaram a pensar que as igrejas não precisam ser perfeitas, que nem tudo pode-se pôr em prática, assim tomando o anormal como normal.
      Agora, para quem é conservador, e em conservador entenda-se manter tradição religiosa não a palavra original de Jesus, para esse as mudanças sociais que estão ocorrendo, principalmente nas áreas da família e da sexualidade, não são libertação, mas libertinagem, não são abertura e iluminação, entendendo mais a fundo a verdade, mas desobediência e trevas, desprezando a verdade. O conservador nega a característica da humanidade que faz o planeta se manter e evoluir, o aprendizado de novos conhecimentos que permitem uma existência de melhor qualidade, tanto na área material quanto na moral, tanto na área científica quanto na social. Quem não crê em evolução amarra Deus a uma visão antiga e menor de Deus, a ótica de homens do passado, que não representa o Deus eterno. 
      Não é Deus quem muda, é o homem e sua visão de Deus. Sabendo disso Deus, em seu amor paciente, revelou ao homem mistérios verdadeiros e eternos, mas do jeito que o homem antigo podia entender. Os fatos descritos em Gênesis não são científicos, mas também não são fantasiosos, são alegóricos, quem for humilde, lúcido e temente a Deus, verá em Gênesis assim como em tantos outros mitos e textos sagrados, seja do cristianismo ou fora dele, verdades eternas. Não negará a ciência assim como não desdenhará de doutrinas religiosas, mas achará o conhecimento maior de Deus. Agora, se um fim de mundo ocorrerá, será o fim do mundo conservador, e graças a Deus por isso, para dar lugar a uma profundidade maior sobre a verdade que o Espírito Santo pode nos entregar. 
      Um argumento conservador para muitos se manterem conservadores é “isso não está na Bíblia”, e na verdade não está mesmo, aliás, muita coisa relevante para nós hoje não está na Bíblia. Direito de mulher trabalhar, estudar e ser ativa em cultos, não está na Bíblia, oposição a trabalho escravo não existe na Bíblia, assim como a Bíblia não fala de doenças psicológicas, transtornos psiquiátricos, depressão, bipolaridade. Talvez isso explique porque Jesus ordenava e muitas pessoas eram libertadas, e registros de tais acontecimentos eram feitos identificando as pessoas como endemoniadas, não como doentes. O que o homem do século um não entendia como doença mental, algo subjetivo e que interfere na interação com a realidade, era chamado de obsessão espiritual.
      Mas o que conservadores não aceitam é que a Bíblia não é o fim, é o início, ela não delimita a verdade, não fecha-a, mas dá noções básicas e primárias dela, para um homem antigo que não podia entender mais que isso, e isso bastava para Deus abençoá-los. O início, o meio e o fim são o Espírito Santo, estava nas vidas de escritores bíblicos, do antigo e do novo testamento, e está presente hoje, eis a terceira dádiva que Jesus entregou. A primeira dádiva foi seu exemplo de vida no mundo como homem, a segunda é sua presença espiritual nas alturas nos conduzindo ao perdão de Deus, e a terceira é a liberação do consolador e professor Espírito Santo. Obras, fé e conhecimento, três experiências que o Cristo nos permite ter, viver como Jesus, crer em Deus e conhecer pelo Espírito Santo. 
      Não é o fim, só novo começo, a humanidade ainda precisa digerir liberdade, ampliá-la, torná-la não exceção, mas regra e normalidade, liberdade roubada pelas trevas e muitas vezes usando ferramentas veiculadas por quem deveria promover a luz, refiro-me a igreja católica, protestantismo e outras denominações cristãs. Só depois do ser humano se entediar com liberdade, com sexo, com prazeres, é que entenderá que a prioridade é espiritual, não material. É sempre assim a evolução do ser na Terra, numa onda senoidal, onde existe subida até o ponto mais alto e depois queda até o ponto mais baixo, num processo lento em repetidos ciclos. O ser humano só escolhe certo depois que enjoa do errado, e mesmo liberdade, sem Deus, é ilusão, que ele precisará enjoar para ser livre em Deus.

04/11/23

Siga o rio

      “Há um rio cujas correntes alegram a cidade de Deus, o santuário das moradas do Altíssimo.Salmos 46.4

      Um homem segue pela margem de um rio, sente-se cansado e às vezes tem vontade de parar, mas persiste na caminhada. O rio está num vale com montanhas em ambos os lados, o rio é estreito, mas sua água é limpa e fresca. Nas margens do rio, nas montanhas, não existe vegetação ou qualquer espécie de vida. Tudo está sob terra vermelha, sem árvores, gramas, matos, flores ou qualquer tipo de flora, também não há vida animal. No alto das montanhas há homens e mulheres, procurando lugares melhores, se achando melhores que os que estão no vale, mas onde estão não há água, não há vida, só morte.
      De vez em quando o homem para, estende o braço, com a mão pega um pouco de água e leva à boca, é tudo que ele precisa para se manter vivo, mas logo segue seu caminho. A água desce, o caminho sobe, mas não para uma montanha, para um lugar alto, coberto por nuvens, parece que o rio nasce no céu. O homem olha para trás e vez sua família, mulher, filhas, elas não estão andando, mas permanecem próximas ao rio, alimentam-se dele e perto dele constróem suas vidas. O homem não tem mais nada a construir, assim deve seguir o rio, chegar ao lugar onde ele nasce, escondido nas nuvens. 

      Muitas vezes, depois de orar, no escuro e no silêncio da sala, eu abro os olhos, relaxo e simplesmente vejo cenas. Não me esforço para inventar nada, não é uma história fantasiosa que minha mente inventa, é como um filme, que se passa diante de mim sem que eu me esforce, só preciso descansar em Deus e focar no Espírito Santo. A história acima é mais que uma fantasia, é uma alegoria que o Espírito Santo, para facilitar meu entendimento sobre minha vida, meu passado, meu futuro, o plano espiritual e a vontade do Senhor para mim, me permite conhecer. Quando uma experiência assim nasce em Deus ela é viva, quanto mais refletimos nela, mais nos é mostrado e com mais clareza.
      Três tipos de pessoas são exibidos na história acima: as que estão longe do rio, as que estão perto do rio, mas paradas, e o homem, perto do rio e seguindo em frente. O rio é o Espírito Santo de Deus, estamos no mundo para trabalhar, nos mantermos vivos fisicamente, mas também para aprendermos que vida espiritual só há perto de Deus. Essa posição pode parecer menor para aqueles que vivem sem Deus, esses escalam montanhas, aparecem mais, parecem mais poderosos e sábios, mas ainda que tenham muito no mundo estão mortos espiritualmente. Só o rio que vem de Deus pode alimentar os espíritos humanos, mas ter esse privilégio é ser humilde, limitando-se ao vale onde passa o rio. 
      Muitos desprezam o rio, outros fazem moradas às suas margens, mas alguns devem caminhar perto do rio. Todos que amam a Deus não se sintam menos por habitarem às margens do rio, mas o chamado para seguir pelo rio também não se ache mais por isso. O caminho do homem que segue o rio, em direção à sua nascente é solitário, se no vale há humildade, do que caminha pelo rio mais humildade é pedida. Mas ele deve seguir, nada mais lhe resta a fazer no plano físico, deve dedicar-se às coisas espirituais, preparar-se para a passagem. Todos deveriam fazer esse caminho no final de suas vidas, mas muitos não fazem, ficam parados onde viviam e nada tendo para fazer desfalecem de tristeza.
      De uma pessoa que exalta a ciência e leva uma vida com saúde de qualidade, e entendamos que nada há de errado nisso, ouvi o seguinte: “quando envelhecer vou dedicar-me à natação”. Sim, é sábio cuidarmos bem de nossos corpos e acatarmos a ciência, mas priorizar a matéria na velhice é fazer uma morada no alto da montanha, longe do rio, e querer morrer lá. Essa morte não é feliz, nem a melhor de Deus, a melhor é nos aproximarmos mais de Deus em nossas vidas, nos achegarmos ao rio e pagarmos os preços para vivermos perto dele. Mas é na velhice que o rio ganha sua maior relevância, quando se torna não só alimento em alguns momentos do dia ao orarmos, mas razão de viver. 
      Convém a todos se aproximarem de Deus, mas ao velho isso é mais importante, não só parar de vez em quando para beber a água do rio, para ter forças para trabalhar no mundo mantendo sua excelência moral. Ao velho compete seguir pelo rio, ter mais experiências espirituais, manifestar os dons do Espírito, conhecer os mistérios e as verdades de Deus, santificar-se, acostumando-se com o céu e sendo libertado do mundo. No final isso não é só escolha, é missão, para quem quer a melhor eternidade. Quem segue pelo rio ao morrer no mundo se elevará ao céu sem grandes dificuldades, já estava acostumado com esse caminho no mundo, construiu a melhor eternidade em seu homem interior, salvou-se. 
      Mas quem para no mundo e estaciona mesmo às margens do rio, desfalecerá ainda com o corpo vivo, não terá forças nem para tomar a água do rio. Se enquanto temos que trabalhar no mundo o universo nos dá forças para isso, ainda que bebendo de Deus só de vez em quando, quando temos que parar de trabalhar no mundo e seguir o rio só teremos forças numa comunhão mais íntima e constante com Deus. Felizes os que vivem bem cada tempo de suas existências aqui, trabalha quando precisa, cuida de sua saúde física o quanto precisa, ama quando precisa, ora quando precisa, para de empreender no mundo quando precisa, se consagra quando precisa e se prepara mais para o céu quando precisa. 

03/11/23

Resposta certa vem do silêncio (2/2)

      “Quanto a mim, Daniel, o meu espírito foi abatido dentro do corpo, e as visões da minha cabeça me perturbaram.” Daniel 7.15

      Todos somos dissimulados e orgulhosos, não admitimos tudo que somos e sentimos, assim, não confiemos nos posicionamentos, nas palavras, nos semblantes de muitos que dizem que não precisam de Deus e de religião para terem paz. Todos têm em si espíritos e esses têm sede do grande Espírito, sem saciar essa sede não há paz, ainda que a mente esteja lotada de informação intelectual, da ciência e de todos os seus cuidados. Muitos possuem para cada ensino espiritual que compartilhamos um questionamento, mas não para se aproximarem mais da verdade mais alta, para se distanciarem dela. Muitos não querem Deus pois teriam que assumir humildade que acham que os inferiorizaria diante de pares, puro orgulho.
      Entretanto, mesmo quem crê em Deus, muitas vezes mesmo depois de pôr perdão em ordem pela oração, de receber de Deus e de si mesmo, e de dar aos outros, ainda está sem paz. Esse tenta exercer fé, clamar por necessidades que acha que Deus pode e quer resolver, mas ainda assim não acha consolo. São nesses momentos que a alma deve calar, parar de perguntar e só ouvir. No silêncio do invisível ouvimos o Espírito de Deus nos dizendo pelo que devemos orar, o que temos que pedir, que perguntas podemos fazer. Isso não é um todo-poderoso prepotente tentando forçar sua vontade, mas a luz mais alta nos abraçando em amor e nos pondo como parte de algo maior. Nessa elevada posição há a causa maior e todas as respostas. 
      Daniel sofria por seu povo, pelo cativeiro de Israel, por isso se pôs a buscar a Deus. Muitas vezes Deus permite uma dor, não por ser nosso problema principal, mas para nos levar a buscá-lo, isso é só uma desculpa, que nossas almas facilmente acomodadas a zonas de conforto onde Deus não é buscado, precisam para buscarem o Senhor com mais profundidade. Contudo, nessa busca Daniel recebeu muito mais que respostas para o problema de Israel naquele momento histórico, Deus revelou a seu amigo acontecimentos futuros e sobre toda a humanidade. Por isso ele diz no texto bíblico inicial, “meu espírito foi abatido dentro do corpo e as visões da minha cabeça me perturbaram”, a pergunta que Deus tinha para ele era muito, muito maior. 
      Ah, se conseguíssemos nos desprender de nossos mundinhos, de comer, beber, namorar e pagar boletos, se de fato colocássemos em prática Mateus 6.33-34a, “buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas; não vos inquieteis, pois, pelo dia amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo”. Se isso acontecesse seríamos levados a servir a Deus em causas muito maiores que as nossas vidas pessoais, então, seríamos cuidado por Deus de forma maravilhosamente natural, ainda que aparentemente milagrosa para muitos. Mas enquanto estivermos ocupados em fazer perguntas mesquinhas, para responder curiosidades infantis, seguiremos insatisfeitos, aquém do melhor do plano de Deus para nossas vidas. 
      A verdade é que falamos demais e vivemos pouco, e muito que fazemos é para nossa própria glória neste mundo e diante dos homens, não é parte da glória de Deus manifestada através de nós e que fará diferença na eternidade. Deus não chama escravos que o adorem de baixo para cima, ainda que o processo de conhecimento de Deus do ser inicie-se assim, com humildade que reconhece um poder maior que tem o melhor para si. Deus quer nos elevar espiritualmente para sermos seus amigos, parte de sua glória, assim sua luz emanará aos outros seres, no plano físico e no espiritual, através de nós. Nessa íntima conexão sabemos as perguntas que devem ser feitas que terão respostas, na tua luz veremos a luz (Salmos 36.9b). 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão