02/03/19

Divórcio, adultério e cristianismo

      “E os escribas e fariseus trouxeram-lhe uma mulher apanhada em adultério; E, pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato, adulterando. E na lei nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes? Isto diziam eles, tentando-o, para que tivessem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia com o dedo na terra. E, como insistissem, perguntando-lhe, endireitou-se, e disse-lhes: Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela. E, tornando a inclinar-se, escrevia na terra. Quando ouviram isto, redargüidos da consciência, saíram um a um, a começar pelos mais velhos até aos últimos; ficou só Jesus e a mulher que estava no meio. E, endireitando-se Jesus, e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais.” 
João 8.3-11

      Esse é um dos textos mais belos e reveladores do evangelho, relatado pela sensibilidade de João o evangelista, seguem alguns pontos relevantes sobre ele:

- os fariseus não queriam disciplinar a mulher, para que ela assumisse seu erro e mudasse de vida; os fariseus, sabedores da sabedoria e do amor de Jesus, armaram uma armadilha para ele, confrontando-o com a lei mosaica, tentando fazer com que Jesus negasse a lei e fosse pego, por eles, em pecado;

- a mulher, humilhada, era só um joguete nas mãos de religiosos hipócritas, e é a isso que a tentativa de ver a vontade de Deus como obedecimento cego e ao pé da letra de leis faz, não nos fortalece para agradar a Deus e nos leva a exigir dos outros o que nem nós vivemos;

- qual foi a resposta que Jesus deu aos fariseu? nenhuma, Jesus não respondeu nada, foi só depois de insistência dos mesmos que Jesus respondeu, mas não à mulher, nem para humilha-la, mas aos verdadeiros pecadores da história, os fariseus, “aquele que estiver sem pecado que a pedreje”;

- sempre com o olhar abaixado, escrevendo na areia, colocando-se numa posição de empatia com a mulher, Jesus assistiu à saída dos fariseus, dos mais velhos aos mais novos, foi só então que Jesus falou com a mulher;

- o texto é claro em mostrar que Jesus só falou com a mulher quando ela estava só, sempre protegendo-a, do quê? dos homens maus? sim, mas muito mais dela mesma, de seu pecado, de sua vergonha pública, e ele nem a questionou sobre seu pecado, perguntou-lhe sobre seus acusadores;

- a palavra final de Jesus é objetiva, prática, eficiente, abençoadora, misericordiosa, repleta de amor, uma palavra que vale para todos nós quando nos sentimos envergonhados por algum pecado, sem esperança, sem forças para seguir em frente, “não te acuso, só segue em frente e não repita o erro”.

      Pontos que precisam ser citados sobre o mundo atual, as igrejas, divórcio e adultério:

- casamento tem sido pouco valorizado, muitos vivem maritalmente sem assumir casamento diante de lei e religião e não se consideram adúlteros, ou casados; a verdade é que casamento é uma aliança entre seres humanos diante de Deus, indiferente de legalização civil ou religiosa, assim quem vive com alguém por um tempo, mesmo sem ser casado no cartório ou/e na igreja, desmancha e depois vive com outra pessoa no mesmo esquema, não trocou de namoro, mas encerrou uma relação estável (que mesmo a lei reconhece como casamento) e pode ter iniciado outra, assim separou-se e pode ter cometido traição

- muitos pastores atualmente tomam uma de duas atitudes com relação a um casal, membros de suas igrejas que se separaram: ou passam a mão na cabeça do que trai, não tomando nenhum posicionamento, ou exclui do rol de membros e afasta aquele que traiu de forma definitiva; poucos pastores tomam uma atitude sábia e de fato espiritual que é displinar, mas tratar com amor e proximidade não só o membro traído do casal, mas também (e principalmente) o traidor;

- separação precisa ser punida, sim, principalmente a parte que quebra a aliança, as pessoas precisam aprender que escolhas têm preços e aliança de matrimônio é coisa muito, mas muito séria, como é ter relações sexuais com alguém e principalmente colocar filhos no mundo; disciplinar de maneira clara e rápida é testemunho do evangelho na sociedade, lição para os membros da igreja, além de marcar o coração do que errou não só com uma vexação pública, mas com a consequência dolorosa do erro, que será lembrada caso ele seja tentado a cometer o mesmo erro futuramente;

- contudo, pastor e igreja precisam manterem-se como mãos de cura emocional de Deus nas vidas das pessoas; uma opção, que pode ser sábia após o casal dar um tempo separado, por mais dolorosa que seja a princípio, é dar uma segunda chance para que haja um restabelecimento do casamento; muitos pecam por simples imaturidade, assim uma volta é benção principalmente para filhos que precisam de pai e mãe juntos para serem melhores criados;

- mas há sim, separações irreconciliáveis, porque na verdade nunca foi casamento de verdade, ainda que tenha havido vida íntima, e ouso dizer, ainda que tenham oficializado o casamento legal e/ou religiosamente, nesses casos separação pode ser a única solução viável; mais ainda assim a igreja precisa disciplinar, sempre, contudo, mantendo uma porta aberta para o evangelho, e nunca condenando ninguém ao “inferno”; 

- todo ser humano, seja quem for, tem até seu último instante de vida neste mundo oportunidade para se acertar com Deus e ter direito a viver com ele na eternidade, contudo, precisamos entender que certas escolhas têm preços, se não diante de Deus, diante dos homens, sejamos pois humildes e aceitemos essa verdade, o que se deixa ser disciplinado por Deus, não por homens, e que não se esconde atrás de um personagem de vítima, não repete os erros e alcança misericórdia do Senhor para ser feliz, inclusive num casamento verdadeiro, santo e duradouro.

      Todavia, a melhor solução de todas é ensinar melhor nossas crianças e jovens, principalmente sobre sexo, já que é ele o motivo que leva tanto a casamentos errados como a separações sofridas. Pessoalmente acho que as pessoas dão importância sempre errada para sexo, ou o valorizam demais, ou o valorizam de menos, ou o veem só como satisfação prazerosa fácil, ou como referência suprema de santidade. O correto é mostrar que vida a dois tem o preço da independência econômica e da responsabilidade de assumir filhos, que casamento é algo bonito, bom, bênção, e por isso deve-se pensar bastante, orar muito, antes de assumi-lo. Temos que entender também que muitas pessoas simplesmente não estão preparadas para casamento, e muito menos para ter e criar filhos, ainda que fisiologicamente estejam prontas para relações sexuais. Assim, são os outros que têm que ajudar, aconselhar, tomando a iniciativa para orientar, como amigos, país, professores e pastores. 
      É preciso, principalmente, que as famílias conversem mais sobre sexo e casamento corretos, e não fazer, como muitas famílias de cristãos fazem, só incentivar casamento de jovens despreparados para que que não caiam na tentação de perderem a virgindade. Sim, por incrível que pareça isso atualmente ainda acontece, e muitos pais evangélicos se orgulham de entregarem ao matrimônio jovens de dezoito anos, talvez até seja interessante em alguns casos, mas não deve ser usado como regra para esconder falso moralismo e medo de enfrentar a realidade. Isso apressa a criação de famílias, a vinda de crianças ao mundo, dificulta o melhor preparo das pessoas na área profissional, já que casados e com filhos se tem o tempo para estudos mais restrito, ainda que com compromissos financeiros para serem cumpridos.
      Também é importante chamar a atenção para o que pensa o mundo e a mídia atuais sobre sexo. Na TV e na internet prega-se, por músicas, filmes, novelas etc, a liberdade de todos e para tudo, e que prevenção de gravidez e DSTs com camisinha e anticoncepcional basta para autorizar alguém para ter relações sexuais. Isso protege o corpo, mas não a alma e o espírito, sexo errado traz sempre, pelo menos a princípio, culpa, e não é só porque temos uma educação repressora, como pregam os sacerdotes da nova era, é porque é errado mesmo. Antes do tempo certo, sem ser com a pessoa certa e com a responsabilidade certa, sexo é ruim, contudo, na insistência o ser humano se acostuma, anestesia a alma e mata o espírito, tornando-se prostituto e adúltero, ainda que achando que isso é normal.
      Mas enquanto de um lado temos a liberalidade total, no outro temos a falsa moralidade, assim pastores precisam ser mais realistas e menos legalistas, mais amorosos e menos hipócritas, mais santos, sim, sempre, mas menos preconceituosos e diligentes para trazer de volta, não para afastar. Casamento não é para ser muitos, e sim, o ideal de Deus de ser só um é o melhor e pode ser uma realidade. Quem se resolve em Deus se casa e pode manter para sempre um casamento, por outro lado, quem não quer amadurecer, antes, só viver como criança provando um novo prazer sempre que enjoa do último, nunca achará felicidade em nenhum casamento e muito menos na solidão. 
      Creio, todavia, que na eternidade nos surpreenderemos ao saber sobre o verdadeiro valor que Deus dá a casamento e sexo, e seremos julgados pelo tempo que perdemos com certas coisas externas e materiais em detrimento de outras, de fato espirituais e muito mais prioritárias. Quer um conselho prático? Estude mais, leia mais, pratique esportes, conheça arte, aprenda a tocar um instrumento, viaje mais, tenha um animal de estimação, e sim, estude a Bíblia, adore a Deus, ore muito mais, vá a uma boa igrega, conheça outras igrejas, tenha amigos, seja feliz, se conheça mais e principalmente, conheça mais a Deus. Com certeza depois de fazer tudo isso terá menos tempo para usar sexo de maneira equivocada e apressar relacionamentos que são alianças de fato mais perenes. 

01/03/19

Um pastor de verdade

      “Os sinais do meu apostolado foram manifestados entre vós com toda a paciência, por sinais, prodígios e maravilhas. Pois, em que tendes vós sido inferiores às outras igrejas, a não ser que eu mesmo vos não fui pesado? Perdoai-me este agravo. Eis aqui estou pronto para pela terceira vez ir ter convosco, e não vos serei pesado, pois que não busco o que é vosso, mas sim a vós: porque não devem os filhos entesourar para os pais, mas os pais para os filhos. 
      Eu de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gastar pelas vossas almas, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado.” Porque receio que, quando chegar, não vos ache como eu quereria, e eu seja achado de vós como não quereríeis; que de alguma maneira haja pendências, invejas, iras, porfias, detrações, mexericos, orgulhos, tumultos; Que, quando for outra vez, o meu Deus me humilhe para convosco, e chore por muitos daqueles que dantes pecaram, e não se arrependeram da imundícia, e prostituição, e desonestidade que cometeram.” 
II Coríntios 12.12-15, 20-21

      O texto acima é do final da segunda carta de Paulo à igreja de Corinto, logo após os primeiros versículos do capítulo doze onde ele, de forma legítima, revela a autoridade de seu ministério. Tal revelação mostra que Paulo tinha intimidade espiritual com Deus, mesmo que consciente de um não que o próprio Deus tinha dado à sua oração pedindo que lhe fosse retirado o tal espinho na carne, espinho, que seja ele o que era, era usado pelo inimigo para humilhá-lo. Não, Paulo não reclama do espinho na carne, assume-o com honestidade, com humildade, com clareza e maturidade.
      Nos versos doze ao quatorze, Paulo abre o coração e mostra mais que um fundador de igrejas e consolidador da teologia eclesiástica fundamental, mas um ser humano na pessoa, não de um líder, mais que isso, de um pai. Um pai, contudo, desapontado com seus filhos, filhos espirituais de uma igreja que estava se desviando da vontade de Deus, razão que levou Paulo a listar várias exortações nas epístolas. Mas o uso da frase “não sou pesado a vós” revela a honestidade de um genuíno servo de Deus, que cumpre seu ministério para servir, não para ser servido, verdade escancarada em “não busco o que é vosso, mas a vós”. 
      A verdade tem seu preço e um homem espiritual do calibre de Paulo podia usar com autoridade a verdade de Deus ainda que se mostrando humano, magoado, sentindo-se rejeitado, vendo seus filhos desobedecerem suas orientações e que mesmo depois de novas exortações continuaram em desobediência. Uma desobediência reincidente é o que se entende nos versículos quinze, vinte e vinte e um, quando Paulo diz que numa nova visita aos coríntios ele poderia achá-los ainda com “pendências”, pecados pessoais e sociais, de cristãos imaturos ou absolutamente desviados.
      A lista de pecados é grave, Paulo fala de forma clara, “invejas, iras, porfias, detrações, mexericos, orgulhos, tumultos... imundícia, prostituição e desonestidade”. Um homem que não queria lucros materiais, que não desejava uma grande igreja para dominar e enriquecer-se, e que fazia isso avalizado por Deus, podia falar de pecado abertamente e cobrar santidade sem papas na língua. É impossível ler esse texto e não enchergar a diferença que existe em muitos líderes cristãos atuais, que para não perderem membros e respectivos dízimos não dizem às ovelhas o que elas realmente precisam ouvir para agradarem a Deus.
      “Amando-vos cada vez mais, seja menos amado”, quem tem coragem de fazer essa constatação, que líder, desses muitos atuais, egocêntricos e vaidosos, pode viver esse amor realmente de Deus pelos liderados? Que disciplina porque ama correndo o risco de não ser amado por quem é disciplinado? É preciso muito desprendimento em Deus, muita convicção de chamado, muita confiança na honra do Altíssimo e não na de homens, para ser um Paulo, muitos até desejam isso, nos dias de hoje, mas não querem pagar o preço. Apóstolo Paulo, um exemplo realmente a ser seguido, por pastores, por todos nós.

      “Porque não devem os filhos entesourar para os pais, mas os pais para os filhos.”

28/02/19

A Lei

      “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna. E não nos cansemos de fazer bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido.” Gálatas 6.7-9

      Religiões orientais, como o hinduísmo e o budismo, assim como esotéricas, como ordens iniciáticas baseadas no hermetismo, têm na “lei da causalidade” um de seus princípios fundamentais. Também chamada de carma (ou karma, ou a 7ª lei hermética, a de causa e efeito) diz que nenhuma causa ficará sem efeito, assim tudo o que o ser humano faz deve colher uma consequência, boa ou ruim de acordo com a qualidade da causa. Paulo cita esse princípio na carta aos Gálatas, e aqui não estamos fazendo qualquer apologia a quem usou isso primeiro, textos bíblicos ou outros textos religiosos, mas o apósotolo-teólogo relaciona tal princípio não a uma lei do universo ou da natureza, de forma cósmica impessoal, mas a Deus, e é bem duro em relação a isso, “não erreis, Deus não se deixa escarnecer”. Na ótica de Paulo (e do Espírito Santo) a obediência da “lei da causalidade” é algo pessoal para o Altíssimo, não é possível zombarmos dele ou despreza-lo de alguma maneira achando que podemos fazer algumas coisas que nada voltará como retorno, repito, de bom ou de ruim. Injustiças não ficarão sem juízo, nem boas obras sem honra, eis uma lei de Deus, imutável e para todos, sempre.
      Paulo abrange e detalha a tal “lei”, “Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna”, e a exortação inicial dele de que Deus não se deixa escarnecer (zombar, ridicularizar...) se refere também a isso, o efeito não só volta ao que o causou como é justo, adequado, na carne para a carne e no Espírito para o Espírito. É preciso ficar claro que na carne não significa só o óbvio, plantar pelos vícios, pelos erros, por uma busca de prazeres egoistas. De acordo com o evangelho fins não justificam os meios, assim como existe uma diferença entre colher neste mundo e colher na eternidade. A “lei” sempre é válida neste mundo, quem faz boas obras, colherá prosperidade, contudo, se não for salvo por Cristo, mesmo colhendo bem neste mundo, não mudará seu destino na eternidade. Deus não se deixa escarnecer também em relação à obra de redenção exclusiva feita por Jesus, boas obras não compram salvação, caridade feita pelo ateu, adorador de ídolos ou praticante de necromancia e culto a entidades espirituais, pode até ter bons frutos na existência material, mas não terá numa vida espiritual após a morte.
      O último versículo do texto de Paulo é um alerta aos que fazem boas obras no Espírito Santo e em Deus, não desista, infelizmente muitas coisas podem tentar nos fazer desistir nesta vida. Fraquezas reincidentes e não vencidas, cujas culpas que não acham no nome de Jesus paz através de seu perdão exclusivo e eficaz, podem nos enfraquecer ao ponto de perdermos a vontade de continuar fazendo (ou tentando fazer) as coisas certas. Injustiças do mundo, e o mundo é injusto mesmo, jaz no maligno (I João 5.19) que é cruel e mentiroso, injustiças administradas por prioridades equivocadas de vida e que não deveriam ser de quem é cristão, prioridades que podem nos levar a confiar mais no mundo que em Deus, desejar mais o mundo que seguir a Jesus, isso pode nos desanimar. Decepções com os homens, mesmo com cristãos, que apesar de estarem dentro do reino de Deus não são Deus e muitas vezes não vivem como homens de Deus, mesmo pastores, podem enfraquecer boas intenções. Eis três coisas que podem nos cansar de fazer o bem, nossas fraquezas, injustiças do mundo e decepções com tudo, mas Paulo nos exorta a não esmorecermos, seguirmos olhando para Jesus, fazendo tudo para ele e confiando em sua justiça, que no tempo certo colheremos.

27/02/19

Não fique perdido

      “Falou-lhes, pois, Jesus outra vez, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.” João 8.12

      Quando não sabemos onde estamos e nem para onde devemos ir, estamos perdidos, o salvo em Cristo e filho de Deus também pode achar-se nessa condição, mesmo tendo certeza de salvação e segurança da eternidade. Perdição não é trágico e certo destino só do que não autoriza que Deus se aproxime dele e lhe mostre a luz da vida que existe em Jesus, onde a existência é entendida com novos olhos, onde há libertação e paz. Nós cristãos, somos sempre levados pelo Espírito Santo a fazer escolhas, se demorarmos muito para fazer a escolha certa também poderemos nos achar perdidos. Repito, não é a perdição eterna, mas é um estado temporário de confusão que nos impede de ver a luz e nos deixa réus de “demônios”, veja que usei o termo entre aspas.
      Não me refiro aos seres espirituais do mal, pelo menos não só a eles, eles na maioria das vezes só usam nossos “demônios” internos para nos torturar, usam porque permitimos, o que são esses “demônios” internos? São nossos medos, nossas inseguranças, nossos erros passados, que nos enganam dizendo que nosso futuro está predestinado a repetí-los. Esse inferno ocorre dentro de nós, em nossas mentes e corações, centros figurados de nossos pensamentos e emoções, aquela relação estreita que ocorre entre corpo e alma, invisível, mas que nos domina mais que algemas em nossos punhos e cordas em nossos tornozelos. Esses “demônios” nos aprisionam e nos machucam, criam um loop infinito de efeito e causa que nos parece impossível de acabar, “demônios” são pessoais e intransferíveis, tão exclusivos a nós quanto nossos talentos, aptidões, paixões e ódios.
      Meu amigo e minha amiga, como você sabe que está perdido? Quando percebe que está sendo controlado por problemas que pareciam já terem sido resolvidos, quando sente que sua vida parece ter retrocedido, quando vê que opiniões, situações e pessoas, que antes não te incomodavam, passam a te deixar extremamente desconfortável. Penso, contudo, que o que marca um momento de perdição é uma guerra interior, que muitas vezes nem verbalizamos para os que estão próximos de nós, e não fazemos isso simplesmente porque não conseguimos entender o que está acontecendo. O que mais nos tortura nesse momento é que tentamos resolver um monte de problemas e não conseguimos, e não conseguimos porque na verdade esses não representam o problema principal, são apenas efeitos, não a causa. 
      O problema principal, e que acaba abrindo uma brecha em nós para todos esses outros problemas entrarem e nos dominarem, pode ser só uma decisão que temos que tomar e não estamos tomando, antes estamos fugindo de enfrentar a questão. Quando essa decisão for tomada todos os “demônios” desaparecerão, ficarão pequenos, fracos até que irão embora, do mesmo jeito que vieram. O que nos deixa perdidos é fugir de ter que fazer uma escolha, mas por que fugimos de certas escolhas? Por vários motivos, um deles pode ser porque fazer a escolha implica em abrir mão de uma posição cômoda, de algo que já nos acostumamos a fazer por anos, que nunca nos atrapalhou, mas que agora, a luz de Deus mostra que é algo que temos que deixar, de uma vez por todas. 
      Uma dificuldade deixa de ser dificuldade quando fica fácil de ser ultrapassada, assim Deus nos leva a enfrentar uma mais difícil, para que possamos crescer. A vida não fica mais fácil, mas mais difícil à medida que ficamos mais fortes. Isso, contudo, só acontece para que saibamos sempre que somos fracos e quem é forte é Deus, nessa consciência adquirimos humildade e continuamos a depender sempre do Senhor. Podemos, depois de anos tendo vitória e conseguindo ser produtivos, acabar achando que já crescemos tudo o que poderíamos, então Deus nos confronta com uma situação em que nos sentimos perdidos, por quê? Porque Deus coloca diante de nós uma dificuldade diferente, maior, e aquilo que parecia fácil fica difícil, aquilo que ultrapassávamos de um jeito que já tínhamos nos acostumado, não funciona mais. 
      Isso não é para que desistamos, para que concluámos, “bem, acho que já fiz tudo o que devia, agora é hora de parar”. Isso até pode ser verdade, esse momento pode até ter chegado, contudo, se você está sem paz e se sentido perdido, retrocedendo em teu padrão de vida espiritual, então não é momento de parar, mas de fazer uma nova escolha e enfrentar de frente um novo desafio. Grandes dificuldades são sempre grandes degraus para alcançarmos grandes conquistas, mas por outro lado, a negação de seguir em frente numa situação dessas traz grandes dores, um sentimento de perdição sem tamanho. Isso não é para que soframos indefinidamente, mas para nos empurrar para frente e para cima, para fazermos a vontade de Deus e crescermos. 
      O Deus que nos chama nos guiará até o fim de nossas vidas terrenas para novas, boas e melhores coisas. Em meu caminhar com Deus, todo início de ano é momento de saber e fazer uma nova escolha, você já sabe o que Deus tem pra você neste ano, já buscou, conheceu e obedeceu à vontade do Senhor para você e sua família em 2019? A vida com Deus se renova sempre, e o Senhor faz as coisas assim para o nosso bem, ele sabe como nos entediamos facilmente, como nossa alma é limitada para reter as riquezas do Espírito, dessa forma ele sempre nos toma pela mão e nos leva a provar novas facetas de uma vida abundante. A perdição não é para sempre, a confusão não é impossível de ser desfeita, os “demônios” não são invencíveis, se você parar e obedecer aquilo que Deus tem pra você hoje. 

      “Porque tu acenderás a minha candeia; o Senhor meu Deus iluminará as minhas trevas.Salmos 18.28

26/02/19

Preconceito X Humildade

      Confesso, ainda sou preconceituoso, julgo pela aparência, por um estereótipo que gravei na minha cabeça, sem conhecer de fato a pessoa. Preciso deixar aqui esse depoimento, e como músico, convivendo com músicos, e já com algum tempo de vida, às vezes ainda tiro conclusões precipitadas sobre as pessoas, talvez justamente por achar que já sei alguma coisa. Na música, uma coisa é o diferencial para quem quer exercer o ofício, talento natural, esse quesito não é adquirido com o tempo, não pode ser comprado com dinheiro nem com a maior força de vontade do mundo, ou a pessoas nasce com talento, ou não. Pode acontecer do talento aflorar mais à medida que a pessoa amadurece como ser humano, arte é virtude da alma, e fica melhor à medida que a alma ganha liberdade, mas ainda assim o potencial já estava com a pessoa desde seu nascimento.
      Assim, não julgue um músico pela aparência, mesmo pela cultura ou formação acadêmica. Existe gente que teve acesso a muito estudo, incluindo o musical, como à escola de piano erudito, cujo currículo passa de dez anos de estudo pesado, mas ainda assim gente com pouco talento mesmo que com muita técnica. Músico com talento não precisa de estudo, pode nem ler partitura, mas tem o que chamamos de “ouvidos”, ouve e sabe o que está acontecendo e executa no instrumento, discerne notas, escalas, acordes, encadeamentos, ritmo, arranjo etc. Ouve e sai tocando, sem precisar decodificar partitura, e além de reproduzir o que outros criaram, compõe obras originais e rearranja. É claro que quando o talento encontra o estudo, quando além de ouvidos o músico tem conhecimento da teoria musical, de harmonia, de partitura, o músico atinge seu apogeu. 
      Contudo, já encontrei gente simples, e mais que simples, humilde de fato, a qual eu não dei a princípio muito valor como músico, sim, devido a simples preconceito, por achar que pessoa com este estereótipo não deve ser bom músico e com aquele, deve, nesse julgamento pra pior já me dei mal e passei vergonha. Ocorre também que pessoas realmente geniais podem ser verdadeiramente humildes, não se impõem por aparência nem por palavras, você só vai saber que elas têm muito talento quando as vir atuando, tocando o instrumento. A verdadeira e melhor humildade não se nasce com ela, e ter um jeito tímido e discreto não significa de fato ser humilde, mas o músico em especial é de uma classe bem humilhada, principalmente em nosso país (e em nossas igrejas), tem que ser humilde para sobreviver. 
      Não me refiro a esse músico que vemos na mídia, na TV, na internet, esse pode ser celebridade, mas não ser artista (e uso o termo artista na melhor das óticas, referindo-me a alguém que de fato produz arte), muitos podem ser famosos, mas nem terem talento musical, assim pode até parecerem humildes, mas não serem. Não estou generalizando, mas infelizmente atualmente existe uma obsessão muito grande para ser celebridade (e muito nas igrejas evangélicas), e muitos fazem qualquer negócio, “vendem a alma”, para terem fama (ou se vendem e perdem a pureza do evangelho como “artistas” gospel). 
      O músico da noite, contudo, como chamamos esse profissional marginal que não aparece na mídia, aprende que precisa sobreviver de seu trabalho, que a competição é desleal, e que humildade é preciso para seguir de cabeça erguida e com portas abertas. É nesse tipo sofrido de profissional onde achamos gente muito talentosa, com uma aparência bem diferente das celebridades midiáticas, e que se não estivermos com a mente e o coração abertos podemos interagir com preconceito, com julgamento ruim, e sermos envergonhados. A lição é, cuidado, não defina alguém sem conhecê-lo profundamente, ainda que para quem tem sabedoria de vida em Deus, bastem alguns instantes para ver a qualidade do caráter de uma pessoa.

      “Os propósitos do coração do homem são águas profundas, mas quem tem discernimento os traz à tona.” Provérbios 20:5

25/02/19

Deus é contigo

      “Não to mandei eu? Esforça-te, e tem bom ânimo; não temas, nem te espantes; porque o Senhor teu Deus é contigo, por onde quer que andares.Josué 1.9

      O versículo inicial nos consola sobremaneira, a todos nós que um dia nos colocamos nas mãos de Deus, indiferentes às posições dos homens, às oposições dos homens, às opiniões dos homens, querendo achar a felicidade que só Deus pode nos dar e que queremos tanto encontrar, após muito sofrimento e solidão. Pois é essa a palavra que sinto de compartilhar contigo, meu amigo e minha amiga que hoje lê um post do “Como o ar que respiro”, Deus é contigo, confia teu caminho nas mãos do Senhor, limpe seu coração, seja fiel com as alianças que realmente importam, se desvencilhie das outras, para não pecar, e anime-se. Deus te acompanhará até o fim, não te deixará, nunca te faltará esperança, saúde, trabalho honesto e companhia de homens e mulheres de bem que te façam companhia, de forma que tenha sempre teu coração cheio de paz e tua boca cheia de louvor ao Altíssimo.

24/02/19

A que se compara o Senhor?

      “E apascentava Moisés o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote em Midiã; e levou o rebanho atrás do deserto, e chegou ao monte de Deus, a Horebe. E apareceu-lhe o anjo do Senhor em uma chama de fogo do meio duma sarça; e olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia. E Moisés disse: Agora me virarei para là, e verei esta grande visão, porque a sarça não se queima. E vendo o Senhor que se virava para ver, bradou Deus a ele do meio da sarça, e disse: Moisés, Moisés. Respondeu ele: Eis-me aqui.” 
Êxodo 3.1-4


      “Vive o Senhor, e bendito seja o meu rochedo; e exaltado seja Deus, a rocha da minha salvação” 

II Samuel 22.47


      “E de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.” 

Atos 2.2-4


     “E no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé, e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim, e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre. E isto disse ele do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado.” 

João 7.37-39


      O fogo que não queima, a terra, endurecida na rocha, que não se move, o vento que não destrói e a água que não afoga, não são os quatro elementos materiais, mas metáforas espirituais, que tentam definir importantes experiências que homens tiveram e têm com Deus pai, filho e Espírito Santo. Não estou sendo panteísta aqui, vendo Deus nos elementos, ainda que como descrito no Salmo 18, o Senhor tem controle sobre eles e eles se manifestam como efeito de seu poder. 


      “Na angústia invoquei ao Senhor, e clamei ao meu Deus; desde o seu templo ouviu a minha voz, aos seus ouvidos chegou o meu clamor perante a sua face. Então a terra se abalou e tremeu; e os fundamentos dos montes também se moveram e se abalaram, porquanto se indignou. Das suas narinas subiu fumaça, e da sua boca saiu fogo que consumia; carvões se acenderam dele. Abaixou os céus, e desceu, e a escuridão estava debaixo de seus pés. E montou num querubim, e voou; sim, voou sobre as asas do ventoFez das trevas o seu lugar oculto; o pavilhão que o cercava era a escuridão das águas e as nuvens dos céus. Ao resplendor da sua presença as nuvens se espalharam, e a saraiva e as brasas de fogo. E o Senhor trovejou nos céus, o Altíssimo levantou a sua voz; e houve saraiva e brasas de fogo. Mandou as suas setas, e as espalhou; multiplicou raios, e os desbaratou. Então foram vistas as profundezas das águas, e foram descobertos os fundamentos do mundo, pela tua repreensão, Senhor, ao sopro das tuas narinas. Enviou desde o alto, e me tomou; tirou-me das muitas águas.” 

Salmos 18.6-16


      Que texto maravilhoso esse Salmo, seja interpretado ao pé da letra, seja visto como metáforas das potestades espirituais, é poético, e mesmo um ser humano não dado à filosofia ou sem conhecimento profundo do mundo invisível pode entender e se sentir ouvido e protegido por um Deus alto e poderoso. Os quatro textos iniciais descrevem a subjetividade humana experimentando o Senhor, já que foram escritos por homens e para homens, ou podem ser a maneira como Deus se apresenta para que essa subjetividade possa entender melhor sua manifestação, contudo, esses textos contém mistérios que pouco compreendemos, do mundo invisível, da eternidade, que vão muito além de fogo, terra (rocha), ar (vento) e água. 

      Esta reflexão não contém nenhuma revelação, doutrinária ou filosófica, é apenas a expressão do meu encantamento com Deus, suas criações (de todos os universos), suas manifestações e como tudo isso simplesmente alimenta nosso ser, corpo, alma e espírito, de maneira completa. Triste o homem que acha fraqueza adorar a Deus, que considera ignorância confiar num Deus pessoal, invisível e todo-poderoso, não é só a Deus que tal homem nega, mas a si mesmo, sua essência. Nossa essência precisa do Senhor, o deseja com todo seu sentimento e pensamento, suspira por ele, tem sede dele, precisa dele como ar que mantém a vida, como água que sacia a sede, como rocha que dá firmeza e como fogo, que aquece e transforma os materiais para bem servir ao homem.


      “E Deus lhe disse: Sai para fora, e põe-te neste monte perante o Senhor. E eis que passava o Senhor, como também um grande e forte vento que fendia os montes e quebrava as penhas diante do Senhor; porém o Senhor não estava no vento; e depois do vento um terremoto; também o Senhor não estava no terremoto; E depois do terremoto um fogo; porém também o Senhor não estava no fogo; e depois do fogo uma voz mansa e delicada.

 I Reis 19.11-12


      Não posso encerrar está reflexão sem citar o texto acima, um dos textos mais poéticos da Bíblia. Um vento forte nos aterroriza quando olhamos pelas janelas e vemos tudo se abalar quando ele passa? Um terremoto lança em nossos rostos nossa fragilidade diante da força da natureza que faz tremer nosso chão? Um fogo terrível e consumidor devasta tudo o que tem pela frente? Pois saiba que Deus pode usar tudo isso e ser maravilhoso, contudo, seu maior poder, o único de fato que pode mudar o coração do homem, é o perdão pelo nome de Jesus. Esse perdão Deus revela com a voz mansa e delicada do Espírito Santo, que nos fala com amor e com graça, e que transforma nossas vidas de maneira extrema e para sempre.