05/09/21

Por que cristãos apoiam a direita? (1/3)

      “Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui.João 18.36

      Que guerras importam neste mundo? Não me refiro a conflitos que utilizam de violência para conquistar e submeter, mas a lutas civilizadas por direitos, essas são lutas que importam, de forma laica, não aliadas a certas escolhas que são pessoais, como religião e sexualidade. Governo político numa sociedade civilizada não é para um grupo, nem para a maioria e nem para minorias, mas para todos. O desafio da democracia é esse, administrar um convívio respeitoso entre diferenças, por isso um grupo impor sobre os outros suas escolhas é inaceitável, mesmo que seja um grupo cristão. 
      Bem, esse é o mundo ideal, já o céu ideal fica por conta da crença de cada um. Parece simples e sensato, contudo, muitos evangélicos têm apoiado o atual presidente numa ligação simbiótica, fortalecendo-se mutuamente e tentando pela política prevalecer um cristianismo equivocado no mundo. O povo cristão sempre foi perseguido, nisso não há anormalidade, é só efeito natural de trevas se opondo à luz sob o ponto de vista espiritual. Contudo, muitos cristãos, não digerindo bem essa perseguição, represaram mágoas, que ficaram caladas, mas vivas, só esperando o momento de irem à forra. 
      Esses cristãos acharam alguns argumentos que lhes dão razões para apoiarem a direita extremista que se levantou nos últimos anos no Brasil, vamos refletir sobre alguns. O primeiro deles é que essa direita apoia valores morais e sociais da chamada tradição judaica-cristã, como ser contra o aborto, a favor de costumes tradicionais de família e sexualidade etc. O segundo argumento é que a tal direita se opõe ao comunismo, originalmente ateu, ainda que o comunismo acreditado por muitos cristãos nem exista mais, hoje a esquerda tem como bandeira principal luta por minorias, diversidade e ecologia. 
      O terceiro argumento é baseado numa interpretação equivocada que se faz sobre as revelações do fim dos tempos, e que só é parte de muitas heresias que já circulam pelas igrejas há algum tempo. Essa interpretação pode ver o anti-cristo bíblico na China e o número (ou sinal) da besta num chip na vacina para a Covid 19. Nisso não se sabe quem veio primeiro, se o ovo ou a galinha, se evangélicos apoiam o presidente porque ele diz acreditar nessas teorias de conspiração, ou se o presidente diz crer nessas teorias porque evangélicos que o apoiam creem e ele tem interesse neles como eleitorado. 
      O quarto argumento é que no governo federal atual não há corrupção, por isso o apoio que muitos deram a ele quando se colocou como antítese da esquerda corrupta, que comandou o país por mais de uma década, apoio que a princípio muitos deram, não só cristãos, por não terem outra opção de voto, eu mesmo dei esse crédito inicial ao atual presidente. A c.p.i. da pandemia pode derrubar esse argumento, provando ter havido interesse de lucro na negociação de certas vacinas, mesmo que fabricantes de outras vacinas tenham oferecido vendas por preços melhores e com entregas mais rápidas. 
      Muitos evangélicos creem que as terras que a nação de Israel tinha no antigo testamento são dela por concessão divina, e que em algum momento lhe serão devolvidas. Assim, tudo que se coloca contra Israel e contra o cumprimento dessa promessa, incluindo a reconstrução do templo de Jerusalém e retorno integral desse aos judeus, está contra Deus. Essa interpretação faz legítima a luta de muitos evangélicos por essa causa. Essa é uma bandeira que a direita norte-americana já levanta tradicionalmente e que foi abraçada pelo atual presidente, eis o quinto argumento que une esse líder a muitos cristãos.
      O sexto argumento é o negacionismo científico, que no meio cristão já tem tradição, da perseguição a Galileu à demonização do darwinismo. Aos negacionistas basta crerem em alguns poucos “médicos” desconhecidos que dizem o que eles querem ouvir, para desacreditarem no que muitos médicos, infectologistas, cientistas e profissionais reconhecidos dizem, que deve haver isolamento social, uso de máscara e vacinação para ao menos diminuir os riscos da contaminação do coronavírus. Além disso acham que todos esses sérios profissionais fazem parte de uma teórica conspiração contra a direita.
      É preciso mais fé para crer na mentira que na verdade. No catolicismo idólatra o homem se deixa ser explorado por um falso cristianismo, ainda que resignadamente sofra com isso, e talvez nisso até haja certa piedade. Mas o protestantismo mercantilista consegue que o homem seja explorado por um falso cristianismo e aprecie isso. Muitos evangélicos não querem libertação da exploração, querem ser exploradores também, para então serem prósperos materialmente. Nessa política suja, cristãos se envolvem, quando entenderão que essa guerra não é deles e que o reino de Jesus não é deste mundo? 

Leia nas próximas postagens
a 2ª e a 3ª parte desta reflexão.
José Osório de Souza, 18/08/2021

04/09/21

Que guerra nos importa lutar? (2/2)

      “O homem bom tira boas coisas do bom tesouro do seu coração, e o homem mau do mau tesouro tira coisas más.” Mateus 12.35

      Durante séculos o mal criou inimigos para os cristãos dentro do próprio cristianismo, e o mal não fez isso inventando um inimigo, mas usando um inimigo real, o interno. O mal trabalhou utilizando a mentira para corromper líderes cristãos, assim esses se tornaram inimigos de Cristo, ainda que tendo reverência de muitos cristãos. Isso está mudando, cristãos têm aberto os olhos, falsos líderes oferecem alimento ruim, alimento ruim não fortalece, e justamente por sentirem-se fracos é que muitos cristãos começam a ver que muitos líderes são enganadores buscando só os seus interesses. À medida que o que muitos chamam de final dos tempos se aproximar, mais claro ficará a ineficácia do falso cristianismo, quem tiver olhos espirituais verá.  
      Mas uma estratégia, que também é usada há muito tempo, tem sido utilizada pelo mal atualmente, só que de um jeito mais elaborado, lançar os cristãos numa guerra inútil contra falsos inimigos. Infelizmente são exatamente os falsos líderes, ensinando um evangelho equivocado, os responsáveis, não por prevenirem, mas por prepararem os cristãos para serem mais facilmente ludibriados por essa falsa guerra. Quem se acostumou com a beligerância não consegue viver sem uma guerra, ela dá sentido de vida e confere identidade de soldado a quem não tem uma identidade melhor. Enquanto lutam com inimigos externos deixam livre os internos, se enfraquecem e se tornam vulneráveis para o maior inimigo. Quem ganha com isso?
      Por diversas vezes já fiz aqui a afirmativa que um falso cristianismo enganou os homens por séculos, isso quer dizer que Deus permitiu um engodo duradouro e nada fez? Não, Deus fez, faz e sempre fará, e muito mais que merecemos, por amor e apesar dos engodos. A criança se cria com um certo “faz de conta”, que ainda que tenha um fundo de verdade, lições de moral, não é a verdade mais profunda, assim Deus faz com a humanidade. Contudo, o tempo de ser criança está acabando, e é sobre isso que as profecias bíblicas de Apocalipse, debaixo de metáforas e do entendimento limitado de seu tempo do apóstolo João, falam, sobre uma importante mudança de era. Os que estiverem de fato em Cristo serão iluminados em novos céus e nova Terra. 
      Cristãos, vossos inimigos não são os de ideologia política de esquerda, pelo menos não mais, nem os que defendem direitos de homoafetivos, muito menos os que colocam a ciência no seu lugar certo, ainda que só leiam entendimentos religiosos milenares com mais profundidade. Seus inimigos, evangélicos, não são espíritas, ou devotos de Maria, assim como não são árabes, ainda que muitos sejam muçulmanos e tenham tanto direito à Palestina quanto os judeus. O mal hoje não é um ser malévolo e vermelho, com cascos, chifres e rabo, que incita aqueles que vocês consideram seus inimigos contra vocês, ainda que se crerem nesse diabo poderão vê-lo, inclusive após a morte, com o inferno e todo o sofrimento de uma danação eterna. 
      Na verdade, seus inimigos são vocês mesmos e a responsabilidade por vencê-los é somente de vocês. Infelizmente no Brasil, a ganância por influência e riqueza materiais, usou a heresia da teologia da prosperidade para encher templos, “glorificar” pastores que agora querem expandir seu poder até Brasília. Neste 7 de setembro de 2021, não vá às ruas se manifestar, nem por um lado, nem pelo outro, mas ore pelo país, com a humildade que muitos pastores evangélicos perderam e que por isso serão envergonhados no tempo certo. Jesus não precisa de uma maioria apoiando um político que se diz a favor de causas cristãs para fazer sua obra, na verdade sua obra requer o oposto disso, não seja soldado das trevas numa guerra que Deus não está. 
      Jesus, em seu último momento, foi abandonado até por seus amigos mais próximos, assim enfrentou sozinho seus inimigos, e não eram inimigos que ele fez, mas que se colocaram como tais. Não precisamos inventar inimigos para nos envolvermos em guerras e nos afiliarmos a exércitos só para auto-afirmarmos identidade e sentido de vida, quem vive na luz naturalmente é odiado pelos que vivem nas trevas, só por estarem na luz. A vitória está em nos mantermos distantes de confrontos externos, nossa luta é não lutarmos, mas nos ocuparmos em vencermos a nós, o nosso egoísmo e as nossas vaidades. Nosso maior desafio é segurarmos a paz interior, ainda que tudo o mais esteja em conflitos, certos que certas guerras não nos pertencem. 

Leia na postagem de ontem 
a primeira parte desta reflexão 
José Osório de Souza, 25/05/2021

03/09/21

Que guerra nos importa lutar? (1/2)

      “O que no seu coração comete deslize, se enfada dos seus caminhos, mas o homem bom fica satisfeito com o seu proceder.” Provérbios 14.14

      Pode-se vencer um inimigo com estratégias diferentes, a estratégia mais comum, que é a que alimenta os confrontos, é fortalecer seu lado no embate, armando melhor seu exército, para que esse tenha mais forças que o outro lado e então possa vencê-lo num combate. Contudo, se o inimigo for forte e persistente, uma guerra pode levar anos, sem que haja vencedor, assim é preciso, não mais fortalecer o seu lado, mas enfraquecer o outro lado, isso pode ser feito tanto pelo lado de fora, como pelo lado de dentro. Criar falsos inimigos para o outro lado ou fazer que membros do exército do outro lado parem de acreditar em sua causa, fortalece um lado ao mesmo tempo que enfraquece o outro lado, sem que nem seja preciso um confronto direto. 
      Nesta reflexão, quando falamos em guerra falamos daquele eterno embate que o cristianismo tradicional acredita existir, o do bem contra o mal, ou de Deus contra o diabo, e possivelmente, de cristãos contra não cristãos. Nessa guerra existem vários modos de enfraquecer alguém para que pare de confiar em suas crenças e creia em algo que a princípio achava impossível crer, um deles é desmoralizar os líderes, as instituições, as bases da fé. Desse modo alguém começa a ver como seu inimigo aquele que antes era quem mais confiava, isso cria desertores, esses podem até passar um tempo sem exército, mas quem é beligerante não consegue viver em paz, assim poderá se ligar ao outro lado, seguindo quem antes achava ser seu oponente. 
      Nessa segunda estratégia pode-se também enfraquecer o inimigo pelo lado de fora, criando para esse outros e falsos inimigos, que fazem com que ele lute e se desgaste numa falsa guerra. Como o lado que não luta tira vantagens disso? Por boa parte do tempo ele só observa, mas quando seu inimigo estiver enfraquecido, ele entra em combate, e com facilidade poderá vencer. Isso parece teoria de conspiração? Pois não é, o ser humano é inteligente e covarde o suficiente para criar e usar estratégia assim. Se um exército não estiver lúcido, poderá entrar numa guerra falsa, enfraquecer-se e então perder para um inimigo, que ele considerava incapaz de vencê-lo até então, mas que só estava esperando o momento certo para aparecer e lutar. 
      O primeiro inimigo que Adolf Hitler teve que vencer foi a própria Alemanha, entre as estratégias que ele usou para isso foi criar um inimigo para o povo alemão, o povo judeu. Um inimigo se cria dando a alguém algo para odiar, não se luta contra alguém que se gosta, odiamos quem de alguma forma tira de nós alguma vantagem de maneira injusta, e mais, alguém sem moral, que não crê em Deus, que é diabólico. Quando o führer venceu a Alemanha ele tinha um exército para lutar por ele e tentar conquistar o mundo. Pois é, não é teoria de conspiração, e não existiu na humanidade só um Hitler, existiram outros antes e ainda existirão muitos outros, mesmo que de maneira mais sutil, o mal aprende com o mal e evolui, não se engane. 
      Só existe um jeito de se ter certeza absoluta que não se perderá uma guerra, não entrando em uma. Isso parece covardia ou tentativa de isentar-se de algo impossível? Depende, em se tratando de uma guerra entre o cristianismo e o diabo, isso, apesar de não ser entendido historicamente por uma grande maioria de cristãos, é fácil, simplesmente porque não existe essa guerra, não entre o verdadeiro Deus e um “diabo”, seja lá o que esse for. Já refletimos bastante aqui sobre a verdadeira guerra que existe, a do homem contra si mesmo, e que o “diabo” só tem o poder que o homem lhe dá. O ponto desta vez é alertar sobre uma estratégia que o mal está usando para vencer muitos cristãos, e que esses não estão nem se dando conta de sua existência. 
      O problema do homem está dentro dele, não fora, quando entenderemos isso? Quando pararemos de jogar a culpa nos outros, quando cessaremos de esconder os próprios erros nos erros dos outros, pensando, “tenho meus defeitos, mas os daquela pessoa são bem maiores”, então, usando esse raciocínio como desculpa para não nos resolvermos e exigirmos dos outros que se resolvam? Olhemos mais para nós mesmos, para nos acertarmos, e para os outros, para aceitá-los, sempre no amor maior do Senhor, como homens e não como juízes, ao invés de nos agruparmos para nos sentirmos mais fortes e tentarmos destruir os outros. Exércitos são armas de covardes, o crescimento, a responsabilidade e a iluminação espiritual são individuais. 

Leia na postagem de amanhã 
a segunda parte desta reflexão 
José Osório de Souza, 25/05/2021

02/09/21

Falsos profetas

      “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus.Mateus 7.15-17

      Uma das estratégias de falsos profetas é manterem seus seguidores sempre próximos a eles. Se antes líderes de seitas podiam chamar seu séquito para viver com eles em comunidades isoladas, onde se teria acesso rápido às pessoas, podendo doutrina-las e vigiá-las, nos dias atuais isso pode ser feito ainda com mais eficiência pela internet. Por isso tantas mensagens no Twitter, no Facebook, no Whatsapp, no Instagram etc.
      Quem não foi manipulado pode achar exagero a mesma bobagem ser dita repetidas vezes, mas os falsos profetas fazem isso a seus “convertidos”, para manterem a “corda curta”, com esses sempre presos às suas mentiras, sempre com coisas para se ocuparem, com argumentos para se manterem convencidos que estão pensando certo. Se uma pausa for dada talvez a lucidez surja e os manipulados entendam que estão sendo enganados. 
      “Falsos profetas” querem escravos, não libertos, ainda que usem de forma profana mesmo de textos bíblicos argumentando que o que propõem é liberdade. Falsos profetas, de alguma maneira terão que usar de violência, não só para manterem e trazerem seguidores, como também para atacarem os que se opõem a eles, se acham no direito legítimo para isso por se verem como “escolhidos de Deus”, como melhores que os outros. 
      Eles não têm limites para estabelecerem seus desígnios, não respeitam leis dos homens, não por temerem a Deus, mas por se acharem “deuses”. Constituição e marcos civilizatórios não lhes são impedimentos, passarão por cima de seja lá o que for para prevalecerem e fazerem escravos de adoradores. Só Deus liberta, falsos profetas, não, sejam religiosos ou políticos, e Deus nunca usa qualquer forma de violência. 

01/09/21

Falsos deuses

      “Os ídolos deles são prata e ouro, obra das mãos dos homens. Têm boca, mas não falam; olhos têm, mas não vêem. Têm ouvidos, mas não ouvem; narizes têm, mas não cheiram. Têm mãos, mas não apalpam; pés têm, mas não andam; nem som algum sai da sua garganta.Salmos 115.4-7
      “Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus, e não há outro. Por mim mesmo tenho jurado, já saiu da minha boca a palavra de justiça, e não tornará atrás; que diante de mim se dobrará todo o joelho, e por mim jurará toda a língua.Isaías 45.22-23

      A diferença entre os falsos deuses e Deus é que os falsos deuses querem ser alimentados, Deus não precisa de alimento, ele nos alimenta. Os falsos deuses não podem nos alimentar, são carentes, fracos e vazios, existem enquanto os alimentamos, se pararmos de alimentá-los eles somem. Deus não precisa receber nada para existir, nem adoração, somos nós quando o adoramos que somos alimentados, fazermos isso não nos enfraquece ou nos submete, mas nos faz fortalece. 
      Os falsos deuses, por mais formidáveis que se apresentem, por mais adornados de pedras e metais preciosos, por mais gloriosos que se mostrem e se digam ser, são no máximo criaturas, como nós, até os seres espirituais, e eis um mistério. Pedem alimento e louvor porque não buscam isso de Deus e não dão isso a Deus, quem não admite Deus como ele é tentará se fazer de falso deus, exigindo algo que Deus recebe sem exigir, querendo algo que alimente seu ego equivocado. 
      O verdadeiro Deus não pede oferendas, ofertas, dinheiro, bens materiais, nem dízimos, sacrifícios ou fé irracional, ele não faz trocas de favores nem precisa receber algo para nos abençoar, a não ser nossa intenção de estar nele. Para isso basta que olhemos para ele, nos levantemos e sigamos em sua direção, deixando para trás nossos erros, nossos passados, assim como os falsos deuses, todos eles, sejam homens, espíritos, ideologias, objetos ou figuras, nisso há vida e eterna.

31/08/21

Pobres felizes

      “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus” Mateus 5.3

      Já refletimos outras vezes no Sermão do Monte (ou das bem-aventuranças), assim como especificamente na bem-aventurança do versículo inicial (veja reflexão “Pobres de espírito” de 6/02/2021), o texto, em minha opinião, mais importante do evangelho, se não de toda a Bíblia, nunca para de nos ensinar algo novo. Bem-aventurados significa muito felizes, a primeira coisa que temos que saber é que felicidade é possível e é nosso direito, não é uma quimera, um luxo, crer em sua possibilidade e que Deus pode nos dá-la é a base para conhecermos e obedecermos a Deus. Infelizmente tem muito cristão, fiel à igreja e à doutrina, que na prática não vive isso, não é feliz, não de verdade. 
      Bem-aventurados os pobres, paremos aí. Como assim, um pobre pode ser muito feliz? Jesus disse que sim, desde que entendamos o significado da palavra pobres (não vou me aprofundar na adjetivação de espírito, esse foi o tema da reflexão do link anterior). Pobre é alguém que tem falta de algo, não está totalmente satisfeito, e numa condição que não mudará, pelo menos neste mundo, mesmo que ele faça tudo o que possa para não ser pobre. Ainda que alguém que tema a Deus possa ter uma vida materialmente não luxuosa, mas digna, e ainda que devamos fazer tudo o que está ao nosso alcance para termos uma vida material melhor, estudando e trabalhando com honestidade, há limites. 
      Um dos segredos de se ser muito feliz é aceitar com humildade os limites, não com revolta contra Deus e a sociedade, nem com inveja ou mágoa dos que têm uma situação melhor que a nossa, mas com uma resignação salutar. Nesse caso só conseguimos essa resignação quando entendemos que virtudes morais e espiritualidade são mais importante que bens materiais. Assim, ainda que tenhamos que passar uma vida como empregados e “servos”, podemos ser felizes se entendermos a vontade de Deus para que tenhamos uma vida assim. Muitas vezes uma área emocional que se sente submetida nos faz sofrer mais que o valor baixo de nossa conta no banco, mas isso também pode ser pobreza permitida por Deus. 
      Sempre que pensamos em limites autorizados por Deus não podemos deixar de lembrar de II Coríntios 12.9, “a minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo”, onde Paulo fala de seu espinho na carne. Se de tentações podemos ser livrados com vida com Deus, e por provações tenhamos que passar até que sejamos aprovados e então outras venham e continuemos crescendo, espinhos na carne são provações para toda a nossa existência neste mundo, eles não vão embora, são os limites que Deus colocou e com os quais temos que aprender a conviver para sermos felizes. 
      Timidez, melancolia, hiperatividade, ansiedade, são características que podem ser superadas, e devemos procurar cura para elas caso elas nos prejudiquem demais, seja psicológica ou espiritual, mas essa cura pode ser limitada. Algumas coisas não são defeitos, mas traços de personalidade, que na área profissional adequada podem ser ferramentas vantajosas, como sensibilidade em áreas mais estéticas e artísticas. Contudo, não esperemos que todas as áreas profissionais permitam o mesmo retorno financeiro, não em um mundo injusto e desigual, assim para sermos felizes podemos ter que aceitar nossas características e nossos limites. Esses limites emocionais podem nos fazer mais pobres na área material? Sim. 
      Mas desses pobres esclarecidos em Deus é o reino de Deus, assim chegamos à última lição do versículo inicial. Que reino queremos, o do mundo ou o de Deus? Tem muito cristão usando fé e religião para ter um reino no mundo, querendo igrejas poderosas, religiosos na política, mesmo um presidente cristão. Isso é impossível tanto quanto desnecessário, não viemos a este mundo para estabelecer reinos, ainda que possamos ser bem-aventurados nele. Viemos para sermos provados e aprovados, para crescermos moralmente e construirmos espiritualmente o reino de Deus dentro de nós, reino que só será manifestado plenamente e exteriormente na eternidade, o chamado céu

30/08/21

Forças da natureza

      “Tu, tu és temível; e quem subsistirá à tua vista, uma vez que te irares? Desde os céus fizeste ouvir o teu juízo; a terra tremeu e se aquietou, quando Deus se levantou para fazer juízo, para livrar a todos os mansos da terra.Salmos 76.7-9

      Forças da natureza não são para serem confrontadas, mas evitadas. Não tem como brigar com um forte temporal, com um furacão, com uma nevasca, o que podemos fazer é evitar ou sair dos lugares onde esses eventos estão acontecendo ou acontecerão. Assim é nossa relação com algumas situações e certas pessoas em nossa caminhada neste mundo, algumas coisas são assim, forças da natureza, autorizadas e empoderadas por Deus, ainda que nos pareçam duras, injustas ou insensíveis demais. Forças da natureza têm seus motivos de ser, têm uma razão para agir como agem, e creia, algumas pessoas são colocadas em nossas vidas por Deus como forças da natureza, nem tente lutar contra elas, você não prevalecerá. 
      Há algo muito sério para entendermos quando Deus precisa usar “forças da natureza” para chamar nossa atenção, em primeiro lugar é porque meios “normais” não foram suficientes para que atentássemos a algo importante que ele quer nos falar. A pandemia da Covid 19, por exemplo, pode ser considerada uma “força da natureza”, não porque seja efeito de uma causa dos elementos terrestres, mas porque é algo poderoso, que veio sem aviso prévio, que alcançou a todos, sem distinção, e de uma forma mortal. Ela pode ser evitada? Em termos, sim, com vacina, isolamento social, máscara e higiene, mas anulada de vez só com esses procedimentos seguidos pela maior parte possível da humanidade, pelo menos, e por algum tempo. 
      Entendo que eventos aleatórios, ou que pensamos que são, como acidentes de carro, roubos e assaltos, são potências destrutivas que Deus autoriza sobre nossas vidas para nos chamar a atenção quando estamos sendo desleixados. Esses, quando ocorrem, nos pegam de surpresa, fazem com que nos sintamos expostos, indefessos, sem controle de coisas básicas de nossas vidas, quando essas coisas acontecem já é tarde, devíamos tê-las evitado antes, vivendo de forma mais sábia. Algumas enfermidades nos pegam de surpresa e nos fazem reavaliar nosso modus operandi até então, são gritos de alerta informando-nos que não podemos tudo e que precisamos andar com temor a Deus sempre, e isso inclui cuidar melhor da saúde. 
      Contudo, existem pessoas que são usadas como verdadeiras forças da natureza, Deus as autoriza para terem um efeito avassalador em nossas vidas, e quando isso acontece não devemos brigar com o “vento”, só administrá-lo, nos aproximarmos quando possível e sempre com cuidado. Não pense que algumas pessoas são estúpidas ou equivocadas, elas são instrumentos divinos nas vidas dos outros. Em relação às suas próprias vidas, provações, necessidades de crescimento espiritual e moral, isso tudo não nos compete julgar, não é problema nosso, mas que Deus pode usá-las para nos quebrantar, acordar e crescer, isso pode. Como dito desde o início, não lute com forças da natureza, seja manso e evite-as, com elas só Deus pode.
      Vai aqui algo sobre “pessoas - forças da natureza”, por algum motivo, que só Deus sabe e que nós como cristãos sob teologia protestante tradicional não podemos especular com mais profundidade, tais pessoas têm direito de serem o que são, Deus nunca é injusto com ninguém, seja conosco e muito menos com os outros. Interpretando a coisa de maneira mais direta, se alguém é patrão e rico é porque trabalhou para merecer e administrou seu negócio com inteligência, se nós somos só empregados desse é porque não temos capacidade ou talento para sermos mais que funcionários, ainda que trabalhemos bastante. É claro que há outras variáveis neste mundo, e tem muitos que desfrutam mais que nós sem de fato merecerem.
      Isso não nos compete julgar, todavia, podemos buscar a Deus e entendermos melhor as coisas, para então agirmos com respeito às tais forças. Deus livra os mansos e mesmo as forças da natureza Deus pode usar de maneira extraordinária para abençoar os mansos, quem vive no tempo com sabedoria constata isso. Ninguém tem poder, nenhuma autoridade no plano físico, ou potestade e principado nos ares espirituais, sem que Deus permita, e se ele permite é para um fim útil, disciplinar os rebeldes, suprir os mansos, julgar os maus. Dessa forma não pense que alguém que te oprime e te trata injustamente está funcionando fora do controle de Deus, não está, persista nos valores espirituais mais altos e confie em Deus, ele é justo juiz.