sábado, novembro 04, 2023

Siga o rio

      “Há um rio cujas correntes alegram a cidade de Deus, o santuário das moradas do Altíssimo.Salmos 46.4

      Um homem segue pela margem de um rio, sente-se cansado e às vezes tem vontade de parar, mas persiste na caminhada. O rio está num vale com montanhas em ambos os lados, o rio é estreito, mas sua água é limpa e fresca. Nas margens do rio, nas montanhas, não existe vegetação ou qualquer espécie de vida. Tudo está sob terra vermelha, sem árvores, gramas, matos, flores ou qualquer tipo de flora, também não há vida animal. No alto das montanhas há homens e mulheres, procurando lugares melhores, se achando melhores que os que estão no vale, mas onde estão não há água, não há vida, só morte.
      De vez em quando o homem para, estende o braço, com a mão pega um pouco de água e leva à boca, é tudo que ele precisa para se manter vivo, mas logo segue seu caminho. A água desce, o caminho sobe, mas não para uma montanha, para um lugar alto, coberto por nuvens, parece que o rio nasce no céu. O homem olha para trás e vez sua família, mulher, filhas, elas não estão andando, mas permanecem próximas ao rio, alimentam-se dele e perto dele constróem suas vidas. O homem não tem mais nada a construir, assim deve seguir o rio, chegar ao lugar onde ele nasce, escondido nas nuvens. 

      Muitas vezes, depois de orar, no escuro e no silêncio da sala, eu abro os olhos, relaxo e simplesmente vejo cenas. Não me esforço para inventar nada, não é uma história fantasiosa que minha mente inventa, é como um filme, que se passa diante de mim sem que eu me esforce, só preciso descansar em Deus e focar no Espírito Santo. A história acima é mais que uma fantasia, é uma alegoria que o Espírito Santo, para facilitar meu entendimento sobre minha vida, meu passado, meu futuro, o plano espiritual e a vontade do Senhor para mim, me permite conhecer. Quando uma experiência assim nasce em Deus ela é viva, quanto mais refletimos nela, mais nos é mostrado e com mais clareza.
      Três tipos de pessoas são exibidos na história acima: as que estão longe do rio, as que estão perto do rio, mas paradas, e o homem, perto do rio e seguindo em frente. O rio é o Espírito Santo de Deus, estamos no mundo para trabalhar, nos mantermos vivos fisicamente, mas também para aprendermos que vida espiritual só há perto de Deus. Essa posição pode parecer menor para aqueles que vivem sem Deus, esses escalam montanhas, aparecem mais, parecem mais poderosos e sábios, mas ainda que tenham muito no mundo estão mortos espiritualmente. Só o rio que vem de Deus pode alimentar os espíritos humanos, mas ter esse privilégio é ser humilde, limitando-se ao vale onde passa o rio. 
      Muitos desprezam o rio, outros fazem moradas às suas margens, mas alguns devem caminhar perto do rio. Todos que amam a Deus não se sintam menos por habitarem às margens do rio, mas o chamado para seguir pelo rio também não se ache mais por isso. O caminho do homem que segue o rio, em direção à sua nascente é solitário, se no vale há humildade, do que caminha pelo rio mais humildade é pedida. Mas ele deve seguir, nada mais lhe resta a fazer no plano físico, deve dedicar-se às coisas espirituais, preparar-se para a passagem. Todos deveriam fazer esse caminho no final de suas vidas, mas muitos não fazem, ficam parados onde viviam e nada tendo para fazer desfalecem de tristeza.
      De uma pessoa que exalta a ciência e leva uma vida com saúde de qualidade, e entendamos que nada há de errado nisso, ouvi o seguinte: “quando envelhecer vou dedicar-me à natação”. Sim, é sábio cuidarmos bem de nossos corpos e acatarmos a ciência, mas priorizar a matéria na velhice é fazer uma morada no alto da montanha, longe do rio, e querer morrer lá. Essa morte não é feliz, nem a melhor de Deus, a melhor é nos aproximarmos mais de Deus em nossas vidas, nos achegarmos ao rio e pagarmos os preços para vivermos perto dele. Mas é na velhice que o rio ganha sua maior relevância, quando se torna não só alimento em alguns momentos do dia ao orarmos, mas razão de viver. 
      Convém a todos se aproximarem de Deus, mas ao velho isso é mais importante, não só parar de vez em quando para beber a água do rio, para ter forças para trabalhar no mundo mantendo sua excelência moral. Ao velho compete seguir pelo rio, ter mais experiências espirituais, manifestar os dons do Espírito, conhecer os mistérios e as verdades de Deus, santificar-se, acostumando-se com o céu e sendo libertado do mundo. No final isso não é só escolha, é missão, para quem quer a melhor eternidade. Quem segue pelo rio ao morrer no mundo se elevará ao céu sem grandes dificuldades, já estava acostumado com esse caminho no mundo, construiu a melhor eternidade em seu homem interior, salvou-se. 
      Mas quem para no mundo e estaciona mesmo às margens do rio, desfalecerá ainda com o corpo vivo, não terá forças nem para tomar a água do rio. Se enquanto temos que trabalhar no mundo o universo nos dá forças para isso, ainda que bebendo de Deus só de vez em quando, quando temos que parar de trabalhar no mundo e seguir o rio só teremos forças numa comunhão mais íntima e constante com Deus. Felizes os que vivem bem cada tempo de suas existências aqui, trabalha quando precisa, cuida de sua saúde física o quanto precisa, ama quando precisa, ora quando precisa, para de empreender no mundo quando precisa, se consagra quando precisa e se prepara mais para o céu quando precisa. 

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