07/10/23

Liberdade do corpo? (1/2)

      “E, eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra.Apocalipse 22.12

      Existem pessoas que ficam famosas porque fazem algo com qualidade, ainda que seja numa atividade simples e não tão bem remunerada, esse na verdade deveria ser o jeito único de se ter fama duradoura. Hoje, contudo, muitos só são famosos, sem que nada ou muito pouco façam. Ainda que com internet e telefonia celular ser famoso só por ser famoso seja fácil, sempre houve inúteis famosos, que viviam só para serem celebridades, sem que fizessem algo útil, muitos aristocratas eram assim. Há lado positivo em buscar fama hoje, postar fotos e vídeos na internet e engajar seguidores permite vender espaço virtual para publicidade, isso acaba sendo atividade profissional mais rentável que outras que não trabalham por fama.
      São os tempos atuais, não sejamos bitolados, e mesmo esses que parecem que nada fazem, fazem alguma coisa, disfarçada de casual, hoje casualidade é de propósito, planejada, trabalhada, para ser comprada por uma sociedade afoita por liberdade para nada fazer. Precisamos entender que Deus está no controle, as importantes bandeiras sociais levantadas hoje não são de alguma forma vitória do diabo, o mal nunca vence. Muitos cristãos se enganam achando que a liberdade pela qual o mundo tanto luta hoje é coisa do mal, mas é só Deus permitindo a muitos receberem o que lhes foi tirado por séculos, pela opressão, pelo preconceito e pela escravidão, através do machismo branco burguês heterossexual conservador cristão
      Contudo, todo extremo, ainda que seja efeito natural do extremo oposto, consequência do movimento do universo no tempo buscando equilíbrio, tem seu lado ruim, e atualmente o lado ruim é tantos quererem direitos para serem livres, ainda que não façam algo útil com liberdade. A história da civilização caminha assim, de um lado para o outro, mas a tendência é a distância entre extremos diminuir, até que opostos sejam iguais, nesse momento a humanidade alcançará equilíbrio. O fim será bom e não está em extremos, mas no centro. Mas voltando ao ponto desta reflexão, entendamos que existe, sim, um lado ruim, de fama por nada, que é tão incentivada atualmente, um lado que se opõe a um princípio espiritual básico. 
      Existimos neste mundo para trabalhar para anexar virtudes morais a nossos espíritos, como tanto temos dito aqui, assim fama deveria existir quando fazemos algo virtuoso, não só por aparecermos bonitos no Instagram e no Youtube, em festas, usufruindo a vida. A fama que importa não é diante de homens, mas diante de Deus, que se agrada por nos ver persistindo no caminho da vida eterna, nos preparando para sermos cidadãos do reino dos céus. Infelizmente, muitos das últimas gerações estão sendo doutrinados pelos poderes deste mundo a só aparentarem e serem glorificados pelo lado de fora, a qualidade de seus espíritos é relegada. O mundo atual está materializando o ser e negando o espírito e sua vocação maior.
      Há algumas décadas atrás pai e mãe não incentivavam filhos a serem artistas, não qualquer pai e mãe, aliás, a classe artística era vista genericamente como promíscua e vagabunda. Hoje, contudo, pais querem que filhos sejam artistas, ainda que nem talento artístico tenham, vemos isso até nas igrejas evangélicas. Quando um bebê está para nascer mães já criam páginas em redes sociais só para compartilharem com o mundo uma intimidade que antes era preservada. As pessoas querem aparecer, não ser, buscam aplausos dos homens, não agradar a Deus, querem mudar seus corpos a qualquer preço para serem vistas como belas pelas estéticas mais populares do momento, para serem aprovadas e exaltadas como melhores.
      Liberdade para todos e respeito às diferenças, são agendas urgentes, não só ideologias de progressistas, comunistas e endiabrados, como alguns cristãos conservadores acham, mas colocadas sem valores morais entregam a humanidade ao extremo oposto daquele que tais agendas combatem, e um extremo sempre é tão ruim quanto o outro. Na matéria tudo enjoa e pede algo oposto que satisfaça, assim, até a liberdade desenfreada que tantos hoje acham o valor mais caro, sem Deus é vazia. Mas tenham paciência os ansiosos pelo juízo final, não é o fim, só mais uma fase necessária para a evolução da humanidade em direção a Deus. No final a luz alcançará a todos e será reconhecida como vencedora, reconhecida, pois vencedora já é.

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão

06/10/23

Retidão é filha da humildade (5/5)

      “Eu fiz a terra, o homem, e os animais que estão sobre a face da terra, com o meu grande poder, e com o meu braço estendido, e a dou a quem é reto aos meus olhos.” Jeremias 27.5

      Na retidão não há malícia, falsidade ou julgamento, só a verdade que conduz sem desvios. Não é fácil sermos retos, e ser reto não significa nunca errar, é justamente quando não querermos mostrar que erramos que não somos retos. A malícia é filha do orgulho, a humildade é mãe da retidão, que não teme opinião do homem, culpa do acusador e o desconhecido do futuro, não tem receio de se mostrar como é, e é um perdoado em Jesus que prossegue praticando boas obras. Ser reto é ir diretamente ao ponto, sem dar justificativas por erros ou exagerar nos acertos, e ainda que não se tenha nada pelo que ser honrado por homens, confiar que Deus se agrada do que se é. Ser verdadeiro não é revelar pecados para qualquer um, mas é não precisar aparentar o que não se é. A retidão mais genuína se manifesta muitas vezes no silêncio.
      Se o reto caminha na luz pelo Espírito Santo levando a verdade, o malicioso faz as curvas da mentira, exagera o bem que fez, aumenta o mal que os outros fazem, desconfia da sinceridade de todos, se acha sábio e experiente, mas é só uma criança insegura sob camadas e camadas de falsidade e vaidade. A luz é tão reta que pode confundir os tortos, quem se acostuma com a mentira não sabe lidar com a verdade. A retidão liberta, deixa-nos leves e fortes, rejuvenesce-nos, aumenta os dias de paz, protege-nos dos vícios e das enfermidades. O reto não precisa fazer muito, nem tudo, mas só o que Deus lhe pede e quando pede, o malicioso é escravo da obrigação, seus dias são pesados e insatisfatórios, enfada-se por ter que aparentar o tempo todo virtudes que não possui e alegria que não tem. O reto acha alegria na simples e pura verdade. 

05/10/23

Na luz pouco se fala (4/5)

      “Oh! quão doces são as tuas palavras ao meu paladar, mais doces do que o mel à minha boca. Pelos teus mandamentos alcancei entendimento; por isso odeio todo falso caminho. Lâmpada para os meus pés é tua palavra, e luz para o meu caminho.” Salmos 119.103-105

      Se não há visão, há trevas, ainda que se tenha informações detalhadas sobre o que não se vê. Interessante que os que menos veem são os que mais falam sobre o que acham que veem. Nas muitas palavras há no mínimo superficialidade, e em última instância, mentira. A sabedoria mais alta é simples, se verbaliza em poucas palavras, mas nos revela mistérios profundos e genuínos. Deus se comunica conosco pela emanação de um raio de sua luz, que tocando nosso espírito alegra-nos, consola-nos, nos enche de paz e esperança. Depois disso nossa mente física racionaliza e as palavras surgem em nossas bocas, mas a palavra de Deus nem precisa das nossas palavras, a ela basta iluminar. A luz de Deus nos atrai a ele pelo amor manifestado em Cristo, ela desce, se compartilhando conosco, pelo vivo Espírito Santo do Altíssimo.
      Quando nossos corpos físicos pararem de funcionar e acordarmos espiritualmente livres no outro plano, o Senhor só olhará para nós e sorrirá. Se houver humildade dentro de nós, sentiremos a seriedade de todos os nossos pecados, mas acharemos paz no perdão por Jesus, nossas obras persistentes de santidade e em amor, que acumulamos no mundo, nos harmonizarão com o Altíssimo e seremos elevados ao céu. Nesse momento se realiza o juízo, nesse momento céu e inferno se manifestam dentro de nós, nesse momento o homem interior de cada um mostrará sua verdade, se o ser procurou e conseguiu obedecer a vontade maior de Deus, ou se só existiu no mundo para aparentar, até religião, mas somente para homens, não para o Senhor. Nisso não haverá discursos, argumentos nada valerão, valerá só a verdade silenciosa da luz. 

04/10/23

Inversão de valores (3/5)

      “Coisa espantosa e horrenda se anda fazenda na terra. Os profetas profetizam falsamente, e os sacerdotes dominam pelas mãos deles, e o meu povo assim o deseja; mas que fareis ao fim disto?” Jeremias 5.30-31

      Quando o errado é visto como certo, o certo só poderá ter um lugar, o lugar de errado. O engano tem sempre duas faces, considera o errado e desconsidera o certo, assim, não pense quem erra de um lado, o faz para poder acertar no outro. Evangélicos cometem esse erro, ainda que digam na política, “esse homem não é perfeito, mas ele defende o conservadorismo da tradição judaica-cristã, é o melhor que temos”. A luz é cem por cento clara, se tiver um por cento de escuridão será trevas. Deus não faz concessões, assim quem diz que está debaixo de certos pastores porque o homem não é perfeito, perde seu tempo e apoia o erro. Deus não pede de nós nada mais que perfeição, e se homens em certas posições não podem ser perfeitos, não devemos apoiá-los. 
      Muitos evangélicos perguntarão, “mas se eu não apoiar esse homem, a quem vou apoiar?” A ninguém, quem disse que evangélico deve apoiar políticos? Cumprir deveres civis, sim, mas depois manter-se afastado da área, sabendo que é coisa do mundo, não do céu. Em igrejas não somos obrigados a aceitar pastor certo só em parte, se todos saíssem de igrejas erradas e ficassem firmes em suas relações com Deus, igrejas certas surgiriam em maior número. Mas quem tem coragem para se levantar contra instituições religiosas, de suportar ser taxado de desviado, parado, excomungado, herege? Assim segue errado o cristianismo, enquanto isso os certos são vistos como errados, tratados como loucos e endemoniados, mas Jesus também foi tratado assim. 

03/10/23

Administrando a mentira (2/5)

      “Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.” I João 2.16-17

      Viver no mundo é administrar a mentira, eis a única verdade que existe no plano material. Sonhamos tanto na mocidade, estudamos, trabalhamos, mas poucos conseguem tudo o que querem, e mesmo esses acham que não conseguiram o suficiente. Ainda que cuidemos bem de nossa saúde, a deterioração de órgãos e membros é irrefreável, a partir de uma idade, antes dos quarenta anos, nossas células não se renovam mais, assim, iniciamos processo de morte. Mas ainda assim empreendemos, nos apaixonamos, queremos ser eternos, e na verdade nada há de errado nisso, só aceitam a morte ou a procuram aqueles que estão enfermos, e nem na maioria das vezes no corpo, mas na mente. Seguimos mentindo para o espelho, vendo nele o jovem que não somos mais e mutilando nossos corpos e hábitos para não exibirem velhice. 
      Vivemos mentiras em nossas relações afetivas, nas mais próximas buscamos a fidelidade que não damos, assim ninguém também nos dá, queremos amigos incondicionais e exclusivos, mas não somos tudo o que somos com todos, assim muitos conhecem partes verdadeiras de nós e outras partes, as falsas, que queremos mostrar como boas, mas que não são. Buscamos amigos nos pais, pais nos patrões, patrões nos pastores, pastores nos psicólogos, psicólogos nos cônjuges, e cônjuge em quem só quer uma relação rápida, física e ilusória conosco. Quando chegamos no tempo de fazer resumos de memórias a mentira se torna clara, achamos desculpas para nossos erros e inventamos acertos que nunca tivemos, não narramos fatos reais, mas inventamos fábulas, com alguém que queríamos que fosse nós, no papel de herói vencedor.

02/10/23

Em que ponto chegamos? (1/5)

      “Senhor, quem habitará no teu tabernáculo? Quem morará no teu santo monte? Aquele que anda sinceramente, e pratica a justiça, e fala a verdade no seu coração. Aquele que não difama com a sua língua, nem faz mal ao seu próximo, nem aceita nenhum opróbrio contra o seu próximo; a cujos olhos o réprobo é desprezado; mas honra os que temem ao Senhor; aquele que jura com dano seu, e contudo não muda.Salmos 15.1-4

      Em que ponto estamos chegando no mundo, onde santidade está se tornando algo errado? O simples citar da palavra santo já nos coloca na cabeça de muitos como ignorantes, bitolados, na melhor situação como utópicos, mas na pior, como hipócritas. Santidade se tornou hoje, não só um objetivo impossível, mas desnecessário, parece que o chique é ser livre e ser livre, na opinião de muitos, é poder se sujar e não se sentir culpado por isso. A igreja católica tem parte de culpa nisso, construiu no inconsciente coletivo um conceito equivocado de santidade, assim para muitos ser santo é ser louco, alienado. Nós evangélicos já ouvimos muitas vezes os pregadores dizerem que santo é separado, mas separado do quê? Que separação agrada a Deus e tem utilidade maior? 
      Jesus foi o melhor exemplo de santo que viveu neste mundo, era limpo moralmente e íntimo de Deus espiritualmente, mas ainda assim próximo da humanidade, andava com pecadores, tinha amigos, ia a festas e celebrações. Jesus não separava o corpo, não em primeiro lugar, nem a afeição, mas o espírito, que como efeito mantinha o corpo limpo e amoroso, ele não precisava se isolar de convívio social para ter santidade, ainda que separasse muito tempo para buscar a Deus, conhecer sua vontade e receber sua unção. O problema é justamente esse, muitos até querem ser santos, mas sem Deus, só com a religião dos homens, querem privar o corpo físico de seus desejos sem dar liberdade ao Espírito Santo em suas vidas. Só temos santidade quando o santo nos habita.

01/10/23

Onde estão os nove?

      “E aconteceu que, indo ele a Jerusalém, passou pelo meio de Samaria e da Galiléia; e, entrando numa certa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez homens leprosos, os quais pararam de longe; e levantaram a voz, dizendo: Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós. E ele, vendo-os, disse-lhes: Ide, e mostrai-vos aos sacerdotes. E aconteceu que, indo eles, ficaram limpos. E um deles, vendo que estava são, voltou glorificando a Deus em alta voz; e caiu aos seus pés, com o rosto em terra, dando-lhe graças; e este era samaritano. E, respondendo Jesus, disse: Não foram dez os limpos? E onde estão os nove? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro? E disse-lhe: Levanta-te, e vai; a tua fé te salvou.Lucas 17.11-19

      Lepra, uma doença estigmática ainda hoje, afasta as pessoas, e no século um era considerada um castigo, à enfermidade do corpo era aliada fraqueza moral, pecado diante dos deuses. Dez leprosos, semelhantes se agrupam se são descriminados pelos diferentes que se acham melhores, e acham companhia e consolo nos pares, constróem mesmo no isolamento um lar. Esses em especial pareciam crer que Jesus podia curá-los. Jesus fez milagres, mas não de um jeito padronizado, com as mesmas palavras e atitudes, muitas vezes ele usava maneiras peculiares. Dessa vez ele foi direto ao final, orientou os homens e se apresentarem aos sacerdotes, esses eram uma espécie de inspetores de saúde, que atestavam a cura da hanseníase. 
      Jesus não deu qualquer ordem para curar a doença, mas orientou os homens a buscarem aqueles que podiam atestar que eles não estavam mais doentes. Cada milagre que Deus faz em nossas vidas é para provar uma coisa específica, no caso dos homens não era encerrar um período de tratamento, mas verificar a qualidade da relação deles com Deus. Criam de fato em Jesus, ou sabendo da fama do Cristo foram só tentar a sorte? De repente até poderiam se livrar da hanseníase. Mas eles obedeceram a Jesus e foram curados, não na presença do Cristo, mas enquanto caminhavam até os sacerdotes. Memória curta ou ingratidão, essa era a prova daqueles homens, e nessa só um dos dez homens, justamente um samaritano, foi aprovado. 
      Muitos problemas não são nossos problemas principais, mas só meios que Deus usa para tratar nossos problemas principais. O problema principal dos hansenianos não era a hanseníase, e talvez com o tempo nem fosse mais fé, mas era reconhecer a autoridade de Deus, que tanto permite a doença como a cura, com um propósito maior. Deus olha para nós e sabe exatamente o que precisamos viver para sermos espiritualmente mais fortes, Jesus olhou os hansenianos e viu que o que faltava-lhes não era fé, mas gratidão, por isso nem se preocupou em explicitar o milagre na presença deles. Jesus queria ver como se comportariam após a cura, longe dele. Um dos homens ao perceber a cura retornou, parece que antes de ter chegado aos sacerdotes.
      O que é mais importante para nós, sermos reconhecidos por homens por nossas capacidades, ou sermos gratos a Deus por nos amar e proteger, mesmo que sejamos fracos? Para que somos mais rápidos, para pedir ou para agradecer? Será que nossa fé não é mais importante mesmo que Deus? Temos certeza que receberemos por crermos, ou porque apraz a Deus nos dar? Quem tem fé na fé pode até alcançar dádivas, mas essas só beneficiarão seu corpo físico, não seu espírito, só uma relação correta com Deus transforma-nos por dentro. Uma relação certa com o Senhor gera em nós a gratidão dos humildes, onde sabemos que somos o que somos, e temos o que temos, pelo amor e pela graça do Altíssimo, por isso somos gratos a ele. 
      Há algo que chama a atenção na passagem acima, a segurança de Jesus. Se você já teve experiência de oração que fez e que Deus respondeu prontamente, sabe que envolveu muita convicção emocional e foco mental, para mim pelo menos foi assim. Tive que buscar algumas vezes até que sentisse autorização e capacitação espiritual de Deus para fazer a oração que Deus queria ouvir, que me foi revelada, e que teve sucesso. Contudo, Jesus nem precisou pedir ou ordenar nada, apenas orientou os homens a se apresentarem para aqueles que atestariam a cura. A verdade é que o Cristo homem existia o tempo todo numa condição que nós só experimentamos excepcionalmente, ele vivia e andava no Espírito, nossa exceção era regra para ele.