Como ser espiritual sem o Ser espiritual?

      “O minha alma, espera somente em Deus, porque dele vem a minha esperança. Só ele é a minha rocha e a minha salvação; é a minha defesa; não serei abalado. Em Deus está a minha salvação e a minha glória; a rocha da minha fortaleza, e o meu refúgio estão em Deus. Confiai nele, ó povo, em todos os tempos; derramai perante ele o vosso coração. Deus é o nosso refúgio.” Salmos 62.5-8

      É triste ver pessoas posicionando-se como ateias, crendo só na ciência, no que ela pode solucionar e provar, e em si mesmas, na hora que mais precisarem isso não poderá ajudá-las. Mesmo havendo boa intenção para ser bom, força de vontade para praticar caridade, benignidade e compaixão verdadeiras, isentos de segundas intenções e vaidades, só existe espírito em Deus. Como ser espiritual sem o Ser espiritual? O Ser espiritual é Deus e dele espiritualidade emana para todos os outros seres, que dele vieram e para ele anseiam voltar. Não são religiosos que cobram de ateus, não é a fé que esses negam, mas a si mesmos, sua essência mais profunda, verdadeira e eterna, seus espíritos cobram-lhes Deus. 

      É com muito respeito que digo aos ateus, vocês não precisam aceitar as religiões, são todas construções humanas e deste mundo, e como tais, imperfeitas, mesmo malignas, mas não fechem ouvidos e olhos para Deus, ele ama e entende vocês. Usem a lucidez e a crítica que vocês dizem ter, não para se afastarem de Deus, mas para aprenderem dele mesmo em religiões imperfeitas e com pessoas imperfeitas, isso é humildade. Estejam à vontade para usarem os filtros que acharem melhor, na verdade muitos que creem cegamente em religiões precisam de seus filtros, mas que isso lhes proporcione uma experiência real e mais pura com Deus. Quando mais precisarem, ele ajudará vocês, não será a ciência nem a religião. 

Deus é sempre o mesmo

      “Mas eu sou pobre e necessitado; contudo o Senhor cuida de mim. Tu és o meu auxílio e o meu libertador; não te detenhas, ó meu Deus.” Salmos 40.17

      Nossa vida muda, o tempo passa, novos desafios e novos problemas surgem, mas Deus é sempre o mesmo, nele podemos sempre confiar. Tememos o desconhecido? Que bom, sinal que somos humildes, conhecemos nossas limitações, que mesmo todo o poder deste mundo nunca será suficiente para vencermos tudo e sempre. Isso é plano de Deus, separar-nos num pequenino pedaço de tempo para que existamos presos à matéria, para aprendermos a seguir para ele. Enquanto isso administramos o planeta com ciência e com justiça? Sim, temos que conservar o lugar onde descendentes e outros  também serão postos por Deus para evoluir, mas o propósito maior é sempre seguir em harmonia com as virtudes do Altíssimo. 

      Quando me dei conta que estava envelhecendo, que dificuldades físicas seriam implacáveis, e que nada que eu fizesse poderia mudar isso, eu temi, muito. Sendo um brasileiro como tantos, com poucas posses e poucos recursos para uma aposentadoria totalmente satisfatória, pensei em ficar doente e não poder pagar médicos, remédios e hospital, pensei em ser problema para quem mais amo. Mas Deus me disse, “tudo pode mudar, menos eu, o mesmo Deus que cuidou de você até aqui cuidará até o fim, de você, de tua esposa e de tuas filhas”. Siga crendo e consagrando-se, com humildade e amor, ainda que teu corpo possa menos, teu espírito pode ser útil, orando e testemunhando, isso basta para Deus cuidar de você.

Se puder, dispa-se de excessos

      “Na vereda da justiça está a vida, e no caminho da sua carreira não há morte.” Provérbios 12.28

      Muitos ouvem a voz de Deus, a obedecem e pelos seus esforços chegam onde Deus quer que eles cheguem, mas chegam cansados demais. Usam “roupas pesadas”, assim se desgastam mais tendo que suportar e levar as “roupas”, que fazendo as coisas que Deus de fato pede deles à medida que caminham. Essas “pesadas roupas” são as tradições, doutrinas e costumes exteriores das religiões, nada disso é prioritário, bastaria fé, santidade, amor e humildade. Mas quem já entendeu que pode usar “vestimentas leves”, não desconsidere quem ainda está preso às “vestes pesadas”, Deus não os preza menos por isso, aliás pode até honra-los mais. Deus não vê como vê o homem, ainda que conduza todos ao seu melhor. 

      Caminhe conforme tua fé, não julgue o outro, siga em tua vocação até o fim, se a vida já mostrou que essa te conduz em vitória que permanece é porque segue vocação divina. Todos precisam de identidade, “roupas” conferem identidade, dão sentido de pertencimento e aprovação social. Para muitos “roupas pesadas” são úteis, ainda não aprenderam a conectarem-se a Deus sem preços e ameaças, mas melhor chegar a Deus por excessos que se afastar por faltas. Esforços a mais são relevados, mas a menos fazem falta, a mais desgastam-nos mas entregam utilidade, a menos deixam-nos ociosos. Por um motivo ou outro ninguém seja arrogante, mas se puder, dispa-se de excessos, terá mais tempo e energia para o principal.

Não tema a verdade

      “E Jesus, respondendo, disse-lhes: Não necessitam de médico os que estão sãos, mas, sim, os que estão enfermos; eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores, ao arrependimento.” Lucas 5.31-32

      Proteger-se demais é não se mostrar como é, quando não há verdade não há assunção do que precisa ser consertado, sem conserto não há melhoria. Muitos até fazem muito, mas mais para esconderem seus problemas, seus defeitos, que para arrumarem suas vidas, assim aperfeiçoam a aparência que os homens veem, valorizam e honram, e não evoluem o espírito. Muitos dizem, “não fico falando dos meus erros, dos meus defeitos, acredito em mim e sigo construindo minha vitória”. Pode até parecer uma disposição moderna, positiva, forte, mas é vida baseada em mentira, e pior, perda de tempo e de oportunidade para cumprir o propósito maior que temos neste mundo, tratamento e evolução. Não é fácil, mas não podemos temer verdades. 

      Este mundo não é pódio, é pista, não é salão de festa, é quarto de hospital, não é palco, é sala de aula. Corre, é tratado, aprende, quem assume que não alcançou para ser premiado, mas que dispõe-se a correr até o fim, quem não está de posse de todas as suas capacidades para ser aplaudido, mas que permite ser tratado, quem não sabe tudo para ser mestre, mas que esmera-se em aprender, muito e de todos. Isso não significa que não temos momentos de honra, mas se os momentos de tratamento e prova devem ser encarados com humildade, mais ainda os de vã glória, glória maior só na eternidade. De que verdade temos fugido, encerrando a jornada e nos achando sãos e mestres antes do tempo e não por avaliação final de Deus? 

Dois desafios

      “Sigamos, pois, as coisas que servem para a paz e para a edificação de uns para com os outros.” Romanos 14.19

      Quatro homens foram desafiados a sairem de um ponto, percorrerem uma distância, e chegarem a um segundo pondo. O primeiro disse, vou pela água, pegarei um barco e remarei até o destino. O segundo disse, vou pelo ar, pegarei uma asa-delta e me lançarei de um monte, chegarei mais rápido. O terceiro disse, vou por terra, mas usarei uma bicicleta, assim poderei descansar nas descidas. O quarto disse, vou a pé, é mais cansativo, demorarei mais, mas não dependerei de nada, a não ser de minhas próprias forças. Qual dos quatro homens cumpriu melhor o desafio que lhe foi colocado? Os quatro cumpriram igualmente o desafio, não importa o meio que cada um usou, importa chegar ao final.

      Na verdade dois desafios, não um, foram feitos aos homens, chegarem ao final e vencerem a vaidade de achar que o meio escolhido é melhor que os meios que os outros escolheram, aceitar as diferenças e não se achar superior por fazer escolha distinta. Há mais vantagem ir pelo ar que a pé por terra? Há. De bicicleta cansa menos que de barco? Talvez. Mas achar-se melhor pela escolha feita descumpre parte do desafio. Deus desafia a cada um numa prova, a prova é diferente para cada um, não pelo objetivo, mas pelo meio que cada um escolhe para ser aprovado. Todos somos atraídos ao Altíssimo por seu amor, mas não devemos julgar mal quem alcança o objetivo de um jeito diferente do nosso. 

Lembraremos de tudo

      “E vi um grande trono branco, e o que estava assentado sobre ele, de cuja presença fugiu a terra e o céu; e não se achou lugar para eles. E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante de Deus, e abriram-se os livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida. E os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras.” Apocalipse 20.11-12

      Nosso conhecimento sobre como seremos após a morte acha mais base nos aparecimentos de Jesus após sua ressurreição. Não podemos generalizar suas capacidades espirituais para todos, visto que Cristo ressuscitou perfeito, nós, ainda que perdoados nele, não teremos a mesma perfeição, ou teremos? Nisso já temos uma primeira conjectura. A visão cristã tradicional separa a eternidade em dois grupos, céu e inferno, nessa ótica os que estarão no inferno não serão como foi Jesus logo após sua ressurreição. Contudo, podemos levantar outras conjecturas, uma delas e que nossa memória será perfeita no além, nos lembraremos de tudo, mesmo do que no presente nossa memória não se recorda ou teima em esquecer. 

      Livros que lemos, todo estudo que fizemos, toda informação que adquirimos, assim como todas as situações morais que sentimos e vivemos, amores, paixões, ódios, invejas, rancores, prazeres e dores, tudo será claro em nossas mentes liberadas espiritualmente. Hoje não é assim, graças a Deus por isso, muitas coisas é melhor esquecermos ou escondermos debaixo do tapete. Mas se as coisas ruins não forem devidamente resolvidas em Deus, com humildade e perseverante santidade, poderão ter valor relevante em nossa avaliação no além e definirão nosso céu e nosso inferno. Por isso é de suma importância autoconhecimento, autocrítica e principalmente iluminação de Deus, que nos purifica e nos aperfeiçoa. 

Amor que sofre

      “O que ama, tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” I Coríntios 13:7 

      Viver é amar, amar é sofrer, sofrer é deixar morrer o ego para viver o outro. O melhor e mais eficiente amor custa um preço, aos amigos é fácil amar, mas aqueles que se colocam como nossos opositores são os que mais precisam do nosso amor, esse amor dói. Como faço quando toco nesse tema, segue a ressalva, ninguém precisa estar em relacionamento íntimo e abusivo com gente violenta que não respeita o outro. Não me refiro aqui a “amor” que sofre por se relacionar intimamente com agressor, esse não é o amor que Deus pede de nós, mas é falta de amor próprio. Contudo, podemos ser chamados a amar um parente, um colega de serviço, mesmo um irmão de igreja, que nos desrespeita, isso pode pedir de nós amor que sofre. 

      Nós, seres humanos, gostamos de extremos, assim como podemos nos forçar a ficar perto de quem nos agride, podemos querer fugir de quem de fato precisa de nosso amor. Não temos que estar casados ou em namoro com gente cruel, mas podemos amar quem está perto de nós, numa relação com a qual temos que conviver, ainda que isso nos custe dor. Doce é sofrer por amor, Jesus deu o exemplo, que lucro temos em sofrer por nossos erros? Honra Deus dá a quem suporta a injustiça dos outros, quem ama mesmo o que o calunia, o trata com descrença e rancor, cobrando e jogando em seu rosto um passado ruim resolvido em Deus. Viver é amar, quem não ama, morre, amar é sofrer, no sofrimento útil, carne morre e o espírito vive.