23/02/21

Raiz, tronco ou galhos? (4/9)

      Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade, porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem, o qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo.” I Timóteo 2.3-6

      Penso que no momento atual da história da humanidade, a prioridade de Deus seja a salvação do maior número possível de pessoas, não importando muito o nível de conhecimento espiritual que elas tenham, assim basta às religiões cristãs darem o curso básico, que é o que Paulo descreveu no texto inicial. Muitos podem responder a essa afirmação com uma pergunta: mas esse não é o único interesse de Deus sempre, salvar as pessoas, isso não basta? A resposta vai depender da tua fé, e novamente digo aqui, não ande conforme a fé dos outros, muito menos de acordo com a fé desse que vos escreve, mas conforme a tua fé, seremos cobrados pelo que cremos e praticamos, não pelo que os outros creem e praticam. 
      Também preciso deixar claro que com nível mais alto de conhecimento espiritual não quero dizer que os cristãos atuais sejam carnais, não é isso, existem virtudes, transformação de vida, mas ainda que muitos não aceitem, é um evangelho que prepara as pessoas muitos mais para uma vida neste mundo, no plano material, que para a eternidade. Mesmo a visão que muitos cristãos têm da eternidade é rasa, bem aquém da verdade mais alta, a maioria não está preparada para revelações mais profundas, a maioria prefere tronco e galhos à raiz. Contudo, as tradições têm um papel importante na religiosidade, um lado positivo, elas protegem os tolos de si mesmos, entregam uma zona de conforto para os de pouca fé. 
      Com pouca fé não me refiro à fé que não crê que Deus cura enfermidades ou “mova montanhas”, mesmo esse nível de fé pregado por tantos pastores atuais e que tantos crentes acham ser o nível mais alto de espiritualidade é, novamente dizendo, só para ter uma vida próspera neste mundo. Mesmo essa tal grande fé, comparada a que se pode ter para se ter um conhecimento espiritual mais profundo e que prepara o homem para o plano espiritual muito mais que para o fisico, é menor. Mas lembre-se, fé, ainda que exija potências humanas, imaginação mental e convicção emocional de algo que ainda não existe, não é força, é descanso, que permite que o espírito humano se mova no Espírito de Deus.
      Na árvore na qual o cristianismo se transformou, as tradições do tronco e dos galhos protegem os de pouca fé, mas também protegem a verdade mais profunda de cair em mãos despreparadas, ainda que seja inventando histórias como as que contamos para crianças para que elas não saiam debaixo das proteções dos adultos. Crianças não estão preparadas para fazer escolhas, para serem independentes, dessa forma os adultos têm que escolher por elas para que elas vivam na dependência deles, do mesmo jeito as tradições procedem. Mas se o lado bom das tradições é cuidar de cristãos infantis, protegendo-os, proibindo certas coisas e dando outras gratuitamente, o lado negativo é que impedem “crianças” de crescer. 
      Tradições não querem que as pessoas amadureçam, já entenderam há muito que quando isso ocorre as pessoas ficam independentes, assim deixam de alimentar as religiões com bens materiais e veneração. Foi justamente por entenderem isso que homens desviados do cristianismo raiz, criaram as tradições e fortaleceram tronco e galhos. Tradições são acúmulos de velhos conhecimentos humanos, interpretações da verdade, não a verdade pura, por isso são mortas. A Igreja Católica construiu sua tradição em concílios e encíclicas, e dando às palavras de papas o mesmo (ou maior) valor que tem a Bíblia, e mais, adicionando à Bíblia livros que não estão presentes na chamada bíblia hebraica atual (ver item “Composições”). 
      O verdadeiro conhecimento de Deus não precisa ser “tradicionalizado” para adquirir legitimidade, não a legitimidade realmente divina, não precisa de um formato que impressione os homens, de pompa, de liturgia. O Espírito Santo é puro conteúdo que deve ser guardado no espírito do homem, não nas instituições, quem dá forma a Deus neste mundo são os indivíduos, não as igrejas, o homem é o templo do Espírito Santo, não catedrais e outras construções físicas. A palavra do Espírito Santo é viva, e ainda que fique antiga nos registros bíblicos feitos por homens ungidos nele, não envelhece e se renova diretamente por sua atuação, a terceira pessoa da trindade nos corações dos novos nascidos em Cristo. 
      Já as tradições levam as pessoas a serem dependentes delas, não de Deus, elas prendem, não libertam, elas crescem na proporção que Deus diminui, se fecham e mais tradições criam. Não se iludam protestantes e evangélicos, liderando suas instituições também existiram e existem homens que criaram e criam tradições para manterem seus poderes e controlarem os homens, sempre foi assim e sempre será, ainda que Deus se mostre nas tradições pela grande misericórdia que tem por todos os seres humanos. Deus não escraviza ninguém, mas quer que todos sejam livres, só Deus pode nos libertar, dos pecados do corpo, da alma e do espírito, essa libertação está no nome de Jesus e na presença do Espírito Santo. 

Parte 4 de uma reflexão
dividida em 9 partes
José Osório de Souza, 30/10/20

22/02/21

Raiz, tronco ou galhos? (3/9)

      “Eu, Jesus, enviei o meu anjo, para vos testificar estas coisas nas igrejas. Eu sou a raiz e a geração de Davi, a resplandecente estrela da manhã. Apocalipse 22.16

      Em minha caminhada com Deus, confesso que já tive posicionamentos diferentes com relação à raiz, tronco e galhos, mudei de opinião mais de uma vez sobre a relevância das religiões em relação àquilo que experimentam os homens de Deus, sobre a importância que Deus dá às religiões e principalmente às religiões cristãs protestantes e evangélicas. Num primeiro momento acreditava que a denominação da qual eu fazia parte era a raiz e todas as outras, católica, protestantes e evangélicas, não eram nem tronco, nem galhos, mas outras e estranhas árvores, totalmente fora da verdade mais pura. Muitos hoje pensam assim, creem que suas religiões cristãs são as corretas, as oficiais, e as outras são erradas, seitas heréticas. 
      Num segundo momento eu consegui enxergar a árvore, mas dando relevância à raiz e pensando que todas as religiões deveriam deixar de serem tronco e galhos e voltarem à raiz. Esse posicionamento pode parecer o ideal, o melhor, mas ele desconsidera a misericórdia de Deus e a própria história do cristianismo na Terra, esse momento experimentei até há pouco tempo, e ainda que não represente melhor a realidade é um ideal sempre válido de ser pensado. Vivo um terceiro momento, e nesse as religiões deixaram de ter o lugar número dois na espiritualidade e passaram a ter o lugar número três, em primeiro lugar está Deus, em segundo lugar estão os homens, e em terceiro lugar estão as religiões, a hierarquia mudou para mim. 
      Os homens são os meios entre Deus e as religiões e não as religiões, os meios entre Deus e os homens, sendo assim, Jesus é o meio direto entre o homem e Deus, e o homem depois cria as religiões conforme sua subjetividade. Se colocamos a religião no segundo lugar entregamos a ela o direito de ter comunhão com Deus através de Cristo e nos obrigamos a aceitar a subjetividade das religiões sobre o que é Deus. Qual a diferença? A diferença está no indivíduo, não nas instituições ou num grupo de indivíduos que criam e mantêm a tradição. Não seremos confrontados pela luz do Altíssimo na eternidade sendo questionados sobre qual foi nossa religião, sobre o que ela cria ou fazia, mas sobre quem nos tornamos nelas. 
      Sim, as tradições cristãs têm seus objetivos, ao meu ver podem funcionar como cursos primários cristãos, mas não devemos delegar a elas direitos exclusivos para nos entregarem o curso cristão avançado, e não pense que fazer uma faculdade teológica nos dá o crédito de avançado, isso só nos faz mais conhecedores das tradições, dos galhos e do tronco, não da raiz. As religiões são ferramentas, não fins em si mesmas, e muitos poderão se tornar seres humanos espiritualmente melhores mesmo em tradições que muitos de nós consideram religiões limitadas e mesmo erráticas. Às vezes pode ser melhor nos comprometermos menos com teoria e praticar mais que sabermos mais e não vivermos o suficiente disso. 
      Trajetória espiritual é algo individual, somos nós e Deus, paremos de uma vez por todas de colocar religião entre nós e Deus, paremos de “religare”, religião, todas elas, é coisa de homem, é tradição construída por seleção conveniente a homens que desejavam e desejam manter poder sobre homens. O Espírito Santo foi e é esquecido nas escolhas que criam as tradições, e no melhor das circunstâncias, ainda que ouvido, interpretado conforme a subjetividade humana, limitada ao tempo e espaço do plano físico. Contudo, se você quiser, de verdade, conhecer mais a Deus, saber sobre o mundo espiritual, entender de fato porque existimos, de onde viemos e para onde vamos, você conseguirá, focando-se na raiz.
      A busca espiritual não sobe como uma árvore para ser vista e festejada pelos homens, não está no tronco e nos galhos, esses acabam nas folhas, flores e frutos que são os homens. A busca desce, para a raiz, que ainda que pareça sumir diante dos homens, do mundo material, aprofunda-se pelo espírito humano no Espírito de Deus. Os que acham a Deus e sua mais profunda espiritualidade não expõem isso para qualquer um e de qualquer jeito, sim, eles vivem de maneira diferenciada a paz e a luz, mas o conhecimento eles guardam em seus corações como algo muito precioso. A raiz não fica exposta, mas escondida, para ser preservada, e eis aqui a última metáfora espiritual desta reflexão, para os que têm olhos para ver. 

Parte 3 de uma reflexão
dividida em 9 partes
José Osório de Souza, 30/10/20

21/02/21

Raiz, tronco ou galhos? (2/9)

      “Não te glories contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti.Romanos 11.18

      Neste texto sigo tentando novamente desconstruir dogmas e preconceitos, desprender mentes de religiões de homens para captarem o que importa e não darem tanta importância ao resto. Jesus, único e suficiente salvador, que dá acesso ao verdadeiro Deus através da plena comunhão do Santo Espírito, que sela os salvos e os ensina sobre o mundo espiritual e sobre a razão da existência humana à medida que os conduz vitoriosos e em paz para que cultivem aquilo que importa, virtudes espirituais eternas da luz, essa é a raiz! O resto, bem, tome muito cuidado com o resto, tem muito de homem nas tradições, coisas que devemos respeitar, mas também saber quando desconsiderar. 
      A vaidade é um dos pecados favoritos do diabo, ele tenta todos com ela e em todas as áreas, física, emocional e espiritual. O tronco é a parte mais visível da árvore, pelo menos em tamanho, é forte, vigoroso, sustenta os galhos sobre ele, mas os galhos também são importantes, apesar de dependentes do tronco, eles produzem as folhas, flores e frutos, menores em tamanho, mas o objetivo final da árvore. Quanto à raiz, ela não é vista, fica submersa na terra, pelo menos sua parte mais profunda, aquela que retira da terra e da água o alimento que mantém toda a árvore viva. Para o vaidoso é melhor ser raiz, tronco ou galhos? Ser raiz está em terceiro lugar nesse ranking, isso é certo, o vaidoso quer aparecer, não ficar anônimo. 
      Me permitam refletir mais um pouco nessa metáfora, que vê o cristianismo no mundo como uma árvore, a mais frondosa entre as religiões, em cuja sombra o ocidente evoluiu, se enriqueceu e dominou o resto do planeta. A tradição cristã mais estruturada dos homens levantou uma árvore imponente, mesmo quando os galhos secaram e as folhas, flores e frutos não cresceram, o tronco se manteve, robusto, dominador, severo, resistindo a guerras, ascensão e queda de impérios. O tronco é o catolicismo, a maneira que o império romano achou para continuar existindo no mundo, os papas são os novos imperadores, que não conquistam com batalhas, mas com o marketing de serem os predecessores legítimos de Pedro.
      Atualmente os galhos se multiplicaram e de tal maneira que se tornaram pesados, encobrindo o tronco, mas ainda assim estão ligados ao tronco, mesmo que protestantes e evangélicos não admitam isso, que se considerem independentes e até melhores que os católicos. Mas pode um galho se desligar do tronco sem morrer? Não, assim ainda que neguem, o sonho dos galhos é ser como o tronco, por isso crescem tanto as denominações chamadas neo-pentecostais, como a I.U.R.D., que têm o desejo íntimo de serem novas igrejas católicas, para dominarem, enriquecerem e permanecerem como fez o catolicismo. Mas não é só nesse aspecto que os galhos estão presos ao tronco, é também no aspecto doutrinário. 
      Poderia se argumentar, “mas e as teses de Martinho Lutero, a proposta de volta a um cristianismo mais simples fundamentado na fé e não em obras e indulgências, onde haveria menos diferença entre leigos e sacerdotes, tirando o poder de liturgias, rituais e sacramentos, separando igreja de estado e colocando a Bíblia acima da infalibilidade papal”? Digamos que o protestantismo tirou a cobertura do bolo, mas manteve a massa, um bolo agora mais seco e esteticamente menos burocrático, sem a pompa das hierarquias, dos títulos, das catedrais, sem o Vaticano, mas no fundo com os mesmos ingredientes básicos, enfim, não se voltou à raiz, e na verdade nem se queria, por isso se chamou reforma, não revolução. 
      Quer conhecer mais sobre Martinho Lutero, leia textos protestantes e católicos, nos dois achará exageros, uns romantizando-o e outros demonizando-o, em ambos existem informações não verídicas e verídicas. Qual é a verdade? Decida você, mas cuidado crentes, não se iludam com uma tradição que ensina Lutero como quase um personagem bíblico. Lutero nem pretendia sair do catolicismo, só queria reformá-lo, mas foi expulso e fundou uma religião, que deu oportunidade para poderosos da Alemanha se apossarem de bens que eram da igreja católica em seu país. Eis um objetivo materialista e nada espiritual na reforma protestante, sem mencionar a morte de Lutero, que pode não ter sido a morte de um cristão exemplar.  
      O reinício protestante não manteve no mundo um cristianismo raiz, hoje evangélicos são basicamente católicos sem idolatria, mas na prática não vivem um cristianismo que faz diferença na sociedade, os galhos continuaram intrinsecamente ligados ao tronco e com muita vontade de serem novos troncos, iguais ao primeiro. A vaidade que corrompeu o tronco, corrompe também os galhos, enquanto a raiz é esquecida. Ah, católicos e evangélicos, todos igualmente vaidosos, achando-se uns melhores que os outros, uns com mais legitimidade para dominarem sobre os outros, nem precisam sair de onde estão, mudarem fisicamente de igreja, é o coração que precisa mudar, espiritualmente, da religião para Deus. 

Parte 2 de uma reflexão
dividida em 9 partes
José Osório de Souza, 30/10/20

20/02/21

Raiz, tronco ou galhos? (1/9)

      De hoje até 28/02/21 estarei postando uma reflexão dividida em nove partes usando uma árvore como metáfora para o desenvolvimento histórico do cristianismo, sei que muitos preferem palavras rápidas, focadas na vida diária, mas eu não posso deixar de compartilhar as ênfases da chamada do espaço “Com o ar que respiro”. Assim, por favor, peço tua paciência para ler textos um pouco mais complicadinhos, tenho certeza que Deus tem algo a falar com você através deles. 
      Você não precisa concordar com tudo, mas procure ler tudo e entender, para então ter um posicionamento a respeito, se esta reflexão te fizer reavaliar tuas crenças cristãs, em alguma instância, já terá cumprido seu papel. A ideia é fazer pensar para fazer diferente, já que muitas coisas não funcionam, ainda que teimosamente as façamos, porque estão sendo feitas tradicionalmente do mesmo jeito há muito tempo. Pense para mudar, mas só mude se for para melhorar. 

      “E disse-me um dos anciãos: Não chores; eis aqui o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi, que venceu, para abrir o livro e desatar os seus sete selos. Apocalipse 5.5

      Uma religião, uma ótica de religação com o divino, entregue por um fundador, um ser singular, nunca nasce diluída, nasce pura, contudo, com o tempo, por ser “concentrada” demais, percebe-se que é difícil de ser vivenciada pela maioria, assim como difícil de ser controlada pelos primeiros que se desviam da pureza inicial, os líderes. Dessa forma, o princípio original divino é modificado, retirando-se dele elementos originais ou misturando a ele elementos humanos, de modo que a maioria possa digerir, assim como para que a liderança, já desviada, mantenha-se no poder. A mistura é uma tradição, não é a raiz, mas uma construção sobre ela, que inicia-se com um tronco, a parte mais aparentemente forte da árvore.
      Do cristianismo original, a raiz, nasceu o tronco, a igreja católica, o tronco representa a tradição mais forte, com mais influência no mundo material, tanto que é a parte da árvore que muitos pensam ser a própria árvore, desconsiderando as outras partes. Do tronco, o Catolicismo, nasceram os galhos, semelhantes ao tronco mas com características próprias, criadas por adição de novos elementos ou subtração de elementos originais, as igrejas ortodoxa, anglicana, anabatista, protestantes, pentecostais etc. O próprio cristianismo é galho de uma raiz mais velha, a religião israelita, e a religião de Moisés também foi galho, de uma religião ainda mais antiga, nascida quando o homem foi expulso do Éden. 
      Qual é a religião verdadeira? A raiz. Mas qual é a viável? Todas as outras, viáveis para que o homem creia com mais conforto, respeitando seus limites, e não se perdendo em verdades para as quais ele não está preparado. Deus respeita toda a árvore, usa toda a árvore, ainda que sua verdade maior e mais pura esteja na raiz e que o resto da árvore sejam só tradições humanas. O crescimento da árvore não é um processo artificial, é natural, pelo menos no mundo, no plano físico, da raiz nasce o tronco que gera os galhos e que produz as folhas e as flores, os indivíduos ligados à religião. Contudo, ainda assim, precisamos saber que a raiz é o fundamento sem o qual nenhuma tradição existe, no cristianismo o Espírito Santo é a raiz. 
      O perigo é nos acostumarmos com refrigerantes e acabarmos nos esquecendo da água, eles matam a sede, mas ganham sabores artificiais para serem mais comprados e consumidos, já a água é pura e gratuita na natureza. Pagamos nas tradições preços desnecessários, já que o Espírito Santo se recebe gratuitamente e ele é a raiz do cristianismo, o mestre supremo, o representante oficial de Jesus na Terra. Precisamos frequentar  as tradições, principalmente no início da caminhada, mas as encaremos como verdades originais diluídas em outras coisas, para que as pessoas possam vivencia-las. As pessoas são diferentes, assim adiciona-se à verdade original ingredientes diferentes, criando-se assim tradições diferentes. 
      Quando os autores do novo testamento escreveram seus textos, eles não tinham noção de que a raiz produziria tronco e galhos, não sabiam que à água seriam adicionados artifícios para que agradasse as pessoas, nem que ensinos importantes seriam deixados de lado para a conveniência de homens. Mas eles também não tinham noção que eles mesmos, a partir do momento que pensaram nas experiências originais que tiveram com Cristo e com testemunhas diretas da obra de Jesus, já estavam interpretando a verdade de acordo com suas subjetividades, assim a raiz já produzia o início do tronco. Nas epístolas paulinas, textos que formaram a base da doutrina cristã, já havia algo de Paulo adicionado à pura palavra de Cristo. 
      Só no plano espiritual, na eternidade, a verdade pura pode ser compartilhada sem que sofra mutação, no mundo tudo passa pela mente humana, e essa é imperfeita, para entender, processar e registrar o que recebe, principalmente conhecimento espiritual que difere de conhecimento intelectual. O conhecimento intelectual pode ser explicado cientificamente e por isso pode ser mantido, formulado, mas o espiritual requer fé, e essa é subjetiva, de acordo com cada pessoa. Mas a beleza do conhecimento espiritual é que ele pode ser apresentado pelos realmente espirituais como metáforas, como as simbologias da árvore e da água que usei aqui, assim as mesmas palavras podem revelar níveis diferentes de mistérios espirituais. 
      Esses níveis podem ser compreendidos tanto pelos novos na fé, quanto pelos mais aprofundados na comunhão com Deus, Jesus era mestre em entregar mistérios espirituais em metáforas, são as parábolas. Jesus homem conhecia o homem (e muito mais pode manifestar desse conhecimento hoje como Deus na eternidade), entendia tudo que a humanidade faria com o evangelho, como seria usado, tanto para salvação e conhecimento de Deus como para fins egoístas e materialistas para que homens controlassem e manipulassem outros homens através da religião. Jesus não era católico, muito menos batista, presbiteriano ou assembleiano, Jesus era o Cristo, um com o pai e plenamente revelado no Espírito Santo que enviou. 

Parte 1 de uma reflexão
dividida em 9 partes
José Osório de Souza, 30/10/20

19/02/21

A paz dos justos

      “O justo se alegrará quando vir a vingança; lavará os seus pés no sangue do ímpio. Então dirá o homem: Deveras há uma recompensa para o justo; deveras há um Deus que julga na terra.Salmos 58.10-11

      Me sinto desconfortável compartilhando textos como o inicial, que mencionam alegria na vingança, muitos usam textos assim para justificar absterem-se de amar, não creio que isso seja orientação do novo testamento, fazia parte da ideia de justiça do antigo testamento, mas Jesus ensinou outra coisa. Esse texto, contudo, é só mais um exemplo de que a Bíblia não deve ser entendida ao pé da letra, pelo menos não toda. É preciso ter sabedoria para entender contextos, e acima de tudo para deixar que o Espírito Santo ensine sobre a vontade de Deus a nós, homens do século XXI, mesmo em textos milenares. Eis outro desafio que Deus nos faz pela Bíblia, discernir a verdade mais alta mesmo em verdades mais humanas, limitadas por culturas e tempos diferentes. 

      A lição principal do texto inicial é sobre justiça, há retorno para o injusto? Sim, mas isso não é problema nosso, a nós cabe amar e entregar nas mãos de Deus, o que precisamos saber e ensinar é que há recompensa para o justo, e todos podem ser justificados em Cristo e tornarem-se justos. Quem dá a oportunidade para alguém se acertar é Deus, e se Deus faz isso quem somos nós para condenarmos ao mal alguém ou desejarmos vingança? Não sabemos se no último instante de vida o Espírito Santo falará ao coração do injusto e esse mudará de atitude, mesmo que seja só no coração que ele possa fazer isso. Deus não faz acepção de pessoas, não leva em conta diferenças, incluindo de religiões, não nos enganemos.
      A luz mais alta de Deus confronta todos os seres humanos em todos os lugares, todos, seja qual for a raça, a cultura ou a religião que cada um tenha. Nesse confronto as pessoas recebem discernimento sobre suas ações, sobre o que elas estão fazendo de certo e o que estão fazendo de errado. Com exceção das crianças e de outros seres humanos com alguma limitação psiquiátrica, ninguém é inocente, no sentido de fazer algo sem noção, sem consciência, e consequentemente, sem sentir depois culpa pelo que fez de errado ou paz pelo que fez de certo. Ocorre é que o ser humano é especialista em se adaptar, em “dormir” em zonas de conforto, e isso inclui se acostumar a certas dores e conseguir ser feliz mesmo com elas.
      Por isso os vícios, ajudam o ser humano a conviver de maneira errada com dores que não têm solução ou que ele não quer resolver. Sempre é preciso humildade e confiança em Deus, seja quando as dores são insolúveis e devem ser aceitas, ou quando têm solução e o ser humano necessita de algum esforço, não só para crer em Deus, mas também para trabalhar na solução. Esse trabalho é a parte do homem, se a parte de Deus acessamos por fé, a nossa executamos com coragem para expormos mesmo algumas fraquezas e vergonhas diante dos homens, já que para começar a resolver certos problemas pode ser preciso trazer certas verdades ao conhecimento público, exposição que podem ferir nosso orgulho próprio.  
      Para não passar essa vergonha alguns tentam negociar com o “universo”, trocar boas obras pela dor que vem da injustiça, por isso tantos religiosos fazendo sacrifícios, frequentando assiduamente templos, pagando promessas. Justiça só se paga com espiritualidade verdadeira diante de Deus, o justo dos justos, ainda que a maneira como as pessoas manifestem essa espiritualidade possa ser diferente, conforme as possibilidades morais e religiosas de cada um, e Deus respeita isso. Sim, Deus ouvirá o evangélico que ouve a voz do Espírito Santo e quer viver uma vida justa, tanto quanto um católico ou um espírita, ainda que alguns caminhos não ofereçam trajetórias tão retas e diretas ao Deus verdadeiro. 
      Não nos iludamos com aparências, muitos parecem ter construído uma reputação sólida e íntegra, mas só Deus sabe se isso é verdade, se não for, uma hora a mentira é revelada, e ainda bem que é assim, isso não acontece para envergonhar ninguém. Tenhamos cuidado quando vemos alguém sendo surpreendido por algum mal, um problema econômico, uma doença, um acidente, e nos pomos a sentir dó, achando que o “universo” foi injusto, que recompensou erradamente um justo. O homem é injusto, mas o universo é sempre justo, e Deus é amoroso com os humildes, que se arrependem a tempo de o agradarem e não só aos homens, o Espírito Santo sempre mostra o caminho justo a seguir para que todos possam achar a paz. 

18/02/21

Justiça

      “Justiça é um conceito abstrato que se refere a um estado ideal de interação social em que há um equilíbrio, que por si só, deve ser razoável e imparcial entre os interesses, riquezas e oportunidades entre as pessoas envolvidas em determinado grupo social. Trata-se de um conceito presente no estudo do direito, filosofia, ética, moral e religião. Suas concepções e aplicações práticas variam de acordo com o contexto social e sua perspectiva interpretativa, sendo comumente alvo de controvérsias entre pensadores e estudiosos. Em um sentido mais amplo, pode ser considerado como um termo abstrato que designa o respeito pelo direito de terceiros, a aplicação ou reposição do seu direito por ser maior em virtude moral ou material. A justiça pode ser reconhecida por mecanismos automáticos ou intuitivos nas relações sociais, ou por mediação através dos tribunais, através do Poder Judiciário.”  Fonte Wikipedia

      Justiça é um conceito que aparece com definições diferentes na Bíblia, no antigo testamento está relacionada a obras humanas para alcançar Deus, enquanto que no novo testamento refere-se à obra divina para alcançar os homens. No antigo testamento o termo justo se aplica aos homens que vivem no mundo com justiça, fazendo o bem para receber o bem, no novo testamento o termo mais adequado é justificado, que se aplica aos homens que creem no único justo, Cristo, para receberem justiça de Deus. Deus se revela aos poucos respeitando a maturidade do homem histórico, conduzindo o ser humano de uma vida mais materialista para a espiritualidade, da justiça por obras à justificação pela fé.

      “E disse o Senhor: Destruirei o homem que criei de sobre a face da terra, desde o homem até ao animal, até ao réptil, e até à ave dos céus; porque me arrependo de os haver feito. Noé, porém, achou graça aos olhos do Senhor. Estas são as gerações de Noé. Noé era homem justo e perfeito em suas gerações; Noé andava com Deus.Gênesis 6.7-9

      Deus “destruiu” o homem na Terra pelo dilúvio porque não achou justiça no mundo, mas egoísmo e vícios, Noé é uma exceção, citado como um justo, por isso teve tratamento divino diferenciado entre os outros seres humanos de seu tempo. Mas penso que em Noé não havia só alguém que se achava melhor por fazer as coisas certas, por praticar justiça na Terra, mas alguém que Deus amava por ver que Noé andava com ele, Noé era amigo íntimo de Deus, um ser humilde e que já entendia que o homem não é melhor por fazer coisas, mas por crer e confiar em Deus.

      “Quando houver contenda entre alguns, e vierem a juízo, para que os julguem, ao justo justificarão, e ao injusto condenarão.Deuteronômio 25.1

      A velha aliança, a religião entregue por Moisés aos israelitas, era um código simples para um ser humano simples, era “olho por olho, dente por dente”, quem vivia corretamente teria aprovação, que não vivia não teria. Tal simplicidade conduziu o homem a uma religiosidade de aparência e a valores mais materialistas, vemos isso nas atitudes da liderança religiosa que perseguiu e condenou Jesus séculos depois de Moisés fundar a religião e de Davi a estabelecê-la em seu apogeu. A lei, contudo, não é uma religião limitada, ou errada, vê-la assim é não entender sua função maior, que era salientar o pecado, mostrar que o homem por si só não poderia ser justo, por isso Jesus disse que não veio para anular a lei, mas para cumpri-la, dar à humanidade condições de praticar a justiça de Deus. 

      “E disse a Davi: Mais justo és do que eu; pois tu me recompensaste com bem, e eu te recompensei com mal. E tu mostraste hoje que procedeste bem para comigo, pois o Senhor me tinha posto em tuas mãos, e tu não me mataste.I Samuel 24.17-18

      Como sempre, Deus não se preocupa com certas coisas, e quase qualquer coisa pode ser usada para demonstrar a verdadeira intenção do homem, ainda que numa religião passageira, que era só metáfora da religião eterna, mesmo nela o de fato temente a Deus pode exercer justiça, assim como o ímpio, injustiça. Davi era um homem adiante de seu tempo em termos espirituais, dessa forma, mesmo debaixo da velha aliança baseada em obras externas, mostrou a pureza e a profundidade de seu coração, em seu relacionamento com Deus e em sua relação com os homens. Era justo Davi punir Saul, conforme o conceito de justiça da época, mas ainda assim Davi não o fez, não agiu com justiça, mas com mais que isso, com misericórdia e justamente com seu inimigo número um, um rei deposto por Deus que não queria admitir em Davi o novo rei erguido por Deus. Davi revela o cerne da justiça de Deus em Cristo, que mesmo para o injusto age com misericórdia, não julgando conforme as obras dos homens, mas conforme o amor de Deus. 

      “O Senhor julgará os povos; julga-me, Senhor, conforme a minha justiça, e conforme a integridade que há em mim. Tenha já fim a malícia dos ímpios; mas estabeleça-se o justo; pois tu, ó justo Deus, provas os corações e os rins.Salmos 7.8-9

      A justiça, contudo, é algo extremamente relevante, e não é como muitos pensam hoje em dia, o homem poder fazer o que bem quiser e seguir em paz como se não houvesse um juízo, as leis do universo, criadas por Deus, recompensam o justo e punem o injusto. Contudo, mais que simplesmente dar e tirar, Deus conhece o coração dos homens, discerne palavras de obras, mas principalmente, obras feitas para aparentar justiça, de obras que nasceram de um coração que quer adorar a Deus e não só receber lisonja de homens. 

      “Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo EspíritoI Pedro 3.18

      Esse texto de Pedro resume a grande obra de justiça de Deus, nascimento, vida, morte e ressurreição de seu filho, Jesus, em carne e sem pecado, para justificar toda a humanidade, esse é o centro da Bíblia, a principal missão do cristianismo, a verdade que nunca podemos negar, alterar ou trocar. A velha aliança era só metade da religião maia alta de Deus, mostrando a necessidade de obras, de prática, mas ela só é completada pela outra metade, a nova aliança, revelando a prioridade da fé para que as obras sejam vividas, transformando o homem e louvando a Deus. 

      “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos” Mateus 5.6
 
      Finalmente um verso do sermão das bem-aventuranças, o coração do evangelho, do novo testamento, da Bíblia, que se for devidamente entendido mostrará a e evolução do conceito de justiça no cânone bíblico. No mundo o homem não pode ser justificado pelas obras, como não colherá de maneira plena bons frutos mesmo se agir com plena justiça, mas como justificado em Cristo deve esperar que toda justiça seja feita somente na eternidade, no plano espiritual. Quem entende isso entende a essência do ser humano, espiritual e não material, para Deus e não para os homens, eterna e não passageira. 

17/02/21

Paz

      “Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus.Filipenses 4.6-7

      Temos paz? De verdade? Ou lá no fundo existe algo que nos tortura, que ainda que não admitamos para ninguém, ainda que escondamos no quartinho mais profundo de nossas almas, bem trancado e esquecido, não nos deixa vivenciar aquela paz, que principalmente nós cristãos, gostamos tanto de cantar, em alto e bom som, em hinos e louvores dentro dos templos. Paz, uma palavra tão pequena, um conceito que nos remete a algo vazio, limpo e tranquilo, e ao mesmo tempo totalmente preenchido, satisfeito, mas que é mais que satisfação, que prazer, é algo que fica mesmo depois que o prazer se vai, fica e permanece, por um bom tempo. Somos seres em paz ou de alguma maneira estamos o tempo todo angustiados? 
      Duas coisas nos roubam a paz, culpa pelo passado e ansiedade pelo futuro, isso nos entrega um presente estranho, que parece uma miragem, impedindo-nos de viver o hoje de forma concreta. Em raros momentos, contudo, temos a experiência de vivenciarmos um instante presente surreal, quando parece que uma iluminação cai sobre nós como um raio, quando nossos sentidos ganham um esclarecimento diferenciado. Uma xícara de um bom café pode nos dar sensação assim, rápida mas semelhante, contudo, esse instante presente pode ocorrer por motivos diferentes, por algo bom como por algo ruim, como quando recebemos notícias, por exemplo, do nascimento de um filho ou da morte de um ente querido. 
      Alguns podem achar que refletir sobre isso não tem utilidade, que a vida “real” - real para muitos, ao menos - é assim mesmo, tantas preocupações com a sobrevivência, com dinheiro, que paz plena pode ser um luxo que não temos direito. Mas isso é um engano perigoso, temos direito à paz, sim, ou então, como cristãos, não estamos entendendo o verdadeiro evangelho. Viver em paz é escudo, contra doenças físicas e psicológicas, assim como contra vícios. O que são vícios, senão tentativas ineficazes de se esquecer a dor, para sentir paz, de vencer culpas e ansiedades, ainda que seja com uma taça de vinho, com uma enorme barra de chocolate, ou com sexo casual? Só em paz somos fortes para viver e conquistar nossos direitos. 
      Pare um pouco e pense a respeito, e se de alguma maneira você não está em paz, busque a Deus, com todo o coração, peça que ele te mostre o motivo, e depois a solução para que possa estar em paz. Inferno nada mais é que ausência de paz, e muitos podem estar cercados de luxo, prazeres e bens e ainda assim viverem um inferno interior. Outros podem estar envolvidos até à cabeça com igrejas, ministérios, cultos, atividades, estudos e orações coletivas, e mesmo assim estarem sem paz, carregando um inferno dentro de si. Cuidado, inferno se leva e não acaba com a morte, só se manifesta nela com mais liberdade, e eu não estou me referindo às tribulações da vida, que nos deixam sempre preocupados, isso é comum a todos.
      A marca do genuíno filho de Deus, lavado pelo sangue do cordeiro Jesus e em plena comunhão com o Altíssimo pelo Santo Espírito, é a paz, o humilde sempre acha a paz e consegue segurá-la. Esse já experimenta o céu no mundo e quando morrer só terá essa paz manifestada em total plenitude, abraçado pelo amor de Deus na mais alta luz espiritual onde estão todos os santos justificados por Cristo. Paz não é luxo, é vida e vida eterna, podemos perder tudo neste mundo, menos a paz com e em Deus, não se engane achando que viver assim é impossível. Se for isso, busque ao Senhor, agora, no instante presente, acerte-se, mas não permita que mais uma noite se passe sem que você tenha a paz dos santos e fiéis a Deus.