23/11/19

Quem pode se proteger da morte?

      “E andou Enoque com Deus, e não apareceu mais, porquanto Deus para si o tomou.Gênesis 5.24

      Você pode não gostar do Gugu Liberato, dos programas que ele fez, do estilo dele, mas uma coisa todos temos que admitir, ele foi importante na TV brasileira, foi muito importante na cultura do povo brasileiro, fez parte do entretenimento televisivo de muita gente, está em nossas memórias, e sempre como um símbolo de alegria. Era uma pessoa carismática, dessas que as câmeras amam, que brilham na tela, era amado e respeitado por muitos e sempre nos passou a imagem de alguém carinhoso, delicado, gentil. Você, crente, não seja preconceituoso, medindo o trabalho desse homem como de mau gosto, como indecente em alguns momentos, saiba que ele reflete a realidade de uma parte majoritária da população brasileira, e ele não ganhou tudo que ganhou sem motivos legítimos. Gugu Liberato mereceu tudo que teve em quase quarenta anos de trabalho na TV, tudo, o universo é sempre justo. 
      Aos 60 anos, depois de décadas de uma carreira vitoriosa no SBT, ele tinha um programa na Record, mas morava nos E.U.A., com os três filhos e a mãe de seus filhos, podemos dizer que já estava usufruindo de tudo o que plantou, morando numa casa nova, e com certeza nem precisaria mais trabalhar para o resto da vida. Então, numa quarta-feira, dia 20 de novembro de 2019, querendo consertar um ar condicionado, subiu ao sótão sem saber que o chão não poderia suportar o peso, caiu de uma altura de quase quatro metros e bateu a cabeça num móvel. Foi levado ao hospital e depois de 48 horas, na sexta-feira, dia 22, sua morte cerebral foi anunciada. Rápido demais? Fora do tempo demais? Estúpido demais? Mas a morte veio, e mesmo ele, com toda a fama, poder aquisitivo, com toda a segurança que buscava no estado da Flórida nos Estados Unidos, não pode se proteger dela, não pode prevê-la. 
      Por quê essa morte me tocou tanto? Porque de alguém que já está bem velho, doente, ou que até tem uma personalidade mais sombria, mais fechada, ou uma atividade mais escondida, nem notamos muito quando se vai, ainda que toda morte seu doída para alguém. Mas o Gugu era todo luz, todo vida, todo sorriso, todo energia, jovial ainda que sexagenário, desses que nos parece que nunca vai partir desse plano, e de repente, de um jeito estúpido, repito, num acidente doméstico, longe do trânsito das ruas, fora de aviões que sempre nos parecem estarem se movendo em espaço que não lhes pertence, ainda que quedas de avisões sejam estatisticamente menores, longe da criminalidade das cidades brasileiras, das guerras civis ou não, onde tanto risco se corre, de repente ele cai, sozinho, e se acidenta de um jeito irreversível. Tantos se expondo de maneiras perigosas escapam da morte, Gugu não escapou.
      Nesses momentos nós pensamos sempre a mesma coisa, eu preciso dar mais valor à vida, preciso me cuidar mais, mas também não deixamos de repensar o óbvio, a única verdade inexorável da vida: ela é curta e ninguém escapa da morte. Eu penso que morte se constrói, durante toda a vida, cada escolha, cada atitude, cada palavra, cada amor e cada ódio, cada sonho e cada desilusão, coloca um pedaço numa porta chamada morte. A morte não se adquire por inteira e de uma só vez, mas aos poucos, ocorre que quando ela está pronta ela se abre, bem a nossa frente, seja lá onde estivermos, sem que tenhamos chance de fechá-la. Quanto tempo levamos para construir essa porta? Isso varia, de pessoa para pessoa, depende de todas as coisas que fizemos durante toda a nossa vida. Algumas mortes nos parecem pegar de surpresa? Pois a Deus não pega, quando ela vem é porque ela é necessária.
      A verdade é que somos escravos do tempo, ou daquilo que achamos que ele é, mas o tempo de Deus é diferente, aliás Deus não tem tempo, pra ele é sempre presente, pois ele não envelhece nem planta para colher depois. Viver bem cada momento, cada instante como se fosse o último? Não se culpar pelo passado, nem se preocupar com o futuro? Isso tudo até pode ser sábio, mas ainda é se ocupar do tempo, o melhor é se ligar ao Senhor de tudo, até do tempo. Ligado em Deus nada nos pega de surpresa e o Senhor sempre nos dirá o que fazer para viver bem cada momento e não ter uma partida desse plano estúpida. Deus sabe de cada um, conhece lá no fundo o coração de todo ser humano, conhece a verdade, o que somos de fato, nossas prioridades. Deus sabe se nossos corações amam aquilo que de fato importa nessa existência e que nos preparará para o melhor, e não para o pior, da eternidade.
      Quem pode se proteger da morte? Ninguém, nem o pobre, nem o rico, nem o famoso, nem o desconhecido, nem o erudito, nem o desinformado, mas todos, todos nós podemos nos aproximar de Deus, a tempo. A maior prova de amor de Deus para conosco é que ele compartilha a eternidade e a espiritualidade mais alta conosco, reles mortais, se nós quisermos, se nós buscarmos, se nós permitirmos. Mas será que somos nós de fato que fazemos alguma coisa, que recebemos algo por algum mérito? Eu penso que não, penso que tudo parte e se encerra em Deus para depois nascer de novo de um modo fantasticamente superior e inédito, que nós nem podemos imaginar. Por algum motivo, que é preciso que seja mistério para todos nós nesse tempo, temos um destino para amarmos (ou não) a Deus, esse entendimento não é para todos, os que amam a Deus, contudo, sabem que amam porque Deus os amou primeiro. 
      A morte nos coloca em contato direto, sem a fumaça da existência encarnada, com esse mistério, que se inicia antes de tudo com algo absolutamente novo. Ainda que autores bíblicos falem de céu e inferno, de paraíso e perdição, tentando comparar valores espirituais com referências materiais, ainda assim nós não podemos fazer ideia do que é a morte e do que encontraremos depois, tanto perto quanto longe de Deu (se é que é possível estar longe do amor de Deus para sempre, talvez só longe de se deixar ser amado...). Deus não se afasta de ninguém, são as pessoas que se afastam dele, e se isso for feito de maneira muito decisiva não só levaremos isso para a existência pós-morte mas também apresaremos a morte. Por quê? Porque para que deve existir vida se não for para andar com Deus? Contudo, os que andam muito com Deus, como Enoque, nem a morte provam. 
      Se o Gugu Liberato está perto ou longe de Deus agora em sua existência puramente espiritual só Deus sabe. O que podemos fazer neste momento é com relação aos vivos na carne, isso nos é autorizado, comunicação de vivos com vivos e todos com Deus através de Cristo. Assim, sejamos sensíveis à vida, às experiência dos outros, aprender com erros alheios nos protege de termos que aprender com os nossos próprios, que dói muito mais. Mas tenhamos humildade para assumir nossos erros, nos arrependermos, pedirmos perdão e desejarmos seguir sem cometê-los de novo. Tenhamos coragem de fazer as melhores escolhas, e as melhores escolhas é sermos fiéis com as alianças que fazemos. Não percamos a esperança em Deus, não desistamos de Deus, e se o buscarmos no Espírito Santo sempre acharemos forças para crer e adorar a Deus. Quem vive certo, em nome de Jesus, terá uma boa morte, eu creio. 

22/11/19

Às vezes ninguém precisa saber...

      Em quarenta e três anos de conversão oficial ao cristianismo, iniciando com batismo numa igreja Batista tradicional (CBB) em 1976, Deus me levou, por motivos de estudo e de trabalho, a morar em muitas cidades. Com as cidades as igrejas também mudaram, e ainda que tenha sido membro por quatorze anos seguidos de igreja protestante tradicional, fui membro e trabalhei bastante em igrejas pentecostais. Nunca fui membro de banco, como se diz, sempre trabalhei e bastante, principalmente nos ministérios de música e oração, aliás, apesar de ter a música no sangue, tenho a oração no coração e por ela abriria mão mesmo da música.
    O que aprendi é que existem vantagens e desvantagens nas duas linhas, os que deixam os dons espirituais em segundo plano, priorizam um estudo bíblico sério e profundo. Por outro lado os pentecostais têm experiências com a intimidade espiritual de Deus de maneira mais explícita e assumida, ainda que possam se perder nas heresias e emocionalismo, à medida que fogem de uma leitura mais profunda da palavra escrita. Encontrei muito zelo pela palavra nas protestantes tradicionais, mas um temor a Deus e uma adoração libertadora e curativa nas evangélicas pentecostais. 
      Essas definições, contudo, são coisas que estão ficando meio ultrapassadas, atualmente tudo parece caminhar para uma mesma coisa, uma mistura de um pouco de tudo, à medida que a população do mundo aumenta assim como o número de igrejas e denominações. Mas saudosismo à parte, isso não importa, Deus sempre foi Deus e o homem sempre foi homem, assim, como já tenho dito tantas vezes aqui, religiões são coisas de homens querendo buscar a Deus às suas maneiras, mais ou menos distantes da verdadeira maneira de Deus. Minhas escolhas me levaram, graças a Deus, a confiar mais em Deus que nos homens.
      O ponto desta reflexão é o seguinte: tive muitas experiências com dons espirituais, com profecias, com visões, com sonhos, contudo, aprendi, e deixo bem claro que essa é a minha experiência pessoal, não estou dizendo que deve ser assim para todos, enfim, aprendi algo não tão óbvio com essas experiências. Aprendi que ainda que Deus me revelasse coisas sobre outras pessoas não era para que eu procurasse essas pessoas e entregasse a elas a revelações, era para eu guardar para mim e compartilhasse no máximo com esposa, ou ainda que com outros, não para que a palavra fizesse alguma mudança rápida e precisa de percurso. 
       Por que então Deus me mostrou algo se não era para corrigir imediatamente o caminho de alguém? Simplesmente para me consolar, e é claro, também para interceder pela pessoa sobre a qual algo me foi revelado, em outras palavras com a revelação o Senhor estava me dizendo: “eu sou real, eu sou Deus vivo, sei de tudo, nada me passa desapercebido e nada me pega de surpresa, e por amor eu revelo o escondido aos meus amigos íntimos, que se dão ao trabalho de me buscar com todo o coração, revelo para que eles sejam testemunhas do meu agir e me adorem por isso”. 
     Não, não era para eu sair como profeta clichesado do antigo testamento, confusão que tantos fazem hoje em dia, exortando todo mundo, glorificando mais ao profeta que a Deus, mas era apenas para eu ficar feliz por ter um Deus vivo e poderoso como um amigo íntimo que confia em mim de tal maneira que até os mistérios de outros me revela. Por outro lado as pessoas são céticas, mesmo líderes, muitos não aceitam que outros tenham experiências com Deus que não sejam eles mesmos, essa é uma verdade na prática, ainda que na teoria muitos pastores digam que não.
      É preciso vencer vaidades para saber algo sério e em primeira mão de Deus e ainda assim se calar e guardar no coração, e eu confesso que até hoje sou vencido pela vaidade muitas vezes. Isso é até justificável, a experiência de receber uma revelação de Deus, seja da maneira que for, é impactante, nos marca emocionalmente, nos enche de temor ainda que de maneira muito prazeirosa. Assim, a revelação verdadeira de Deus abençoa o profeta, alimenta-o, fortalece-o, de maneira que ele não precisará buscar forças ou aprovação de homens.
      Basta que o profeta guarde com muito cuidado o conhecimento que recebeu no coração, sem fazer alarde, essa experiência nos amadurece, e nos ensina humildade. Se Deus a dá é porque ele sabe que o profeta tem espiritualidade para administrá-la do jeito correto, bem, se não tiver pagará um preço por isso, entregar pérolas aos porcos, isso alimenta porcos mas enfraquece o que entregou. Como eu disse, essa é minha experiência, mas avalie as tuas experiências, será que Deus não está te consolando à medida que confia em você para te dar revelações, mistérios que ninguém mais precisa saber?

      “Porque, se quiser gloriar-me, não serei néscio, porque direi a verdade; mas deixo isto, para que ninguém cuide de mim mais do que em mim vê ou de mim ouve. E, para que não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de não me exaltar.II Coríntios 12.6-7 (Longe, mas muito, muito longe de mim me comparar ainda que de longe a Paulo, contudo, o texto do capítulo 12 de II Coríntios explica muito bem este assunto).

21/11/19

Balancete

      “E, indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus. Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça dai. Não possuais ouro, nem prata, nem cobre, em vossos cintos, Nem alforjes para o caminho, nem duas túnicas, nem alparcas, nem bordão; porque digno é o operário do seu alimento.” Mateus 10.7-10

      Você já fez um balancete geral de sua vida? Bem, ele funciona assim. Quando damos se exigir nada em troca criamos créditos, quando exigimos sem dar nada em troca criamos débitos para nós e damos créditos aos outros. O universo é sempre justo, mesmo que às vezes a vida não pareça ser, se temos créditos em haver, um dia receberemos, ainda que sem nada fazer, por outro lado se temos débitos, poderemos ser cobrados de uma maneira ou de outra em algum momento.
      Ter saldo zero é dever de todos os justos, ter saldo positivo é escolha dos misericordiosos, saldo negativo é herança dos injustos e egoístas, que só pensaram neles mesmos, que nunca deram sem exigir algo em troca ou que mesmo quando receberam, pagaram para não terem o orgulho ferido. Receber sem fazer quando de fato não se pode, é graça que Deus dá aos humildes, receber sem fazer quando se pode fazer, é entrar em dívida com o universo, não com Deus, nem com os homens. 
      Por que uso o termo universo, não Deus? Porque o universo tem leis estabelecidas por Deus para todos os homens, contudo, em Cristo, até as leis do universo podem ser aparentemente modificado para abençoar os filhos de Deus. Quanto aos que são só criaturas de Deus, esses estão debaixo só das leis imutáveis do universo, que neste plano podem até permitir saldos positivos, mas que são diferentes no outro plano. Na eternidade só o sangue de Jesus para zerar nosso saldo.

      O texto inicial fala de cristãos desempenhando chamada evangelística, o desprendimento que eles devem ter com bens materiais e o direito que têm de receber seu sustento por estarem cumprindo essa chamada. O texto fala de uma situação especial, a maioria de nós não vive em tempo integral pregando o evangelho. Mas será que é isso mesmo? Eu penso que nos dias atuais termos trabalhos seculares e nessa realidade testemunharmos de Deus em nossas vidas, é o tipo mais eficiente de evangelismo. 
      Os dias são outros, o mundo é maior, a quantidade de gente é muitíssimo maior, por outro lado quase todo mundo já conhece um pouco do cristianismo, não é como era há centenas de anos atrás quando o paganismo greco-romano imperava no mundo ocidental. Hoje todos temos que trabalhar secularmente e muito para termos vidas dignas, e eu penso que em muitos casos não se justifica gente trabalhando na obra em tempo integral sendo sustentado por outros, essa é pelo menos minha opinião.
      Por outro lado, quem é mais capaz de testemunhar para um pedreiro que um pedreiro? Para um engenheiro que um engenheiro? Cada profissional conhece melhor sua realidade. O texto inicial, contudo, cita uma frase que foi o que me chamou a atenção para a reflexo sobre balancete de vida, “de graça recebestes, de graça dai”, isso nos ensina algo muito profundo sobre dar e receber. Na verdade se damos em Deus, não cobramos de ninguém, pois damos o que não é nosso, sobre o qual nada nos foi cobrado.
      Mas o texto inicial também cita a frase “porque digno é o operário do seu alimento”, podemos entender que se alguém está de fato fazendo a vontade de Deus, seja ela qual for, e independente do que os homens pensem ou vejam, ele será alimentado por Deus, de um jeito ou de outro, e isso é justo. Assim, tenhamos cuidado, não julguemos servo alheio, Deus sabe o que faz com cada um que o busca e o obedece, quem somos nós para julgar saldo alheio como positivo, zerado ou negativo? 

20/11/19

A Bíblia não se contradiz

      “Porque o Filho do homem até do sábado é Senhor.Mateus 12.8
      “Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim ab-rogar, mas cumprir.Mateus 5.17

      Esses textos, ambos ditos por Jesus, parecem oporem-se, e antes de começar a reflexão é preciso dizer algo. Muitas vezes ensinamentos sobres as mesmas coisas parecem dar orientações diferentes em passagens bíblicas distintas, esse é um dos motivos porque a Bíblia não deve ser interpretada ao pé da letra. A Bíblia se contradiz? De forma alguma, e entenderemos isso se a lermos debaixo da clareza do vivo Espírito Santo. Eu, particularmente, amo quando a Bíblia mostra essas discrepâncias aparentes, isso faz com que os religiosos saiam de suas zonas de conforto e busquem numa mente esclarecida por Deus em oração, não só numa leitura ociosa e rasa, a maneira correta de entender e praticar a Bíblia, mas vamos à reflexão.
      No primeiro versículo Jesus responde aos religiosos da época que o estavam criticando porque seus discípulos colheram, num dia de sábado, espigas de milho para saciar a fome, sendo sábado um dia proibido pela religião dos fariseus para se realizar qualquer trabalho. Na mesma passagem Jesus cura um homem com a mão mirrada também no sábado, o que despertou a ira dos fariseus. Jesus ensina nesses casos que é a lei para o homem, não o homem para a lei, que a lei foi dada por Deus para que o homem fosse abençoado, cuidado, por ela, não para que fosse obedecida cegamente ainda que o próprio homem fosse prejudicado, esquecido. Jesus deixa claro que o bem deve ser feito, ele tem prioridade, mesmo aos sábados (Mateus 12.12).
      É terrível quando algumas vezes o maior inimigo do justo não é o mundo, não é a carne e seus vícios, não é o homem incrédulo e cruel, mas são aqueles que se dizem religiosos, e mais que isso, líderes religiosos, conhecedores profundos da doutrina (doutrina e palavra de Deus são as mesmas coisas? Nem sempre). Tais religiosos tentam acusar o justo, baseados não em seus corações invejosos, isso ao menos seria mais honesto, mas no que eles pensam ser a vontade de Deus, algo covarde e absolutamente sem temor a Deus, pois agindo assim eles pensam que podem usar Deus e sua palavra para cumprirem seus propósitos egoístas e malévolos. Nestes tempos finais, o maior inimigo dos que seguem a Jesus são os religiosos que seguem homens, cumpri-se a palavra que diz que não é o servo maior que seu senhor, a perseguição que Jesus teve, terão seus fiéis seguidores também (João 15.20).
      No segundo texto o contexto é outro, aqui Jesus não fala sobre fazer o bem, mas sobre a importância de seu ministério, do valor da nova aliança, muito mais eficiente que a velha aliança. Eis um ensinamento seríssimo, uma palavra dura, pois Cristo diz que obedecer o evangelho é obedecer toda a lei, mas quem é espiritual o suficiente para isso? Não façamos, todavia, uma interpretação distorcida, não é para sairmos obedecendo toda a lei e mandamentos do antigo testamento, guardar sábados etc, pensando que isso é ordem de Jesus, o raciocínio é inverso. Se obedecermos o evangelho, e isso é feito seguindo o Espírito Santo, interpretando de forma correta o novo testamento, se isso for feito, naturalmente toda a lei será obedecida. Por quê? Porque Jesus é maior que Moisés e o evangelho é superior à lei. 
      A verdade é que o cristianismo de Cristo, não da igreja Católica, dos protestantes e dos evangélicos, é muito mais que obedecer uma coleção de regras morais e espirituais, fazer isso é ser religioso como os fariseus, não seguir a voz do Espírito Santo que habita os novos nascidos. Como se vive o evangelho? Vivendo com Jesus, dia a dia, conversando com Deus, perguntando, respondendo, falando e ouvindo, numa relação viva de questionamentos e descobertas. Quem quer preguiça espiritual não viverá o cristianismo real, só mais uma religião. A Bíblia não se contradiz, assim como pode orientar homens de todos os lugares, tempos e culturas, mas só se for seguida debaixo da voz do Espírito Santo, caso contrário seremos apenas fariseus que fatalmente, em algum momento, perseguirão os realmente justos. 

19/11/19

Esperar para esperar

      “Esperei com paciência no Senhor e ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor.Salmos 40.1

      Quando somos jovens não queremos esperar, queremos algo e queremos receber imediatamente. Depois, quando começamos a amadurecer, aceitamos que temos que esperar, ao menos um pouco, para receber algo. À medida que o tempo passa aprendemos que temos que esperar muito para receber as melhores coisas. Contudo, no final do amadurecimento, entendemos que a vida não são momentos de recebimentos de coisas, intercalados por tempos de espera, a vida é toda um único tempo de espera. É isso porque vemos que a melhor coisa não receberemos neste mundo, mas só no outro, isso para muitos é o final do crescimento, muitos param aí, e muitos, ainda que não assumindo, ficam amargos por causa disso.
      Todavia, quando não sofremos mais com a espera, quando parece até que desistimos de esperar, mas sem amargura por isso, quando andamos pelo caminho da humildade e deixamos de ser crianças mimadas, ainda que disfarçadas de adultos, que só querem receber o que pedem, ganhamos então o melhor dos conhecimentos. Aquilo que tanto precisamos, o que de melhor temos para receber e que podemos pedir, nós já recebemos, totalmente de Deus em Jesus, recebemos lá no início de nossa caminhada com o Senhor, e já podemos desfrutar aqui mesmo, neste mundo. Que bem tão precioso é esse, que supera a tudo? É a paz, com Deus, que permite que tenhamos paz com nós mesmos, para enfim termos paz com todos os homens. 
      Quem tem paz com Deus não precisa esperar, não anda ansioso para receber coisas, pois sabe que já tem tudo em Deus. Isso não nos faz passivos ou ociosos, mas fortes, para lutarmos, trabalharmos, agradarmos a Deus, amarmos os homens, e deixarmos que o caráter de Cristo brilhe em nós. Em paz temos calma, somos tranquilos, não atraímos enfermidades, sejam físicas ou emocionais, e nos tornamos pessoas realmente de bem. Em paz temos um escudo espiritual impenetrável que nos protege das setas dos acusadores, sejam homens invejosos ou diabos ardilosos, em paz somos invencíveis porque não lutamos, deixamos que Deus lute por nós. Em paz somos a melhor versão de nós mesmos. 

18/11/19

Provérbios 3.5

      “Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento.” Provérbios 3.5 

      Nós somos escravos acima de tudo de nós mesmos. De nossos corações, de nossas paixões, de nossos sentimentos sempre obsessivos por prazeres? Sim, mas também de nossos pensamentos, nossos raciocínios, o entendimento que temos das coisas, onde estabelecemos medidas para que possamos ter controle. Essas construções intelectuais complexas podem ser baseadas em muitas referências, inclusive em muitas que parecem agradáveis a Deus, construídas de passagens bíblicas, de interpretações religiosas que adquirimos e que pensamos serem o raciocínio de Deus. Contudo, quantas vezes estamos enganados, pensamos e pensamos, entendemos, avaliamos, e ainda assim, depois de todo esse trabalho mental, é apenas o nosso jeito de ver as coisas, o jeito do homem, não de Deus. 
      O segredo para entendermos o texto inicial está na palavra “estribes”, estribar significa, “firmar(-se), sustentar(-se) em estribos, um pé de cada vez, apoiar (algo) sobre, assentar(-se)”. Mas quando vejo essa palavra me lembro mais de estribo, que é uma “espécie de aro de metal, madeira ou sola que pende de cada lado da sela e é usada como ponto de apoio para o pé do cavaleiro, degrau que serve de apoio para o embarque e/ou desembarque de passageiros em veículos como carro, trem etc”. Enfim, “não te estribes no teu próprio entendimento” significa não te apoies no teu pensamento, nos teus raciocínios, nas tuas conclusões mentais. Ao invés disso, “confia no Senhor de todo o teu coração”, vemos que o centro das emoções se opõe ao centro dos pensamentos, coração e mente se opondo. 
      Como dito no início, o homem pode se enganar tanto nas emoções quanto nos pensamentos, contudo, se na mente é preciso entender, no coração basta sentir, mesmo sem saber. Fé é mente ou é coração? É mente porque se decide acreditar mesmo com as emoções dizendo o contrário, fé se decide independente de qualquer coisa, como escolha, e nos mantemos nela, ainda que tudo que vemos e entendemos diga que não, que não vai dar certo, que é impossível. Mas a fé nos leva a uma experiência emocional, passional, a ter uma boa expectativa, um sentimento forte que nos dá forças para crer, experiência que vai muito, mas muito além do entendimento. Cremos porque decidimos crer, mas continuamos crendo porque sentimos que isso é bom e nos dará um retorno grandioso. 
      Não tenho nenhuma pretensão de definir fé e todo o seu processo, fé não se define, se for definida não será mais fé, mas entendimento, e se sabemos não precisamos crer. O que sabemos é que quando cremos no Deus absoluto experimentamos algo único que nos coloca em contato com o mundo eterno, invisível e fantástico do sobrenatural, um mundo onde leis naturais não funcionam. Por outro lado tudo se torna natural para os que andam com Deus, mundo material e espiritual entram numa harmonia onde o impossível é possível, onde se vê o que ainda não foi fisicamente manifestado, mas só entende isso quem tem uma experiência real de fé com o verdadeiro Deus. O texto inicial apenas nos aconselha a confiarmos no Senhor com convicção, e não nos perdermos no que sabemos ou que achamos que sabemos.
      Por que isso? Porque uma experiência de fé em Deus sempre nos surpreende, vai muito além do nosso entendimento e toca nossos sentimentos de maneira especial. Essa é a aventura única que o evangelho nos oferece, por isso ele é exclusivo, mais que qualquer religião, esoterismo ou espiritualismo, a orientação do texto inicial é: pare de pensar e creia, simples assim. Nesse mundo atual tão materialista e racional, onde a ciência é uma religião, e é bom que seja assim, precisamos aprender não a demonizar a ciência, mas sabermos o momento certo de a deixarmos de lado e simplesmente crermos. Deus surpreende os que creem com inteligência, os que amam com sabedoria, os que adoram com frutos de justiça, os que se deixam levar pelo vento do Espírito Santo e voam nas asas da fé. Fé genuína no Deus verdadeiro nunca decepciona. 

17/11/19

“É cedo ou tarde demais” ?

      “Não temas, porque não serás envergonhada; e não te envergonhes, porque não serás humilhada; antes te esquecerás da vergonha da tua mocidade, e não te lembrarás mais do opróbrio da tua viuvez.” Isaías 54.4

      Quem reconhece a tempo o momento que está vivendo? Quem sabe quando é cedo demais ou quando é tarde demais? Somos seres mortais querendo ser imortais, assim nos iludimos e tentamos nos esquecer do tempo. A verdade é que somos ambos simultaneamente, matéria finita e espírito infinito, e é exatamente esse antagonismo que cria em nós tantas batalhas, tantas incoerências, tantos questionamentos.
      Vergonha e opróbio (humilhação), existe desonra nos dois tempos, na mocidade e na velhice, mas enquanto em uma existe na busca de companhia na outra existe na solidão (viuvez). Querendo satisfazer o desejo, não escolhemos certo na juventude, estamos cegos e nos falta responsabilidade, contudo, no final da vida, contemplamos nosso intrínseca solidão, a viuvez não necessariamente de corpo, mas de alma. 
      Desonra pelo que se fez sem saber crendo na mentira ou por descobrir a verdade de todos nós? A vida nos confronta com a culpa, pelo menos confronta os com alguma lucidez e sanidade. Os loucos e doentes não sentem culpa, não têm vergonha, esses tentam viver na carne uma existência sem tempo. Os que têm os olhos abertos, contudo, conhecem que são pecadores e que o tempo passa e não volta. 
      Mas quem sabe quando está amando alguém de maneira única e que por isso deveria estar focado no amor ao invés de preocupado com bobagens irremediáveis? Por outro lado quem foge a tempo de uma armadilha, dessas que o mundo e o inimigo armam para prender a almas novas e incautas que buscam obsessivamente saciar seus instintos muitas vezes absolutamente desenfreados? 
      O tempo que a gente sente não é o tempo, é só o que a gente sente, uma hora pode parecer um dia e um dia, só uma hora. Outras vezes, contudo, o tempo para, de tão intenso que é o sentimento, seja ruim ou bom. Em nossas mentes, então, o tempo é transformado, nas lembranças alguns momentos nos marcam para sempre e de outros nos esquecemos, ainda que tenham sido importantes para outras pessoas. 
      A falta de noção do tempo é cruel, não damos importância a algo bom e exclusivo que não se repetirá e damos importância a coisas que não podemos mudar ou delas escapar, e que justamente por serem comuns e inevitáveis não deveriam ter relevância. A imortalidade de nossos espíritos pode nos conduzir tanto pelos piores caminhos quanto pelo melhor, a salvação eterna que existe só em Cristo. 
      Andar com o Deus eterno é consolo e esperança, seja qual for o tempo, só o Espírito Santo para nos fazer esquecer o passado da mocidade e aguardar uma novidade incrível ainda que na velhice. “É cedo ou tarde demais” ? (Como diz a canção). É tempo de Deus, e com Deus é sempre presente, Deus não envelhece, e ainda que nossos corpos se enfraqueçam, nossos espíritos acham renovação e alegria nele.