07/09/21

Por que cristãos apoiam a direita? (3/3)

      “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.Mateus 6.19-21

      Algo me impactou profundamente recentemente, ver o líder de uma denominação pentecostal importante do Brasil convocando o povo evangélico para uma manifestação no dia sete de setembro a favor do presidente e contra o poder judiciário (confira neste link), e outros líderes evangélicos relevantes também estão com ele. Após ter sabido disso orei, senti uma tristeza enorme por ver a dimensão da mentira que está enganando muitos evangélicos brasileiros, um choro, que eu não podia chorar de tão imenso, apertava meu peito e meu coração doía, então, o Espírito Santo me falou.
      “Os homens dão muita importância a certas coisas, nesse engano aliam até o nome de Deus e causas cristãs a bandeiras, elas podem até ser relevantes no mundo físico, mas no mundo espiritual elas não significam muita coisa. Deus não está preocupado com nações, não sob a ótica do evangelho e não como prioridade, nem com religiões, mesmo com as cristãs, mas com o indivíduo. Fazer parte de “manadas”, seguindo líderes humanos, isso não amadurece espiritualmente os homens, a luta que os homens são chamados a fazer é moral, contra si mesmos e a favor dos outros em amor”.
      Acredito que Deus veja muitos evangélicos brasileiros, e não posso generalizar dizendo que são todos, quero crer que não são, e pensa, “que perda de tempo e de energia, lutam por causas inúteis, são manipulados por bandidos e loucos e se acham exercendo cidadania quando sua cidade é no céu, não no mundo”. Pergunto, essa luta que tantos cristãos fazem é para que a luz de Deus raie sobre o país? É para que todos conheçam a Jesus? É para que o amor do Senhor chegue aos que o odeiam e para que sua justiça alcance os que sofrem? Não, é só para que um grupo faça prevalecer sua visão de mundo. 
      Pode-se argumentar, “mas esse grupo é o povo de Deus e essa visão de mundo é bíblica”. Mas se o próprio Deus dá livre arbítrio a todos os homens, para terem a visão de mundo que prefiram ter, por que um grupo se acha no direito de impor a sua visão? Isso até podia ser a maneira de agir do povo chamado de Deus do antigo testamento, mas não é mais a maneira da nova aliança de Cristo. A verdade é uma só, os homens ainda continuam usando qualquer coisa, mesmo que seja a religião cristã, para terem poder no mundo, foi assim com o catolicismo e segue com o protestantismo.
      Algo que não consigo entender é como tantos evangélicos se colocam no mesmo barco que estão defensores de armamentos e outros extremistas de direita, neo-nazistas, racistas, que nada têm a ver com o evangelho de Cristo que evangélicos dizem crer. Como, sendo cristãos, podem se associar a um líder que ofende jornalistas, que é grosseiro com as mulheres, que desrespeita gays e indígenas? Talvez porque muitos desses pseudo-cristãos já estivessem acostumados a preconceitos, por exemplo, quando generalizavam homoafetivos como promíscuos ou condenavam espíritas ao inferno.
      Que surpresa tantos cristãos terão após seus corpos físicos deixarem de funcionar no mundo e seus espíritos acordarem na eternidade. Que humilhação líderes evangélicos terão que passar para assumirem que enganaram, não só cristãos, mas um líder federal, que pode estar falando e fazendo muita bobagem porque ouve com frequência conselhos errados de homens que ele julga falarem em nome de Deus (isso é fato, relatado por um dos filhos do presidente, confira neste link). Falsos profetas falando a um rei errado que só quer ouvir o que aprova seus estúpidos e egocêntricos desejos.
      Um povo que se autodenomina cristão, usa causas que acha serem bíblicas, para fazer uma guerra que pensa ser santa, encontrando liderança num homem que se imagina um mito, e que vê legitimidade na violência para prevalecer sua visão doentia de mundo, armando civis e usando forças armadas como posse sua. Isso é de Deus? Isso representa o evangelho de amor? Jesus homem agiria assim? Em que parte do ensino principal da Bíblia há apoio para essa quase “jihad”? Um falso cristianismo precisa ser humilhado para que Cristo seja exaltado, nas mais altas regiões espirituais onde é seu reino. 
      O objetivo desta reflexão não é desmerecer a direita, nem defender a esquerda, a intenção é elevar o nome de Jesus acima de todo nome. Exercemos cidadania sendo bons seres humanos em nossas relações interpessoais, assim como votando o melhor possível, mas lutar por política neste mundo não é orientação do Espírito Santo. Textos bíblicos fora de contexto não podem ser usados para legitimar cristão lutando por política como vontade de Deus, mas “onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”. O coração de tantos evangélicos brasileiros atuais, será que está de fato em Deus? 

Leia nas postagens anteriores
a 1ª e a 2ª parte desta reflexão.
José Osório de Souza, 18/08/2021

06/09/21

Por que cristãos apoiam a direita? (2/3)

      “Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça.” II Pedro 3.13

      A posição desse que vos escreve sobre os argumentos (leia na postagem anterior) que muitos cristãos usam para apoiar o atual presidente já é conhecida pelos que acompanham este blog. Não creio que a tradição judaica-cristã em muitos aspectos represente a vontade de Deus para o homem, pelo menos no mundo atual. É claro que sou contra o aborto pelo simples fato dele ser assassinato, mas não entendo homoafetividade em si como pecado, creio que mulher e homem, ou seja lá a sexualidade que se tenha, são iguais numa relação de respeito e fidelidade, e um não deve dominar sobre o outro. 
      Eu não creio que “comunistas”, sejam lá o que forem ou pensem que eles sejam, devem ser encarados como inimigos diabólicos, e mesmo na possibilidade de terem certos posicionamentos religiosos é direito dos homens terem suas ideologias, na democracia, direita e esquerda devem coexistir com civilidade. Eu não creio que da China está vindo o anti-cristo e muito menos que haja um chip ou algum sinal da besta em vacinas. Atualmente a realidade é que a China é parceira comercial importante do Brasil e deve ser respeitada, se há uma guerra é comercial, de mercado querendo consumidor.
      Eu não acho que não haja corrupção no governo federal atual, crer que não há é uma ilusão, e esse governo pode ter relações ainda piores que as que permitem certas corrupções, como com milícias que controlam favelas, e com chefões do agronegócio que matam indígenas e incendeiam florestas. Também não penso que judeus sejam mocinhos e que palestinos sejam bandidos que são tratados diferentemente por Deus, mas penso que ambos devam partilhar as terras do antigo Israel e que muitas promessas do antigo testamento já se cumpriram ou se cumprirão só no plano espiritual, não no mundo. 
      Negacionismo científico é algo tão descabido que nem deve merecer contra-argumentação, eu não sou negacionista, obviamente. Mas isso também é só outra face das heresias que existem desde o catolicismo, quando se demonizava a ciência e se perseguia cientistas. Jesus está sempre certo, ainda que cristãos não estejam, assim como a ciência está sempre correta, ainda que muitos cientistas como homens não estejam, o erro que cristãos e cientistas cometem é um não respeitar a área do outro. A Terra só alcançará uma evolução diferenciada quando os homens conciliarem fé e ciência com equilíbrio. 
      Algo que muitos evangélicos brasileiros não aceitam é que há um marketing que demonizou e demoniza comunistas e esquerda, ele foi e é construído pela direita norte-americana, isso desde os anos 1950. Nos anos 1970 veicularam um vídeo com o testemunho de um pastor, que dizia ter sido preso e torturado pelo comunismo, as imagens aterrorizavam crentes. Era parte do marketing que a direita norte-americana fazia contra a União Soviética, e que também interessava à ditadura no Brasil. Por favor, não estou de maneira alguma fazendo apologia ao marxismo, assim como não defendo o fascismo.
      Há extremistas nos dois lados, quem é pior, Stálin ou Hitler? Há manipulações em todos os lados, a esquerda mente tanto quanto a direita, e a mídia divulga o que lhe interessa, exagera em certas coisas e releva outras, só está do lado dela. Ingênuo é quem escolhe um lado como inocente e elege o outro como criminoso, querendo achar justiça no mundo. Existe um jeito de saber se estamos sendo enganados, ver se conseguimos achar defeitos em quem gostamos e acertos em quem não gostamos, se temos uma visão equilibrada das coisas. Para ser equilibrado basta ficar do lado de Deus, não de homens. 
      Aos que se deliciam com teorias de conspiração, sobre extraterrestres, illuminati, grupos secretos que controlam o mundo, e em se tratando de cristãos que gostam disso, sobre nova era, fim do mundo, satanismo e o anti-cristo, saibam que enquanto vocês acreditam nessas bobagens, a verdade está lá fora em plena liberdade, e ela não é boa. A verdade é que os homens querem só um tipo de poder no mundo, o econômico! Muitos papas, generais, reis e presidentes, querem só grana para usufruírem prazeres materiais, o diabo em grande parte é ilusão de mentes egoístas e sensualizadas. 
      Não existe um grupo de homens manipulando um poder espiritual e tentando vencer Deus e os que o representam, e mesmo se for isso, para se representar Deus tem que obedecê-lo, e o que muitos católicos e evangélicos são está longe de representar a vontade de Deus. Como podem se achar donos de um discernimento especial, que consegue ver o diabo, o anti-cristo e outros inimigos do bem, quando estão equivocados sobre tantas coisas? Enquanto fazem guerras erradas, muitos evangélicos desprezam os novos céus e a nova terra prometidos por Deus, e lutam por um mundo de homens. 

Leia na postagem de amanhã a 3ª parte 
e na postagem de ontem a 1ª parte desta reflexão.
José Osório de Souza, 18/08/2021

05/09/21

Por que cristãos apoiam a direita? (1/3)

      “Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui.João 18.36

      Que guerras importam neste mundo? Não me refiro a conflitos que utilizam de violência para conquistar e submeter, mas a lutas civilizadas por direitos, essas são lutas que importam, de forma laica, não aliadas a certas escolhas que são pessoais, como religião e sexualidade. Governo político numa sociedade civilizada não é para um grupo, nem para a maioria e nem para minorias, mas para todos. O desafio da democracia é esse, administrar um convívio respeitoso entre diferenças, por isso um grupo impor sobre os outros suas escolhas é inaceitável, mesmo que seja um grupo cristão. 
      Bem, esse é o mundo ideal, já o céu ideal fica por conta da crença de cada um. Parece simples e sensato, contudo, muitos evangélicos têm apoiado o atual presidente numa ligação simbiótica, fortalecendo-se mutuamente e tentando pela política prevalecer um cristianismo equivocado no mundo. O povo cristão sempre foi perseguido, nisso não há anormalidade, é só efeito natural de trevas se opondo à luz sob o ponto de vista espiritual. Contudo, muitos cristãos, não digerindo bem essa perseguição, represaram mágoas, que ficaram caladas, mas vivas, só esperando o momento de irem à forra. 
      Esses cristãos acharam alguns argumentos que lhes dão razões para apoiarem a direita extremista que se levantou nos últimos anos no Brasil, vamos refletir sobre alguns. O primeiro deles é que essa direita apoia valores morais e sociais da chamada tradição judaica-cristã, como ser contra o aborto, a favor de costumes tradicionais de família e sexualidade etc. O segundo argumento é que a tal direita se opõe ao comunismo, originalmente ateu, ainda que o comunismo acreditado por muitos cristãos nem exista mais, hoje a esquerda tem como bandeira principal luta por minorias, diversidade e ecologia. 
      O terceiro argumento é baseado numa interpretação equivocada que se faz sobre as revelações do fim dos tempos, e que só é parte de muitas heresias que já circulam pelas igrejas há algum tempo. Essa interpretação pode ver o anti-cristo bíblico na China e o número (ou sinal) da besta num chip na vacina para a Covid 19. Nisso não se sabe quem veio primeiro, se o ovo ou a galinha, se evangélicos apoiam o presidente porque ele diz acreditar nessas teorias de conspiração, ou se o presidente diz crer nessas teorias porque evangélicos que o apoiam creem e ele tem interesse neles como eleitorado. 
      O quarto argumento é que no governo federal atual não há corrupção, por isso o apoio que muitos deram a ele quando se colocou como antítese da esquerda corrupta, que comandou o país por mais de uma década, apoio que a princípio muitos deram, não só cristãos, por não terem outra opção de voto, eu mesmo dei esse crédito inicial ao atual presidente. A c.p.i. da pandemia pode derrubar esse argumento, provando ter havido interesse de lucro na negociação de certas vacinas, mesmo que fabricantes de outras vacinas tenham oferecido vendas por preços melhores e com entregas mais rápidas. 
      Muitos evangélicos creem que as terras que a nação de Israel tinha no antigo testamento são dela por concessão divina, e que em algum momento lhe serão devolvidas. Assim, tudo que se coloca contra Israel e contra o cumprimento dessa promessa, incluindo a reconstrução do templo de Jerusalém e retorno integral desse aos judeus, está contra Deus. Essa interpretação faz legítima a luta de muitos evangélicos por essa causa. Essa é uma bandeira que a direita norte-americana já levanta tradicionalmente e que foi abraçada pelo atual presidente, eis o quinto argumento que une esse líder a muitos cristãos.
      O sexto argumento é o negacionismo científico, que no meio cristão já tem tradição, da perseguição a Galileu à demonização do darwinismo. Aos negacionistas basta crerem em alguns poucos “médicos” desconhecidos que dizem o que eles querem ouvir, para desacreditarem no que muitos médicos, infectologistas, cientistas e profissionais reconhecidos dizem, que deve haver isolamento social, uso de máscara e vacinação para ao menos diminuir os riscos da contaminação do coronavírus. Além disso acham que todos esses sérios profissionais fazem parte de uma teórica conspiração contra a direita.
      É preciso mais fé para crer na mentira que na verdade. No catolicismo idólatra o homem se deixa ser explorado por um falso cristianismo, ainda que resignadamente sofra com isso, e talvez nisso até haja certa piedade. Mas o protestantismo mercantilista consegue que o homem seja explorado por um falso cristianismo e aprecie isso. Muitos evangélicos não querem libertação da exploração, querem ser exploradores também, para então serem prósperos materialmente. Nessa política suja, cristãos se envolvem, quando entenderão que essa guerra não é deles e que o reino de Jesus não é deste mundo? 

Leia nas próximas postagens
a 2ª e a 3ª parte desta reflexão.
José Osório de Souza, 18/08/2021

04/09/21

Que guerra nos importa lutar? (2/2)

      “O homem bom tira boas coisas do bom tesouro do seu coração, e o homem mau do mau tesouro tira coisas más.” Mateus 12.35

      Durante séculos o mal criou inimigos para os cristãos dentro do próprio cristianismo, e o mal não fez isso inventando um inimigo, mas usando um inimigo real, o interno. O mal trabalhou utilizando a mentira para corromper líderes cristãos, assim esses se tornaram inimigos de Cristo, ainda que tendo reverência de muitos cristãos. Isso está mudando, cristãos têm aberto os olhos, falsos líderes oferecem alimento ruim, alimento ruim não fortalece, e justamente por sentirem-se fracos é que muitos cristãos começam a ver que muitos líderes são enganadores buscando só os seus interesses. À medida que o que muitos chamam de final dos tempos se aproximar, mais claro ficará a ineficácia do falso cristianismo, quem tiver olhos espirituais verá.  
      Mas uma estratégia, que também é usada há muito tempo, tem sido utilizada pelo mal atualmente, só que de um jeito mais elaborado, lançar os cristãos numa guerra inútil contra falsos inimigos. Infelizmente são exatamente os falsos líderes, ensinando um evangelho equivocado, os responsáveis, não por prevenirem, mas por prepararem os cristãos para serem mais facilmente ludibriados por essa falsa guerra. Quem se acostumou com a beligerância não consegue viver sem uma guerra, ela dá sentido de vida e confere identidade de soldado a quem não tem uma identidade melhor. Enquanto lutam com inimigos externos deixam livre os internos, se enfraquecem e se tornam vulneráveis para o maior inimigo. Quem ganha com isso?
      Por diversas vezes já fiz aqui a afirmativa que um falso cristianismo enganou os homens por séculos, isso quer dizer que Deus permitiu um engodo duradouro e nada fez? Não, Deus fez, faz e sempre fará, e muito mais que merecemos, por amor e apesar dos engodos. A criança se cria com um certo “faz de conta”, que ainda que tenha um fundo de verdade, lições de moral, não é a verdade mais profunda, assim Deus faz com a humanidade. Contudo, o tempo de ser criança está acabando, e é sobre isso que as profecias bíblicas de Apocalipse, debaixo de metáforas e do entendimento limitado de seu tempo do apóstolo João, falam, sobre uma importante mudança de era. Os que estiverem de fato em Cristo serão iluminados em novos céus e nova Terra. 
      Cristãos, vossos inimigos não são os de ideologia política de esquerda, pelo menos não mais, nem os que defendem direitos de homoafetivos, muito menos os que colocam a ciência no seu lugar certo, ainda que só leiam entendimentos religiosos milenares com mais profundidade. Seus inimigos, evangélicos, não são espíritas, ou devotos de Maria, assim como não são árabes, ainda que muitos sejam muçulmanos e tenham tanto direito à Palestina quanto os judeus. O mal hoje não é um ser malévolo e vermelho, com cascos, chifres e rabo, que incita aqueles que vocês consideram seus inimigos contra vocês, ainda que se crerem nesse diabo poderão vê-lo, inclusive após a morte, com o inferno e todo o sofrimento de uma danação eterna. 
      Na verdade, seus inimigos são vocês mesmos e a responsabilidade por vencê-los é somente de vocês. Infelizmente no Brasil, a ganância por influência e riqueza materiais, usou a heresia da teologia da prosperidade para encher templos, “glorificar” pastores que agora querem expandir seu poder até Brasília. Neste 7 de setembro de 2021, não vá às ruas se manifestar, nem por um lado, nem pelo outro, mas ore pelo país, com a humildade que muitos pastores evangélicos perderam e que por isso serão envergonhados no tempo certo. Jesus não precisa de uma maioria apoiando um político que se diz a favor de causas cristãs para fazer sua obra, na verdade sua obra requer o oposto disso, não seja soldado das trevas numa guerra que Deus não está. 
      Jesus, em seu último momento, foi abandonado até por seus amigos mais próximos, assim enfrentou sozinho seus inimigos, e não eram inimigos que ele fez, mas que se colocaram como tais. Não precisamos inventar inimigos para nos envolvermos em guerras e nos afiliarmos a exércitos só para auto-afirmarmos identidade e sentido de vida, quem vive na luz naturalmente é odiado pelos que vivem nas trevas, só por estarem na luz. A vitória está em nos mantermos distantes de confrontos externos, nossa luta é não lutarmos, mas nos ocuparmos em vencermos a nós, o nosso egoísmo e as nossas vaidades. Nosso maior desafio é segurarmos a paz interior, ainda que tudo o mais esteja em conflitos, certos que certas guerras não nos pertencem. 

Leia na postagem de ontem 
a primeira parte desta reflexão 
José Osório de Souza, 25/05/2021

03/09/21

Que guerra nos importa lutar? (1/2)

      “O que no seu coração comete deslize, se enfada dos seus caminhos, mas o homem bom fica satisfeito com o seu proceder.” Provérbios 14.14

      Pode-se vencer um inimigo com estratégias diferentes, a estratégia mais comum, que é a que alimenta os confrontos, é fortalecer seu lado no embate, armando melhor seu exército, para que esse tenha mais forças que o outro lado e então possa vencê-lo num combate. Contudo, se o inimigo for forte e persistente, uma guerra pode levar anos, sem que haja vencedor, assim é preciso, não mais fortalecer o seu lado, mas enfraquecer o outro lado, isso pode ser feito tanto pelo lado de fora, como pelo lado de dentro. Criar falsos inimigos para o outro lado ou fazer que membros do exército do outro lado parem de acreditar em sua causa, fortalece um lado ao mesmo tempo que enfraquece o outro lado, sem que nem seja preciso um confronto direto. 
      Nesta reflexão, quando falamos em guerra falamos daquele eterno embate que o cristianismo tradicional acredita existir, o do bem contra o mal, ou de Deus contra o diabo, e possivelmente, de cristãos contra não cristãos. Nessa guerra existem vários modos de enfraquecer alguém para que pare de confiar em suas crenças e creia em algo que a princípio achava impossível crer, um deles é desmoralizar os líderes, as instituições, as bases da fé. Desse modo alguém começa a ver como seu inimigo aquele que antes era quem mais confiava, isso cria desertores, esses podem até passar um tempo sem exército, mas quem é beligerante não consegue viver em paz, assim poderá se ligar ao outro lado, seguindo quem antes achava ser seu oponente. 
      Nessa segunda estratégia pode-se também enfraquecer o inimigo pelo lado de fora, criando para esse outros e falsos inimigos, que fazem com que ele lute e se desgaste numa falsa guerra. Como o lado que não luta tira vantagens disso? Por boa parte do tempo ele só observa, mas quando seu inimigo estiver enfraquecido, ele entra em combate, e com facilidade poderá vencer. Isso parece teoria de conspiração? Pois não é, o ser humano é inteligente e covarde o suficiente para criar e usar estratégia assim. Se um exército não estiver lúcido, poderá entrar numa guerra falsa, enfraquecer-se e então perder para um inimigo, que ele considerava incapaz de vencê-lo até então, mas que só estava esperando o momento certo para aparecer e lutar. 
      O primeiro inimigo que Adolf Hitler teve que vencer foi a própria Alemanha, entre as estratégias que ele usou para isso foi criar um inimigo para o povo alemão, o povo judeu. Um inimigo se cria dando a alguém algo para odiar, não se luta contra alguém que se gosta, odiamos quem de alguma forma tira de nós alguma vantagem de maneira injusta, e mais, alguém sem moral, que não crê em Deus, que é diabólico. Quando o führer venceu a Alemanha ele tinha um exército para lutar por ele e tentar conquistar o mundo. Pois é, não é teoria de conspiração, e não existiu na humanidade só um Hitler, existiram outros antes e ainda existirão muitos outros, mesmo que de maneira mais sutil, o mal aprende com o mal e evolui, não se engane. 
      Só existe um jeito de se ter certeza absoluta que não se perderá uma guerra, não entrando em uma. Isso parece covardia ou tentativa de isentar-se de algo impossível? Depende, em se tratando de uma guerra entre o cristianismo e o diabo, isso, apesar de não ser entendido historicamente por uma grande maioria de cristãos, é fácil, simplesmente porque não existe essa guerra, não entre o verdadeiro Deus e um “diabo”, seja lá o que esse for. Já refletimos bastante aqui sobre a verdadeira guerra que existe, a do homem contra si mesmo, e que o “diabo” só tem o poder que o homem lhe dá. O ponto desta vez é alertar sobre uma estratégia que o mal está usando para vencer muitos cristãos, e que esses não estão nem se dando conta de sua existência. 
      O problema do homem está dentro dele, não fora, quando entenderemos isso? Quando pararemos de jogar a culpa nos outros, quando cessaremos de esconder os próprios erros nos erros dos outros, pensando, “tenho meus defeitos, mas os daquela pessoa são bem maiores”, então, usando esse raciocínio como desculpa para não nos resolvermos e exigirmos dos outros que se resolvam? Olhemos mais para nós mesmos, para nos acertarmos, e para os outros, para aceitá-los, sempre no amor maior do Senhor, como homens e não como juízes, ao invés de nos agruparmos para nos sentirmos mais fortes e tentarmos destruir os outros. Exércitos são armas de covardes, o crescimento, a responsabilidade e a iluminação espiritual são individuais. 

Leia na postagem de amanhã 
a segunda parte desta reflexão 
José Osório de Souza, 25/05/2021

02/09/21

Falsos profetas

      “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus.Mateus 7.15-17

      Uma das estratégias de falsos profetas é manterem seus seguidores sempre próximos a eles. Se antes líderes de seitas podiam chamar seu séquito para viver com eles em comunidades isoladas, onde se teria acesso rápido às pessoas, podendo doutrina-las e vigiá-las, nos dias atuais isso pode ser feito ainda com mais eficiência pela internet. Por isso tantas mensagens no Twitter, no Facebook, no Whatsapp, no Instagram etc.
      Quem não foi manipulado pode achar exagero a mesma bobagem ser dita repetidas vezes, mas os falsos profetas fazem isso a seus “convertidos”, para manterem a “corda curta”, com esses sempre presos às suas mentiras, sempre com coisas para se ocuparem, com argumentos para se manterem convencidos que estão pensando certo. Se uma pausa for dada talvez a lucidez surja e os manipulados entendam que estão sendo enganados. 
      “Falsos profetas” querem escravos, não libertos, ainda que usem de forma profana mesmo de textos bíblicos argumentando que o que propõem é liberdade. Falsos profetas, de alguma maneira terão que usar de violência, não só para manterem e trazerem seguidores, como também para atacarem os que se opõem a eles, se acham no direito legítimo para isso por se verem como “escolhidos de Deus”, como melhores que os outros. 
      Eles não têm limites para estabelecerem seus desígnios, não respeitam leis dos homens, não por temerem a Deus, mas por se acharem “deuses”. Constituição e marcos civilizatórios não lhes são impedimentos, passarão por cima de seja lá o que for para prevalecerem e fazerem escravos de adoradores. Só Deus liberta, falsos profetas, não, sejam religiosos ou políticos, e Deus nunca usa qualquer forma de violência. 

01/09/21

Falsos deuses

      “Os ídolos deles são prata e ouro, obra das mãos dos homens. Têm boca, mas não falam; olhos têm, mas não vêem. Têm ouvidos, mas não ouvem; narizes têm, mas não cheiram. Têm mãos, mas não apalpam; pés têm, mas não andam; nem som algum sai da sua garganta.Salmos 115.4-7
      “Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus, e não há outro. Por mim mesmo tenho jurado, já saiu da minha boca a palavra de justiça, e não tornará atrás; que diante de mim se dobrará todo o joelho, e por mim jurará toda a língua.Isaías 45.22-23

      A diferença entre os falsos deuses e Deus é que os falsos deuses querem ser alimentados, Deus não precisa de alimento, ele nos alimenta. Os falsos deuses não podem nos alimentar, são carentes, fracos e vazios, existem enquanto os alimentamos, se pararmos de alimentá-los eles somem. Deus não precisa receber nada para existir, nem adoração, somos nós quando o adoramos que somos alimentados, fazermos isso não nos enfraquece ou nos submete, mas nos faz fortalece. 
      Os falsos deuses, por mais formidáveis que se apresentem, por mais adornados de pedras e metais preciosos, por mais gloriosos que se mostrem e se digam ser, são no máximo criaturas, como nós, até os seres espirituais, e eis um mistério. Pedem alimento e louvor porque não buscam isso de Deus e não dão isso a Deus, quem não admite Deus como ele é tentará se fazer de falso deus, exigindo algo que Deus recebe sem exigir, querendo algo que alimente seu ego equivocado. 
      O verdadeiro Deus não pede oferendas, ofertas, dinheiro, bens materiais, nem dízimos, sacrifícios ou fé irracional, ele não faz trocas de favores nem precisa receber algo para nos abençoar, a não ser nossa intenção de estar nele. Para isso basta que olhemos para ele, nos levantemos e sigamos em sua direção, deixando para trás nossos erros, nossos passados, assim como os falsos deuses, todos eles, sejam homens, espíritos, ideologias, objetos ou figuras, nisso há vida e eterna.