Olhe para o alto

      “O Senhor será também um alto refúgio para o oprimido; um alto refúgio em tempos de angústia.” Salmos 9.9

      Não conseguimos viver sem referências, sem algo no que crer, sem algo para gostar e procurar, sem uma coisa que dê sentido aos nossos dias, ao nosso trabalho, às dores e injustiças que temos que suportar. Contudo, olhar as coisas visíveis materialmente só nos faz ver a morte, por mais bonitas e encantadoras que sejam, não somos só corpos e mentes, somos espíritos e esses precisam do invisível, do desconhecido, de Deus. Tenho pena dos ateus e céticos, dos que buscam no conhecimento científico explicação e auxílio para tudo, sim, a ciência tem grande relevância principalmente em nossa existência material, mas nos momentos mais importantes, onde somos confrontados com o propósito maior da vida, a ciência não pode ajudar. 

      Quando o olhar cansado da alma desistir, depois de procurar por todos os lados por ajuda, só o alto dará o que necessita o espírito, o alto além da Terra, da Lua, do Sol e das estrelas, uma altura espiritual. O que nossos olhos físicos veem pode ajudar a administrar nosso corpos e o planeta, mesmo gerenciar a sociedade com justiça, igualdade e tolerância, mas a paz que o espírito necessita só há lá em cima, no coração do criador e Senhor do universo. Mas não tente vivenciar isso com um coração frio e arrogante, o que abre os olhos espirituais é a humildade, nela reconhecemos nossa impureza moral, nos limpamos, conseguimos amar a Deus e ser amados por ele, alto refúgio para escapar da angústia, resposta às perguntas que de fato importam. 

Promoção, só na eternidade

      “Porque em esperança fomos salvos. Ora a esperança que se vê não é esperança; porque o que alguém vê como o esperará? Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o esperamos.” Romanos 8.24-25

      Podemos ter uma ideia equivocada da vida, ainda que a vejamos como jornada para recebermos, praticarmos e mantermos valores morais, podemos nos satisfazer com menos que aquilo que temos que ser. Cometemos esse erro porque é mais fácil, todos somos tentados pela estagnação quando chegamos num determinado nível, não só de prosperidade financeira e aprovação social, com um bom emprego e uma família digna, mas também de vitórias contra vícios e culpas. Assim podemos pensar, “não odeio ninguém”, já entendemos que o ódio a nada leva, “mas também não amo alguns”, quando estacionamos nos damos certos direitos, afinal, pensamos, “me esforcei muito para chegar onde cheguei, eu mereço”.

      Precisamos entender que muitas conquistas não são o final, mas a base para fazermos as conquistas melhores, a recompensa por essas conquistas mais importantes só receberemos no além. Só pode ver a vida assim quem exerce fé no Deus verdadeiro, experiência que vai além de sermos bons cidadãos, bons religiosos e mesmo bons cristãos. “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens” (I Coríntios 15.19). Cuidado, não se acomode a esse mundo, olhe para a eternidade, pense na promoção espiritual que você receberá só lá. Deus se baseará, para dá-la, em nossa persistente luta contra limites, que muitas vezes estão escondidos de pessoas que nos julgam prontos quando não estamos. 

Quem vive respeita a vida

      “Rogamo-vos, também, irmãos, que admoesteis os desordeiros, consoleis os de pouco ânimo, sustenteis os fracos, e sejais pacientes para com todos.” I Tessalonicenses 12.14

      “Me arrependo do que não fiz, não do que fiz”. É claro que a prática desse ditado do mundo pode não mostrar total eficiência para quem quer conhecer a Deus, mas com certeza é adequado para quem quer se conhecer. O sábio é termos coragem para fazer, mesmo aquilo que para os outros seja inadequado, se faz sentido para nós, podemos tentar. Mas é sábio também melhorarmos com o conhecimento de experiências práticas, dos outros e de nós mesmos, assim se quem nos ama nos der um conselho, baseado em sua prática de vida, seremos inteligentes se ouvirmos. Mas se algo que fizemos já mostrou que nos levou a um fim ruim, temos ainda mais que ter cuidado para não fazer de novo a mesma coisa errada. 

      O ponto desta reflexão é coragem para viver, isso é importante pois só quem vive aprende a respeitar a vida dos outros, e como tem gente que não tem coragem para viver, mas tem coragem para dar pitaco na vida dos outros. Quando é assim o conselho não será para nos ver acertar, mas querendo que erremos, gente assim diz depois, “não falei que não ia dar certo?”. O covarde não quer ver o sucesso do corajoso. Muitas vezes, e quem é pai sabe disso, quem está errado não quer conselhos, a nós cabe esperar orando em muito amor, a pessoa tentar, errar e chegar às conclusões sozinha. Deus faz isso conosco o tempo todo, sabe o melhor, mas na nossa teimosia tem que nos deixar errar para aprendermos e mudarmos. 

Ao que ama, a coroa

      “Bem-aventurado o homem que suporta a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam.” Tiago 1.12

      A tristeza é grande? Suportemos. A tentação é forte? Vençamos. A injustiça é cruel? Superemos. O tempo parece ser longo demais, a carga muito pesada, nossas forças sentimos minguarem? Creiamos. Deus é mais, a fé eleva-nos acima dos problemas, a confiança em Deus é nossa paz, Deus se agradar conosco é toda alegria que precisamos. O texto bíblico inicial diz que quando se é aprovado se ganha a coroa, quanto tempo leva uma provação? Muitas duram alguns dias, e logo somos recompensados por termos enfrentado-as do jeito certo, algumas levam alguns anos, para então recebermos a resposta de vitória, contudo, outras podem estenderem-se por toda a nossa vida. A coroa mais importante só teremos na eternidade.

      “O mundo passa e a sua concupiscência, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre” (I João 2.17), assim “não nos cansemos de fazer bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido” (Gálatas 6.9). Esses versículos precisam ser lembrados, nos ensinam que viver é lutar para ser aprovado, e isso até o fim, mas o final da passagem do início revela o motivo que deve nos fazer perseverar para agradarmos a Deus. A coroa da vida, o Senhor tem prometido aos que o amam, se não lutarmos por amor não teremos forças do alto para vencer, o que vence o mal não é a vontade de ser bom, mas amor a Deus, dessa forma não lutamos só por nós, mas para fazermos parte de algo maior.

Ao dever, sem cobrança, há honra

      “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos” Mateus 5.6

      Muitas vezes não fazemos ideia do quanto somos injustos com certas pessoas, mas com certeza fazemos ideia do quanto alguns são injustos conosco. Se não queremos para nós, não devemos dar aos outros. Sabe aquela pessoa, que julgamos estar fazendo pouco, e por isso poder estar criando uma situação onde sobra para nós fazermos sua parte? Que por isso nos sentimos injustiçados por estarmos fazendo o que o outro deveria fazer? Bem, Deus sabe se tal pessoa não faz tudo o que pode, e Deus pode estar dando a nós, nessa situação, uma oportunidade para servirmos alguém limitado. A vida é assim, tem dois lados, o universo é equilibrado, se tira de um, dá ao outro, cabe a cada um descobrir seu lugar na balança. 

      Quem pode fazer, não julgue quem não pode, nem se ache melhor por isso, quem não pode, não se sinta menor, mas faça tudo que puder e fique em paz. Na eternidade a luz do Altíssimo será emanada sem filtros sobre cada ser e a essência de cada ser será manifestada. Os que fizeram o que podiam em Deus, ainda que julgados por outros como fazendo menos, se verão agradáveis a Deus e subirão, leves às alturas celestiais. Mas mesmo que tenhamos feito muito, até no lugar de outros, se não tivermos tido humildade de sermos gratos a Deus por isso, não receberemos honra, mas cobrança, a mesma que plantamos dentro de nós, quando nos sentimos injustiçados equivocadamente, essa pesa e prende às regiões infernais.

Cuide-se e Deus cuidará de você

      “Quem é injusto, faça injustiça ainda; e quem está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, seja santificado ainda. E, eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra.” Apocalipse 22.11-12

      “Sou feliz deixando a vida me levar”, seguindo o verso de um samba, é assim que muitos vivem, e à medida que vivem agradecem a Deus pelas experiências, sim, não são ateus muitos que caminham pelo mundo. Mas até que ponto pessoas que vivem assim experimentam o melhor de Deus para suas vidas? Frequentemente uso o termo “melhor de Deus”, porque tudo é de Deus e Deus está em todos os lugares, até nos “infernos”, lugares exteriores onde se reúnem, por afinidade e semelhança de intenção, aqueles que carregam dentro de si os verdadeiros infernos, os interiores. A grande maioria das pessoas assume fé em Deus e até frequenta atividades religiosas, mas isso não significa que prova o melhor de Deus. 

      Existir é trabalhar, trabalhar é superar desconfortos para se obter algo, se não há dor não é trabalho, e sem trabalho não se tem direito a algo bom. Muitos trabalham no plano físico, estudam, se esforçam física e intelectualmente, saem da cama pela manhã, enfrentam limites do corpo e injustiças do mundo para terem direito a uma remuneração financeira, contudo, muitos acham que é só isso, ainda que sejam religiosos. Progresso espiritual e aquisição de virtudes morais também precisam de trabalho, de que se pague um preço, que se supere a dor de dizer não aos prazeres mais fáceis do corpo. Quando nos damos a esse trabalho, Deus é autorizado a fazer sua melhor parte por nós naquilo que não podemos fazer.

Com quem nos sentimos bem?

      “Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também nos nossos corpos” II Coríntios 4.7-10

       “Me sinto bem com pessoas do bem!”. Será que de fato podemos fazer essa afirmação? Não estou dizendo que temos que desprezar alguns, o evangelho não ensina isso, sua orientação é para amarmos a todos, especialmente os que se põem como nossos opositores. Mas os que são da luz devem sentir uma comunhão especial com os que são da luz, de maneira alguma ficarem à vontade com os que mantêm trevas dentro de si. Se há malícia, difamação, julgamento mau, deve causar algum desconforto naqueles que amam a Deus e andam perto dele, que faz com que esses estejam mais cuidadosos, vigilantes, não com a mesma liberdade para se expressar, que teriam na presença dos sinceros do bem e da luz.

      Isso não é fácil, todos nós queremos aprovação das pessoas, e para recebermos isso podemos nos “vender”, aceitarmos coisas que não concordamos e que não fazem que nos sintamos bem, só para termos amigos por perto. Por outro lado, nos posicionarmos moralmente exige conexão íntima com Deus, que nem sempre estamos exercendo, e o mal pode nos surpreender. Podemos passar muito tempo vigiando, mas num descuido, sermos pegos por um comentário malicioso que acha em nós aprovação, não a coragem para nos colocarmos como amigos de Deus. Só persistência fará que sejamos por fora o que somos por dentro, sem hipocrisia ou falso moralismo, com coerência e satisfeitos por agradarmos a Deus.