quarta-feira, março 02, 2022

Sinceridade ganha o céu? (31/90)

      “Ora, o fim do mandamento é o amor de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida.” 
I Timóteo 1.5

      Basta sermos sinceros para termos direito ao céu? Há um ditado, “de boas intenções o inferno está cheio”, poderíamos acrescentar, de sinceridade o inferno está cheio. A Bíblia, principalmente em Salmos, cita bastante o termo sinceridade como virtude importante do justo, mas penso que nos dias de hoje temos que entender melhor esse conceito, já que sinceridade tem sido usada por muitos como álibi para estupidez. Refletimos sobre sinceridade em “Deus conhece o sincero bom”, contudo, creio que é interessante, num estudo sobre eternidade, pensarmos mais a respeito.
      Ainda que erremos muito na vida, que batamos a cabeça, mesmo que façamos mal a alguns, se há uma sinceridade benigna em nós, Deus nos chama, nos salva, nos perdoa e nos abençoa. Vamos refletir nessa afirmação. Em primeiro lugar é preciso entender e aceitar que todo mundo erra, todo mundo perde tempo em escolhas ruins e todos machucam os outros. Ninguém se ache a pior pessoa do mundo, a única que fez bobagens, nem se considere perfeito ou sempre vítima, inventando desculpas para os pecados cometidos e não assumindo-os com responsabilidade pessoal.
      Em segundo lugar Deus contempla o sincero, mas o sincero benigno, não basta ter sinceridade, ela precisa ser boa. Há diferença entre sinceridades? Sim. Ser sincero é fazer algo, falar ou sentir alguma coisa, com verdade, sem falsidade, mas isso não basta para ser boa sinceridade. Muita gente é sinceramente má, sinceramente cruel, sinceramente diabólica, isso não é falso nelas, elas não enganam ninguém sobre suas intenções, mas essas intenções não são boas. Muitos dizem, “ah, eu sou sincero, se me incomoda eu falo mesmo, doa a quem doer”, isso é sincero, mas não é benigno. 
      O que é então boa sinceridade? O benignamente sincero pode até errar, mas ele quer acertar, e o principal, ele acerta um dia, a tempo de ter uma vida de justificado por Deus (eu disse justificado, não justo, ainda que o justificado em Cristo se torna justo aos olhos de Deus). Não basta errar e dizer, “poxa, eu não sabia, não tinha experiência, eu queria acertar e não consegui”, e depois tornar a cometer o mesmo erro outra e outra vez. O sincero do bem acha o caminho melhor, ainda que a custo de sofrimento, acha e fica nele, até o fim. Deus conhece o sincero bom e cuida dele.
      Nós, seres lineares, não entendemos a não linearidade de Deus. Deus não nos julga pelo presente, mas pelo futuro, ele sabe onde chegaremos e se a nossa sinceridade é ou não benigna. Deus não tem tempo, contempla todas as existências e todos os tempos ao mesmo tempo e de uma vez. Você está orando aos prantos, confessando um pecado e assumindo que não vai mais cometê-lo, consciente que magoou muitos com ele? Deus sabe se você daqui a um tempo se esquecerá da promessa e cometerá de novo o mesmo pecado, mas ainda assim ele te perdoa e cuida de você. 
      O verdadeiro filho de Deus sempre tem um final feliz, ainda que esse final seja bem lá no fim e por um curto período de tempo. Isso não importa, importa que ele alcançará o centro da vontade do Senhor para sua vida e ficará nesse lugar. Deus sabe disso, antes, e por isso cuida e protege o sincero, ainda que no presente esse esteja fazendo más escolhas e pagando preços por isso. Assim, é sábio não julgarmos ninguém, muito menos condenarmos alguém por erros passados, só o Senhor sabe quem sinceramente se arrependeu, mudou de vida e segue obedecendo-lhe. 
      É essa boa sinceridade que será procurada na eternidade em nossos homens interiores. Se existir nos liberará para subirmos para o amor de Deus, o céu, caso contrário estaremos vazios para cairmos mais profundamente num inferno, cuja semente já habita o espírito do falso. A falsidade é mentira que não segura virtudes, ainda que no mundo, no meio dos homens, o falso grite a plenos pulmões que possui virtudes, não são as palavras que compravam sinceridade, mesmos algumas ações. A boa sinceridade não pode ser falsificada, é uma intenção pura no íntimo do ser. 
      O texto inicial de I Timóteo 1.5 define o que o bom sincero tem, amor de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé não fingida. Quem é sincero tem um amor verdadeiro dentro de si anexado por obras, a marca dos que têm o céu, já que o céu é uma posição espiritual construída com o amor de Deus. Esse amor é puro, sem malícia e sem segunda intenção, fruto de uma boa consciência, que não guarda mágoa nem inveja, e de uma fé verdadeira, não fingida, que não só aparenta ser justo, é de fato, porque conhece o Deus em quem confia e a ele consegue agradar. 
      “Julga-me, Senhor, pois tenho andado em minha sinceridade, tenho confiado também no Senhor, não vacilarei, examina-me, Senhor, e prova-me, esquadrinha os meus rins e o meu coração” (Salmos 26.1-2). Só o sincero do bem tem essa coragem, de deixar que Deus o julgue conforme sua sinceridade, ele sabe que existe verdade em sua caminhada com Deus e não teme nenhum juízo. “Quanto a mim, tu me sustentas na minha sinceridade, e me puseste diante da tua face para sempre” (Salmos 41.12). O sincero do bem tem livre acesso ao Altíssimo, no mundo e para sempre no céu. 

Esta é a 31ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

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