sexta-feira, março 01, 2019

Um pastor de verdade

      “Os sinais do meu apostolado foram manifestados entre vós com toda a paciência, por sinais, prodígios e maravilhas. Pois, em que tendes vós sido inferiores às outras igrejas, a não ser que eu mesmo vos não fui pesado? Perdoai-me este agravo. Eis aqui estou pronto para pela terceira vez ir ter convosco, e não vos serei pesado, pois que não busco o que é vosso, mas sim a vós: porque não devem os filhos entesourar para os pais, mas os pais para os filhos. 
      Eu de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gastar pelas vossas almas, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado.” Porque receio que, quando chegar, não vos ache como eu quereria, e eu seja achado de vós como não quereríeis; que de alguma maneira haja pendências, invejas, iras, porfias, detrações, mexericos, orgulhos, tumultos; Que, quando for outra vez, o meu Deus me humilhe para convosco, e chore por muitos daqueles que dantes pecaram, e não se arrependeram da imundícia, e prostituição, e desonestidade que cometeram.” 
II Coríntios 12.12-15, 20-21

      O texto acima é do final da segunda carta de Paulo à igreja de Corinto, logo após os primeiros versículos do capítulo doze onde ele, de forma legítima, revela a autoridade de seu ministério. Tal revelação mostra que Paulo tinha intimidade espiritual com Deus, mesmo que consciente de um não que o próprio Deus tinha dado à sua oração pedindo que lhe fosse retirado o tal espinho na carne, espinho, que seja ele o que era, era usado pelo inimigo para humilhá-lo. Não, Paulo não reclama do espinho na carne, assume-o com honestidade, com humildade, com clareza e maturidade.
      Nos versos doze ao quatorze, Paulo abre o coração e mostra mais que um fundador de igrejas e consolidador da teologia eclesiástica fundamental, mas um ser humano na pessoa, não de um líder, mais que isso, de um pai. Um pai, contudo, desapontado com seus filhos, filhos espirituais de uma igreja que estava se desviando da vontade de Deus, razão que levou Paulo a listar várias exortações nas epístolas. Mas o uso da frase “não sou pesado a vós” revela a honestidade de um genuíno servo de Deus, que cumpre seu ministério para servir, não para ser servido, verdade escancarada em “não busco o que é vosso, mas a vós”. 
      A verdade tem seu preço e um homem espiritual do calibre de Paulo podia usar com autoridade a verdade de Deus ainda que se mostrando humano, magoado, sentindo-se rejeitado, vendo seus filhos desobedecerem suas orientações e que mesmo depois de novas exortações continuaram em desobediência. Uma desobediência reincidente é o que se entende nos versículos quinze, vinte e vinte e um, quando Paulo diz que numa nova visita aos coríntios ele poderia achá-los ainda com “pendências”, pecados pessoais e sociais, de cristãos imaturos ou absolutamente desviados.
      A lista de pecados é grave, Paulo fala de forma clara, “invejas, iras, porfias, detrações, mexericos, orgulhos, tumultos... imundícia, prostituição e desonestidade”. Um homem que não queria lucros materiais, que não desejava uma grande igreja para dominar e enriquecer-se, e que fazia isso avalizado por Deus, podia falar de pecado abertamente e cobrar santidade sem papas na língua. É impossível ler esse texto e não enchergar a diferença que existe em muitos líderes cristãos atuais, que para não perderem membros e respectivos dízimos não dizem às ovelhas o que elas realmente precisam ouvir para agradarem a Deus.
      “Amando-vos cada vez mais, seja menos amado”, quem tem coragem de fazer essa constatação, que líder, desses muitos atuais, egocêntricos e vaidosos, pode viver esse amor realmente de Deus pelos liderados? Que disciplina porque ama correndo o risco de não ser amado por quem é disciplinado? É preciso muito desprendimento em Deus, muita convicção de chamado, muita confiança na honra do Altíssimo e não na de homens, para ser um Paulo, muitos até desejam isso, nos dias de hoje, mas não querem pagar o preço. Apóstolo Paulo, um exemplo realmente a ser seguido, por pastores, por todos nós.

      “Porque não devem os filhos entesourar para os pais, mas os pais para os filhos.”

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