20/02/21

Raiz, tronco ou galhos? (1/9)

      De hoje até 28/02/21 estarei postando uma reflexão dividida em nove partes usando uma árvore como metáfora para o desenvolvimento histórico do cristianismo, sei que muitos preferem palavras rápidas, focadas na vida diária, mas eu não posso deixar de compartilhar as ênfases da chamada do espaço “Com o ar que respiro”. Assim, por favor, peço tua paciência para ler textos um pouco mais complicadinhos, tenho certeza que Deus tem algo a falar com você através deles. 
      Você não precisa concordar com tudo, mas procure ler tudo e entender, para então ter um posicionamento a respeito, se esta reflexão te fizer reavaliar tuas crenças cristãs, em alguma instância, já terá cumprido seu papel. A ideia é fazer pensar para fazer diferente, já que muitas coisas não funcionam, ainda que teimosamente as façamos, porque estão sendo feitas tradicionalmente do mesmo jeito há muito tempo. Pense para mudar, mas só mude se for para melhorar. 

      “E disse-me um dos anciãos: Não chores; eis aqui o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi, que venceu, para abrir o livro e desatar os seus sete selos. Apocalipse 5.5

      Uma religião, uma ótica de religação com o divino, entregue por um fundador, um ser singular, nunca nasce diluída, nasce pura, contudo, com o tempo, por ser “concentrada” demais, percebe-se que é difícil de ser vivenciada pela maioria, assim como difícil de ser controlada pelos primeiros que se desviam da pureza inicial, os líderes. Dessa forma, o princípio original divino é modificado, retirando-se dele elementos originais ou misturando a ele elementos humanos, de modo que a maioria possa digerir, assim como para que a liderança, já desviada, mantenha-se no poder. A mistura é uma tradição, não é a raiz, mas uma construção sobre ela, que inicia-se com um tronco, a parte mais aparentemente forte da árvore.
      Do cristianismo original, a raiz, nasceu o tronco, a igreja católica, o tronco representa a tradição mais forte, com mais influência no mundo material, tanto que é a parte da árvore que muitos pensam ser a própria árvore, desconsiderando as outras partes. Do tronco, o Catolicismo, nasceram os galhos, semelhantes ao tronco mas com características próprias, criadas por adição de novos elementos ou subtração de elementos originais, as igrejas ortodoxa, anglicana, anabatista, protestantes, pentecostais etc. O próprio cristianismo é galho de uma raiz mais velha, a religião israelita, e a religião de Moisés também foi galho, de uma religião ainda mais antiga, nascida quando o homem foi expulso do Éden. 
      Qual é a religião verdadeira? A raiz. Mas qual é a viável? Todas as outras, viáveis para que o homem creia com mais conforto, respeitando seus limites, e não se perdendo em verdades para as quais ele não está preparado. Deus respeita toda a árvore, usa toda a árvore, ainda que sua verdade maior e mais pura esteja na raiz e que o resto da árvore sejam só tradições humanas. O crescimento da árvore não é um processo artificial, é natural, pelo menos no mundo, no plano físico, da raiz nasce o tronco que gera os galhos e que produz as folhas e as flores, os indivíduos ligados à religião. Contudo, ainda assim, precisamos saber que a raiz é o fundamento sem o qual nenhuma tradição existe, no cristianismo o Espírito Santo é a raiz. 
      O perigo é nos acostumarmos com refrigerantes e acabarmos nos esquecendo da água, eles matam a sede, mas ganham sabores artificiais para serem mais comprados e consumidos, já a água é pura e gratuita na natureza. Pagamos nas tradições preços desnecessários, já que o Espírito Santo se recebe gratuitamente e ele é a raiz do cristianismo, o mestre supremo, o representante oficial de Jesus na Terra. Precisamos frequentar  as tradições, principalmente no início da caminhada, mas as encaremos como verdades originais diluídas em outras coisas, para que as pessoas possam vivencia-las. As pessoas são diferentes, assim adiciona-se à verdade original ingredientes diferentes, criando-se assim tradições diferentes. 
      Quando os autores do novo testamento escreveram seus textos, eles não tinham noção de que a raiz produziria tronco e galhos, não sabiam que à água seriam adicionados artifícios para que agradasse as pessoas, nem que ensinos importantes seriam deixados de lado para a conveniência de homens. Mas eles também não tinham noção que eles mesmos, a partir do momento que pensaram nas experiências originais que tiveram com Cristo e com testemunhas diretas da obra de Jesus, já estavam interpretando a verdade de acordo com suas subjetividades, assim a raiz já produzia o início do tronco. Nas epístolas paulinas, textos que formaram a base da doutrina cristã, já havia algo de Paulo adicionado à pura palavra de Cristo. 
      Só no plano espiritual, na eternidade, a verdade pura pode ser compartilhada sem que sofra mutação, no mundo tudo passa pela mente humana, e essa é imperfeita, para entender, processar e registrar o que recebe, principalmente conhecimento espiritual que difere de conhecimento intelectual. O conhecimento intelectual pode ser explicado cientificamente e por isso pode ser mantido, formulado, mas o espiritual requer fé, e essa é subjetiva, de acordo com cada pessoa. Mas a beleza do conhecimento espiritual é que ele pode ser apresentado pelos realmente espirituais como metáforas, como as simbologias da árvore e da água que usei aqui, assim as mesmas palavras podem revelar níveis diferentes de mistérios espirituais. 
      Esses níveis podem ser compreendidos tanto pelos novos na fé, quanto pelos mais aprofundados na comunhão com Deus, Jesus era mestre em entregar mistérios espirituais em metáforas, são as parábolas. Jesus homem conhecia o homem (e muito mais pode manifestar desse conhecimento hoje como Deus na eternidade), entendia tudo que a humanidade faria com o evangelho, como seria usado, tanto para salvação e conhecimento de Deus como para fins egoístas e materialistas para que homens controlassem e manipulassem outros homens através da religião. Jesus não era católico, muito menos batista, presbiteriano ou assembleiano, Jesus era o Cristo, um com o pai e plenamente revelado no Espírito Santo que enviou. 

Parte 1 de uma reflexão
dividida em 9 partes
José Osório de Souza, 30/10/20

19/02/21

A paz dos justos

      “O justo se alegrará quando vir a vingança; lavará os seus pés no sangue do ímpio. Então dirá o homem: Deveras há uma recompensa para o justo; deveras há um Deus que julga na terra.Salmos 58.10-11

      Me sinto desconfortável compartilhando textos como o inicial, que mencionam alegria na vingança, muitos usam textos assim para justificar absterem-se de amar, não creio que isso seja orientação do novo testamento, fazia parte da ideia de justiça do antigo testamento, mas Jesus ensinou outra coisa. Esse texto, contudo, é só mais um exemplo de que a Bíblia não deve ser entendida ao pé da letra, pelo menos não toda. É preciso ter sabedoria para entender contextos, e acima de tudo para deixar que o Espírito Santo ensine sobre a vontade de Deus a nós, homens do século XXI, mesmo em textos milenares. Eis outro desafio que Deus nos faz pela Bíblia, discernir a verdade mais alta mesmo em verdades mais humanas, limitadas por culturas e tempos diferentes. 

      A lição principal do texto inicial é sobre justiça, há retorno para o injusto? Sim, mas isso não é problema nosso, a nós cabe amar e entregar nas mãos de Deus, o que precisamos saber e ensinar é que há recompensa para o justo, e todos podem ser justificados em Cristo e tornarem-se justos. Quem dá a oportunidade para alguém se acertar é Deus, e se Deus faz isso quem somos nós para condenarmos ao mal alguém ou desejarmos vingança? Não sabemos se no último instante de vida o Espírito Santo falará ao coração do injusto e esse mudará de atitude, mesmo que seja só no coração que ele possa fazer isso. Deus não faz acepção de pessoas, não leva em conta diferenças, incluindo de religiões, não nos enganemos.
      A luz mais alta de Deus confronta todos os seres humanos em todos os lugares, todos, seja qual for a raça, a cultura ou a religião que cada um tenha. Nesse confronto as pessoas recebem discernimento sobre suas ações, sobre o que elas estão fazendo de certo e o que estão fazendo de errado. Com exceção das crianças e de outros seres humanos com alguma limitação psiquiátrica, ninguém é inocente, no sentido de fazer algo sem noção, sem consciência, e consequentemente, sem sentir depois culpa pelo que fez de errado ou paz pelo que fez de certo. Ocorre é que o ser humano é especialista em se adaptar, em “dormir” em zonas de conforto, e isso inclui se acostumar a certas dores e conseguir ser feliz mesmo com elas.
      Por isso os vícios, ajudam o ser humano a conviver de maneira errada com dores que não têm solução ou que ele não quer resolver. Sempre é preciso humildade e confiança em Deus, seja quando as dores são insolúveis e devem ser aceitas, ou quando têm solução e o ser humano necessita de algum esforço, não só para crer em Deus, mas também para trabalhar na solução. Esse trabalho é a parte do homem, se a parte de Deus acessamos por fé, a nossa executamos com coragem para expormos mesmo algumas fraquezas e vergonhas diante dos homens, já que para começar a resolver certos problemas pode ser preciso trazer certas verdades ao conhecimento público, exposição que podem ferir nosso orgulho próprio.  
      Para não passar essa vergonha alguns tentam negociar com o “universo”, trocar boas obras pela dor que vem da injustiça, por isso tantos religiosos fazendo sacrifícios, frequentando assiduamente templos, pagando promessas. Justiça só se paga com espiritualidade verdadeira diante de Deus, o justo dos justos, ainda que a maneira como as pessoas manifestem essa espiritualidade possa ser diferente, conforme as possibilidades morais e religiosas de cada um, e Deus respeita isso. Sim, Deus ouvirá o evangélico que ouve a voz do Espírito Santo e quer viver uma vida justa, tanto quanto um católico ou um espírita, ainda que alguns caminhos não ofereçam trajetórias tão retas e diretas ao Deus verdadeiro. 
      Não nos iludamos com aparências, muitos parecem ter construído uma reputação sólida e íntegra, mas só Deus sabe se isso é verdade, se não for, uma hora a mentira é revelada, e ainda bem que é assim, isso não acontece para envergonhar ninguém. Tenhamos cuidado quando vemos alguém sendo surpreendido por algum mal, um problema econômico, uma doença, um acidente, e nos pomos a sentir dó, achando que o “universo” foi injusto, que recompensou erradamente um justo. O homem é injusto, mas o universo é sempre justo, e Deus é amoroso com os humildes, que se arrependem a tempo de o agradarem e não só aos homens, o Espírito Santo sempre mostra o caminho justo a seguir para que todos possam achar a paz. 

18/02/21

Justiça

      “Justiça é um conceito abstrato que se refere a um estado ideal de interação social em que há um equilíbrio, que por si só, deve ser razoável e imparcial entre os interesses, riquezas e oportunidades entre as pessoas envolvidas em determinado grupo social. Trata-se de um conceito presente no estudo do direito, filosofia, ética, moral e religião. Suas concepções e aplicações práticas variam de acordo com o contexto social e sua perspectiva interpretativa, sendo comumente alvo de controvérsias entre pensadores e estudiosos. Em um sentido mais amplo, pode ser considerado como um termo abstrato que designa o respeito pelo direito de terceiros, a aplicação ou reposição do seu direito por ser maior em virtude moral ou material. A justiça pode ser reconhecida por mecanismos automáticos ou intuitivos nas relações sociais, ou por mediação através dos tribunais, através do Poder Judiciário.”  Fonte Wikipedia

      Justiça é um conceito que aparece com definições diferentes na Bíblia, no antigo testamento está relacionada a obras humanas para alcançar Deus, enquanto que no novo testamento refere-se à obra divina para alcançar os homens. No antigo testamento o termo justo se aplica aos homens que vivem no mundo com justiça, fazendo o bem para receber o bem, no novo testamento o termo mais adequado é justificado, que se aplica aos homens que creem no único justo, Cristo, para receberem justiça de Deus. Deus se revela aos poucos respeitando a maturidade do homem histórico, conduzindo o ser humano de uma vida mais materialista para a espiritualidade, da justiça por obras à justificação pela fé.

      “E disse o Senhor: Destruirei o homem que criei de sobre a face da terra, desde o homem até ao animal, até ao réptil, e até à ave dos céus; porque me arrependo de os haver feito. Noé, porém, achou graça aos olhos do Senhor. Estas são as gerações de Noé. Noé era homem justo e perfeito em suas gerações; Noé andava com Deus.Gênesis 6.7-9

      Deus “destruiu” o homem na Terra pelo dilúvio porque não achou justiça no mundo, mas egoísmo e vícios, Noé é uma exceção, citado como um justo, por isso teve tratamento divino diferenciado entre os outros seres humanos de seu tempo. Mas penso que em Noé não havia só alguém que se achava melhor por fazer as coisas certas, por praticar justiça na Terra, mas alguém que Deus amava por ver que Noé andava com ele, Noé era amigo íntimo de Deus, um ser humilde e que já entendia que o homem não é melhor por fazer coisas, mas por crer e confiar em Deus.

      “Quando houver contenda entre alguns, e vierem a juízo, para que os julguem, ao justo justificarão, e ao injusto condenarão.Deuteronômio 25.1

      A velha aliança, a religião entregue por Moisés aos israelitas, era um código simples para um ser humano simples, era “olho por olho, dente por dente”, quem vivia corretamente teria aprovação, que não vivia não teria. Tal simplicidade conduziu o homem a uma religiosidade de aparência e a valores mais materialistas, vemos isso nas atitudes da liderança religiosa que perseguiu e condenou Jesus séculos depois de Moisés fundar a religião e de Davi a estabelecê-la em seu apogeu. A lei, contudo, não é uma religião limitada, ou errada, vê-la assim é não entender sua função maior, que era salientar o pecado, mostrar que o homem por si só não poderia ser justo, por isso Jesus disse que não veio para anular a lei, mas para cumpri-la, dar à humanidade condições de praticar a justiça de Deus. 

      “E disse a Davi: Mais justo és do que eu; pois tu me recompensaste com bem, e eu te recompensei com mal. E tu mostraste hoje que procedeste bem para comigo, pois o Senhor me tinha posto em tuas mãos, e tu não me mataste.I Samuel 24.17-18

      Como sempre, Deus não se preocupa com certas coisas, e quase qualquer coisa pode ser usada para demonstrar a verdadeira intenção do homem, ainda que numa religião passageira, que era só metáfora da religião eterna, mesmo nela o de fato temente a Deus pode exercer justiça, assim como o ímpio, injustiça. Davi era um homem adiante de seu tempo em termos espirituais, dessa forma, mesmo debaixo da velha aliança baseada em obras externas, mostrou a pureza e a profundidade de seu coração, em seu relacionamento com Deus e em sua relação com os homens. Era justo Davi punir Saul, conforme o conceito de justiça da época, mas ainda assim Davi não o fez, não agiu com justiça, mas com mais que isso, com misericórdia e justamente com seu inimigo número um, um rei deposto por Deus que não queria admitir em Davi o novo rei erguido por Deus. Davi revela o cerne da justiça de Deus em Cristo, que mesmo para o injusto age com misericórdia, não julgando conforme as obras dos homens, mas conforme o amor de Deus. 

      “O Senhor julgará os povos; julga-me, Senhor, conforme a minha justiça, e conforme a integridade que há em mim. Tenha já fim a malícia dos ímpios; mas estabeleça-se o justo; pois tu, ó justo Deus, provas os corações e os rins.Salmos 7.8-9

      A justiça, contudo, é algo extremamente relevante, e não é como muitos pensam hoje em dia, o homem poder fazer o que bem quiser e seguir em paz como se não houvesse um juízo, as leis do universo, criadas por Deus, recompensam o justo e punem o injusto. Contudo, mais que simplesmente dar e tirar, Deus conhece o coração dos homens, discerne palavras de obras, mas principalmente, obras feitas para aparentar justiça, de obras que nasceram de um coração que quer adorar a Deus e não só receber lisonja de homens. 

      “Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo EspíritoI Pedro 3.18

      Esse texto de Pedro resume a grande obra de justiça de Deus, nascimento, vida, morte e ressurreição de seu filho, Jesus, em carne e sem pecado, para justificar toda a humanidade, esse é o centro da Bíblia, a principal missão do cristianismo, a verdade que nunca podemos negar, alterar ou trocar. A velha aliança era só metade da religião maia alta de Deus, mostrando a necessidade de obras, de prática, mas ela só é completada pela outra metade, a nova aliança, revelando a prioridade da fé para que as obras sejam vividas, transformando o homem e louvando a Deus. 

      “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos” Mateus 5.6
 
      Finalmente um verso do sermão das bem-aventuranças, o coração do evangelho, do novo testamento, da Bíblia, que se for devidamente entendido mostrará a e evolução do conceito de justiça no cânone bíblico. No mundo o homem não pode ser justificado pelas obras, como não colherá de maneira plena bons frutos mesmo se agir com plena justiça, mas como justificado em Cristo deve esperar que toda justiça seja feita somente na eternidade, no plano espiritual. Quem entende isso entende a essência do ser humano, espiritual e não material, para Deus e não para os homens, eterna e não passageira. 

17/02/21

Paz

      “Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus.Filipenses 4.6-7

      Temos paz? De verdade? Ou lá no fundo existe algo que nos tortura, que ainda que não admitamos para ninguém, ainda que escondamos no quartinho mais profundo de nossas almas, bem trancado e esquecido, não nos deixa vivenciar aquela paz, que principalmente nós cristãos, gostamos tanto de cantar, em alto e bom som, em hinos e louvores dentro dos templos. Paz, uma palavra tão pequena, um conceito que nos remete a algo vazio, limpo e tranquilo, e ao mesmo tempo totalmente preenchido, satisfeito, mas que é mais que satisfação, que prazer, é algo que fica mesmo depois que o prazer se vai, fica e permanece, por um bom tempo. Somos seres em paz ou de alguma maneira estamos o tempo todo angustiados? 
      Duas coisas nos roubam a paz, culpa pelo passado e ansiedade pelo futuro, isso nos entrega um presente estranho, que parece uma miragem, impedindo-nos de viver o hoje de forma concreta. Em raros momentos, contudo, temos a experiência de vivenciarmos um instante presente surreal, quando parece que uma iluminação cai sobre nós como um raio, quando nossos sentidos ganham um esclarecimento diferenciado. Uma xícara de um bom café pode nos dar sensação assim, rápida mas semelhante, contudo, esse instante presente pode ocorrer por motivos diferentes, por algo bom como por algo ruim, como quando recebemos notícias, por exemplo, do nascimento de um filho ou da morte de um ente querido. 
      Alguns podem achar que refletir sobre isso não tem utilidade, que a vida “real” - real para muitos, ao menos - é assim mesmo, tantas preocupações com a sobrevivência, com dinheiro, que paz plena pode ser um luxo que não temos direito. Mas isso é um engano perigoso, temos direito à paz, sim, ou então, como cristãos, não estamos entendendo o verdadeiro evangelho. Viver em paz é escudo, contra doenças físicas e psicológicas, assim como contra vícios. O que são vícios, senão tentativas ineficazes de se esquecer a dor, para sentir paz, de vencer culpas e ansiedades, ainda que seja com uma taça de vinho, com uma enorme barra de chocolate, ou com sexo casual? Só em paz somos fortes para viver e conquistar nossos direitos. 
      Pare um pouco e pense a respeito, e se de alguma maneira você não está em paz, busque a Deus, com todo o coração, peça que ele te mostre o motivo, e depois a solução para que possa estar em paz. Inferno nada mais é que ausência de paz, e muitos podem estar cercados de luxo, prazeres e bens e ainda assim viverem um inferno interior. Outros podem estar envolvidos até à cabeça com igrejas, ministérios, cultos, atividades, estudos e orações coletivas, e mesmo assim estarem sem paz, carregando um inferno dentro de si. Cuidado, inferno se leva e não acaba com a morte, só se manifesta nela com mais liberdade, e eu não estou me referindo às tribulações da vida, que nos deixam sempre preocupados, isso é comum a todos.
      A marca do genuíno filho de Deus, lavado pelo sangue do cordeiro Jesus e em plena comunhão com o Altíssimo pelo Santo Espírito, é a paz, o humilde sempre acha a paz e consegue segurá-la. Esse já experimenta o céu no mundo e quando morrer só terá essa paz manifestada em total plenitude, abraçado pelo amor de Deus na mais alta luz espiritual onde estão todos os santos justificados por Cristo. Paz não é luxo, é vida e vida eterna, podemos perder tudo neste mundo, menos a paz com e em Deus, não se engane achando que viver assim é impossível. Se for isso, busque ao Senhor, agora, no instante presente, acerte-se, mas não permita que mais uma noite se passe sem que você tenha a paz dos santos e fiéis a Deus. 

16/02/21

Amor

      “Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos; mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.I Coríntios 13.9-13

      Talvez muitos não vejam assim, mas eis acima uma das passagens mais enigmáticas da Bíblia, que revela um mistério importantíssimo sobre a existência no plano espiritual. Eu creio que a maioria das pessoas, incluindo cristãos sérios, conhecedores das escrituras e consagrados, não têm de fato uma ideia clara do que será a eternidade, muitos se limitam a céu e inferno. Não que isso não baste, isso é o suficiente para se ter o melhor de Deus através de Jesus, isso é o que o próprio Deus permitiu que fosse registrado principalmente no novo testamento, e se essa é a vontade de Deus para o momento histórico atual da humanidade, momento que para nós pode estar durando milênios, quem somos nós para ir contra.
      Contudo, muitos se surpreenderão quando passarem para o outro plano, verão pessoas que achavam merecer uma posição na eternidade estarem numa outra posição e vice-versa, diferente de como criam, e penso que os cristãos serão os que mais serão surpreendidos, pois são justamente eles que mais têm expectativas sobre a eternidade e que portanto mais levam consigo para ela preconceitos. Preconceitos categorizam as pessoas, as separam por níveis, partidos, colocando umas como melhores que as outras. Sim, a doutrina cristã é clara no conceito de céu e inferno, mas isso é algo que cabe a Deus administrar, não aos homens, nem os que se acham no direito do céu podem determinar isso enquanto no plano físico. 
      O mais sábio seria vivermos no mundo sem nos preocuparmos com a eternidade, pelo menos sem a obsessão de querermos compartilhar o que pensamos dela com os outros, mas só sendo pessoas do bem neste plano, na maneira como tratamos a nós mesmos, os outros e a Deus, sem levarmos em conta o status espiritual que pensamos ter, que Deus saiba dele e nos recompense por ele quando lhe aprouver. A verdade é que intimidade com Deus deveria ser um conhecimento pessoal, mesmo secreto, como fazem muitos ocultistas, que o mundo exterior saiba o que acreditamos espiritualmente através de nossas realizações, pela prática de nossa fé, não por nossas semânticas. Por menos púlpitos em templos e mais vida no mundo!
      O certo, eu pelo menos creio assim, é que nossa consciência não será apagada na eternidade, apenas nossa essência será libertada e manifestada sem os limites do plano físico, matéria, espaço e tempo, assim quem não tem preconceitos aqui não os levará consigo para lá. Contudo, a única coisa que anula o preconceito é o amor, assim, finalmente, chegamos à explicação da afirmação feita no inicio desta reflexão, sobre o grande mistério revelado na conclusão do ensino de Paulo sobre o amor. Quem ama não teme, por isso não separa, antes, abraça e espera o melhor mesmo para a pessoa mais difícil, crê na força do amor maior de Deus neste mundo, salvando e preparando qualquer um para uma eternidade melhor com ele. 
      Quem ama não será surpreendido na eternidade, pois levará consigo uma consciência humilde que sempre procurou ver o ser espiritual das pessoas, o melhor delas, a despeito de outras variáveis que muitos podem manifestar, mas que não representam de fato suas verdades mais profundas. Por isso na eternidade só haverá o amor de Deus, esse amor é o que ilumina, revela todas as verdades, e chama para mais próximo do Altíssimo, demore o tempo que for para que alguém se aproxime. Ah, seu eu pudesse falar mais a respeito do amor de Deus na eternidade aqui, mas talvez a maioria ainda esteja no momento histórico atual da humanidade que Paulo descreve, como meninos que só veem por espelho em enigma...

15/02/21

A vontade do Senhor prevalece

      “O Senhor desfaz o conselho dos gentios, quebranta os intentos dos povos. O conselho do Senhor permanece para sempre; os intentos do seu coração de geração em geração. Bem-aventurada é a nação cujo Deus é o Senhor, e o povo ao qual escolheu para sua herança.Salmos 33.10-12

      “Muitos propósitos há no coração do homem, porém o conselho do Senhor permanecerá. O que o homem mais deseja é o que lhe faz bem; porém é melhor ser pobre do que mentiroso. O temor do Senhor encaminha para a vida; aquele que o tem ficará satisfeito, e não o visitará mal nenhum.Provérbios 19.21-23

      O que nos leva a tomar certas decisões? O que faz com que escolhamos isso e não aquilo? O que se passa em nossas cabeças? Quais são os nossos propósitos? Temos que pensar, avaliar, confrontar nosso presente com um futuro que estamos prevendo ocorrer, principalmente na área econômica é preciso planos, metas e checagens constantes. Nossa vida afetiva também precisa ser pensada, analisada, para que nada fique escondido embaixo do tapete, para que resolvamos o que precisa e pode ser resolvido, para então, diante do que não tem remédio, vermos se vale a pena seguir ou corrigir o percurso. 
      Contudo, por mais que o homem raciocine e sinta em fazer, no final prevalece só o que Deus permite, o seu conselho, porque entre o homem planejar e executar, podem ocorrer muitas coisas, escolhas de outras pessoas, eventos dos sistemas do mundo, coisas que um indivíduo sozinho não pode controlar. Deus usa muitas coisas para mudar o propósito no coração do homem, assim o sábio que teme a Deus confia e espera em seu Senhor, mesmo diante das bravatas do tolo, que maquina em sua alma e faz ameaças, não com propósitos misericordiosos, mas egoístas e injustos, que no final só prejudicarão a ele.
      Quem teme ao Senhor não teme o que não confia em Deus, não reage a esse, não usa de ironia, não foge, é claro e direto, como é o Espírito Santo quando nos responde, é espiritual de verdade, como foi o Cristo encarnado. Calibremos nossos espíritos, para que não caiamos no desespero nem na vitimização, mas achemos na humildade mais verdadeira a segurança dos que veem Deus em todos os caminhos, e sabem que Deus tem sempre o melhor para seus amigos. Feliz o povo cujo Deus é o Senhor, e melhor é ser pobre que mentiroso, pois quem teme a Deus está satisfeito e nenhum mal o visita. 

14/02/21

Repreensão adequada ao mal (2/2)

      “E esta mulher era grega, sirofenícia de nação, e rogava-lhe que expulsasse de sua filha o demônio. Mas Jesus disse-lhe: Deixa primeiro saciar os filhos; porque não convém tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos. Ela, porém, respondeu, e disse-lhe: Sim, Senhor; mas também os cachorrinhos comem, debaixo da mesa, as migalhas dos filhos. Então ele disse-lhe: Por essa palavra, vai; o demônio já saiu de tua filha. E, indo ela para sua casa, achou a filha deitada sobre a cama, e que o demônio já tinha saído.” Marcos 7.26-30

      É importante discernirmos a origem de um mal, se é de origem física ou psicológica, e se nesses tipos existe uma real atuação espiritual, para não confundirmos os males e consequentemente os tratamentos. Sim, podemos e devemos orar por todos os males, mas consultando a ciência e seguindo suas orientações quando se tratar de um mal físico. Aliás, mesmo que haja um mal espiritual, se a pessoa tiver uma doença psiquiátrica muito séria, um psiquiatra pode ser necessário antes mesmo de um pastor, para diagnosticar o problema e indicar medicamento que torne a pessoa controlável, viável socialmente. Sem uma consciência em ordem será impossível para alguém tomar decisões e entender mesmo o caminho da cura espiritual. 
      Existem muitas passagens nos evangelhos que aliam demônio a mal físico, e quando o demônio foi expulso a pessoa foi curada desse mal, podemos citar Mateus 9.33a, “e expulso o demônio, falou o mudo”. Contudo, não tínhamos presente na época uma equipe, munida tanto de conhecimento médico quanto de discernimento espiritual, que avaliasse o estado do endemoniado e o tipo de influência, psicológica e física, que um mal originalmente espiritual teria causado à pessoa, o certo é que a cura espiritual sarou também o corpo e isso foi registrado pelo autor do evangelho. Na dúvida, repreenda, com autoridade sobre o espírito mau e em amor com o homem, mas depois leve a pessoa a um médico, sejamos sensatos. 
      O mal espiritual não precisa necessariamente de interação física para ser repreendido, em Marcos 7.26-30 vemos um exemplo disso, Jesus expulsa demônio sem ao menos estar presente no local onde estava o endemoniado. Essa passagem nos ensina uma outra lição, além da que está no tema desta reflexão, uma lição de humildade, você entendeu bem a maneira como Jesus respondeu à mulher? Ele usa uma metáfora, chamando os gentios de cachorrinhos, já que ela era de origem sirofenícia, para dizer que os judeus, os filhos, tinham prioridade em seu ministério. Como será que muitos reagiriam hoje a esse não de Cristo, vitimizando-se? A mulher reagiu com humildade e por isso teve seu pedido respondido. 
      Jesus executou uma repreensão de demônio mesmo à distância, contudo, via de regra, para nós hoje em dia, é conveniente que a repreensão seja feita em voz audível, os demônios em algumas situações ocupam lugares físicos específicos e conhecidos por quem está expulsando, dessa forma devem ser repreendidos no espaço físico. Ainda assim não precisam de gritaria, muito menos de negociações feitas por encantamentos, “trabalhos espirituais” ou rituais mágicos, eles só necessitam da pura e simples palavra de autoridade feita por um cristão verdadeiro em nome de Cristo. Isso não é tarefa só de pastores, ainda que certos casos exijam consagrações especiais, mas é direito de todo filho de Deus com a vida em ordem com seu Senhor. 
      Quem faz repreensão espiritual precisa ter o discernimento de que está repreendendo demônio, não o endemoniado, precisa entender que demônio e endemoniado são entidades distintas, apesar de ligados no momento, o endemoniado poderá ser orientado depois para que não seja novamente possuído. É interessante que mesmo antes da repreensão o possesso receba alguma orientação, ainda que se ele tenha chegado a esse estado poderá ter dificuldades para fechar sozinho uma porta que ele mesmo abriu em seu livre arbítrio. O trabalho de recuperação de quem sofre possessão é o de dar-lhe uma conscientização sobre um novo estilo de vida moral, por isso é necessário mudança de vida numa conversão ao evangelho. 
      O único jeito de fechar de vez a porta para a possessão é pelo Espírito Santo, quem recebe o Espírito Santo fica selado com uma paz divina e exclusiva, quem prova a pura água da vida não terá mais prazer nos caminhos da morte, essa paz é o que fortalece o homem para não querer mais ser “cavalo” de espírito rebelde das trevas. Mesmo os salvos podem ser oprimidos, mas jamais possessos, creio assim, ainda que já tenha presenciado pessoas que se apresentavam como crentes consagrados com um alto grau de “atitude endemoniada”, não posso deixar de fazer esse registro. Quem está de pé, cuidado para não cair, tenhamos, contudo, temor a Deus, a autoridade maior está numa vida de qualidade moral por Jesus Cristo. 

Leia na postagem de ontem  a 1ª parte dessa reflexão
José Osório de Souza, 31/10/20