As primeiras coisas são passadas

      “E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas.” Apocalipse 21.4 

      A história teológica bíblica da nação de Israel é dividida em fases, a fase dos patriarcas, da entrada e saída do Egito, dos juízes em Canaã, dos reis Saul, Davi e Salomão, da divisão de Israel, do cativeiro babilônico e outros, até a fase do novo testamento sob o domínio romano. O cristianismo também tem fases em sua história, a fase da igreja primitiva, da igreja católica, da reforma protestante e consequências disso no catolicismo, a atual dos crentes evangélicos e pentecostais. É tolice aliar verdade e legitimidade exclusiva a uma fase, o ser humano muda, instituições religiosas mudam, política e economia mudam, a ciência tem mudado muito e com ela a humanidade. Deus nada impõe, mas em seu amor usa mudanças e fases para atrair o ser humano a si.

      Nossa jornada individual é coleção de fases, infância, adolescência, juventude, maturidade, velhice, mas não é só o corpo que muda, muda também nossa alma, nossa ótica do mundo, nossas prioridades, nossos sonhos, nossas dores, nossas paixões. Bom é quando podemos conhecer a Deus em cada fase, crescer espiritualmente, melhorarmos moralmente, à medida que social e materialmente conquistamos vidas dignas. Na eternidade provaremos uma nova fase, alguns serão atormentados por ainda teimarem em ver a existência só pelos próprios olhos, desprezando a luz mais alta de Deus, outros terão o descanso merecido após terem aberto mão da arrogância e do egoísmo e perseverarem na humildade e no amor. 

A noite passou

      “E isto digo, conhecendo o tempo, que já é hora de despertarmos do sono; porque a nossa salvação está agora mais perto de nós do que quando aceitamos a fé. A noite é passada, e o dia é chegado. Rejeitemos, pois, as obras das trevas, e vistamo-nos das armas da luz. 

     Andemos honestamente, como de dia; não em glutonarias, nem em bebedeiras, nem em desonestidades, nem em dissoluções, nem em contendas e inveja. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo, e não tenhais cuidado da carne em suas concupiscências.”

  Romanos 13.11-14

      Santidade e fé são os meios para acharmos Deus, humildade e amor são os frutos de quem acha o Senhor. Sem desejarmos persistentemente limpeza moral e libertação de vícios, não sentiremos necessidade de Deus para vivermos isso, quem atrai à santidade é o Santíssimo. Sem fé não acessamos a palavra de vida do Espírito Santo que capacita-nos para santidade ser praticada. Só quem tem pela fé uma vida de santidade em Deus, entende e exerce humildade, que respeita as pessoas, teme a Deus, busca o temor do Senhor nele e para ele, não para si mesmo. Só colocados e focados no Altíssimo por Cristo Jesus podemos “amar com amor”, não em egoísmo e com segundas intenções, mas amor que serve e que não busca ser servido. 

      “A noite é passada, e o dia é chegado, rejeitemos, pois, as obras das trevas e vistamo-nos das armas da luz”. As obras da carne, por mais satisfatórias que possam parecer, só agradam ao ego no corpo e deixa o ser humano sozinho e desconectado de Deus. Só experimentamos nosso melhor eterno e espiritual em comunhão com Deus, nisso temos acesso às armas da luz, e quão poderosas são essas armas. Elas destroem o mal que existe dentro de nós, do mal que está fora ela nos protege, e se houver livre arbítrio dos outros seres, ela transforma o mal alheio em bem. As armas da luz não destroem os seres, Deus nunca destrói um ser, mas liberta-o, limpa-o, usa-o e o enche de paz, para que faça parte de algo maior no universo. 

Não olhe para trás

      “E a mulher de Ló olhou para trás e ficou convertida numa estátua de sal.” Gênesis 19.26

      “Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus.” Hebreus 12.2

      Talvez a maior tentação que enfrentamos neste mundo seja de olharmos para trás, e tanto coisas más quanto boas podem tirar nossos olhos do que há de melhor à frente. A história de Ló é conhecida, ele vivia numa cidade que desagradava a Deus e Deus resolveu destruir a cidade por causa disso, mas vendo em Ló alguma boa sinceridade permitiu que ele e sua família fugissem antes da destruição. Só havia uma condição, seguirem em frente e não olharem para trás, a esposa de Ló não obedeceu a orientação, olhou para trás e se transformou em estátua de sal. A lição mais importante dessa passagem é uma metáfora que se aplica a muitas experiências e escolhas que os seres humanos vivenciaram, vivenciam e vivenciarão.

      A primeira coisa é entender que nossa maior vocação é espiritual, seguirmos em direção ao Altíssimo, nisso nos libertamos da carne e nos tornamos espirituais, deixando a matéria e elevando-nos moralmente. O Espírito de Deus sempre nos atrai para cima e para frente, o mal, o erro, a culpa, o medo, que experimentamos devem ser deixados no passado, mas a última bênção também não pode nos prender ao hoje. Nem mágoa, nem saudosismo, mas vida eterna em Deus, ainda que tenhamos que sobreviver num mundo físico, preso a referências de tempo e morte. Olhar para frente é contemplar a morte do jeito certo, olhar para trás é tentar parar o tempo, impedir o espírito de evoluir e prendê-lo a um presente ilusório. 

De fé em fé, de glória em glória

      “Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá da fé.” Romanos 1.17

      “Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor.” II Coríntios 3.18

      Usufrua, cresça e fortaleça-se com a última bênção, mas não se acomode nela. Nossa vocação maior nos leva sempre a buscar a próxima bênção, deve ser assim para que nosso tempo neste mundo seja bem usado, para crescermos e nos purificarmos. A próxima bênção começa num sonho sincero do bem do ser humano, na fé pura e inteligente também do ser humano, que se deixar ser iluminado pela emanação do Altíssimo. Na luz sabemos quem somos, de onde viemos e para onde devemos ir, isso nos dá noção da escada espiritual em que nos achamos, na qual devemos procurar o próximo degrau até nosso último instante no plano material. Com o sonho entregue nas mãos de Deus cabe-nos trabalhar e esperar. 

      Não podemos cair no pecado de Davi, o rei que após ter vitórias legítimas se acomodou, ficou no palácio ao invés de liderar seu exército e acabou cometendo seus piores erros, adultério e assassinato. Nesse mundo tudo é tentação e prova para que vençamos a matéria que nos puxa para baixo e tenta nos impedir de nos elevarmos a Deus, inclusive bênçãos com data vencida. Nosso vaso é de barro, pequeno e frágil, inviável para receber e segurar capacitação espiritual por muito tempo, assim devemos enchê-lo todos os dias, essa é a maior aventura que o ser humano experimenta no mundo. Por isso, após ter crido e feito tua parte, alegre-se com a glória recebida, mas siga em frente, de fé em fé, de glória em glória. 

Não foi, não é, nunca será fácil

      “Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; e porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem.” Mateus 7.13-14

      Nossa luta contra nosso mal interior não foi, não é, nunca será fácil. Até o fim nosso desconforto com certas pessoas, nossos desejos descontrolados por certas coisas, nossa violência querendo deixar o plano mental e se realizar no plano físico, contra tudo isso teremos que lutar. Esses conflitos nos fazem sofrer, roubam nossa paz, mas também revelam nossa fragilidade como seres solitários e nos fazem buscar a algo maior e fora de nós, Deus. Estamos no mundo porque somos imperfeitos e como tais precisamos sofrer com fraquezas para aprendermos a ser humildes. Infelizmente, muitos desistem, cansam-se de sofrer, de mostrar aos outros suas fraquezas, e principalmente, não querem buscar em Deus capacitação e sentido.

      Para poderem sobreviver inventam desculpas, mentiras que dizem a si mesmos. Se alguém deixa-os desconfortáveis e são tentados a reagirem de forma violenta, dão a desculpa que a culpa é do outro e que sua reação de ódio é justa. Se o desejo leva-os a vícios, dizem que não são perfeitos, não precisam ser e têm direito a prazeres, ainda que secretos. Enfim, muitos preferem o caminho largo e fácil, porque querem vencer o mundo com as forças do mundo, não entendem que não fomos postos aqui para vencer os homens, mas para vencermos a nós mesmos. Nessa prova não seremos respeitados por todos, não ganharemos todas as guerras, não seremos ricos e famosos, mas seremos espirituais, santos, humildes e amorosos. 

Gratidão pela misericórdia

      “Bondoso e compassivo é o Senhor , tardio em irar-se e grande em misericórdia. O Senhor é bom para todos, e as suas misericórdias permeiam todas as suas obras.” Salmos 145.8-9

      Todos precisam da misericórdia de Deus e por ela são alcançados, mas os que têm consciência disso e por isso são gratos, lhes basta a justiça do universo, essa sempre dá aos gratos mais do bem que acham merecer. Já os que não se acham necessitados da misericórdia do Senhor, que dizem que já fazem a sua parte e essa é suficiente para que sejam supridos em tudo, um dia a justiça do universo lhes cobrará, e eles não terão como pagar, visto sua enorme dívida. A bênção não é fazer e ter, mas saber e crer para então fazer e ter, a bênção é ser em Deus e para ele, a bênção é espiritual, depois material. A bênção é vertical, não horizontal, é seguir para o alto eterno, não só conquistar o que está abaixo no plano material. 

      Se não fosse isso não haveria necessidade de crer em Deus, de cultivar valores para o plano espiritual, bastaria crer em si mesmo e se contentar com as honras que o mundo e os homens dão. O universo é justo, dá a cada um o que cada um merece, nem mais nem menos, mas depender disso não é só trabalhar para manter o corpo físico, também é anexar virtudes ao espírito. Sem Deus, não existe relevância de misericórdia, receber por misericórdia é receber sem merecer, assim sem misericórdia não há humildade, sem humildade não há virtudes, pois não há dependência de Deus. Depender de Deus não é ociosidade e ignorância, mas humildade, que sabe, que ainda faça tudo o que pode, nada é sem a misericórdia do Senhor. 

Ministério do amor

      “Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério.” II Timóteo 4.5

     

      Amor que espera, mesmo uma vida inteira, mas que não desiste de abençoar, de iluminar, isso é evangelho. Os que menos gostam de nós são os que mais precisam de nós e que exigirão de nós um amor mais puro e persistente, ainda que com a discrição que respeita a escolha de alguns para não gostar de nós. Muitos acham que não têm ministério, pois entendem ministério equivocadamente, para esses, pastores têm ministérios, médicos têm, mas eles não. Mas todos temos um ministério, e o mais importante de todos, amar as pessoas sem exigir algo em troca. Amar quem gosta de nós é fácil, mas amar quem nos fere sempre que pode é ministério, ainda que à distância segura, aguardando a eternidade onde tudo será entendido.