02/06/21

A malícia e a retidão

      “Porque o Senhor Deus é um sol e escudo; o Senhor dará graça e glória; não retirará bem algum aos que andam na retidão.Salmos 84.11

      Algumas pessoas estão acostumadas a usar indiretas, têm sempre “papos tortos”, quando falam conosco têm sempre alguma crítica a alguém, e mesmo falando diretamente conosco, parecem esconder algo, querem aparentar que nos aprovam, mas estão sempre querendo confrontar nossas atitudes, nossas palavras, nossas intenções. É gente incrédula, que por ter parado de buscar a Deus (ou talvez por nunca ter de fato buscado), que por não estar resolvida no Senhor, duvida que muitos possam ter uma comunhão sincera com Deus. Quem não crê em Deus, não crê em si mesmo e não crê nos outros. Essas pessoas adquiriram na vida a malícia, não a sabedoria, e o mais triste é que muitas se acham cristãs. Filho de Deus de verdade não dá indiretas, ou fala sem receio e em amor o que pensa ou se cala com temor. 
      Os jovens usam o termo “papo reto”, esse termo tem um sentido semelhante ao termo reto citado na Bíblia, significa falar a verdade sem rodeios, mas falar com respeito, não sentir a necessidade de ser malicioso, usando afirmações dúbias, que parecem ter sempre um segundo e escondido sentido. Quando usamos de indiretas o fazemos por termos medo de dizer a verdade, e isso acontece ou porque aquilo que achamos ser verdade na verdade não é, antes é uma avaliação injusta, uma crítica destrutiva, ou porque ainda que seja uma verdade não temos amor e respeito suficientes de Deus para dizê-la sem machucar o outro. Ser espiritual não é só dizer e fazer a coisa certa, mas também dizer e fazer do jeito certo, no tempo certo, agir assim, por mais duro que seja, constrói, nunca destrói ou fere alguém. 
      Jesus falava muitas vezes por parábolas, mas sua intenção não era maliciosa, ao contrário, a simbologia tinha como objetivo tanto explicitar melhor um ensino, através de uma analogia, quanto proteger aqueles que ainda não estavam preparados para certos mistérios, Jesus era sábio, reto e muito amoroso. Com algumas pessoas às vezes Deus nos orienta a falar com simbologias, não sermos diretos, não para enganá-las ou criticá-las, mas para que a exortação entregue não seja de pronto descartada por elas, caso fosse mais explícita, ficando assim em suas mentes para que depois, sozinhas, elas possam refletir melhor e, quem sabe, mudarem de vida. O amor de Deus é sábio, não é malicioso, é educado, e sempre espera mudança de atitude para melhor, respeitando o livre arbítrio dos homens e seus tempos. 
      “A malícia matará o ímpio e os que odeiam o justo serão punidos” (Salmos 34.21), “as palavras da sua boca são malícia e engano, deixou de entender e de fazer o bem” (Salmos 36.3). A malícia cega justamente aquele que acha que tem mais visão que os outros, o malicioso é um sábio do mal, conhece as fraquezas do homem, mas não acredita que em Deus os homens possam mudar e serem bons. Malícia separa, não une, pois o malicioso, achando-se astuto, sempre desconfia, sempre vê no outro aquilo que há nele, malícia que quer levar vantagem. O malicioso é ladrão e homicida, rouba a honra e mata a reputação, ele sempre tem como inimigo aquele que é o oposto dele, o justo, que possui justamente aquilo que ele não tem, sabedoria genuína, por isso a voz do justo em seus ouvidos lhe deixa tão desconfortável. 
      “Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto” (Salmos 51.10), “seja reto o meu coração nos teus estatutos, para que não seja confundido” (Salmos 119.80). O reto teme a Deus, anda com Deus, ama a Deus, por isso tem a luz do Altíssimo sobre si, retidão é luz que protege da confusão, o reto sabe de onde veio, onde está e para onde vai, sabe quem foi e quem é, por isso é misericordioso e generoso com o próximo. O reto não se sente melhor que ninguém, não se acha sábio, pode até se achar menor, mas por se ver assim confia e se satisfaz no Senhor, por isso tem uma sabedoria simples e natural, manifestada até no silêncio. O malicioso querendo manter o que tem e ganhar mais perderá tudo, já o reto, que nada pensa ter além do Senhor, verá sua felicidade expandida, aqui e no céu. 

01/06/21

Palavras com amor

      “Ora, o fim do mandamento é o amor de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida. Do que, desviando-se alguns, se entregaram a vãs contendas; querendo ser mestres da lei, e não entendendo nem o que dizem nem o que afirmam.I Timóteo 1.5-7

      Nem o “bem” na boca de quem tem o mal no coração é bem, mas é mal, não são as palavras que aliam a uma atitude o bem, mas a intenção interior e espiritual. Se alguém tiver amor no coração, até seu silêncio contribuirá para que o bem seja feito, e mesmo o de pouco conhecimento, com menos informações, que nem sabe falar direito ou tecer raciocínios mais elaborados, se tiver uma intenção embebida em amor, fará mais bem que o articulado, que conhece tudo e fala discursos relevantes.
      Num mundo atual, onde a humanidade acordou para o preconceito e a desigualdade, quando nos conscientizamos do preço que tem que ser pago, de alguma maneira, para descendentes de africanos escravos, toda ação e toda palavra importam. Contudo, é preciso que sejam ações e palavras para desconstruir o erro e construir o acerto, não simplesmente para destruir o errado, precisamos odiar o “pecado”, não o “pecador”, só assim construiremos união e não desunião.
      Se não tomarmos cuidado, ainda que tenhamos bons motivos e estejamos munidos de discursos relevantes (e como as pessoas atualmente sabem fazer belos discursos), estaremos fazendo guerras e exercendo violência, a mesma que mulheres, homossexuais (e outras sexualidades) e principalmente os negros sofreram e sofrem. Uma guerra não justifica outra, uma violência não justifica outra, o mal se vence com o bem e o bem está dentro de nós, não só nas palavras e nas ações. 
      Atitudes que promovem transformações que ficam são as que nascem de intenções espirituais puras. Por quê? Porque essas estão em sintonia, muito mais que com bandeiras e ideologias ou homens, com o Deus Altíssimo, pai de todos os espíritos. A melhor mudança é espiritual, e o espírito não tem cor, sexualidade ou raça, só virtudes que quanto maiores mais fazem do ser, servo de outro ser, não dono, e ser servo por amor não humilha nem cria ódio, mas honra e faz amigos. 
      No texto inicial, Paulo fala de um outro tempo e de um outro contexto, se refere a religiosos israelitas de sua época que sabiam falar, entendiam a teoria de suas doutrinas religiosas, mas não tinham a intenção correta em seus corações. Paulo diz que o amor de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida, é o que confere legitimidade às palavras, se não existir isso o discurso é só para gerar polêmica e criar contenda, é de ódio, ainda que com belas palavras. 

31/05/21

Palavra de Deus, vida por si só

      “A minha alma está pegada ao pó; vivifica-me segundo a tua palavra. Eu te contei os meus caminhos, e tu me ouviste; ensina-me os teus estatutos. Faze-me entender o caminho dos teus preceitos; assim falarei das tuas maravilhas. A minha alma consome-se de tristeza; fortalece-me segundo a tua palavra.Salmos 119.25-28

      Indiferente do que ela diga, ainda que traga uma sentença de morte, a palavra de Deus é vida, e quem a recebe é vivificado. A palavra de Deus é vida por si só, feliz o que a recebe diretamente do Espírito Santo em seu coração, será renovado de pronto e a levará consigo como lâmpada e escudo. Os homens fazem barulho e discursos, falam sem pensar direito no que falam, e mesmo com sinceridade podem matar com suas palavras, eles darão conta de toda palavra pronunciada ou pensada um dia a Deus. 
      Deus não joga conversa fora, sua palavra cria e destrói, mas sempre existe um efeito material ou espiritual dela, com uma intenção clara e para o bem, ainda que desconstruindo, Deus fala e acontece e nunca há dele arrependimento por isso. Por uma palavra Deus me feriu, com duas me curou, com três elevou-me até o mais alto céu e com quatro tirou o véu e me revelou mistérios, mas em seu silêncio minha alma esperou, calada e confiante. Quem pode suportar o silêncio do Senhor? Terrível é.
      Quando Deus fala o destino do homem se defini, se ele acata a palavra, ainda que sofra por um tempo será consolado depois, contudo, se a desacata, mesmo que siga próspero por um tempo, no final experimentará vergonha. Feliz o que recebe e obedece a tempo a palavra de Deus, para esse a palavra será abrigo, quanto ao que acha que sabe tudo, que o trabalho de suas mãos lhe basta para protegê-lo, que sua inteligência é suficiente para administrar a vida, será pego nu debaixo de uma tempestade.
      Em oração, depois de pôr a vida em ordem, reconhecer pecados, interceder por si e pelos outros, cale a alma em fé, se fizer isso ouvirá a palavra de Deus, aquela que você está mais necessitando para sair de um estado de confusão. Se estiver adequadamente na presença de Deus, fizer a pergunta correta e tiver os ouvidos espirituais abertos, você ouvirá Deus falar, uma frase, clara e objetiva, dando a solução. Poderá ser, não algo que você quer ouvir, mas certamente será o que você precisa ouvir para ser revivido.
      “A minha alma está pegada ao pó, vivifica-me segundo a tua palavra“, o salmista conhecia bem o poder da palavra de Deus, e com certeza a resposta rápida e simples que Deus dá em espírito àqueles que o buscam e que precisam de seu retorno urgente. Já provei mais de uma vez essa palavra, é a primeira que vem à mente após questionarmos o Senhor, não precisa de qualquer complicação para ser entendida, se estivermos com os ouvidos espirituais abertos nós a ouviremos e ela nos levantará do pó. 

30/05/21

Melhor ser aprovado que ser atendido

      “Aquele, porém, que se gloria, glorie-se no Senhor. Porque não é aprovado quem a si mesmo se louva, mas, sim, aquele a quem o Senhor louva.II Coríntios 10.17-18

      Certa vez orei sobre algo importante, para o qual necessitava de uma resposta urgente e positiva, contudo, permanecia com o coração angustiado. A princípio achei que me sentia mal porque Deus tinha respondido com um não ou com um espere, mas na verdade Deus ainda não tinha respondido, me faltava estar na condição certa para receber a resposta. Deus não respondia, mas o problema não estava nele, nunca está, estava em mim. Quando insisti na oração entendi o que me faltava para orar certo, então, a resposta veio, não sua realização no mundo exterior, essa só aconteceria tempos depois, mas a resposta veio no meu interior enquanto eu orava. Recebi um sentimento forte e gostoso, como se algo invisível tivesse ricocheteado no Altíssimo e voltado para mim, enfim, eu tinha feito a oração que Deus queria ouvir. 
      Deus sempre deseja nos abençoar, Deus sempre quer nos dar o que pedimos, ele é pai e pai quer a felicidade do filho. Contudo, mais que nos mimar respondendo sempre sim ele quer que cresçamos espiritualmente, só isso nos dará as melhores coisas, aquelas que seguirão conosco depois que sairmos do plano físico e continuarão em nós pela eternidade. Para adquirirmos esses bens mais nobres precisamos nos conhecer, o que queremos de fato ter e ser, e nós seres humanos somos especialistas em tentarmos nos enganar, aos outros homens e mesmo a Deus. Uma comunhão profunda com Deus nos dá esse conhecimento, e quando o alcançamos Deus se alegra conosco e nos aprova, é essa aprovação que retorna como um sentimento bom e duradouro, se Deus responde sempre temos paz, seja qual for a resposta. 
      A melhor coisa que podemos receber de Deus é sua aprovação, ter o pedido de uma oração aprovado é melhor até que receber o que foi pedido, porque o que foi pedido pode acabar, pode ser só algo material, temporário, mas a aprovação nos informa que aprendemos a pedir coisas certas e do jeito certo, isso é para sempre. Ah, se entendêssemos que tantas coisas, para as quais damos tanta importância nesta vida, pelas quais sofremos tanto, são só desculpas que Deus usa para nos dar coisas mais importantes, para provar nossas intenções e aperfeiçoar nosso homem interior. Ah, se entendêssemos quanta dor construímos por coisas menores, por vaidades e orgulhos, seríamos felizes assim como faríamos os outros felizes mais fácil e rapidamente. Se isso acontecesse entenderíamos que orar não é pedir, mas viver. 
      Todavia, ocorre algo paradoxal quando atingimos um nível de intimidade com Deus, recebemos menos, mas isso ocorre porque também pedimos menos, e não fazemos isso porque temos menos fé, é o contrário. Muitos acham que ser espiritual é ter a fé que move montanhas, e por se ter isso pode-se ter prosperidade material, mas será que vemos isso no Cristo encarnado? Jesus tinha pouco porque pedia pouco, porque precisava de pouco, assim atingiu uma espiritualidade onde tudo o que pedia a Deus era aprovado, pois só pedia as coisas certas. O contrário disso é pedir um monte de coisas em todo o tempo, nunca estar satisfeito e ter muitos pedidos desaprovados, ainda que alguém vivendo assim ache que pede porque tem fé e é espiritual, na verdade é imaturo, não é espiritual e é bastante desaprovado por Deus. 
      O texto inicial é respeitado por muitos, muitos cristãos dizem que ele é a chave de uma vida realmente espiritual, contudo, muitos não o entendem certo. Negar a si mesmo e deixar que Deus apareça, isso não é uma maneira de viver fazendo-se de coitado, privando a carne com a carne, isso cria gente insana, ainda que disfarçada de religiosa, e não de fato seres humanos espirituais. Espiritualidade genuína traz vida que vence a carne, já a falsa mortifica a carne sem, contudo, vivificar o espírito. O aprovado por Deus não se vangloria pelo que recebe, mas pelo que dá, não tem sua paz baseada em pedidos atendidos, em ser servido, mas em servir, ele não age como criança que pensa que agrada o pai porque esse lhe dá tudo o que ele pede. Ele entendeu que ser aprovado no espiritual é melhor que ser atendido no material. 

29/05/21

Quatro respostas à oração

      “E apartou-se deles cerca de um tiro de pedra; e, pondo-se de joelhos, orava, dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua. E apareceu-lhe um anjo do céu, que o fortalecia. E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão.Lucas 22.41-44

      Dizemos que existem três respostas para uma oração, sim, não e espere, mas nesta reflexão adicionaremos uma quarta resposta: nenhuma. Podemos fazer uma oração a Deus e não sentirmos dele qualquer uma das três respostas, mas uma quarta, resposta nenhuma, e nenhuma resposta também é resposta, que deve ser avaliada para que possamos entender a vontade de Deus para nós em um assunto. Penso que o sim e o não são respostas igualmente benéficas, pelo menos para o cristão maduro, e essas respostas podem ser sentidas quase que de maneira imediata, logo após fazermos o pedido a Deus. Quem aprendeu a orar e tem intimidade com o Senhor sabe discernir, muito mais por sentimentos que ouvindo palavras, Deus respondendo, esse sabe que Deus é vivo e nunca procrastina. 
      Aliás, é importante que frisemos esse ponto sobre a objetividade do Senhor. Deus é espirito, se relaciona com os homens neste mundo de forma espiritual, não são olhos, ouvidos e outros sentidos do corpo que o percebem, mas o espírito do homem. Aprender sobre essa comunicação pode ser difícil para os materialistas, mas o meio de realizá-la é um só, a fé, quem não crê não anda com Deus. Apesar do homem poder usar imaginação para fins diversos, recreação, arte, para criar situações mentais e emocionais, que muitas vezes nunca se realizarão na realidade, a imaginação é o início de uma experiência de fé. Visualizamos na mente e sentimos com o coração para depois levarmos à presença de Deus, declarando que precisamos de tal coisa, e que temos convicção que se ele quiser poderá nos dar. 
      A comunicação espiritual se realiza principalmente através desse mundo interior que o homem pode criar e que pode permanecer secreto de todos os outros homens, só conhecido por Deus e reconhecido por ele como possível de se tornar real. Torna-se real se for a “vontade” de Deus e sendo tal é sempre boa para o homem, mas essa comunicação deve ser devidamente estabelecida para Deus “responder”. Não basta que algo seja bom e seja vontade possível de Deus, mas deve ser solicitado de forma correta, com fé, a fé nos coloca em comunicação com Deus que reage de forma perceptível, retorna à alma humana como um sentimento poderoso que lhe dá consciência imediata que sua oração foi respondida. Foi isso que dizemos quando falamos que o sim e o não são sentidos quase que instantaneamente. 
      Mas entendamos uma coisa, Deus abençoa todos os seres humanos, ainda que alguém busque algo sem fé, mesmo sem acreditar nem que Deus exista e que responde orações, esses, se estiverem vivendo vidas justas, terão boas respostas em seus empreendimentos. A diferença é que esses não estabelecem comunhão espiritual com Deus e vivem só materialmente, na eternidade isso lhes será devidamente cobrado. Estabelecer comunhão com Deus implica não só em pedir e receber, mas em vivenciar as virtudes do Senhor, principalmente sua santidade. Ninguém que queira conhecer mais a Deus pode receber dele algo sem estar preparado para isso, com coração limpo e pronto para adorá-lo, isso não beneficia o homem só materialmente, mas espiritualmente, dando-lhe virtudes que o acompanharão eternamente. 
      Se estivermos preparados, se orarmos com fé e a resposta de Deus não for sim ou não, então ela pode ser espere, essa é a resposta mais difícil de se entender porque pode ser confundida com a quarta resposta, a resposta nenhuma. Quando Deus manda esperar podemos até parar de orar, mas certos que ele só realizará o pedido no plano físico no futuro, nisso temos paz, contudo, muitos acham que devem aguardar a resposta sim quando na verdade não entenderam que Deus ainda não lhes respondeu. Quando Deus fala ele é claro e objetivo, não fica dúvidas, e a consequência disso é que temos paz, ainda que seja um não e mesmo que seja um espere. Contudo, quando não sentimos nenhuma resposta permanecemos aflitos, nada é pior que não saber a vontade de Deus para nossas vidas, isso acontece quando nos falta santidade e fé. 
      O texto inicial é o registro, talvez, da oração mais difícil que já foi feita, e sabe qual foi a resposta de Deus a uma oração feita pelo próprio Cristo? Foi não, e mesmo o Cristo teve que insistir para aceitá-la. Se Jesus teve um pedido negado, que diríamos nós, mas estejamos tranquilos, de nenhum ser humano será pedida a prova que foi solicitada do Cristo, prova que ele teve que vencer, não por ele, mas por todos nós. Só entendemos de fato o que é a vida cristã quando recebemos um não de Deus e administramos isso da maneira certa, mas estejamos em paz também com isso, Deus sabe de nossa dor, e mesmo em seu não ele nos envia consolo. Contudo, é melhor um não de Deus que um sim do mundo, do nosso ego, dos ardilosos caminhos do mal, no não de Deus pode até haver dor no início, mas no final haverá honra.  

28/05/21

Tempo de silêncio (2/2)

      “Jesus, porém, guardava silêncio.” Mateus 26.63a

      O silêncio, de quem ouve e não responde, permite que quem falou pense melhor no que disse, leva esse a entender que quem o ouve não é seu inimigo, não está usando de armas semelhantes para responder, contudo, usando o silêncio como fruto do amor é preciso paciência. Não é fácil nos calarmos diante de alguém que depois que deixamos claro que pensamos diferentemente dele segue, muitas vezes baixando o nível da conversa, tentando nos destruir. Quando uma pessoa não consegue destruir os nossos argumentos, ela tenta destruir a nós, deixa para lá o motivo inicial da conversa e parte para procurar em nossas vidas pontos fracos, ou pontos que ela acha que sejam fracos, para nos diminuir. 
      O que busca a Deus sempre acha nele respostas claras e sensatas para tudo, ainda que elas sejam simplesmente “eu não sei sobre esse assunto”, ou “não tenho posicionamento a respeito disso”, e não tem nada de errado com essas respostas, ninguém precisa saber tudo. Contudo, não podemos nos sentir menores por termos os argumentos que temos, ainda que isso não seja motivo para estacionarmos já que devemos orar mais tanto quanto nos informar mais para saber como procedermos sabiamente num mundo moderno tão cheio de artimanhas de semânticas. Todavia, que tenhamos paz no que somos e no que sabemos, é isso que nos protege de entrar em polêmicas que podem acabar em violência. 
      Só conseguimos calar nossas bocas quando estamos em paz, quando já dissemos tudo o que tínhamos a dizer a Deus, quando achamos todas as respostas que precisávamos no Senhor, quando estamos satisfeitos espiritualmente. Caso contrário procuraremos nos homens o que não buscamos em Deus, defenderemos ideologias humanas, acharemos na política a e na religião bandeiras que deem sentido às nossas vidas e nos tornaremos discípulos, não de Jesus, mas do resto, das forças espirituais do mal, dos homens e de nós mesmos. Se calar assim não significa se alienar, mas significa entender a condição humana com equilíbrio, pondo Deus em primeiro lugar e sentindo-se  totalmente feliz nisso. 
      Sinto no Espírito Santo que o momento atual no mundo, e especialmente no Brasil, é de silêncio, é de calar, e vejam que isso vai contra não só ao que a mídia diz, como contra o que diz uma grande maioria de evangélicos e protestantes, que sentando-se na cadeira chamada “direita” política achou hoje um lugar confortável, para impor em nosso país aquilo que acha ser o cristianismo. Muitos cristãos, pensando que enfim podem levantar a voz e lutar pelo que acreditam, e ainda mais tendo um “presidente” a seu favor, não percebem que estão fazendo o jogo do mal, engajando-se numa guerra que não é deles e que até o momento só tinha um lado, mas para haver uma guerra é preciso dois lados beligerantes. 
      O Brasil passou décadas com uma voz forte arregimentando os pobres materialmente e os não pobres mas equivocados intelectualmente, essa voz é a da chamava “esquerda” política, quando uso termos entre aspas um dos motivos e o termo poder não ter atualmente o significado que teve, esquerda não significa, hoje, seguidores do marxismo, comunistas, a coisa não é mais bem assim. Há algum tempo, a tal da direita, com o passado da ditadura militar ainda fresco, se calava, sentindo-se culpada, mas nada melhor que o tempo para fazer do mau o bom e do bom o mal. O ser humano se esquece depressa ao mesmo tempo que se adapta, assim o tempo levantou uma direita adormecida e forneceu ao embate dois lados. 
      Essa não é uma guerra santa, Deus nada tem a ver com ela, está mais para uma jihadi, e penso que isso possa ser uma estratégia do mal (das últimas? depende do “ponto de vista”) para desviar cristãos de Cristo, usando como argumentos para convencê-los uma Bíblia mal interpretada. Quanto aos que estão buscando ao Senhor de todo o coração, nesse momento tão difícil, sigam em silêncio, que isso possa ajudar os que se desviam dentro de igrejas e seguindo pastores manipuladores e gananciosos a pensarem melhor em suas agendas de ódio. A guerra que o Senhor quer que lutemos se vence como Jesus venceu, calando e morrendo neste mundo como indivíduos, pois o reino de Deus nunca foi e nem será aqui.  

Leia na postagem de ontem 
a primeira parte desta reflexão.

27/05/21

Tempo de silêncio (1/2)

      “Mas Maria guardava todas estas coisas, conferindo-as em seu coração.Lucas 2.19

      Dentro do princípio de que a melhor pessoa para ajudar uma pessoa é a própria pessoa, é preciso entender como funciona o eco das palavras que dizemos e que volta para nós. Jesus era equilibrado, vivia num pleno autocontrole constante, assim sabia quando dizer e quando calar, e quando dizia não era para compensar alguma autoestima baixa, uma insegurança ou qualquer necessidade de vaidade para se impor sobre os homens. Jesus entendia a importância de colocar Deus em seu devido lugar, esperando dele uma ordem, obedecendo essa ordem em amor, dependendo só da aprovação dele para essa atitude, de maneira que o nome de Deus fosse louvado como origem, meio e fim de tudo que fazia. 
      Isso, contudo, não ocorre conosco, falamos demais por orgulho, nos calamos muito por medo, exigimos dos outros o que nós não vivemos, queremos que as pessoas pensem como nós pensamos só para termos seus apoios para nossas tolas opiniões. Não percebemos que muito do que dizemos para os outros não é para os outros, mas para nós mesmos, que toda a argumentação que construímos e despejamos sobre outros não é porque acreditamos em algo como sendo bom e queremos beneficiar os outros com isso, é outra coisa. Mal resolvidos em Deus e consequentemente em nós mesmos, falamos porque não estamos convencidos do que falamos, e quem queremos convencer somos nós mesmos. 
      Cientes disso precisamos nos resolver em Deus e pararmos de ser profetas de ideologias humanas, de posições políticas de homens, de religiões terrenas, de teorias da conspiração que nada mais são que enganos, não nasceram na sabedoria e na providência do Senhor e não concorrerão para que o melhor seja feito no mundo e abençoem os homens. A política, a economia, os governos, e mesmo a ciência, não podem fazer justiça no planeta, não sem que se equilibrem com as verdades espirituais divinas, e essas, repito, não estão ligadas necessariamente a instituições religiosas, assim todo discurso em prol dessas bandeiras, se Deus não estiver no lugar certo, é inútil e só honra homens diante de homens.  
      O que fazer diante de tantas opiniões nas bocas das pessoas e nas redes sociais da internet, legitimadas atualmente pelo doutrinamento da mídia que tenta fazer de cada indivíduo um deus, negando o único e verdadeiro Deus? Nada, deixemos as pessoas falarem, aos que negam a ciência, deixemos que neguem, aos que se acham cavaleiros do apocalipse, deixemos que sejam, aos que se consideram donos de uma lucidez baseadas em fatos, ainda que achem seus fatos só nos lugares que lhes convém, deixemos que se achem melhores e donos da verdade. Que suas palavras batam em nós, ecoem de volta para esses que tanto falam, sem alteração em seus conteúdos originais, e que depois fiquem neles. 
      Se nós respondermos, e às vezes pegos de surpresa podemos responder errado, o que vai ficar nas cabeças dos tolos são as nossas respostas, isso lhes dará mais munição para seguirem argumentando e consequentemente pensando como pensam. Guerras intelectuais não se ganha com contra-argumentação, pelo menos não se ganha quando a retórica que nos lançaram deixou de ser diálogo e se tornou arma de guerra tentando mudar o que pensamos. Quando não há concordância pelo menos um lado deve se calar. O ideal seria ambos os lados se calarem, entenderem que estão diante de pontos de vista diferentes, que isso não pode ser mudado e que para que haja amizade o assunto deve ser posto de lado.  
      Precisamos saber quando parar e respeitar o que o outro pensa, ainda que seja o oposto do que pensamos, isso é sábio para todos os seres humanos que querem viver de maneira civilizada e em harmonia com os demais. Contudo, para os cristãos, essa orientação é ainda mais seria, já que eles dizem ter suas vidas entregues nas mãos de Deus, dizem seguir ao mestre Jesus, dizem ter dentro deles o Esprito Santo, assim eles dizem viver debaixo de uma verdade maior, que não é a deles, mas do Altíssimo. Bem, Deus não precisa de advogados, mas pode usar os pequenos e simples como testemunhas de sua sabedoria e bondade, desde que esses não tomem o seu lugar, querendo vencer embates ideológicos com os tolos. 

Leia na postagem de amanhã 
a segunda parte desta reflexão.