domingo, outubro 01, 2023

Onde estão os nove?

      “E aconteceu que, indo ele a Jerusalém, passou pelo meio de Samaria e da Galiléia; e, entrando numa certa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez homens leprosos, os quais pararam de longe; e levantaram a voz, dizendo: Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós. E ele, vendo-os, disse-lhes: Ide, e mostrai-vos aos sacerdotes. E aconteceu que, indo eles, ficaram limpos. E um deles, vendo que estava são, voltou glorificando a Deus em alta voz; e caiu aos seus pés, com o rosto em terra, dando-lhe graças; e este era samaritano. E, respondendo Jesus, disse: Não foram dez os limpos? E onde estão os nove? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro? E disse-lhe: Levanta-te, e vai; a tua fé te salvou.Lucas 17.11-19

      Lepra, uma doença estigmática ainda hoje, afasta as pessoas, e no século um era considerada um castigo, à enfermidade do corpo era aliada fraqueza moral, pecado diante dos deuses. Dez leprosos, semelhantes se agrupam se são descriminados pelos diferentes que se acham melhores, e acham companhia e consolo nos pares, constróem mesmo no isolamento um lar. Esses em especial pareciam crer que Jesus podia curá-los. Jesus fez milagres, mas não de um jeito padronizado, com as mesmas palavras e atitudes, muitas vezes ele usava maneiras peculiares. Dessa vez ele foi direto ao final, orientou os homens e se apresentarem aos sacerdotes, esses eram uma espécie de inspetores de saúde, que atestavam a cura da hanseníase. 
      Jesus não deu qualquer ordem para curar a doença, mas orientou os homens a buscarem aqueles que podiam atestar que eles não estavam mais doentes. Cada milagre que Deus faz em nossas vidas é para provar uma coisa específica, no caso dos homens não era encerrar um período de tratamento, mas verificar a qualidade da relação deles com Deus. Criam de fato em Jesus, ou sabendo da fama do Cristo foram só tentar a sorte? De repente até poderiam se livrar da hanseníase. Mas eles obedeceram a Jesus e foram curados, não na presença do Cristo, mas enquanto caminhavam até os sacerdotes. Memória curta ou ingratidão, essa era a prova daqueles homens, e nessa só um dos dez homens, justamente um samaritano, foi aprovado. 
      Muitos problemas não são nossos problemas principais, mas só meios que Deus usa para tratar nossos problemas principais. O problema principal dos hansenianos não era a hanseníase, e talvez com o tempo nem fosse mais fé, mas era reconhecer a autoridade de Deus, que tanto permite a doença como a cura, com um propósito maior. Deus olha para nós e sabe exatamente o que precisamos viver para sermos espiritualmente mais fortes, Jesus olhou os hansenianos e viu que o que faltava-lhes não era fé, mas gratidão, por isso nem se preocupou em explicitar o milagre na presença deles. Jesus queria ver como se comportariam após a cura, longe dele. Um dos homens ao perceber a cura retornou, parece que antes de ter chegado aos sacerdotes.
      O que é mais importante para nós, sermos reconhecidos por homens por nossas capacidades, ou sermos gratos a Deus por nos amar e proteger, mesmo que sejamos fracos? Para que somos mais rápidos, para pedir ou para agradecer? Será que nossa fé não é mais importante mesmo que Deus? Temos certeza que receberemos por crermos, ou porque apraz a Deus nos dar? Quem tem fé na fé pode até alcançar dádivas, mas essas só beneficiarão seu corpo físico, não seu espírito, só uma relação correta com Deus transforma-nos por dentro. Uma relação certa com o Senhor gera em nós a gratidão dos humildes, onde sabemos que somos o que somos, e temos o que temos, pelo amor e pela graça do Altíssimo, por isso somos gratos a ele. 
      Há algo que chama a atenção na passagem acima, a segurança de Jesus. Se você já teve experiência de oração que fez e que Deus respondeu prontamente, sabe que envolveu muita convicção emocional e foco mental, para mim pelo menos foi assim. Tive que buscar algumas vezes até que sentisse autorização e capacitação espiritual de Deus para fazer a oração que Deus queria ouvir, que me foi revelada, e que teve sucesso. Contudo, Jesus nem precisou pedir ou ordenar nada, apenas orientou os homens a se apresentarem para aqueles que atestariam a cura. A verdade é que o Cristo homem existia o tempo todo numa condição que nós só experimentamos excepcionalmente, ele vivia e andava no Espírito, nossa exceção era regra para ele. 

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