16/12/23

Não é o mar, nem o barco…

      “O teu caminho é no mar, e as tuas veredas nas águas grandes, e os teus passos não são conhecidos.” Salmos 77.19

Parábola do remador 

      Um homem navegava num pequeno barco, compassadamente movimentava os remos podendo seguir em sua jornada. Ele não precisava manter um andamento rápido, isso o cansaria, bastava-lhe seguir na sua força e alcançaria seu destino, contudo, num determinado momento, deixou que a ansiedade o dominasse e teve pressa. Na pressa aumentou o ritmo, no início até sentiu-se orgulhoso, conseguia se mover mais depressa, mas em pouco tempo se cansou, cansado teve que parar para descansar. Enquanto descansava sentiu algo que não sentia enquanto remava, o balanço do barco, no início isso não o incomodou, mas depois começou a ficar aflito, amedrontado segurou-se nos lados do barco, tentando achar segurança. 
      Entretanto, ao invés de sentir-se melhor começou a mexer-se, de um lado para o outro, ele temeu o mar, como antes não temia, achou que não conseguiria manter o equilíbrio e o barco pudesse virar. Então, dentro dele, uma voz falou com muita clareza, “pare de temer e ponha-se a remar novamente, com calma, só siga teu caminho, o problema não está no mar, está em você”. O homem respirou fundo, tomou os remos e se pôs a remar, num ritmo lento, mas constante, assim, em pouco tempo avistou seu destino. O mar era imenso, fundo, não era algo que ele podia dominar, nem o conhecia totalmente, mas bastava-lhe confiar e fazer a sua parte, as águas eram o caminho para ele chegar à terra firme, onde estava seu lar. 

José Osório de Souza, 8/05/2022

      Quando o Espírito Santo nos entrega simbologias, nem precisamos dar muitas explicações, são claras e fáceis de serem entendidas, assim vou resumir o entendimento. A vida é o mar, mas a vida com Deus, ainda que desconhecida, é segura. Se fizermos o que Deus pede, passaremos por ela e alcançaremos nosso destino, anexar virtudes morais ao nosso homem interior e nos apresentarmos na eternidade melhores que quando chegamos ao mundo. Isso não pode ser feito sem trabalho, mas o trabalho que Deus pede de nós nunca exige mais que as forças que temos. Se formos humildes e não tomarmos como referência os outros seres humanos, mas a voz de amor e de paz do Espírito Santo, poderemos nos manter úteis até o final. 
      Contudo, os rebeldes, desobedientes e orgulhosos, por falta de fé, por ansiedade ou por vaidade, desobedecerão a voz de Deus e se cansarão. Quem se cansa precisa descansar, e nisso nada há de errado, errado é descansar demais. Parados focamos o que não devemos, julgamos o que não podemos, arrogamos saber o que não sabemos, então, tememos, algo que esteve e sempre estará por lá, mas que só damos atenção equivocada quando estamos ociosos e vazios. O chão parece tremer, as pessoas ao nosso redor parecem todas inimigas, ficamos aterrorizados com o futuro e o passado ruim pesa e nos puxa para baixo. Mas o problema não está no desconhecido do universo, esse sempre existirá, o problema está em nós. 
      Ninguém pense que seus bens, seu emprego, sua família, seus amigos, mesmo sua igreja, o ajudarão quando sem forças parar de remar, principalmente se antes remava sem fé em Deus, mas só em si mesmo. Mas os momentos de parada no barco são encruzilhadas em nossas vidas, neles contemplamos a nós mesmos, os outros, o mundo, nossos objetivos de vida, neles percebemos que somos só seres solitários em pequenos barcos num imenso mar. Só temos uma solução, aprumarmos nossa fé e pormo-nos a remar, com calma, com humildade, não porque sabemos mais sobre o mar, mas porque temos consciência da pequenez e fragilidade de nossos barcos, nossas existências neste mundo. Temos um objetivo, sigamos em frente. 

15/12/23

“No religion too…”

      “A vaca e a ursa pastarão juntas, seus filhos se deitarão juntos, e o leão comerá palha como o boi. E brincará a criança de peito sobre a toca da áspide, e a desmamada colocará a sua mão na cova do basilisco. Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar.Isaías 11.7-9

      Imagine um mundo sem religião? John Lennon imaginou, mas nós cristãos muitas vezes temos ideia errada sobre os que se colocam, não só contra religiões de modo geral, mas contra o cristianismo. O que te vem à mente quando ouve “nothing to kill or die for and no religion too, imagine all the people living life in peace” (“nenhum motivo para matar ou morrer e também nenhuma religião, imagine todas as pessoas vivendo a vida em paz”)? Parte da letra do hit pop “Imagine” de John Lennon dos anos 70? Interessante como a negativa de religião vem depois de afirmar “nada pelo qual se matar ou morrer”. O poeta estava errado? Ou o cristianismo, para não citar outras religiões, nunca guerreou e matou em nome da sua fé? 
      De fato uma religião assim seria muito bom que nunca tivesse existido, mas existiu, existe, ainda existirá e por muito tempo. Não demonizemos o ex-beatle, há verdade em suas palavras, e acredite, ele não era um cara avesso à espiritualidade legítima. Isso me faz pensar como muitos cristãos, e confesso que fui um desses por muito tempo ainda que com boa sinceridade, taxam queles que vão contra sua religião com o termo genérico “satanista”. Hoje penso que um mundo sem religião seria perfeito, livre como foi Jesus homem. Mas entenda certo o que digo, não me referi a Deus nem ao evangelho, mas a cristianismos de homens, do mundo, assim como a outras religiões desviadas dos ensinos originais de seus fundadores. 
      Mas na prática o ideal seria, não nenhuma religião, mas tantas quantas são os seres humanos, ainda que com entendimentos em comum entre eles. O que não se pode são alguns homens com algum poder, geralmente político ou/e econômico, ditarem o que pensam como obrigação para outros pensarem, punindo com alguma forma de excomunhão ou expulsão os que não obedecem isso. Todos temos direito de compartilhar nossas crenças, mas sem violência e sem achar que os outros têm que crer da mesma forma. Minha fé em Jesus é inegociável, mas depois disso existem muitas variáveis, de acordo com níveis morais, intelectuais e espirituais do ser humano, Deus respeita isso, assim todos devemos respeitar também. 

14/12/23

Alimente-se da vontade de Deus

      “Deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu; sim, a tua lei está dentro do meu coração. Preguei a justiça na grande congregação; eis que não retive os meus lábios, Senhor, tu o sabes.Salmos 40.8-9

      Às vezes o que precisamos é só respirar fundo e nos alimentarmos silenciosamente da vontade de Deus. Se entendermos como funcionam as coisas no plano espiritual, na conexão espiritual que podemos estabelecer com o Altíssimo pelo seu Espírito, saberemos que palavras, explicações, justificativas, têm um valor menor, simplesmente porque são limitadas para expressarem a palavra viva de Deus. Essa palavra precisa ser sentida, mais até que ouvida, pois ela é mais que som, é a própria presença de Deus nos cercando e nos penetrando. Quem experimenta isso entende a vontade de Deus para sua vida e sente uma satisfação única, e isso silenciosamente, só acalmando-se e respirando fundo. 
      Não, não são os pulmões que aspiram vida, pelo menos não só eles, é o espírito, sincronizado com o corpo. Isso significa estar totalmente relaxado, com as ansiedades largadas, com a mente esvaziada de todos os pensamentos inúteis e negativos, numa ligação emocional íntima com Deus. Isso cura, não por ser uma técnica de meditação, mas por conectar o ser com seu criador. Muitas vezes essa experiência não é só uma opção, mas o único jeito de acharmos paz, porque estamos de tal modo cansados, confusos, deprimidos, que não teremos mais palavras a dizer, lágrimas para chorar, só nos restará focar em Deus e descansar nele. Graças a Deus que basta-lhe nosso silêncio sincero para nos falar e nos vivificar. 
      Alimentar-se da vontade de Deus é entender que o propósito do Senhor para nós é o melhor em amor para nossas vidas, é aceitar esse propósito com todo coração, é se satisfazer com isso como ar puro, algo que não podemos viver sem. Você tem essa experiência, ou alimenta-se das ilusões do mundo, daquilo que homens dizem que é o melhor para você? Por mais satisfação que achemos na matéria, tudo que ela dá aqui fica, só levaremos para a eternidade a vontade de Deus feita e perseverada em nossas existências encarnadas. Respire Deus, queira-o mais que qualquer coisa ou pessoa, ele é a vida eterna que teu espírito precisa, e esse não pode ser alimentado por nada que não seja a vontade de Deus. 

13/12/23

Desistindo sem ter começado?

      “O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida. Mas há alguns de vós que não crêem. Porque bem sabia Jesus, desde o princípio, quem eram os que não criam, e quem era o que o havia de entregar. E dizia: Por isso eu vos disse que ninguém pode vir a mim, se por meu Pai não lhe for concedido. Desde então muitos dos seus discípulos tornaram para trás, e já não andavam com ele.” João 6.63-66

      Alguns, apesar de sempre terem sido céticos, depois de verem uma fatalidade ocorrer com gente que foi fiel a uma religião por muito tempo, dizem, “não acredito em mais nada”. Pergunto a esses, um dia vocês creram em algo? Ou só ficaram em cima do mundo, desconfiando e no fundo, ainda que secretamente, torcendo para que o crédulo se desse mal? Se o crédulo decepcionou-se, ele ao menos tentou crer, mas quem nunca creu não tem o direito de se decepcionar. Contudo, quem se decepciona, fora ou dentro de religião, se decepciona com homens, ainda que digam que foi com Deus. Deus nunca decepciona alguém, antes, ainda que sendo o jeito pior, permite a decepção com a mentira para que a verdade seja buscada.
      O caminho para a verdade maior da existência espiritual e eterna não é fácil, nem curto, passa primeiro pelo desafio da fé, que vê o invisível, que ouve o intocável, mas depois deve superar a zona de conforto das religiões, que oferecem apoio do coletivo e palavras boas de se ouvirem. Muitos nem começam a andar por esse caminho porque não acreditam nas religiões, nisso nada há de errado, mas primeiro deve-se crer, para depois conhecer, então avaliar. Para conhecer, igrejas são úteis, nos ensinam doutrinas, e as cristãs, nos ensinam sobre o único e maravilhoso cânone bíblico. Só depois o Espírito Santo nos conduz a mais, saindo da zona de conforto dos berçários religiosos e entrando sozinhos na universidade da espiritualidade.
      Deus conhece nosso coração, enganamos os homens, a ele não. Se muitos que tiveram a oportunidade ímpar de serem alunos do professor Jesus desistiram, até o traíram, quanto mais nós, tendo hoje religiões tão imperfeitas como lugares para aprendermos o evangelho. O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita, as palavras que eu vos disse são espírito e vida”, quanta verdade há nessas palavras. Só conhecemos a Deus de fato quando o buscamos de forma pessoal e pelo seu Espírito, o resto pode até ajudar nos primeiros passos, mas não nos conduz à maturidade, onde achamos forças para sermos santos e amorosos. Não desista sem nem ter começado, Deus é real, busque-o com todo o coração e o achará. 

12/12/23

Quem está ficando para trás?

      “Deixando, pois, toda a malícia, e todo o engano, e fingimentos, e invejas, e todas as murmurações, desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo.I Pedro 2.1-2

      Quem você deixou para trás dentro de você? Está deixando um ser humano culpado, medroso, inseguro, para se tornar alguém diferente, um ser humano em paz, crédulo e confiante? Ou o mesmo culpado, medroso e inseguro, mas para ser alguém cético, arrogante e malicioso? Só tem importância quem se deixou quando o que se tornou é melhor que o que se deixou. Ninguém está livre de ter sido alguém ruim, imaturo, viciado, mas todos podemos adquirir humildade, amor e santidade. A verdade é que muitos não mudam, ainda que vejam que o que são os está levando a um fim infeliz, assim pegam o ruim e o maquiam, o vestem com lindas fantasias, para disfarçarem o que ainda seguem sendo. 
      Chegar às conclusões certas nesta vida e ainda ter tempo para praticá-las, aos sessenta e poucos anos tenho chegado à conclusão que não é regra, e que seja mesmo experiência de privilegiados, e privilegiados por escolhas próprias, não por alguma arbitrariedade divina. Uma grande maioria verá os frutos ruins de obras erradas que teimou em fazer, o universo a ninguém nega a verdade, mas será orgulhosa demais para aceitar e mudar. Contudo, ver a vida como tempo passageiro de provação onde no final, de um jeito ou de outro, se é aprovado, é simplista demais, a vida não é filme. Que a prova existe, não há dúvida, e é diferente para cada um, ninguém arrogue se achar referência do certo, nem sendo cristão. 
      Para muitos a ficha só cairá nos momentos finais quando o corpo já estiver praticamente desligado, e para muitos outros isso só ocorrerá na eternidade, naquilo que o cristianismo chama de juízo, que nada mais é que o confronto do espírito eterno com a luz mais alta de Deus. Se houver mais afinidades com essa luz que rebeldia, o ser subirá, senão, cairá em terrível tormento. Sem morte não há vida, mas que não seja só depois da morte do corpo, que possamos ainda aqui ver morrer um ser humano culpado, medroso, inseguro, cético, arrogante e malicioso, para seguirmos humildes, amorosos e em paz rumo à luz do Altíssimo. Deixemos para trás o que não está dando certo e nos tornemos melhores. 

11/12/23

Até do sábado é Senhor

      “Naquele tempo passou Jesus pelas searas, em um sábado; e os seus discípulos, tendo fome, começaram a colher espigas, e a comer. E os fariseus, vendo isto, disseram-lhe: Eis que os teus discípulos fazem o que não é lícito fazer num sábado.” “Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício, não condenaríeis os inocentes. Porque o Filho do homem até do sábado é Senhor.Mateus 12.1-2,7-8

      Podemos interpretar Mateus 12.8 de duas maneiras. A primeira é que Jesus trabalha o tempo todo, não precisa respeitar sábados ou dias de descanso separados por religiões, nisso se entende que o Cristo é superior à velha aliança de Moisés. Esse entendimento precisava ficar claro para os judeus, por isso evangelhos e cartas paulinas batem tanto nessa tecla, o evangelho foi primeiramente pregado aos judeus, só depois foi anunciado aos gentios. Esses, contudo, não davam ao sábado a relevância que davam os judeus, assim o ensino do texto bíblico inicial não é tão importante para eles. Mas se o ensino ao pé da letra não é importante para nós hoje, o princípio é, e está contido em misericórdia quero e não sacrifícios.
      Entender que o que leva a Deus é atitude de amor e misericórdia, que atende ao necessitado em qualquer momento, indiferente se é sábado ou não, serve tanto para judeus como para gentios. Mas temos uma segunda maneira de interpretar Mateus 12.8. Deus está no trabalho, mas também está no descanso, não é só fazendo que podemos obedecer a Deus e agradá-lo, obedecemos também quando ele pede que esperemos, descansemos e nada façamos. A honra não está em fazer, mas em obedecer, nesse entendimento a frase misericórdia quero e não sacrifícios também se encaixa perfeitamente, não adianta nos esforçarmos para sermos bons religiosos e bons cidadãos se não praticamos amor incondicional.
      Para os fariseus, não fazer muitas coisas no sábado não era descanso, era obrigação, que devia estar acima até da urgência de alimentar famintos. Foi assim que iniciou-se o texto acima, os discípulos estavam com fome, colheram espigas de milho num sábado e foram recriminados pelos fariseus. O que adiantava esses religiosos seguirem cegamente suas velhas leis se não tinham compaixão? Por isso Jesus, a expressão mais completa do amor de Deus, disse, o Filho do homem até do sábado é Senhor. O princípio contido nisso é: importa abençoar o necessitado, curá-lo, alimentá-lo, nisso está o cerne da lei de Moisés, não em obedecer regras exteriores. O trabalho maior que Deus nos pede é amar, sete dias por semana. 

10/12/23

Cruz se leva só

      “E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim.Mateus 10.38

      Sempre tomo muito cuidado em usar os exemplos mais extremos do Cristo como referências para as nossas vidas, para nós, simples seres humanos, muito menores que Jesus em tantos aspectos. O princípio de um ensino, contudo, sempre nos ensina, mesmo que não tomando o ensino ao pé da letra. O versículo anterior ao do início diz, “quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim”, isso não é uma ordem para desrespeitarmos os pais, mas é um conselho que nos revela que não poderemos agradar a Deus se quisermos agradar os homens, ainda que esses sejam familiares próximos. 
      Se nem nossos pais podem nos ajudar nos momentos mais sérios, ninguém mais pode, mas “quando meu pai e minha mãe me desampararem, o Senhor me recolherá” (Salmos 27.10), ensina-nos o salmista. A verdade, que muitas vezes não queremos aceitar, é que nossas maiores provas, aquelas que mudarão nosso homem interior de forma extrema, passaremos sozinhos. Ainda que com esposa, esposo, filhos amados e bons amigos por perto, ninguém poderá nos consolar quando Deus tirar de nós algo importante, mas que impedia que crescêssemos espiritualmente, confiássemos mais nele e nos preparássemos adequadamente para a melhor eternidade com o Senhor, o céu.
      Cruz se leva só, e se não for assim não é cruz. Se nem Cristo, com todos os milagres que fez nas vidas de tantos, com toda a maravilhosa palavra que manifestou aos discípulos e em especial aos doze apóstolos, se nem ele conseguiu ter amigos que ficassem com ele em seu pior momento, o que se diria de nós, tão infiéis, tão egoístas, tão pouco generosos e misericordiosos? Não nos desesperemos, se tem que ser assim Deus nos ajuda, está conosco e nos dá forças, mas saibamos uma coisa, há uma recompensa no plano espiritual pelas provas que superamos sozinhos, uma coroa de glória que nos põe numa posição elevada na luz do Altíssimo. Levemos nossa cruz com fé, Deus é fiel.