sábado, fevereiro 20, 2021

Raiz, tronco ou galhos? (1/9)

      De hoje até 28/02/21 estarei postando uma reflexão dividida em nove partes usando uma árvore como metáfora para o desenvolvimento histórico do cristianismo, sei que muitos preferem palavras rápidas, focadas na vida diária, mas eu não posso deixar de compartilhar as ênfases da chamada do espaço “Com o ar que respiro”. Assim, por favor, peço tua paciência para ler textos um pouco mais complicadinhos, tenho certeza que Deus tem algo a falar com você através deles. 
      Você não precisa concordar com tudo, mas procure ler tudo e entender, para então ter um posicionamento a respeito, se esta reflexão te fizer reavaliar tuas crenças cristãs, em alguma instância, já terá cumprido seu papel. A ideia é fazer pensar para fazer diferente, já que muitas coisas não funcionam, ainda que teimosamente as façamos, porque estão sendo feitas tradicionalmente do mesmo jeito há muito tempo. Pense para mudar, mas só mude se for para melhorar. 

      “E disse-me um dos anciãos: Não chores; eis aqui o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi, que venceu, para abrir o livro e desatar os seus sete selos. Apocalipse 5.5

      Uma religião, uma ótica de religação com o divino, entregue por um fundador, um ser singular, nunca nasce diluída, nasce pura, contudo, com o tempo, por ser “concentrada” demais, percebe-se que é difícil de ser vivenciada pela maioria, assim como difícil de ser controlada pelos primeiros que se desviam da pureza inicial, os líderes. Dessa forma, o princípio original divino é modificado, retirando-se dele elementos originais ou misturando a ele elementos humanos, de modo que a maioria possa digerir, assim como para que a liderança, já desviada, mantenha-se no poder. A mistura é uma tradição, não é a raiz, mas uma construção sobre ela, que inicia-se com um tronco, a parte mais aparentemente forte da árvore.
      Do cristianismo original, a raiz, nasceu o tronco, a igreja católica, o tronco representa a tradição mais forte, com mais influência no mundo material, tanto que é a parte da árvore que muitos pensam ser a própria árvore, desconsiderando as outras partes. Do tronco, o Catolicismo, nasceram os galhos, semelhantes ao tronco mas com características próprias, criadas por adição de novos elementos ou subtração de elementos originais, as igrejas ortodoxa, anglicana, anabatista, protestantes, pentecostais etc. O próprio cristianismo é galho de uma raiz mais velha, a religião israelita, e a religião de Moisés também foi galho, de uma religião ainda mais antiga, nascida quando o homem foi expulso do Éden. 
      Qual é a religião verdadeira? A raiz. Mas qual é a viável? Todas as outras, viáveis para que o homem creia com mais conforto, respeitando seus limites, e não se perdendo em verdades para as quais ele não está preparado. Deus respeita toda a árvore, usa toda a árvore, ainda que sua verdade maior e mais pura esteja na raiz e que o resto da árvore sejam só tradições humanas. O crescimento da árvore não é um processo artificial, é natural, pelo menos no mundo, no plano físico, da raiz nasce o tronco que gera os galhos e que produz as folhas e as flores, os indivíduos ligados à religião. Contudo, ainda assim, precisamos saber que a raiz é o fundamento sem o qual nenhuma tradição existe, no cristianismo o Espírito Santo é a raiz. 
      O perigo é nos acostumarmos com refrigerantes e acabarmos nos esquecendo da água, eles matam a sede, mas ganham sabores artificiais para serem mais comprados e consumidos, já a água é pura e gratuita na natureza. Pagamos nas tradições preços desnecessários, já que o Espírito Santo se recebe gratuitamente e ele é a raiz do cristianismo, o mestre supremo, o representante oficial de Jesus na Terra. Precisamos frequentar  as tradições, principalmente no início da caminhada, mas as encaremos como verdades originais diluídas em outras coisas, para que as pessoas possam vivencia-las. As pessoas são diferentes, assim adiciona-se à verdade original ingredientes diferentes, criando-se assim tradições diferentes. 
      Quando os autores do novo testamento escreveram seus textos, eles não tinham noção de que a raiz produziria tronco e galhos, não sabiam que à água seriam adicionados artifícios para que agradasse as pessoas, nem que ensinos importantes seriam deixados de lado para a conveniência de homens. Mas eles também não tinham noção que eles mesmos, a partir do momento que pensaram nas experiências originais que tiveram com Cristo e com testemunhas diretas da obra de Jesus, já estavam interpretando a verdade de acordo com suas subjetividades, assim a raiz já produzia o início do tronco. Nas epístolas paulinas, textos que formaram a base da doutrina cristã, já havia algo de Paulo adicionado à pura palavra de Cristo. 
      Só no plano espiritual, na eternidade, a verdade pura pode ser compartilhada sem que sofra mutação, no mundo tudo passa pela mente humana, e essa é imperfeita, para entender, processar e registrar o que recebe, principalmente conhecimento espiritual que difere de conhecimento intelectual. O conhecimento intelectual pode ser explicado cientificamente e por isso pode ser mantido, formulado, mas o espiritual requer fé, e essa é subjetiva, de acordo com cada pessoa. Mas a beleza do conhecimento espiritual é que ele pode ser apresentado pelos realmente espirituais como metáforas, como as simbologias da árvore e da água que usei aqui, assim as mesmas palavras podem revelar níveis diferentes de mistérios espirituais. 
      Esses níveis podem ser compreendidos tanto pelos novos na fé, quanto pelos mais aprofundados na comunhão com Deus, Jesus era mestre em entregar mistérios espirituais em metáforas, são as parábolas. Jesus homem conhecia o homem (e muito mais pode manifestar desse conhecimento hoje como Deus na eternidade), entendia tudo que a humanidade faria com o evangelho, como seria usado, tanto para salvação e conhecimento de Deus como para fins egoístas e materialistas para que homens controlassem e manipulassem outros homens através da religião. Jesus não era católico, muito menos batista, presbiteriano ou assembleiano, Jesus era o Cristo, um com o pai e plenamente revelado no Espírito Santo que enviou. 

Parte 1 de uma reflexão
dividida em 9 partes
José Osório de Souza, 30/10/20

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