sexta-feira, novembro 22, 2019

Às vezes ninguém precisa saber...

      Em quarenta e três anos de conversão oficial ao cristianismo, iniciando com batismo numa igreja Batista tradicional (CBB) em 1976, Deus me levou, por motivos de estudo e de trabalho, a morar em muitas cidades. Com as cidades as igrejas também mudaram, e ainda que tenha sido membro por quatorze anos seguidos de igreja protestante tradicional, fui membro e trabalhei bastante em igrejas pentecostais. Nunca fui membro de banco, como se diz, sempre trabalhei e bastante, principalmente nos ministérios de música e oração, aliás, apesar de ter a música no sangue, tenho a oração no coração e por ela abriria mão mesmo da música.
    O que aprendi é que existem vantagens e desvantagens nas duas linhas, os que deixam os dons espirituais em segundo plano, priorizam um estudo bíblico sério e profundo. Por outro lado os pentecostais têm experiências com a intimidade espiritual de Deus de maneira mais explícita e assumida, ainda que possam se perder nas heresias e emocionalismo, à medida que fogem de uma leitura mais profunda da palavra escrita. Encontrei muito zelo pela palavra nas protestantes tradicionais, mas um temor a Deus e uma adoração libertadora e curativa nas evangélicas pentecostais. 
      Essas definições, contudo, são coisas que estão ficando meio ultrapassadas, atualmente tudo parece caminhar para uma mesma coisa, uma mistura de um pouco de tudo, à medida que a população do mundo aumenta assim como o número de igrejas e denominações. Mas saudosismo à parte, isso não importa, Deus sempre foi Deus e o homem sempre foi homem, assim, como já tenho dito tantas vezes aqui, religiões são coisas de homens querendo buscar a Deus às suas maneiras, mais ou menos distantes da verdadeira maneira de Deus. Minhas escolhas me levaram, graças a Deus, a confiar mais em Deus que nos homens.
      O ponto desta reflexão é o seguinte: tive muitas experiências com dons espirituais, com profecias, com visões, com sonhos, contudo, aprendi, e deixo bem claro que essa é a minha experiência pessoal, não estou dizendo que deve ser assim para todos, enfim, aprendi algo não tão óbvio com essas experiências. Aprendi que ainda que Deus me revelasse coisas sobre outras pessoas não era para que eu procurasse essas pessoas e entregasse a elas a revelações, era para eu guardar para mim e compartilhasse no máximo com esposa, ou ainda que com outros, não para que a palavra fizesse alguma mudança rápida e precisa de percurso. 
       Por que então Deus me mostrou algo se não era para corrigir imediatamente o caminho de alguém? Simplesmente para me consolar, e é claro, também para interceder pela pessoa sobre a qual algo me foi revelado, em outras palavras com a revelação o Senhor estava me dizendo: “eu sou real, eu sou Deus vivo, sei de tudo, nada me passa desapercebido e nada me pega de surpresa, e por amor eu revelo o escondido aos meus amigos íntimos, que se dão ao trabalho de me buscar com todo o coração, revelo para que eles sejam testemunhas do meu agir e me adorem por isso”. 
     Não, não era para eu sair como profeta clichesado do antigo testamento, confusão que tantos fazem hoje em dia, exortando todo mundo, glorificando mais ao profeta que a Deus, mas era apenas para eu ficar feliz por ter um Deus vivo e poderoso como um amigo íntimo que confia em mim de tal maneira que até os mistérios de outros me revela. Por outro lado as pessoas são céticas, mesmo líderes, muitos não aceitam que outros tenham experiências com Deus que não sejam eles mesmos, essa é uma verdade na prática, ainda que na teoria muitos pastores digam que não.
      É preciso vencer vaidades para saber algo sério e em primeira mão de Deus e ainda assim se calar e guardar no coração, e eu confesso que até hoje sou vencido pela vaidade muitas vezes. Isso é até justificável, a experiência de receber uma revelação de Deus, seja da maneira que for, é impactante, nos marca emocionalmente, nos enche de temor ainda que de maneira muito prazeirosa. Assim, a revelação verdadeira de Deus abençoa o profeta, alimenta-o, fortalece-o, de maneira que ele não precisará buscar forças ou aprovação de homens.
      Basta que o profeta guarde com muito cuidado o conhecimento que recebeu no coração, sem fazer alarde, essa experiência nos amadurece, e nos ensina humildade. Se Deus a dá é porque ele sabe que o profeta tem espiritualidade para administrá-la do jeito correto, bem, se não tiver pagará um preço por isso, entregar pérolas aos porcos, isso alimenta porcos mas enfraquece o que entregou. Como eu disse, essa é minha experiência, mas avalie as tuas experiências, será que Deus não está te consolando à medida que confia em você para te dar revelações, mistérios que ninguém mais precisa saber?

      “Porque, se quiser gloriar-me, não serei néscio, porque direi a verdade; mas deixo isto, para que ninguém cuide de mim mais do que em mim vê ou de mim ouve. E, para que não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de não me exaltar.II Coríntios 12.6-7 (Longe, mas muito, muito longe de mim me comparar ainda que de longe a Paulo, contudo, o texto do capítulo 12 de II Coríntios explica muito bem este assunto).

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