segunda-feira, fevereiro 22, 2021

Raiz, tronco ou galhos? (3/9)

      “Eu, Jesus, enviei o meu anjo, para vos testificar estas coisas nas igrejas. Eu sou a raiz e a geração de Davi, a resplandecente estrela da manhã. Apocalipse 22.16

      Em minha caminhada com Deus, confesso que já tive posicionamentos diferentes com relação à raiz, tronco e galhos, mudei de opinião mais de uma vez sobre a relevância das religiões em relação àquilo que experimentam os homens de Deus, sobre a importância que Deus dá às religiões e principalmente às religiões cristãs protestantes e evangélicas. Num primeiro momento acreditava que a denominação da qual eu fazia parte era a raiz e todas as outras, católica, protestantes e evangélicas, não eram nem tronco, nem galhos, mas outras e estranhas árvores, totalmente fora da verdade mais pura. Muitos hoje pensam assim, creem que suas religiões cristãs são as corretas, as oficiais, e as outras são erradas, seitas heréticas. 
      Num segundo momento eu consegui enxergar a árvore, mas dando relevância à raiz e pensando que todas as religiões deveriam deixar de serem tronco e galhos e voltarem à raiz. Esse posicionamento pode parecer o ideal, o melhor, mas ele desconsidera a misericórdia de Deus e a própria história do cristianismo na Terra, esse momento experimentei até há pouco tempo, e ainda que não represente melhor a realidade é um ideal sempre válido de ser pensado. Vivo um terceiro momento, e nesse as religiões deixaram de ter o lugar número dois na espiritualidade e passaram a ter o lugar número três, em primeiro lugar está Deus, em segundo lugar estão os homens, e em terceiro lugar estão as religiões, a hierarquia mudou para mim. 
      Os homens são os meios entre Deus e as religiões e não as religiões, os meios entre Deus e os homens, sendo assim, Jesus é o meio direto entre o homem e Deus, e o homem depois cria as religiões conforme sua subjetividade. Se colocamos a religião no segundo lugar entregamos a ela o direito de ter comunhão com Deus através de Cristo e nos obrigamos a aceitar a subjetividade das religiões sobre o que é Deus. Qual a diferença? A diferença está no indivíduo, não nas instituições ou num grupo de indivíduos que criam e mantêm a tradição. Não seremos confrontados pela luz do Altíssimo na eternidade sendo questionados sobre qual foi nossa religião, sobre o que ela cria ou fazia, mas sobre quem nos tornamos nelas. 
      Sim, as tradições cristãs têm seus objetivos, ao meu ver podem funcionar como cursos primários cristãos, mas não devemos delegar a elas direitos exclusivos para nos entregarem o curso cristão avançado, e não pense que fazer uma faculdade teológica nos dá o crédito de avançado, isso só nos faz mais conhecedores das tradições, dos galhos e do tronco, não da raiz. As religiões são ferramentas, não fins em si mesmas, e muitos poderão se tornar seres humanos espiritualmente melhores mesmo em tradições que muitos de nós consideram religiões limitadas e mesmo erráticas. Às vezes pode ser melhor nos comprometermos menos com teoria e praticar mais que sabermos mais e não vivermos o suficiente disso. 
      Trajetória espiritual é algo individual, somos nós e Deus, paremos de uma vez por todas de colocar religião entre nós e Deus, paremos de “religare”, religião, todas elas, é coisa de homem, é tradição construída por seleção conveniente a homens que desejavam e desejam manter poder sobre homens. O Espírito Santo foi e é esquecido nas escolhas que criam as tradições, e no melhor das circunstâncias, ainda que ouvido, interpretado conforme a subjetividade humana, limitada ao tempo e espaço do plano físico. Contudo, se você quiser, de verdade, conhecer mais a Deus, saber sobre o mundo espiritual, entender de fato porque existimos, de onde viemos e para onde vamos, você conseguirá, focando-se na raiz.
      A busca espiritual não sobe como uma árvore para ser vista e festejada pelos homens, não está no tronco e nos galhos, esses acabam nas folhas, flores e frutos que são os homens. A busca desce, para a raiz, que ainda que pareça sumir diante dos homens, do mundo material, aprofunda-se pelo espírito humano no Espírito de Deus. Os que acham a Deus e sua mais profunda espiritualidade não expõem isso para qualquer um e de qualquer jeito, sim, eles vivem de maneira diferenciada a paz e a luz, mas o conhecimento eles guardam em seus corações como algo muito precioso. A raiz não fica exposta, mas escondida, para ser preservada, e eis aqui a última metáfora espiritual desta reflexão, para os que têm olhos para ver. 

Parte 3 de uma reflexão
dividida em 9 partes
José Osório de Souza, 30/10/20

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