sábado, março 02, 2019

Divórcio, adultério e cristianismo

      “E os escribas e fariseus trouxeram-lhe uma mulher apanhada em adultério; E, pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato, adulterando. E na lei nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes? Isto diziam eles, tentando-o, para que tivessem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia com o dedo na terra. E, como insistissem, perguntando-lhe, endireitou-se, e disse-lhes: Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela. E, tornando a inclinar-se, escrevia na terra. Quando ouviram isto, redargüidos da consciência, saíram um a um, a começar pelos mais velhos até aos últimos; ficou só Jesus e a mulher que estava no meio. E, endireitando-se Jesus, e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais.” 
João 8.3-11

      Esse é um dos textos mais belos e reveladores do evangelho, relatado pela sensibilidade de João o evangelista, seguem alguns pontos relevantes sobre ele:

- os fariseus não queriam disciplinar a mulher, para que ela assumisse seu erro e mudasse de vida; os fariseus, sabedores da sabedoria e do amor de Jesus, armaram uma armadilha para ele, confrontando-o com a lei mosaica, tentando fazer com que Jesus negasse a lei e fosse pego, por eles, em pecado;

- a mulher, humilhada, era só um joguete nas mãos de religiosos hipócritas, e é a isso que a tentativa de ver a vontade de Deus como obedecimento cego e ao pé da letra de leis faz, não nos fortalece para agradar a Deus e nos leva a exigir dos outros o que nem nós vivemos;

- qual foi a resposta que Jesus deu aos fariseu? nenhuma, Jesus não respondeu nada, foi só depois de insistência dos mesmos que Jesus respondeu, mas não à mulher, nem para humilha-la, mas aos verdadeiros pecadores da história, os fariseus, “aquele que estiver sem pecado que a pedreje”;

- sempre com o olhar abaixado, escrevendo na areia, colocando-se numa posição de empatia com a mulher, Jesus assistiu à saída dos fariseus, dos mais velhos aos mais novos, foi só então que Jesus falou com a mulher;

- o texto é claro em mostrar que Jesus só falou com a mulher quando ela estava só, sempre protegendo-a, do quê? dos homens maus? sim, mas muito mais dela mesma, de seu pecado, de sua vergonha pública, e ele nem a questionou sobre seu pecado, perguntou-lhe sobre seus acusadores;

- a palavra final de Jesus é objetiva, prática, eficiente, abençoadora, misericordiosa, repleta de amor, uma palavra que vale para todos nós quando nos sentimos envergonhados por algum pecado, sem esperança, sem forças para seguir em frente, “não te acuso, só segue em frente e não repita o erro”.

      Pontos que precisam ser citados sobre o mundo atual, as igrejas, divórcio e adultério:

- casamento tem sido pouco valorizado, muitos vivem maritalmente sem assumir casamento diante de lei e religião e não se consideram adúlteros, ou casados; a verdade é que casamento é uma aliança entre seres humanos diante de Deus, indiferente de legalização civil ou religiosa, assim quem vive com alguém por um tempo, mesmo sem ser casado no cartório ou/e na igreja, desmancha e depois vive com outra pessoa no mesmo esquema, não trocou de namoro, mas encerrou uma relação estável (que mesmo a lei reconhece como casamento) e pode ter iniciado outra, assim separou-se e pode ter cometido traição

- muitos pastores atualmente tomam uma de duas atitudes com relação a um casal, membros de suas igrejas que se separaram: ou passam a mão na cabeça do que trai, não tomando nenhum posicionamento, ou exclui do rol de membros e afasta aquele que traiu de forma definitiva; poucos pastores tomam uma atitude sábia e de fato espiritual que é displinar, mas tratar com amor e proximidade não só o membro traído do casal, mas também (e principalmente) o traidor;

- separação precisa ser punida, sim, principalmente a parte que quebra a aliança, as pessoas precisam aprender que escolhas têm preços e aliança de matrimônio é coisa muito, mas muito séria, como é ter relações sexuais com alguém e principalmente colocar filhos no mundo; disciplinar de maneira clara e rápida é testemunho do evangelho na sociedade, lição para os membros da igreja, além de marcar o coração do que errou não só com uma vexação pública, mas com a consequência dolorosa do erro, que será lembrada caso ele seja tentado a cometer o mesmo erro futuramente;

- contudo, pastor e igreja precisam manterem-se como mãos de cura emocional de Deus nas vidas das pessoas; uma opção, que pode ser sábia após o casal dar um tempo separado, por mais dolorosa que seja a princípio, é dar uma segunda chance para que haja um restabelecimento do casamento; muitos pecam por simples imaturidade, assim uma volta é benção principalmente para filhos que precisam de pai e mãe juntos para serem melhores criados;

- mas há sim, separações irreconciliáveis, porque na verdade nunca foi casamento de verdade, ainda que tenha havido vida íntima, e ouso dizer, ainda que tenham oficializado o casamento legal e/ou religiosamente, nesses casos separação pode ser a única solução viável; mais ainda assim a igreja precisa disciplinar, sempre, contudo, mantendo uma porta aberta para o evangelho, e nunca condenando ninguém ao “inferno”; 

- todo ser humano, seja quem for, tem até seu último instante de vida neste mundo oportunidade para se acertar com Deus e ter direito a viver com ele na eternidade, contudo, precisamos entender que certas escolhas têm preços, se não diante de Deus, diante dos homens, sejamos pois humildes e aceitemos essa verdade, o que se deixa ser disciplinado por Deus, não por homens, e que não se esconde atrás de um personagem de vítima, não repete os erros e alcança misericórdia do Senhor para ser feliz, inclusive num casamento verdadeiro, santo e duradouro.

      Todavia, a melhor solução de todas é ensinar melhor nossas crianças e jovens, principalmente sobre sexo, já que é ele o motivo que leva tanto a casamentos errados como a separações sofridas. Pessoalmente acho que as pessoas dão importância sempre errada para sexo, ou o valorizam demais, ou o valorizam de menos, ou o veem só como satisfação prazerosa fácil, ou como referência suprema de santidade. O correto é mostrar que vida a dois tem o preço da independência econômica e da responsabilidade de assumir filhos, que casamento é algo bonito, bom, bênção, e por isso deve-se pensar bastante, orar muito, antes de assumi-lo. Temos que entender também que muitas pessoas simplesmente não estão preparadas para casamento, e muito menos para ter e criar filhos, ainda que fisiologicamente estejam prontas para relações sexuais. Assim, são os outros que têm que ajudar, aconselhar, tomando a iniciativa para orientar, como amigos, país, professores e pastores. 
      É preciso, principalmente, que as famílias conversem mais sobre sexo e casamento corretos, e não fazer, como muitas famílias de cristãos fazem, só incentivar casamento de jovens despreparados para que que não caiam na tentação de perderem a virgindade. Sim, por incrível que pareça isso atualmente ainda acontece, e muitos pais evangélicos se orgulham de entregarem ao matrimônio jovens de dezoito anos, talvez até seja interessante em alguns casos, mas não deve ser usado como regra para esconder falso moralismo e medo de enfrentar a realidade. Isso apressa a criação de famílias, a vinda de crianças ao mundo, dificulta o melhor preparo das pessoas na área profissional, já que casados e com filhos se tem o tempo para estudos mais restrito, ainda que com compromissos financeiros para serem cumpridos.
      Também é importante chamar a atenção para o que pensa o mundo e a mídia atuais sobre sexo. Na TV e na internet prega-se, por músicas, filmes, novelas etc, a liberdade de todos e para tudo, e que prevenção de gravidez e DSTs com camisinha e anticoncepcional basta para autorizar alguém para ter relações sexuais. Isso protege o corpo, mas não a alma e o espírito, sexo errado traz sempre, pelo menos a princípio, culpa, e não é só porque temos uma educação repressora, como pregam os sacerdotes da nova era, é porque é errado mesmo. Antes do tempo certo, sem ser com a pessoa certa e com a responsabilidade certa, sexo é ruim, contudo, na insistência o ser humano se acostuma, anestesia a alma e mata o espírito, tornando-se prostituto e adúltero, ainda que achando que isso é normal.
      Mas enquanto de um lado temos a liberalidade total, no outro temos a falsa moralidade, assim pastores precisam ser mais realistas e menos legalistas, mais amorosos e menos hipócritas, mais santos, sim, sempre, mas menos preconceituosos e diligentes para trazer de volta, não para afastar. Casamento não é para ser muitos, e sim, o ideal de Deus de ser só um é o melhor e pode ser uma realidade. Quem se resolve em Deus se casa e pode manter para sempre um casamento, por outro lado, quem não quer amadurecer, antes, só viver como criança provando um novo prazer sempre que enjoa do último, nunca achará felicidade em nenhum casamento e muito menos na solidão. 
      Creio, todavia, que na eternidade nos surpreenderemos ao saber sobre o verdadeiro valor que Deus dá a casamento e sexo, e seremos julgados pelo tempo que perdemos com certas coisas externas e materiais em detrimento de outras, de fato espirituais e muito mais prioritárias. Quer um conselho prático? Estude mais, leia mais, pratique esportes, conheça arte, aprenda a tocar um instrumento, viaje mais, tenha um animal de estimação, e sim, estude a Bíblia, adore a Deus, ore muito mais, vá a uma boa igrega, conheça outras igrejas, tenha amigos, seja feliz, se conheça mais e principalmente, conheça mais a Deus. Com certeza depois de fazer tudo isso terá menos tempo para usar sexo de maneira equivocada e apressar relacionamentos que são alianças de fato mais perenes. 

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