domingo, setembro 27, 2020

Paz

      “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito. Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.João 14.26-27

      Paz, o bem mais procurado, mais caro, mas raro, pelo menos depois que o prazer carnal é satisfeito, passou a falsa paz e ficou o vazio, o vazio sem ar e sem chão que afoga a alma. O ser humano é ambíguo, desde cedo aprende que a paz que fica é insubstituível, mas passa a vida tentando substituí-la por prazeres que só dão paz temporária. Sua alma é um mar profundo que frequentemente se move violentamente, sofre tempestades, são as ansiedades, as curiosidades, os desejos, assim o homem tenta navegar sobre as águas, dominá-las do seu jeito. Ele deseja um barco, o constrói, pagando às vezes preços caros por ele, e num determinado momento ele consegue, com o barco pronto, flutuar e se mover sobre as águas. Primeiro ele sente um grande prazer por isso, depois uma paz, contudo, que dura pouco, o mar revolto é traiçoeiro e logo desequilibra o barco que submerge, é então, só então, que o homem pede socorro, socorro a Netuno. 
      Netuno, o deus das águas, diz que pode acalmar o mar e fazer com que o homem ande sobre elas, alguns homens despendem uma fé tão grande que chegam a caminhar sobre o mar, mas esses dão suas almas em troca de algum tempo a mais de vida do corpo. É só quando as forças terminam e o homem afunda, profundamente no mar, que alguns, com humildade, buscam ao Deus verdadeiro, esse não oferece uma saída sobrenatural, mas ensina o homem a nadar. O Deus verdadeiro faz uma sociedade com o homem, parte do trabalho ele faz e parte faz o homem, os “netunos”, não, não fazem nada, deixam o homem fazer tudo sozinho, mas requerem do homem enganado adoração por isso. Com suas próprias forças, mas crente no ensino de Deus, os humildes persistentes nadam até terra firme, e lá acham finalmente a paz. 
      A primeira vez que o homem pisa essa terra prometida é como um sonho bom, é quando o homem prova a paz por mais tempo na vida. Um momento assim terá talvez só na velhice, quando a alma se cansar de iludir, quando o homem não sentir mais prazer nela, mas permanecer em Deus. Todavia, mesmo os que já aprenderam a nadar e já acharam terra firme, ainda são seduzidos pelo mar, podem se lançar nele, esquecerem que sabem nadar e tornarem a construir barcos, que novamente lhes darão um prazer imediato, uma paz passageira e novamente um final infeliz no fundo das águas. Pela misericórdia de Deus, esses se lembrarão que já aprenderam a nadar e que existe terra firme, mas perderam um tempo precioso com a ilusão do mar e do barco. Ainda que o espírito esteja pronto, tenha aprendido sobre nadar e que existe terra firme, a alma humana sempre será um mar tempestuoso e tentador. 
      Viver é aprender a não confiar na alma, no mar de emoções e pensamentos presos ao plano físico, ao corpo, à carne, mas confiar na paz que permanece e que está na terra firme que é a vontade de Deus. O que será a eternidade? Um grande mar de águas espirituais, nele, sim, poderemos estar sem nos afogar, andar sobre ele ou ir até o fundo, na verdade “o que está embaixo é como o que está em cima”. O sábio, contudo, aprenderá a respeitar os limites, não dos universos ou de Deus, esses não têm limites, mas dele, humanos, de acordo com o plano em que está. O que buscam ao Deus altíssimo saberão, ainda que na carne, sonharem com o mar espiritual, o desejarem, se prepararem para ele, mas com os pés firmados em terra firme, enquanto vivendo neste mundo, esse é o segredo da paz que permanece.
      Aprender a nadar é entender Jesus como único e suficiente salvador, alcançar a terra firme da melhor vontade de Deus e poder viver nela, mas tenhamos cuidado, as religiões, incluindo as cristãs, podem oferecer ao homem não o que ele precisa, mas o que ele quer, para poder manipula-lo. Muitos homens rebeldes à vontade de Deus buscam mesmo em igrejas cristãs palavras convenientes e doces aos ouvidos, assim “netunos” existem não só na idolatria, nos “espiritismos” ou no esoterismo, mas também em muitas igrejas que se intitulam evangélicas. Essas pregam fé na fé, dizimolatria e Canaã neste mundo, desses “netunos” devemos fugir, ainda que a princípio suas palavras de saídas sobrenaturais pareçam tão sedutoras, esses parecem sob ordens de Deus, mas obedecem seus próprios corações, e quem leva a glória por isso, sem fazer nada, é o diabo.
      Jesus viveu como homem comum, fez milagres por amor e principalmente para convencer um povo, enganado por uma religiosidade de aparência exterior, que basta fé nele para alcançar salvação. Se o povo de fato vivesse a fé na nova aliança em Cristo, talvez muitos sinais não precisariam ser feitos, ao contrário do que muitos pensam, ver sinais não é para os fortes mas para os fracos, que precisam ver para crer, e ver curas e vitórias materiais, não espirituais. Os sinais que de fato agradam a Deus são um espírito humilde e misericordioso, numa vida simples e em paz. Jesus, com todo o seu poder de Deus, não fugiu da cruz, mas nadou com as forças humanas até cumprir o plano divino para sua vida, o plano que nos permite posse do reino de Deus em nossos corações e uma paz de espírito que não tem fim. 

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