02/10/20

2. Para não pecar

Espiritualidade Cristã (parte 2/64)

      “Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.” 
João 3.17-18
      “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que limpais o exterior do copo e do prato, mas o interior está cheio de rapina e de iniqüidade.“ 
Mateus 23.25

      “Todas as coisas me foram entregues por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar. Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.
  Mateus 11.27-28

      Não podemos entrar neste estudo sobre espiritualidade sem pensarmos sobre pecado. Se queremos uma resposta rápida para por que grande parte das pessoas quer ser espiritual é: para não pecar. De maneira geral, na maioria das religiões, espiritualidade é buscada como caminho oposto ao pecado, representando virtudes que vencem as fraquezas da carne. Eu disse na maioria das religiões porque é fato que existem cultos para contato com o mundo espiritual onde santidade não é relevância, nesses faz-se uso de práticas nada limpas, como prostituição, orgias, sacrifícios, para “energizar” seus rituais mágicos (se bem que tecnicamente o termo “religare” nem se aplica a essas religiões). 
      Com certeza não são para terem acesso a Deus e muitos menos a seres espirituais, ainda que não por Cristo, que de alguma maneira prezem por limpeza moral e espiritual, mas ainda que a mídia em geral negue, existem cultos “satanizados”, que acham melhores condições de espiritualidade na sujeira e no mal. No senso comum, contudo, a definição para pecado é isso, cair nas fraquezas da carne, assim muitas religiosidades e espiritualidades estão ligadas à vitória sobre os apetites carnais. Como cristãos sabemos que pecado é mais que isso, leva a um desvio do alvo não só o corpo físico, mas coloca todo o nosso ser, corpo, alma e espírito, em desacordo com o centro da vontade de Deus.
      No texto inicial de João é relatada a trágica condição do homem natural, que antecede ao pecado em si, pior que errar o alvo é já estar passivamente condenado, simplesmente por não se posicionar, “quem não crê já está condenado“. No texto de Mateus está o exemplo dos fariseus, que erraram o alvo exercendo religião, eram ativos na busca do divino, mas por motivos errados, para pousarem como melhores diante dos homens e os dominarem, não para agradarem a Deus e conhecê-lo de verdade. Seja como for, o ser humano não foi criado para o pecado, ainda que tenha livre arbítrio para escolhê-lo, por isso é natural que pecar traga desconforto, culpa que precisa de perdão para ser anulada. 
      Pecado é algo que macula todo o ser: machuca o corpo, suja a alma e esfria o espírito, pensaremos mais a respeito na próxima reflexão. A definição clássica de “pecado” é errar o alvo, assim implica em haver uma iniciativa de seguir um percurso, no uso de um bom esforço, mas que não cumpre o melhor trajeto, ainda que seja o objetivo inicial desejado de quem se esforçou. Isso nos leva a pensar não nos vícios da carne, na busca desenfreada de satisfação dos prazeres do corpo, esses nem seriam pecado como alvo não atingido, mas como algo que não teve nenhum objetivo espiritual, que nem teve início de trajetória. Já é uma condição passiva de perdição, não a causa, mas o efeito final do pecado primal.
      O que chamamos de “pecados da carne” não é o pecado principal, são os efeitos desse, o pecado principal é a tentativa de se viver sem Deus, que erra o alvo, e que tem como consequência a queda nos apetites carnais, na fraqueza moral e espiritual, na morte do espírito. Adão e Eva não pecaram porque quiseram fazer coisas moralmente reprováveis, serem pessoas más e egoístas, adulterarem, não, pecaram porque quiserem ser iguais a Deus. Foi essa a tentação principal que a serpente usou com eficiência (veremos a respeito mais à frente nas reflexões “Três testes para a espiritualidade“), e como consequência eles perderem o rumo de todo o resto de suas existências.
      A prova disso é o fratricídio ocorrido na próxima geração depois deles, que pecado terrível, entre irmãos. Isso nos faz pensar nas religiões, elas, sim, são flechas lançadas para o divino, mas que muitas vezes não chegam a Deus, portanto erram o alvo, assim são pecados no sentido exato da palavra, mais que os “pecados da carne”, são os pecados causais que geram todos os outros. O pecado mais puro tem lugar no espírito, não na carne, vejam os seres espirituais rebeldes, diabos e demônios, eles não têm corpo físico, mas são a expressão mais pura e poderosa do pecado, justamente porque tentam atingir a espiritualidade mais alta sem Deus, ainda que não tenham corpos físicos para caírem nos apetites carnais.  
      Vivemos um momento na história da humanidade onde, talvez como nunca antes, se negue o pecado, e principalmente, a consequência dele, e quem nega a doença, nega o remédio. Na agenda da estratégia final do anti-cristianismo esse é um ponto importante, ao mesmo tempo que agrada ao homem, nega a Jesus, permite que o ser humano faça o que deseja, com quem deseja, onde e quando deseja, sem que tenha que se sentir culpado por isso, em pecado. Se não há pecado, não existe condenação e consequentemente não se precisa de salvação, assim anula-se o cristianismo, nega-se Cristo, desvia o homem definitivamente de Deus, mesmo que tal agenda também pregue coisas boas como tolerância e igualdade.
      O pecado precisa ser repensado, não como a culpa que o catolicismo jogou sobre o homem por séculos, para dominar sobre ele, tradição ruim que o protestantismo dá seguimento, mas como desvio do Deus Altíssimo, o único que pode dar ao homem espiritualidade, o objetivo final de todo ser no universo. Assim, podemos chegar a uma definição final para pecado: é desvio do alvo? Sim, mas não necessariamente fazendo coisas ruins ou erradas, mas simplesmente não caminhando retamente para Deus, pecado é tudo que separa o homem de Deus. Por isso a prioridade do anti-cristianismo final não é pregar o mal, se isso foi em outros tempos, agora mudou, ele prega tudo que é bom e para todos, em todas as áreas.
      Contudo, sem ter Deus como origem e fim, e tendo Jesus somente como mais um homem, bom, sábio, espiritual, mas não um salvador, a solução para o pecado original do Éden é esquecida. O próprio termo anti-cristo já diz tudo, não é contra o amor, contra a justiça, contra a paz, mas contra Cristo, isso basta, e é isso que muitos que insistem em caminhar sem Deus não enxergam, cegos que estão em seus corações orgulhosos que acreditam que podem ser deuses e não adoradores do verdadeiro Deus. Não digo que seja fácil atualmente discernir as coisas, na verdade é difícil e vai ficar cada vez mais difícil, já que o mal prega o bem e aqueles que se dizem do lado do bem cometem equívocos. 
      Por isso é de suma importância que reavaliemos nossas crenças e entendamos o que é de fato espiritualidade, Jesus sempre oferecerá algo superior e exclusivo, os que forem a ele acharão vida que não existe em nenhum outro, só Jesus recebeu de Deus essa vida (Mateus 11.27-28). Mas é preciso que Jesus seja de fato pregado, não prosperidade material, não fé na fé e muito menos um “Deus” fechado na “caixinha” das tradições e do cânone bíblico sem a leitura do Espírito Santo, que só incentiva preconceitos e intolerâncias. Espero que o momento atual, que deu espaço a falsos cristãos principalmente nas lideranças políticas, abra os olhos daqueles que já creram no evangelho e que têm a missão de pregá-lo. 

      Por que quero ser espiritual? Para vencer o pecado, com certeza esse já é um bom motivo, depois podemos ser espirituais para pedirmos a Deus proteção e suprimentos e finalmente conhecimento. Mas por que o pecado é tão ruim, o que ele faz em nós? Ele desarruma todo o nosso ser, machuca nosso corpo, suja nossa alma e esfria nosso espírito, vamos refletir nesses três pontos. 

      “Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe. Eis que amas a verdade no íntimo, e no oculto me fazes conhecer a sabedoria. Purifica-me com hissope, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais branco do que a neve. Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que gozem os ossos que tu quebraste. Esconde a tua face dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniquidades.” Salmos 51.5-9

      O pecado machuca o corpo, porque insiste em querer tirar da carne algo que a carne não pode dar, prazer que permanece, daí nascem os vícios. Quantas doenças, físicas e psicológicas, vêm dos vícios da carne, da obsessão por sexo, por bebida, por comida, pelas sensações que elementos químicos dão a carne de euforia, de relaxamento, de delírios. Isso machuca a mente, os pulmões, os órgãos genitais, isso inviabiliza as funções normais dessas partes do corpo, não, um viciado em sexo não dará maior prazer ao seu parceiro, mas menor, e um prazer artificial, dependente de recursos não naturais, de objetos e fantasias, que transformam algo simples e bonito em dor e morte.
      O pecado suja a alma, nosso coração e nossa mente, cria caminhos desnecessários para se obter satisfação, que depois serão difíceis de serem deixados. Uma alma suja vê sujeira em tudo e não se sente mal, com culpa, quando suja inocentes e puros só para conseguir seu prazer egoísta, por isso devassos e depravados, que já não têm identidade, ganham a identidade do pecado que cometem. Um adúltero não é mais um homem ou uma mulher, mas o próprio adultério, assim como o viciado em cocaína, não é mais o ser humano, mas a droga, que anda e vive só para se mantê-la viva. Alma em pecado é cega e surda, a sujeira do pecado a impede de ver e ouvir moralmente.
      A sujeira do pecado espalha no ambiente um “cheiro” desagradável, que nem precisa ser necessariamente físico, um adúltero pode estar sempre banhado e perfumado, mas exala um “cheiro” moral horrível de pecado, que traz repugnância aos que têm sensibilidade de alma, aqueles que não são perfeitos, mas que buscam dia a dia o perdão purificador. Muitos de nós muitas vezes sentimos esse “cheiro” de alma suja, que repito, pode não ter nada a ver com o corpo, de alguém que pode estar usando as roupas caras e perfumes raros, mas pelo Espírito Santo, ainda que não conheçamos tais pessoas intimamente, percebemos que elas têm algo de errado, o pecado, e muitas vezes bem escondido. 
      Diferentemente do corpo e da alma, que podem ser “danificados” pelo pecado, o espírito, sopro de Deus em todos os seres criados à imagem dele, não pode, mas ainda assim é afetado pelo pecado, ainda que não possa ser morto ou sujado. Ele pode estar “mortificado”, e naqueles que têm o Espírito Santo, se o ser está em pecado, ainda que por pouco tempo sem se apossar do perdão de Cristo, pode ser “esfriado”. E como o nosso espírito pode se esfriar, e infelizmente muitos cristãos até se acostumam com isso, isso acontece quando o Espírito Santo de alguma forma é negado, negado não ferido, não vou usar o termo machucado pois o Espírito de Deus não pode ser machucado, mas ele pode se calar em nós. 
      Deus cala seu Espírito em nós para nos disciplinar, faz isso por um tempo, e não existe nada pior para um filho de Deus que estar nessa disciplina. Se a pessoa é de fato convertida se sentirá num deserto sem água pura e fresca para saciar sua sede, sofrerá mais que o não convertido que ainda não sabe da satisfação espiritual que a água viva do Espírito dá. Nós precisamos aprender a discernir essa disciplina, ver quando ela está existindo, aceitar que está ocorrendo porque erramos, para então sabermos onde erramos, buscarmos arrependimento, posse de perdão e então termos um desejo sincero de não errarmos mais. A disciplina de Deus, apesar de doer, conduz à vida, não é uma condenação para a morte.
      Todo espírito, de todos os seres humanos, convertidos ou não a Cristo, no plano físico ou no espiritual, está vivo, ele é eterno, mas só pode ser “vivificado” se ganhar o selo do Espírito Santo, que permite que o ser tenha comunhão com o Altíssimo, o que nos confere vida é estarmos ligados a Deus. Mesmo que conheçamos sobre espiritualidade, que saibamos profundamente os mistérios dos principados e potestades, que tenhamos comunhão com o mundo espiritual, com entidades, com espíritos, se não tivermos sido selados com o Espírito Santo, após um novo nascimento em Cristo, nossos espíritos estarão inabilitados para terem plena comunhão com Deus e direito às bênçãos que só ele pode dar. 
      A melhor eternidade de Deus é um dos direitos exclusivos do espiritualmente vivificado por Deus. O que chamamos de céu, o “ceio de Abraão”, para onde vão os salvos, é a melhor eternidade de Deus, já o que chamamos de inferno, para onde vão os diabos, seus demônios e os seres humanos não salvos, é a pior eternidade. Bem, ambas são de Deus, Deus é dono de tudo e tudo fez, mas alguns “lugares” fez para os humildes que se aproximaram dele e conheceram a salvação única e suficiente de Cristo, outros “lugares” o mesmo Deus fez para os condenados, inicialmente para os seres espirituais das trevas, mas depois para os seres humanos que levarem seus infernos pessoais do plano físico ao espiritual.
      Precisamos entender que o espírito é nossa parte mais importante, é a essência do nosso ser, no plano espiritual seremos o espírito com um corpo transformado. É o nosso espírito que leva nossa identidade eterna, que vai além de tudo que fomos e fizemos em nossa existência passageira neste mundo. Assim, o pior mal que o pecado faz, quando machuca o corpo e suja a alma, é esfriar o espírito, impedindo-o de ter plena comunhão com Deus. Todavia, ainda que nos apossemos do perdão espiritual, nossos corpos podem se machucar de forma irremediável, isso poderemos sentir só na velhice, justamente quando o que mais vamos querer é saúde física para nos focarmos em Deus, assim, cuidemos melhor de nossos corpos. 
      A sujeira da alma, por sua vez, pode levar anos para desgrudar de nós, lembranças e sentimentos ruins, culpas e arrependimentos, devaneios imundos, que podem voltar e nos tirar do foco maior, isso se já não tiverem instalado em nossas mentes doenças psicológicas sérias. Deus nos perdoa, mas nós mesmos e os homens, não, não facilmente. A sujeira da alma talvez seja ainda pior que os machucados do corpo, pois pode se esconder dentro de nós, usar mecanismos complicados que nos enganam e até nos convencem de que ela nunca existiu. Dessa forma, precisamos ser sábios e nos livrarmos do pecado o quanto antes, antes que firam nossos corpos frágeis, e sujem nossas almas, mais frágeis ainda, de maneira permanente.
      O texto inicial é uma oração poderosa, assumindo a gravidade de pecado diante de Deus, não colocando a culpa em mais ninguém, mas se colocando como o único responsável pelo pecado, que rouba a paz e separa do melhor de Deus. Junto dessa assunção vem o reconhecimento de quão santo é Deus, pois essa oração coloca o homem perto de Deus, mas isso é só o começo de uma experiência maior com o mundo espiritual, com o conhecimento dos mistérios do Altíssimo. O verdadeiramente arrependido não imputa ao santíssimo erro por ter sido disciplinado, antes aceita a disciplina com humildade e deseja com todo o coração não pecar mais, esse é o terreno mais fértil para que espiritualidade verdadeira brote. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

01/10/20

1. Para que ser espiritual?

Espiritualidade Cristã (parte 1/64)

      É com muita alegria que compartilho aqui no blog “Como o ar que respiro” um livro original, dividido em sessenta e quatro reflexões, sobre o tema espiritualidade cristã. Procurei pensar no assunto sobre diversas abordagens, seja em relação ao tempo de caminhada do Cristão com Deus, assim falando tanto aos mais novos na fé quanto aos mais maduros, seja em relação ao espaço físico de prática de espiritualidade, dentro dos templos ou no mundo. Também abordei um aprofundamento do tema em relação aos ensinos mais tradicionais sobre o que é espiritualidade cristã, isso é algo que na visão que tenho no Esprito Santo falta aos cristãos para que tenham de fato uma existência, ainda que no plano físico, localizada espiritualmente nas regiões espirituais mais elevadas em Cristo, onde há cura para toda dor e resposta para todo questionamento. Que essa leitura possa te fazer reavaliar muitas coisas, mas que ela possa, na prática e não na filosofia de seus ensinos, te trazer paz. O Deus Altíssimo abençoe a todos em amor. 

      “E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.” Mateus 22.37-40

      A orientação máxima, segundo a Bíblia, para que o ser humano tenha uma vida de qualidade está contida no texto inicial, amar a Deus acima de tudo e depois ao próximo como a si mesmo, quem ama a Deus obedece-o e quem ama o próximo como a si respeita-o, só isso deveria bastar para que vivêssemos em sociedade com justiça igual para todos, de maneira honesta e sem qualquer espécie de violência ou intolerância. Isso representa o cerne de espiritualidade que antigo e novo testamento ensinam, que a velha aliança de Israel propôs, mas que só foi possível a toda a humanidade viver de fato através do evangelho, o nascimento, a vida, a morte e a ressurreição do filho de Deus sem pecado salvando o mundo.
      A Bíblia é acima de tudo um texto religioso prático, pouco se fala do mundo espiritual, do diabo e mesmo de anjos, apesar de muitos amplificarem o pouco que é falado, ela ensina como se viver na Terra, com os pés no chão. No antigo testamento mantendo a nação de Israel fiel ao Deus que prometeu guarda-la pela promessa inicial a Abraão, e deixando as outras nações em paz, com suas crenças e deuses, desde que não tocassem o território original dos israelitas. No novo testamento a orientação de Jesus, de Paulo, de João, de Pedro e de outros é clara, não se metam com política ou com os costumes sociais vigentes, aceite-os e seja bom dentro de seus sistemas que Deus os guardará.
      Isso pode parecer resignação demais, mas isso é o evangelho, não o uso tão equivocado da frase “feliz a nação cujo Deus é o Senhor” que muitos utilizam hoje em dia no Brasil, uma orientação para Israel física e não para o reino de Deus espiritual da nova aliança. Mas se quisermos resumir espiritualidade segundo o centro do ensinamento bíblico em uma palavra, a palavra é Jesus. Se estudarmos não só o que Cristo fez para salvar humanidade, que já bastaria para que sua missão fosse cumprida, mas como ele se relacionava com as pessoas, não pelos discursos, mas pelas entrelinhas de suas amizades e reações diante da hipocrisia dos fariseus, saberemos o que é ser espiritual para Deus, de maneira simples e precisa. 
      A verdade é que o termo espiritualidade não é comum na Bíblia, seja na velha aliança de Israel, seja na nova aliança do evangelho, muitos evangélicos, quando usamos o termo, pensam em “espiritismo”, isso porque o cristianismo católico e protestante, se fizermos uma avaliação honesta, representa bem a visão de “religare” ocidental (religar o homem com Deus em latim). No ocidente a grande maioria trabalha seis dias por semana na vida secular e separa só o domingo para a religião, a visão oriental é diferente, nela o ser humano tem uma relação dia a dia com o divino. 
      Enquanto o cristianismo visa uma relação com Deus mais para ter uma vida material decente, com a sociedade, com os bens, as religiões orientais pensam no mundo espiritual e visam a eternidade, ainda que sacrificando vida material. Dessa forma, o termo espiritualidade, é muito mais ligado à religiões esotéricos, espiritualistas e orientais, que ao cristianismo, honestamente a Bíblia fala mais desse mundo que do outro, principalmente no antigo testamento. Mas mesmo no novo testamento, ainda que vise um reino de Deus no coração do homem não na Terra, a eternidade é definida como céu e inferno, mais nada, sem detalhes ou outras gradações, ser espiritual é ser salvo e batizado, quase que na prática bastando isso.
      O movimento carismático, que se renovou relativamente há pouco tempo no cristianismo, começo do XX, ainda que tenhamos registros de grandes pregadores com experiências de milagres nos séculos XVIII e XIX, deu mais ênfase ao termo à medida que espiritualidade começou a ser aliada a dons espirituais. Até então espiritualidade era mais ligada à negação dos prazeres físicos nas ordens católicas, e a um conhecimento intelectual da Bíblia, esse mais exclusivo de sacerdotes e realeza, que podiam estudar mais. A grande maioria do povo não sabia ler e muito menos tinha acesso à Bíblia, cerimônias católicas eram celebradas em latim e o louvor era exclusivo dos corais. 
      Foi o protestantismo que entregou ao cristianismo uma religião mais democrática, menos mística e acessada por fé, não por compra de indulgências, o que fazia de muitos escravos e de poucos com direitos por serem ricos materialmente, não por ser espirituais. O termo espiritualidade no meio cristão tem ganhado nova leitura atualmente, quando revemos as tradições que não funcionaram antes só levaram à hipocrisia e ao materialismo, temos voltado ao evangelho primitivo onde não basta parecer cristão, temos que ser interiormente e isso é espiritualidade. 

      Após essa introdução, propomos uma pergunta: para que ser espiritual? É sobre esse assunto que refletiremos num estudo assim dividido: 

01. Para que ser espiritual?

02. Para não pecar 
03. Para ter prosperidade material
04. Para não ir pro inferno
05. Para entender a eternidade 
06. Para ter o poder de Deus 
07. Para conhecer os mistérios espirituais
08. Para ter vitória numa guerra 
09. Para vencer um inimigo
10. Para cumprir uma missão

- Princípios básicos 

11. Pecado se vence com vontade!
12. Deus é Espírito 
13. Somos templos do Espírito 
14. Espiritualidade e unção 
15. O Espírito Santo é espiritualidade 
16. A espiritualidade dos primeiros cristãos 
17. Uma espiritualidade gradativa 
18. Espiritualidade e o tempo
19. Tempos: de salvação, de galardão
20. Espiritualidade conforme tua fé

- Início da caminhada 

21. Espiritualidade do profeta
22. Espiritualidade é obedecer a vocação maior 
23. O que Deus tem e o que não tem para nós 
24. Espiritualidade gera santidade, humildade e amor
25. Espiritualidade exercida com amor 
26. Espiritualidade exercida com sabedoria 
27. Humildade: opção ou obrigação?
28. Humildade: único jeito de crescer 
29. Humildade: condição para libertação  
30. Espiritualidade para os olhos de Deus
31. Espiritualidade é mudança

- No mundo 

32. Espiritualidade de Cristo 
33. Espiritualidade e vitimismo 
34. Espiritualidade e crítica
35. Espiritualidade e hipocrisia
36. Espiritualidade e obras
37. Espiritualidade e liberdade 
38. Espiritualidade e arte 
39. Espiritualidade e bebidas alcoólicas 
40. Espiritualidade e sexo 
41. Espiritualidade e o planeta
42. Espiritualidade e a mídia

- Indo além 

43. Rádio espiritual 
44. Atraídos pelo Espírito Santo
45. Ouça o Espírito 
46. Comunicação espiritual 
47. Já perguntou a Deus?
48. Espiritualidade e meditação 
49. Nos lugares celestiais em Cristo 
50. Espiritualidade de graça 
51. Adoração, porta para espiritualidade 
52. Permaneçamos no amor de Deus 
53. Três testes para a espiritualidade 

- Evolução?

54. Onde está teu Deus?
55. A verdade sobre o mundo espiritual
56. Espíritos 
57. Sigamos para o Altíssimo 
58. Evolução espiritual 
59. Causa e efeito 
60. Alfa e Ômega
61. Surpresas na eternidade  
62. Prossigamos em conhecer a Deus
63. Conhecimento é vida 
64. O que é ser espiritual? 

      Acompanhe nas próximas postagens o estudo, “Espiritualidade Cristã”. 

José Osório de Souza, 30/09/2020

30/09/20

O melhor possível

      “E, se o teu olho te escandalizar, lança-o fora; melhor é para ti entrares no reino de Deus com um só olho do que, tendo dois olhos, seres lançado no fogo do inferno, onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga.Marcos 9.47-48

      Um dos segredos de felicidade é aceitar em paz que muitas vezes não podemos fazer o melhor, ainda que o conheçamos e o queiramos, assim o possível se torna a única saída, que ainda que não mostre para os outros aquilo que realmente somos ou queremos ser, é o que de fato podemos ser. Se não tivermos a humildade para aceitar essa realidade poderemos seguir num conflito interno que acabará nos mostrando de um jeito pior ainda, manifestando nossas fraquezas para quem não nos ama ainda que não assuma isso e só espera uma brecha para nos difamar ainda mais. Dar prioridade para a paz interior tem um preço, mas compensa, e deixa-nos com tempo sobrando para o que realmente importa. 
      Novamente lembro o ensino, também presente no texto inicial, no qual tenho achado orientação para tomar certas atitudes, principalmente relacionadas à exposição social, seja na vida real e mais ainda na virtual, visto que essa tem ganhado muita relevância nos dias atuais. Traduzindo é o seguinte: se não temos forças para administrar da melhor maneira a opinião que os outros têm sobre a nossa opinião, é melhor não expormos nossa opinião, não para todos. Por outro lado, se alguns não têm a coragem de se afastarem de nós, ainda que não nos amem, tenhamos nós a coragem, para o bem de nós mesmos, continuar com certas coisas só pra manter aparências não leva a nada e só rouba nosso tempo.
      Mas sigamos em paz, perdoados e perdoando, sem mágoas ou vinganças, quem de fato se encontra em Deus descobre em si mesmo alguém especial, forte, não fraco, sincero, não falso, íntegro, não dividido, Deus não fez ninguém menor, todos podemos ser felizes e singulares, desde que sejamos humildes. Algumas coisas podemos resolver, outras não, algumas pessoas nos amarão sem fazer força, outras se esforçarão para achar o nosso pior e divulgar isso, algumas coisas teremos que levar conosco, não como erros indesculpáveis, mas como provas que temos que confiar antes e mais em Deus, não em nós mesmos ou nos homens. Mas trabalhemos até o fim, para sermos o melhor possível. 

29/09/20

Deus está atento

      “Os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os seus ouvidos atentos ao seu clamor.Salmos 34.15

      Que versículo mais lindo esse, entendo por ele que se eu precisar de uma palavra de consolo Deus me responderá, porque na verdade ele está sempre pronto para ouvir o “justo”. Contudo, tenho medo de usar a palavra “justo”, eu não sou justo, nunca houve um justo na Terra, a não ser Jesus, melhor é usar o termo justificado, justificado por Cristo, ele nos torna justos porque ele pagou o preço para sermos justos, ele nos justificou em sua obra de redenção. Em Cristo Deus nos vê como justos, e isso é algo maravilhoso, por isso em Cristo o Altíssimo está ligado a nós, pela presença de seu Espírito, nessa comunhão Deus está sempre perto, sempre atento, sempre pronto para nos dar uma palavra de amor que nos entrega paz. 
      Quando estamos bem nem nos preocupamos em dimensionar a distância de Deus, contudo, quando nosso coração aperta e nossa alma se sente só e desprotegida, como ficamos sensíveis, só um abraço apertado fará com que nos sintamos amparados, ouvidos, importantes. Deus nos abraça pelo seu Espírito, nos olha de perto e ouve mesmo nosso sussurro em meio às lágrimas que às vezes nem forças têm para subirem do nosso interior, ficam lá, engasgadas, reprimidas, silenciosas, o tempo pode fazer isso conosco. Mas Deus se aproxima de nós, imutável, Deus nunca desiste de nós, ele não é homem, ele é o amor na essência e têm o bem em seu íntimo reservado para os justos que precisam dele e de mais ninguém.

28/09/20

Quem conhece, confia

      “Em ti confiarão os que conhecem o teu nome; porque tu, Senhor, nunca desamparaste os que te buscam.” Salmos 9.10

      Conhecemos a Deus, de verdade? Quando conhecemos alguém confiamos nesse alguém, é assim com amizades e com nossos cônjuges, esses últimos temos a obrigação de conhecer e bem, senão não estamos de fato casados com eles. Conhecemos convivendo, dialogando, muito, de perto, aprendendo não aquilo que os outros sabem, as superfícies, mas profundamente, intimamente, se não se conviver e muito não se pode conhecer de verdade. Se conhecemos, podemos confiar, e em se tratando de nossos parceiros afetivos mais próximos, não haverá nisso espaço para ciúmes ou medos, quem conhece para amar, não teme. 
      Contudo, como muitas vezes, na prática, agimos com Deus como se não o conhecêssemos de fato, duvidando de sua boa vontade para nós, por mais que já tenhamos provado de sua amizade tão querida. Quantas vezes não buscamos a Deus, numa situação onde nos parecia impossível uma solução, e Deus nos deu paz? Não, nem sempre Deus disse sim, nem sempre disse não, muitas vezes disse espera, mas essa experiência nos dá uma certeza, Deus nunca desampara os que o buscam, nunca. Se nos aproximarmos com fé, com humildade e com paciência, ouviremos a voz do Senhor e seremos consolados por ele, sempre.

27/09/20

Paz

      “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito. Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.João 14.26-27

      Paz, o bem mais procurado, mais caro, mas raro, pelo menos depois que o prazer carnal é satisfeito, passou a falsa paz e ficou o vazio, o vazio sem ar e sem chão que afoga a alma. O ser humano é ambíguo, desde cedo aprende que a paz que fica é insubstituível, mas passa a vida tentando substituí-la por prazeres que só dão paz temporária. Sua alma é um mar profundo que frequentemente se move violentamente, sofre tempestades, são as ansiedades, as curiosidades, os desejos, assim o homem tenta navegar sobre as águas, dominá-las do seu jeito. Ele deseja um barco, o constrói, pagando às vezes preços caros por ele, e num determinado momento ele consegue, com o barco pronto, flutuar e se mover sobre as águas. Primeiro ele sente um grande prazer por isso, depois uma paz, contudo, que dura pouco, o mar revolto é traiçoeiro e logo desequilibra o barco que submerge, é então, só então, que o homem pede socorro, socorro a Netuno. 
      Netuno, o deus das águas, diz que pode acalmar o mar e fazer com que o homem ande sobre elas, alguns homens despendem uma fé tão grande que chegam a caminhar sobre o mar, mas esses dão suas almas em troca de algum tempo a mais de vida do corpo. É só quando as forças terminam e o homem afunda, profundamente no mar, que alguns, com humildade, buscam ao Deus verdadeiro, esse não oferece uma saída sobrenatural, mas ensina o homem a nadar. O Deus verdadeiro faz uma sociedade com o homem, parte do trabalho ele faz e parte faz o homem, os “netunos”, não, não fazem nada, deixam o homem fazer tudo sozinho, mas requerem do homem enganado adoração por isso. Com suas próprias forças, mas crente no ensino de Deus, os humildes persistentes nadam até terra firme, e lá acham finalmente a paz. 
      A primeira vez que o homem pisa essa terra prometida é como um sonho bom, é quando o homem prova a paz por mais tempo na vida. Um momento assim terá talvez só na velhice, quando a alma se cansar de iludir, quando o homem não sentir mais prazer nela, mas permanecer em Deus. Todavia, mesmo os que já aprenderam a nadar e já acharam terra firme, ainda são seduzidos pelo mar, podem se lançar nele, esquecerem que sabem nadar e tornarem a construir barcos, que novamente lhes darão um prazer imediato, uma paz passageira e novamente um final infeliz no fundo das águas. Pela misericórdia de Deus, esses se lembrarão que já aprenderam a nadar e que existe terra firme, mas perderam um tempo precioso com a ilusão do mar e do barco. Ainda que o espírito esteja pronto, tenha aprendido sobre nadar e que existe terra firme, a alma humana sempre será um mar tempestuoso e tentador. 
      Viver é aprender a não confiar na alma, no mar de emoções e pensamentos presos ao plano físico, ao corpo, à carne, mas confiar na paz que permanece e que está na terra firme que é a vontade de Deus. O que será a eternidade? Um grande mar de águas espirituais, nele, sim, poderemos estar sem nos afogar, andar sobre ele ou ir até o fundo, na verdade “o que está embaixo é como o que está em cima”. O sábio, contudo, aprenderá a respeitar os limites, não dos universos ou de Deus, esses não têm limites, mas dele, humanos, de acordo com o plano em que está. O que buscam ao Deus altíssimo saberão, ainda que na carne, sonharem com o mar espiritual, o desejarem, se prepararem para ele, mas com os pés firmados em terra firme, enquanto vivendo neste mundo, esse é o segredo da paz que permanece.
      Aprender a nadar é entender Jesus como único e suficiente salvador, alcançar a terra firme da melhor vontade de Deus e poder viver nela, mas tenhamos cuidado, as religiões, incluindo as cristãs, podem oferecer ao homem não o que ele precisa, mas o que ele quer, para poder manipula-lo. Muitos homens rebeldes à vontade de Deus buscam mesmo em igrejas cristãs palavras convenientes e doces aos ouvidos, assim “netunos” existem não só na idolatria, nos “espiritismos” ou no esoterismo, mas também em muitas igrejas que se intitulam evangélicas. Essas pregam fé na fé, dizimolatria e Canaã neste mundo, desses “netunos” devemos fugir, ainda que a princípio suas palavras de saídas sobrenaturais pareçam tão sedutoras, esses parecem sob ordens de Deus, mas obedecem seus próprios corações, e quem leva a glória por isso, sem fazer nada, é o diabo.
      Jesus viveu como homem comum, fez milagres por amor e principalmente para convencer um povo, enganado por uma religiosidade de aparência exterior, que basta fé nele para alcançar salvação. Se o povo de fato vivesse a fé na nova aliança em Cristo, talvez muitos sinais não precisariam ser feitos, ao contrário do que muitos pensam, ver sinais não é para os fortes mas para os fracos, que precisam ver para crer, e ver curas e vitórias materiais, não espirituais. Os sinais que de fato agradam a Deus são um espírito humilde e misericordioso, numa vida simples e em paz. Jesus, com todo o seu poder de Deus, não fugiu da cruz, mas nadou com as forças humanas até cumprir o plano divino para sua vida, o plano que nos permite posse do reino de Deus em nossos corações e uma paz de espírito que não tem fim. 

26/09/20

Roubo por trabalho honesto

      Muitas vezes podemos estar trabalhando honestamente e muito, mas ainda assim estarmos cometendo um roubo, à medida que precisamos ganhar mais dinheiro para pagar um estilo de vida que não era para ser o nosso. Eu disse trabalho honesto e também não disse um estilo de vida que não é para ninguém ter, mas que pode não ser para nós, eu e você, termos. Nessa desobediência, que se constitui um roubo já que obtemos algo que não é para nós, perdemos tempo, saúde, oportunidade de ser nesta existência alguém de fato melhor, espiritual. Mas a quem roubamos, a Deus? Não, Deus não perde com isso mas fica impedido de dar, enquanto nós roubamos a nós mesmos e até a outros. 
      A nós mesmos porque usamos nossa existência com a finalidade errada, sonegando de nós a oportunidade de ganhar coisas mais importantes, e importantes não de acordo com o mundo, com os homens, mas de acordo com o plano maior e melhor do Altíssimo. Mas podemos estar roubando também aos outros, por duas maneiras, por estarmos ocupando um tempo e uma energia só com nossos interesses deixando de usar esse tempo e essa energia para dar atenção a outras pessoas, e por estarmos fazendo, ainda que de maneira honesta, algo que outro deveria estar fazendo, portanto roubando o lugar desse, a chance desse desempenhar seu melhor e ser feliz com o que pode de fato ter.
      Não entendeu ou não concordou com esse raciocínio? Eu não me refiro aqui a buscar e ter uma vida material e financeira digna, para nós e para nossas famílias, mas em ir além disso e ir sem de fato ter um aval de Deus. Alguns podem argumentar, “mas estou trabalhando honestamente, me esforçando”, a esses podemos perguntar, mas para quê? Para ter dois carros ao invés de um? Para pagar viagem de férias ao exterior ao invés de para o Brasil? Para vestir grife ao invés de em magazines? Para comer nouvelle cuisine ao invés de self-service? Enfim, para luxos e excessos que muitas vezes nunca foram o normal de nossa criação, mas que queremos só para nos exibir socialmente.
      A questão não é nem ter ou deixar de ter, ser rico ou ser pobre, usufruir luxos ou não, o problema não está nas coisas e no corpo que as consome, mas no coração e no espírito, o quanto o melhor, o mais caro materialmente importa para que nos sintamos satisfeitos ou realizados. Se só nos sentimos felizes com algo que vai jogar na cara dos outros que é mais caro que aquilo que eles têm, só para que nos sintamos superiores a eles, então temos um problema, deixamos de querer para nos satisfazer e queremos só para satisfazer referências dos outros. Assim não vivemos só para nós, mas para os outros, e dessa maneira mais longe ainda de viver para Deus, visto que Mamom (Mateus 6.24) se tornou nosso deus.
      Infelizmente na maior parte das vezes, se não em todas, quem tenta fazer mais que precisa, quer ser e ter para mostrar para os outros, não para ser feliz. É diferente de quem nasceu num lar com um padrão financeiro alto e se acostumou desde cedo a coisas caras, não que esse não possa cair na tentação de viver para os outros e de gastar a vida para ter e ser mais do que de fato precisaria para ser feliz, mas esse a princípio não tenta ser o que nunca foi. Concluindo, como temos gasto nossas vidas? Fazendo o suficiente para ter uma vida material digna e usando o resto do tempo para nos preparar para a eternidade? Ou sendo escravos de aparência exterior e dos valores físicos dos outros? 
      Que não sejamos condenados no último momento por roubo, ainda que achemos que estamos sendo hoje trabalhadores honestos e esforçados. “Não temais, ó pequeno rebanho, porque a vosso Pai agradou dar-vos o reino. Vendei o que tendes, e dai esmolas. Fazei para vós bolsas que não se envelheçam; tesouro nos céus que nunca acabe, aonde não chega ladrão e a traça não rói. Porque, onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração. Estejam cingidos os vossos lombos, e acesas as vossas candeias.” (Lucas 12.32-35). Que sejamos encontrados no juízo não com as contas bancárias cheias, mas com os lombos cingidos e com as candeias acessas, plenos do Espírito Santo e moralmente fortes.