terça-feira, agosto 31, 2021

Pobres felizes

      “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus” Mateus 5.3

      Já refletimos outras vezes no Sermão do Monte (ou das bem-aventuranças), assim como especificamente na bem-aventurança do versículo inicial (veja reflexão “Pobres de espírito” de 6/02/2021), o texto, em minha opinião, mais importante do evangelho, se não de toda a Bíblia, nunca para de nos ensinar algo novo. Bem-aventurados significa muito felizes, a primeira coisa que temos que saber é que felicidade é possível e é nosso direito, não é uma quimera, um luxo, crer em sua possibilidade e que Deus pode nos dá-la é a base para conhecermos e obedecermos a Deus. Infelizmente tem muito cristão, fiel à igreja e à doutrina, que na prática não vive isso, não é feliz, não de verdade. 
      Bem-aventurados os pobres, paremos aí. Como assim, um pobre pode ser muito feliz? Jesus disse que sim, desde que entendamos o significado da palavra pobres (não vou me aprofundar na adjetivação de espírito, esse foi o tema da reflexão do link anterior). Pobre é alguém que tem falta de algo, não está totalmente satisfeito, e numa condição que não mudará, pelo menos neste mundo, mesmo que ele faça tudo o que possa para não ser pobre. Ainda que alguém que tema a Deus possa ter uma vida materialmente não luxuosa, mas digna, e ainda que devamos fazer tudo o que está ao nosso alcance para termos uma vida material melhor, estudando e trabalhando com honestidade, há limites. 
      Um dos segredos de se ser muito feliz é aceitar com humildade os limites, não com revolta contra Deus e a sociedade, nem com inveja ou mágoa dos que têm uma situação melhor que a nossa, mas com uma resignação salutar. Nesse caso só conseguimos essa resignação quando entendemos que virtudes morais e espiritualidade são mais importante que bens materiais. Assim, ainda que tenhamos que passar uma vida como empregados e “servos”, podemos ser felizes se entendermos a vontade de Deus para que tenhamos uma vida assim. Muitas vezes uma área emocional que se sente submetida nos faz sofrer mais que o valor baixo de nossa conta no banco, mas isso também pode ser pobreza permitida por Deus. 
      Sempre que pensamos em limites autorizados por Deus não podemos deixar de lembrar de II Coríntios 12.9, “a minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo”, onde Paulo fala de seu espinho na carne. Se de tentações podemos ser livrados com vida com Deus, e por provações tenhamos que passar até que sejamos aprovados e então outras venham e continuemos crescendo, espinhos na carne são provações para toda a nossa existência neste mundo, eles não vão embora, são os limites que Deus colocou e com os quais temos que aprender a conviver para sermos felizes. 
      Timidez, melancolia, hiperatividade, ansiedade, são características que podem ser superadas, e devemos procurar cura para elas caso elas nos prejudiquem demais, seja psicológica ou espiritual, mas essa cura pode ser limitada. Algumas coisas não são defeitos, mas traços de personalidade, que na área profissional adequada podem ser ferramentas vantajosas, como sensibilidade em áreas mais estéticas e artísticas. Contudo, não esperemos que todas as áreas profissionais permitam o mesmo retorno financeiro, não em um mundo injusto e desigual, assim para sermos felizes podemos ter que aceitar nossas características e nossos limites. Esses limites emocionais podem nos fazer mais pobres na área material? Sim. 
      Mas desses pobres esclarecidos em Deus é o reino de Deus, assim chegamos à última lição do versículo inicial. Que reino queremos, o do mundo ou o de Deus? Tem muito cristão usando fé e religião para ter um reino no mundo, querendo igrejas poderosas, religiosos na política, mesmo um presidente cristão. Isso é impossível tanto quanto desnecessário, não viemos a este mundo para estabelecer reinos, ainda que possamos ser bem-aventurados nele. Viemos para sermos provados e aprovados, para crescermos moralmente e construirmos espiritualmente o reino de Deus dentro de nós, reino que só será manifestado plenamente e exteriormente na eternidade, o chamado céu

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