05/03/22

Carisma, política e pecado (34/90)

      “Porque nada trouxemos para este mundo, e manifesto é que nada podemos levar dele. Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes. Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores. Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas, e segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a paciência, a mansidão.” 
I Timóteo 6.7-11

      As cartas de Paulo a Timóteo constituem um verdadeiro manual do pastor, não só sobre os deveres desse, mas também sobre seus direitos. Um pastor tem direitos? Tem, mas bem menos que muitos pastores querem ter nos dias atuais. A palavra chave do texto bíblico inicial é piedade, piedade é devoção, amor pelas coisas religiosas, mas mais que religiosidade pessoal, é compaixão pelo sofrimento alheio, misericórdia pelos outros. Em piedade está também incluído o termo servo, que é ocupar-se em servir o outro, não a si mesmo, é se dar, não receber, desaparecer, não ser visto. 
      Se a pergunta “quem você será na eternidade?” é relevante para todos os seres humanos, para os pastores em especial tem uma importância ainda maior. Quem será você, pastor, na eternidade? Quem será você diácono, presbítero, missionário, reverendo, padre, bispo, papa, monge? Vocês que pregam que na eternidade não valerão títulos do mundo, status de profissionais em empresas, adquiridos com estudo, trabalho e mesmo valor da conta no banco, não se enganem, títulos em instituições religiosas, em ministérios, em igrejas, também pouco ou nada poderão representar. 
      Quando os homens entenderam o poder do cristianismo, que esse contém o Cristo e o Cristo pode transformar as vidas dos homens, em primeiro lugar muitos homens receberam essa transformação, entretanto, alguns outros, depois, perceberam que esse poder poderia ser usado para beneficia-los no mundo. Assim nasceu a igreja católica no quarto século e depois tantas igrejas evangélicas como empresas e negócios lucrativos, daí outra coisa ocorreu, proeminência religiosa potencializa influência política, assim homens manipulam homens não só em templos, mas na sociedade. 
      A relação entre papas e imperadores é histórica no catolicismo, no protestantismo isso se repete, pastores, missionários, pregadores, diáconos usam a popularidade que possuem em congregações para construírem eleitorado e conquistarem cargos políticos em suas cidades, estados e mesmo no âmbito federal. Ainda que eu acredite que cristão não deva ter cargos políticos de forma alguma, posso até fazer uma excessão, mas desde que o cristão abra mão de cargos e títulos na igreja, não usando isso para ter votos de cristãos, mas sendo representante político de todos, mesmo de não cristãos. 
      Mas quem resiste à tentação? Quem percebe que nasceu com uma persona marcante, com jeito carismático que encanta as pessoas, principalmente por seu modo de falar, e toda sedução implica em boa lábia e energia sexual, que necessariamente não requerem boa aparência, esse não resiste à tentação de expandir a influência que tem em púlpitos, em igrejas, para toda a sociedade. Carisma independe de dons espirituais, mesmo de formação intelectual, e hoje, com a internet, popularidade se constrói ainda com mais facilidade. Eu pergunto se carisma pessoal é bênção ou maldição. 
      Fica fácil para quem não precisou investir trabalho e dinheiro no desenvolvimento de uma competência, conseguir as coisas com algo que recebeu de graça, não precisar nem de vida espiritual para impressionar as pessoas, basta-lhe encenar um personagem. Carisma pessoal mais cristianismo podem acabar em política, mesmo que seja só para administrar interesses numa igreja. Políticos, contudo, poderão cair nas armadilhas dos valores mais cobiçados no mundo, dinheiro e sexo. Estou generalizando, sendo injusto? Nem todo líder de igreja é político e nem todo político é ganancioso e lascivo? 
      Mas para quem começa errado é mais fácil acabar errado, o erro inicial é confiar em si mesmo para ter aquilo que não era para se ter, pelo menos não do jeito que se teve, assim o carismático deve ter mais cuidados, não menos. A pergunta que deve ser respondida é: o que nos torna carismático, o Espírito Santo ou o nosso ego? Grandes egos devem ser ainda mais moldados por Deus e pelo tempo. Se não tocarmos as vidas das pessoas com justiça, piedade, fé, amor, paciência e mansidão, como orienta Paulo a Timóteo, seremos nós que faremos algo e para a nossa glória, não Deus e para Deus. 
      Aparta-te deles, foge dessas coisas, eis as orientações de Paulo a Timóteo sobre como devemos nos comportar com homens e mulheres que usam o cristianismo para benefícios próprios. Será que nós, como ovelhas ou como líderes do segundo escalão, fazemos isso? Ou somos seduzidos por pastores carnais e nos colocamos debaixo deles para sermos promovidos com eles, aprovados por eles, ainda que digamos para nós mesmos que queremos só servir a Deus em boas igrejas? É tentador ao carismático seu carisma, mas também aos outros, seduzidos sentem-se amados e todos querem ser amados. 
      Seremos avaliados na eternidade pelo nosso interior e não pelo nosso exterior, seja pela nossa aparência, pelo número de pessoas que se encantam com nossa simpatia, por títulos ou fama em igrejas, e mesmo por sermos líderes ou “donos” de ministérios evangélicos reconhecidos. Infelizmente como tem pastor, principalmente de um tempo para cá quando ser evangélico e pastor virou moda, não querendo fazer a vontade de Deus, mas ser um novo Macedo ou um novo Hernandes, e aqui não vai necessariamente crítica a esses. Poucos querem ser como Paulo, e menos ainda como Jesus. 

Esta é a 34ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

04/03/22

E alguns, quem serão na eternidade? (33/90)

      “Nenhum homem há que tenha domínio sobre o espírito, para o reter; nem tampouco tem ele poder sobre o dia da morte; como também não há licença nesta peleja; nem tampouco a impiedade livrará aos ímpios.” 
Eclesiastes 8.8

      No dia 25/11/2020, faleceu o jogador de futebol Diego Armando Maradona, com certeza um dos melhores do mundo em seu esporte, e na opinião de muitos argentinos, o melhor, mais até que Pelé (s.q.n.). Pessoas e coisas se destacam das outras em nível mundial e perdurando no tempo não por terem uma coisa diferenciada, mas muitas, um grupo de características contribuíram para que Maradona fosse especial. Primeiro ele tinha uma habilidade singular com a bola, talento e arte que produziam muito em pouco espaço de campo e em pouco tempo, isso não só ganhava jogos, mas nos encantava, vê-lo jogar era (e é, assistindo vídeos) muito prazeroso. Maradona era mais que um excepcional atleta, era genial! 
      Mas Maradona não era só um jogador ímpar de futebol, ele tinha opiniões políticas e não tinha medo de expô-las. Assumidamente de esquerda dizia que Fidel Castro era seu segundo pai, defendia os pobres e até chegou a se posicionar publicamente contra as riquezas da Igreja Católica. Esse misto de deus e bad boy criou um carisma que levantou adoradores na Argentina, passando pela Itália onde jogou e por todo o planeta. Existe até uma “igreja” que celebra Maradona como um ser espiritual especial, a Igreja Maradoniana. Seu enterro teve pompas de rei e movimentou a Argentina como poucas vezes, o falecimento de Dieguito aos sessenta anos, vítima de parada cardiorrespiratória enquanto dormia, foi prematuro. 
      Contudo, se na vida pública ele é considerado um deus, na vida privada foi terrivelmente humano, e isso ele não escondeu de ninguém. A verdade na vida das pessoas, e por incrível que pareça mesmo a ruim, sempre traz mais admiração que aversão, porque sentimos empatia por sabermos que outros têm as mesmas lutas que nós. Vemos, mesmo no gênio, alguém semelhante a nós, se até ele teve problemas, por que nós não podemos ter? Contudo, é bom refletirmos sobre algumas coisas da passagem desse ser humano único na Terra para aprendermos e quiçá, melhorarmos. O que faz alguém, com tantos privilégios, com tantas glórias, que nasceu com ferramentas tão boas para ter prosperidade no mundo, ser presa de vícios? 
      A vida é feita de trocas, deixamos algo que nos faz mal quando temos algo bom, de pelo menos igual tamanho, para trocarmos, não basta tirarmos o mal, temos que ocupar o espaço com algo bom, algo que valha à pena termos e mantermos. Contudo, o que é bom para nós depende de nosso caráter, de princípios de certo e errado que temos e guardamos no fundo do nosso ser, esses princípios ganham relevância quando entendemos o que realmente importa na vida, o que nos traz a paz que permanece. Muitos deixam uma vida de devassidão e de prazeres egoístas quando acham um amor verdadeiro e com ele constroem uma família, outros trocam vícios por profissão, começando pelos estudos até alcançarem um cargo alto e honrado. 
      Tantos que realmente se convertem ao evangelho de Jesus deixam vidas erradas e frívolas para conhecerem, adorarem e servirem a Deus, e essa é a vocação melhor de todo ser humano, a mais eficiente para livrar de ilusões e vícios. Se não paramos de pecar porque não achamos que o pecado nos faz mal, se tivermos alguma índole paramos de pecar porque isso machuca pessoas que amamos, assim o que vence o pecado é o amor. Pecar e seguir pecando, fazendo disso um vício, é atitude de seres imaturos e egocêntricos, que só se importam com o próprio prazer, e quem não morre para si para viver pelos outros, acaba vivendo só para si e morrendo para todo mundo. Viver para sempre do jeito melhor só em Deus. 
      Felizmente existem bons exemplos de gente, mesmo entre artistas e esportistas famosos, que venceram drogas e alcoolismo, mas infelizmente, por mais que a luz de gênios tenha brilhado neste mundo e que até nos acostumemos a dizer que esses continuarão brilhando no céu, a coisa não funciona bem assim. Não, não estou condenando ninguém ao “inferno” pelo simples fato de alguém não ter demonstrado em vida qualquer relação com o evangelho, a coisa também não funciona assim. Ligação íntima com Deus só Deus e quem a tem sabem, não nos enganemos. A vida é uma prova, aptidões, família, intelectualidade, posições, fama e bens, são só ferramentas, não definem as pessoas, mas são usadas para provar as pessoas. 
      Ser famoso no mundo, em tantas áreas distintas, revela-nos uma coisa, algumas pessoas receberam de Deus uma oportunidade especial. Não, o diabo não é pai de nada, não dá nada, mas pode enganar aqueles que de um jeito ou de outro teriam relevância no planeta, dizendo que eles são o que são por causa dele. Mas isso é uma mentira, com as grandes facilidades, que dons e aptidões entregam, vêm grandes responsabilidades, e a responsabilidade maior é contribuir de forma positiva nas vidas das pessoas, isso será cobrado de todos na eternidade, não tenham dúvidas. Quanto a nós, reles mortais, não invejemos a fama, sejamos úteis em amor o mais humildemente possível, o Deus que dá, sabe, e recompensará com justiça. 

Esta é a 33ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
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José Osório de Souza, março de 2021

03/03/22

Onde está tua paz? (32/90)

      “Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça. Por isso, amados, aguardando estas coisas, procurai que dele sejais achados imaculados e irrepreensíveis em paz.” 
II Pedro 3.13-14

      Onde está tua paz? Se descobrir isso achará teu céu. A vida é uma constante procura por paz, e muitas coisas podem nos dar paz, agora, se essa paz é passageira ou duradoura, vã ou nobre, isso é algo que só darão valor os maduros ou espirituais. Você não precisa ser espiritual para ser maduro, mas todo espiritual com certeza amadureceu. Depois de uma redação sexual sentimos paz, também após uma refeição, quando vamos bem em uma avaliação na faculdade também sentimos paz, assim como quando somos aplaudidos por termos realizado uma apresentação musical. 
      Uma criança, criada com equilíbrio e amor, está em paz, o jovem terá paz rapidamente, e ainda que também a perca em pouco tempo, experimentará de novo paz com facilidade. Um corpo sadio, com emocional apaixonado e espírito novo, ajudam-nos a não permanecermos presos a espaço e tempo, jovens ainda não temos passado e futuro, só presente. O maduro, contudo, não se acomoda a uma paz experimentada, ele sabe que a vida segue, que as coisas mudam e a paz não fica, novos desafios precisam ser superados, ele precisa estar de pé, com ou sem paz. 
      O espiritual tem uma experiência com Deus e sabe que a paz que advém disso é singular e gerará nele virtudes que levará para sempre. Mas qual é a experiência em Deus que nos dá paz? Paz não vem de experimentarmos algo, mas de reconhecermos nessa experiência algo relevante. Muitas vezes temos experiências importantes na vida e por não darmos a elas o real valor não sentimos muita coisa, a vivência passa e continuamos perdidos. Você deve ter tido uma experiência que te foi rara, mas que já tinha experimentado antes e não tinha dado importância.
      Só damos importância para duas refeições no dia quando temos tão pouco dinheiro no bolso que talvez não dê para pagar nem uma. Só damos valor ao nosso cônjuge, parando de brigar com ele por qualquer motivo e não achando que o marido da outra ou a esposa do outro é melhor que o nosso cônjuge, quando ficamos sozinhos, sem alguém sequer para nos acompanhar silenciosamente enquanto assistimos um filme na TV. Só sentimos falta de um culto quando somos obrigados a trabalhar secularmente num domingo até a noite e somos impedidos de ir à igreja. 
      A paz pode ser relativizada, a partir do momento que entendemos o preço que podemos pagar por ela. Paz que não custa muito, quando ainda somos imaturos, é relegada a um nível mais baixo, mas quando amadurecemos sabemos que todo preço deve ser respeitado e nenhuma paz é pequena se for sincera do bem e não fizer mal a ninguém. Mas achamos um mistério espiritual ao descobrirmos aquilo que realmente nos dá a melhor paz, sentimo-nos satisfeitos de um jeito único, de tal maneira que ainda que faltem-nos outras coisas, nos sentiremos serenos e protegidos. 
      Descobrirmos essa paz especial é descobrirmos o centro da vontade de Deus para nossas vidas. Acredite, todos temos uma missão especial, uma provação específica, que temos que vivenciar para acharmos a paz mais profunda, que nos acompanhará até a eternidade. Veja que essa paz não tem a ver com estarmos bem financeiramente, com termos notoriedade diante dos homens, muitos têm tudo isso e não têm a melhor paz. Descobrirmos a melhor paz e podermos retê-la até o fim de nossas jornadas, é acharmos o céu ainda encarnados, estamos no mundo para isso. 
      Como ensina o evangelho, essa paz não tem a ver com ganhar, mas com perder, não tem a ver com ter, mas com ser, num presente constante que não sente saudades ou culpas pelo que se foi, nem ansiedades ou medos pelo que virá. Quem sente essa paz e consegue segurá-la experimenta algo que não vai mudar quando morrer o corpo físico, mas que só será liberado na eternidade com plenitude para existir na luz mais alta de Deus. Quem vive essa paz tem toda a convicção que estará no céu quando partir deste mundo, para esse o plano espiritual não será surpresa ruim. 

Esta é a 32ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
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José Osório de Souza, março de 2021

02/03/22

Sinceridade ganha o céu? (31/90)

      “Ora, o fim do mandamento é o amor de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida.” 
I Timóteo 1.5

      Basta sermos sinceros para termos direito ao céu? Há um ditado, “de boas intenções o inferno está cheio”, poderíamos acrescentar, de sinceridade o inferno está cheio. A Bíblia, principalmente em Salmos, cita bastante o termo sinceridade como virtude importante do justo, mas penso que nos dias de hoje temos que entender melhor esse conceito, já que sinceridade tem sido usada por muitos como álibi para estupidez. Refletimos sobre sinceridade em “Deus conhece o sincero bom”, contudo, creio que é interessante, num estudo sobre eternidade, pensarmos mais a respeito.
      Ainda que erremos muito na vida, que batamos a cabeça, mesmo que façamos mal a alguns, se há uma sinceridade benigna em nós, Deus nos chama, nos salva, nos perdoa e nos abençoa. Vamos refletir nessa afirmação. Em primeiro lugar é preciso entender e aceitar que todo mundo erra, todo mundo perde tempo em escolhas ruins e todos machucam os outros. Ninguém se ache a pior pessoa do mundo, a única que fez bobagens, nem se considere perfeito ou sempre vítima, inventando desculpas para os pecados cometidos e não assumindo-os com responsabilidade pessoal.
      Em segundo lugar Deus contempla o sincero, mas o sincero benigno, não basta ter sinceridade, ela precisa ser boa. Há diferença entre sinceridades? Sim. Ser sincero é fazer algo, falar ou sentir alguma coisa, com verdade, sem falsidade, mas isso não basta para ser boa sinceridade. Muita gente é sinceramente má, sinceramente cruel, sinceramente diabólica, isso não é falso nelas, elas não enganam ninguém sobre suas intenções, mas essas intenções não são boas. Muitos dizem, “ah, eu sou sincero, se me incomoda eu falo mesmo, doa a quem doer”, isso é sincero, mas não é benigno. 
      O que é então boa sinceridade? O benignamente sincero pode até errar, mas ele quer acertar, e o principal, ele acerta um dia, a tempo de ter uma vida de justificado por Deus (eu disse justificado, não justo, ainda que o justificado em Cristo se torna justo aos olhos de Deus). Não basta errar e dizer, “poxa, eu não sabia, não tinha experiência, eu queria acertar e não consegui”, e depois tornar a cometer o mesmo erro outra e outra vez. O sincero do bem acha o caminho melhor, ainda que a custo de sofrimento, acha e fica nele, até o fim. Deus conhece o sincero bom e cuida dele.
      Nós, seres lineares, não entendemos a não linearidade de Deus. Deus não nos julga pelo presente, mas pelo futuro, ele sabe onde chegaremos e se a nossa sinceridade é ou não benigna. Deus não tem tempo, contempla todas as existências e todos os tempos ao mesmo tempo e de uma vez. Você está orando aos prantos, confessando um pecado e assumindo que não vai mais cometê-lo, consciente que magoou muitos com ele? Deus sabe se você daqui a um tempo se esquecerá da promessa e cometerá de novo o mesmo pecado, mas ainda assim ele te perdoa e cuida de você. 
      O verdadeiro filho de Deus sempre tem um final feliz, ainda que esse final seja bem lá no fim e por um curto período de tempo. Isso não importa, importa que ele alcançará o centro da vontade do Senhor para sua vida e ficará nesse lugar. Deus sabe disso, antes, e por isso cuida e protege o sincero, ainda que no presente esse esteja fazendo más escolhas e pagando preços por isso. Assim, é sábio não julgarmos ninguém, muito menos condenarmos alguém por erros passados, só o Senhor sabe quem sinceramente se arrependeu, mudou de vida e segue obedecendo-lhe. 
      É essa boa sinceridade que será procurada na eternidade em nossos homens interiores. Se existir nos liberará para subirmos para o amor de Deus, o céu, caso contrário estaremos vazios para cairmos mais profundamente num inferno, cuja semente já habita o espírito do falso. A falsidade é mentira que não segura virtudes, ainda que no mundo, no meio dos homens, o falso grite a plenos pulmões que possui virtudes, não são as palavras que compravam sinceridade, mesmos algumas ações. A boa sinceridade não pode ser falsificada, é uma intenção pura no íntimo do ser. 
      O texto inicial de I Timóteo 1.5 define o que o bom sincero tem, amor de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé não fingida. Quem é sincero tem um amor verdadeiro dentro de si anexado por obras, a marca dos que têm o céu, já que o céu é uma posição espiritual construída com o amor de Deus. Esse amor é puro, sem malícia e sem segunda intenção, fruto de uma boa consciência, que não guarda mágoa nem inveja, e de uma fé verdadeira, não fingida, que não só aparenta ser justo, é de fato, porque conhece o Deus em quem confia e a ele consegue agradar. 
      “Julga-me, Senhor, pois tenho andado em minha sinceridade, tenho confiado também no Senhor, não vacilarei, examina-me, Senhor, e prova-me, esquadrinha os meus rins e o meu coração” (Salmos 26.1-2). Só o sincero do bem tem essa coragem, de deixar que Deus o julgue conforme sua sinceridade, ele sabe que existe verdade em sua caminhada com Deus e não teme nenhum juízo. “Quanto a mim, tu me sustentas na minha sinceridade, e me puseste diante da tua face para sempre” (Salmos 41.12). O sincero do bem tem livre acesso ao Altíssimo, no mundo e para sempre no céu. 

Esta é a 31ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
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José Osório de Souza, março de 2021

01/03/22

Sofrimento ganha o céu? (30/90)

      “Confirmando os ânimos dos discípulos, exortando-os a permanecer na fé, pois que por muitas tribulações nos importa entrar no reino de Deus.
Atos 14:22

      Sofrimento ganha o céu? Sim, se for sincero. Muitos de nós vêm para o amor de Deus pela dor que sempre existe no final dos caminhos do engano dos prazeres deste mundo, mas precisamos considerar, e muito, que existem muitas pessoas no mundo que sofrem por causa da injustiça de homens egoístas e gananciosos. Esse tipo de sofrimento Deus vê e dá valor, a história da viúva que sustentou Elias é um exemplo esplêndido de um sofrimento legítimo (leia texto no final), onde havia propósito de Deus, honra para a sofredora e suprimento para o profeta. 
      Alguns podem interpretar essa história de um jeito oposto, acharem que a viúva estava bem, visto poder sustentar Elias, e era Elias quem passava por um sofrimento, visto depender de outra pessoa que o sustentasse, mas não era isso. Elias cumpria uma missão de Deus, ele não era ocioso, ele trabalhava como profeta e como tal merecia seu sustento. Ocorre que Deus usa para sustentar seus servos a maneira que lhe apraz, ainda que seja uma viúva pobre, assim não julguemos ninguém, não sabemos da missão e do cuidado especiais que Deus dá a alguns. 
      Elias fora levantado contra o rei Acabe, quem pode afirmar que a viúva sofria por causa da situação de falta de chuva que era vontade de Deus para disciplinar um rei e uma nação em situação de rebeldia contra o Senhor? Quando os líderes pecam, sejam políticos e mesmo pastores, todo o povo sofre, as ovelhas sofrem, e quem sofre mais são os que já estavam debilitados, pobres e viúvas. Mas uma coisa é preciso que seja dita, muitos sofrem porque fizeram escolhas pessoais erradas, então, quando uma situação ruim assola todo o coletivo, esses sofrem ainda mais. 
      Ser sustentado por uma viúva podia ser uma provação para um servo orgulhoso, mas para um profeta humilde era só um motivo para agradecer o Deus que sempre honra o que lhe obedece. Contudo, sustentar o profeta era uma provação para uma mulher sem marido já abatida por muitos problemas. Uma mulher viúva em Israel dos tempos do antigo testamento, era uma condição muito baixa, próxima a de mendigos, mas ainda assim Deus pediu mais uma coisa dela, que sustentasse um desconhecido. Deus pediu muito? Não, Deus sabe o que pede e a quem pede. 
      O pedido de Elias, “faze dele primeiro para mim um bolo pequeno, e traze-mo aqui, depois farás para ti e para teu filho” até pode nos parecer cruel, egoísta, mas ele revela duas verdades, sobre Elias e sobre a viúva. Elias tinha plena segurança em Deus do trabalho que desempenhava, da missão profética que tinha recebido do Senhor, da prioridade que ela tinha para toda a nação de Israel. Não, ele não quis humilhar nem explorar a viúva, mas falou com a certeza de um servo de Deus, que sabe o que está fazendo, onde, quando, e que conhece o Senhor que obedece. 
      A viúva por sua vez não se ofendeu, e tinha bons motivos para isso, obedeceu, como recompensa foram ela e seu filho sustentados por um milagre. “E ela foi e fez conforme a palavra de Elias, e assim comeu ela, e ele, e a sua casa muitos dias”, conforme o profeta disse, aconteceu. A viúva ainda provaria mais um milagre pelo ministério de Elias, o restabelecimento de seu filho da morte, que exemplo de sofrimento digno. A viúva não sabia a quem ajudava com seu pouco, só no final reconheceu Elias como homem de Deus, mas isso não a impediu de exercer amor. 
      Provas não são problemas, são intervenções de Deus focadas em pontos nevrálgicos, que precisam ser tratados, curados, aperfeiçoados, para que possamos evoluir e construir dentro de nós o céu. Por isso o céu não se compra, não se troca, se ganha como direito adquirido em vida, por escolhas certas em fé e com obras de amor. Você tem alguma dúvida que a viúva da história de Elias escolheu o céu? Acho bem certo ela ter feito essa escolha, passou pela prova do sofrimento, da humilhação e foi aprovada, quanto ao profeta seguiu seu caminho, tinha uma obra a fazer. 

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      “Levanta-te, e vai para Sarepta, que é de Sidom, e habita ali; eis que eu ordenei ali a uma mulher viúva que te sustente. Então ele se levantou, e foi a Sarepta; e, chegando à porta da cidade, eis que estava ali uma mulher viúva apanhando lenha; e ele a chamou, e lhe disse: Traze-me, peço-te, num vaso um pouco de água que beba. E, indo ela a trazê-la, ele a chamou e lhe disse: Traze-me agora também um bocado de pão na tua mão. Porém ela disse: Vive o Senhor teu Deus, que nem um bolo tenho, senão somente um punhado de farinha numa panela, e um pouco de azeite numa botija; e vês aqui apanhei dois cavacos, e vou prepará-lo para mim e para o meu filho, para que o comamos, e morramos. 
      E Elias lhe disse: Não temas; vai, faze conforme à tua palavra; porém faze dele primeiro para mim um bolo pequeno, e traze-mo aqui; depois farás para ti e para teu filho. Porque assim diz o Senhor Deus de Israel: A farinha da panela não se acabará, e o azeite da botija não faltará até ao dia em que o Senhor dê chuva sobre a terra. E ela foi e fez conforme a palavra de Elias; e assim comeu ela, e ele, e a sua casa muitos dias. Da panela a farinha não se acabou, e da botija o azeite não faltou; conforme a palavra do Senhor, que ele falara pelo ministério de Elias.” 
I Reis 17.9-16
 
Esta é a 30ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
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José Osório de Souza, março de 2021

28/02/22

Por amor ou pela dor? (29/90)

      “Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte.” 
Provérbios 14.12

      É conhecida frase, “se não vem por amor, vem pela dor”, mas vou iniciar esta reflexão com uma afirmação: nós não escolhemos o melhor caminho por amor, não por um amor nosso, seja por nós mesmos, pelos outros ou por Deus, nós só mudamos de conduta após a dor. O amor que sempre existe é o amor de Deus por nós, e esse, na nossa teimosia, permite, sim, que passemos mesmo por muitas dores. Mas não é que busquemos caminhos que vão dar em dor, não, é o contrário, caminhos do engano nunca começam com dor, por isso são do engano, eles começam com promessas de prazer. Nós seguimos por eles e só fazemos correção de percurso quando o prazer acaba, e o prazer dos caminhos do engano sempre são passageiros, sempre são insuficientes.
      Fazemos escolhas por amor? Dificilmente. Pela dor? Também não. Fazemos escolhas pelo prazer que receberemos, isso a princípio é só o nosso instinto de preservação física nos inclinando, não é um defeito, mas um sistema que nos mantém vivos na Terra. Mas aí está o grande desafio de vivermos encarnados no mundo, nos libertarmos da matéria e amarmos os caminhos, não de qualquer espirito, mas do Santo Espírito. Escolher algo por amor e no amor de Deus é disposição de quem nasceu para coisas espirituais, que deixou a morte natural do mundo, isso, contudo, não é fácil. Podemos passar muito tempo atrás de prazer, não só diretamente do corpo, mas também o prazer que outras vaidades oferecem, intelectuais e mesmo morais. 
      Busca por prazer é o motor que move o mundo, leva as pessoas atrás de parceiros e de vidas profissionais para terem sexo e grana. Essa afirmação parece dura demais? Você não concorda com ela? Pois ainda que muitos procurem religiões e frequentem igrejas, a fé e as orações delas focarão em objetivos materiais. Quantos buscam santidade, paciência e humildade, e quantos buscam empregos e casamentos? Quantos fazem jejum e vigílias para serem seres humanos mais misericordiosos e caridosos? Mas muitos fazem longos períodos de consagração para receberem seus “escolhidos” e promoções no trabalho, não entendem o “buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6.33).
      Assim, seguimos com os objetivos errados até que a dor nos acorde. Muitos das últimas gerações só depois de usarem e serem usados em relações afetivas, quando “ficaram” com qualquer um só por diversão, para mostrar para os outros, por um prazer rápido, é que entenderam que casamento é algo sério. Infelizmente, muitos só aprendem isso depois de colocarem mais vidas no mundo, que serão criadas por outros, e com muita probalidade de serem seres humanos também buscando objetivos errados na vida. Só paramos quando dói, mas aí é tarde, só muita humildade e confiança em Deus nos farão crescer, aproveitarmos melhor nosso tempo restante de vida no mundo, e recuperarmos algo. Graças a Deus que sempre nos dá novas oportunidades. 
      Se não vem por amor, vem pela dor? Na verdade, sempre achamos o caminho melhor por amor, o amor de Deus que atrai todos os seres humanos o tempo todo para ele. Se alguém acha que fez uma boa escolha e permaneceu nela porque é um ser humano do bem, em primeiro lugar verifique se de fato analisou várias opções, ou se foi só tímido, que por medo de errar não tentou e nunca foi feliz. Isso pode não ser escolha de sabedoria, mas só resignação covarde, Deus nos chama enquanto caminhamos. É isso que nos faz crescer e dar valor àquilo que conseguimos ser de melhor no final, atraídos pelo amor eterno de Deus, que nos permite achar prazer no caminho melhor da santidade e da paz, do que é mais correto e que levaremos à eternidade. 
      Mas mesmo você, que viveu sem medo, experimentou dores, e que aprendeu e seguiu persistindo no caminho melhor, não deixe que o tempo te adormeça no leito do orgulho. Se Deus não nos atrair por seu amor, não conseguiremos fazer sequer uma rápida oração no dia, agradecendo por estarmos com saúde. Sem o amor de Deus não existimos, cada boa iniciativa espiritual que tomamos, cada desejo de cultuar, de dizimar, de louvar, de ser fiel e santo, é Deus nos atraindo pelo seu Espírito. Na eternidade seguiremos assim, mas sem o peso do corpo físico, então, se nosso homem interior estiver transformado, pela fé e por boas obras que exercemos no mundo, nosso espírito subirá leve e rápido às regiões celestes mais elevadas em Jesus.

Esta é a 29ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

27/02/22

Firme onde chegou (28/90)

      “E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada. Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando; porque o que duvida é semelhante à onda do mar, que é levada pelo vento, e lançada de uma para outra parte. Não pense tal homem que receberá do Senhor alguma coisa. O homem de coração dobre é inconstante em todos os seus caminhos.” 
Tiago 1.5-8

      Um homem inconstante em sua fé poderá morrer de fome mesmo diante de uma mesa de banquete, na dúvida não saberá qual comida escolher e nada comerá. Muitos de nós têm uma tendência ao desespero, assim, quando cometemos um erro, experimentamos um tropeço, temos uma dúvida, colocamos tudo a perder, nos esquecemos de todas as vitórias anteriores e nos identificamos como perdedores definitivos. Não é assim, Deus não nos vê assim, não se esquece de nossos acertos e não nos condena por um erro, mas quem pode ir contra um homem que não acredita em si mesmo? Uma escolha ruim só pode ser desfeita por uma escolha boa, nesse caso, acreditar e prosseguir. 
      Algumas mudanças importantes em nossas vidas provamos de forma racional, pensando certo e agindo sem pestanejar, relevando sentimentos, que muitas vezes só podem nos confundir. É claro que assunção de pecado, solicitação de perdão a Deus e posse de um novo estado emocional de paz, devem preceder todas as decisões. Mas muitas vezes, mesmo depois disso, continuamos em dúvidas, desacreditando de nós mesmos e não permitindo que Deus execute sua vontade. Deus só fala, só age, só se posiciona, depois que nos posicionamos, um coração em paz e uma mente certa constituem a lousa em que Deus escreve sua palavra, ao que crê com inteligência nada é negado.
      Se nós decidirmos, Deus se mostrará, ou ensinando algo novo que não sabíamos até então, ou continuando a fazer o que já estava fazendo e nos esquecemos por causa de um coração dobre. Por experiência própria, a maior parte de nossas angústias experimentamos, não porque não sabemos o que fazer, mas porque duvidamos do que já sabemos. Por outro lado não basta só acreditarmos em nós mesmos, e essa é uma doutrina muito pegada hoje pela auto-ajuda, que empodera o ser humano, mas afasta-o do verdadeiro Deus. Precisamos da humildade ensinada por Jesus, senão seremos só militantes com bandeira certa na mão, mas com intenção errada no coração. 
      Limpe-se em Deus, segure a paz, conheça a vontade do Altíssimo e a faça, depois, fique firme no ponto onde já chegou, se for preciso, até pare, para descansar, mas não retroceda, não jogue fora todas as experiências maravilhosas que você teve em Deus até então. Deus não muda, sua palavra permanece para sempre, se ele promete, ele cumpre, não ponha isso em dúvida. Mas siga sempre humilde, não se exalte, mas deixe Deus se exaltar em você e para você, vivendo assim a luz do Altíssimo sempre estará forte e firme no horizonte, mostrando a você para onde deve ir. Glória a Deus, chama que nos protege e nos atrai para um amor eterno que prevalece sobre tudo.
      Firmeza e constância, são esses trabalhos que de fato podem transformar e manter nossos homens interiores, aqueles que serão revelados na eternidade e que definirão nosso céu ou nosso inferno. Não basta-nos só conhecermos caminhos espirituais, termos intelectualmente informações religiosas, entendermos doutrinas e Bíblia. Por isso o Cristo enfatiza tanto “mas aquele que perseverar até ao fim será salvo” (Mateus 24.13). Não basta-nos crermos uma vez ou nos firmarmos numa profissão de fé, ainda que feita de forma oficial com todos os ritos em igreja reconhecida. Salvação é trabalho diário, lutando contra a carne e dando liberdade ao Santo Espírito. 
      Esse conjunto de reflexões denominado “Quem você será na eternidade?” tem feito questionamentos sérios, reavaliando muitas doutrinas do cristianismo tradicional. Não tenha receio de ler esses textos, mas tenha coragem de colocá-los na presença do Senhor em oração, pedindo-lhe que se algo sobre tua fé, que você entendeu até agora, estiver equivocado, que ele te mostre. Contudo, não se desvie, e desvio é nos colocarmos numa posição onde não temos mais vitória sobre o pecado, forças para darmos bons frutos que permanecem e paz. Saiba onde está, quem é, esteja firme onde chegou, só então, em Deus e pela fé, dê um passo adiante, mas só se teu Deus mandar. 

Esta é a 28ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021