25/04/22

Justiça é eterna, misericórdia, não (85/90)

      “Quando, pois, o Senhor teu Deus os lançar fora de diante de ti, não fales no teu coração, dizendo: Por causa da minha justiça é que o Senhor me trouxe a esta terra para a possuir; porque pela impiedade destas nações é que o Senhor as lança fora de diante de ti. Não é por causa da tua justiça, nem pela retidão do teu coração que entras a possuir a sua terra, mas pela impiedade destas nações o Senhor teu Deus as lança fora, de diante de ti, e para confirmar a palavra que o Senhor jurou a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó. Sabe, pois, que não é por causa da tua justiça que o Senhor teu Deus te dá esta boa terra para possuí-la, pois tu és povo obstinado.” 
Deuteronômio 9.4-6

      Antropomorfismo é atribuir a deuses, a Deus ou a seres sobrenaturais, comportamentos e pensamentos humanos, mas além de características morais, atribuir também formas físicas. É com essa interpretação que escritores bíblicos, por exemplo, usaram termos como mãos de Deus, olhos de Deus, ouvidos de Deus, mas também, ira de Deus, arrependimento de Deus, vingança de Deus. Deus, contudo, é espírito, espírito não tem mãos, olhos ou ouvidos, não físicos, e não funcionando com as limitações que funcionam os membros do corpo físico do homem. Os olhos de Deus, por exemplo, veem tudo, em todos os lados e dimensões e ao mesmo tempo. A mesma coisa com características morais, Deus não se ira, não se arrepende ou se vinga.
      Essa ótica antropomórfica interpreta amor, misericórdia e justiça de Deus, de maneira no mínimo limitada, usando como referência o próprio homem, e ainda que suas virtudes, não as de Deus. Na verdade não podemos usar plenamente Deus como referência porque não o entendemos em sua totalidade, por isso a importância de Jesus. A encarnação do Cristo foi uma maneira de Deus nos ensinar sobre ele de um jeito que pudéssemos entender enquanto encarnados no mundo. Quer conhecer a Deus? Conheça Jesus, mas indo além do registrado na Bíblia, deixando que o Espírito Santo guie nesse entendimento, esclarecendo conceitos que escritores bíblicos registraram com os limites das óticas temporais de suas culturas.
      Justiça é instrumento de equilíbrio, recompensa o que é certo, pune o que é errado, dá para quem merece e tira de quem não merece, ela é universal, eterna e indiscriminada. A misericórdia é uma das faces do amor, beneficia, protege, perdoa, mesmo o que não está agindo de maneira totalmente correta. Por que Deus a usa? Porque ele nos conhece no tempo, sabe de nossa intenção, mas também de nossas ações, não só do passado como também do futuro. A misericórdia, sob o ponto de vista de Deus, também é justiça, só que exercida no tempo que sob o nosso ponto de vista não é o mais adequado. Assim Deus dá tanto para quem fez por merecer, quanto para quem fará por merecer, ainda que não faça por merecer no presente. 
      Misericórdia, entretanto, tem fim, Deus não pode nos enganar desequilibrando a balança da justiça, isso nos desviaria de persistirmos no único caminho que leva a ele, o caminho reto. Pode-se argumentar, “a Bíblia diz que as misericórdias de Deus não têm fim”. E não têm, ao justificado que anda em justiça, mas se cair e permanecer caído a justiça do universo, estabelecida por Deus, o cobrará. Nestes tempos de pandemia, atenção cristãos que não têm se cuidado, por se acharem protegidos pela fé e por negarem doença e vacinas, podem ter sido livrados até agora, pela misericórdia do Senhor, mas essa acaba. Temo que muitos ainda sofrerão com a Covid 19, daqui a um tempo, por não terem sido justos com eles mesmos.
      O texto bíblico inicial ensina sobre justiça, revela a condição que Deus usa para dar algo a alguém, ter que tirar de outro a mesma coisa e no mesmo tempo, para equilibrar as coisas. Nós, seres limitados, só vemos a nossa necessidade, mas Deus administra o mundo e seus sistemas, os bens e as terras do planeta, as hierarquias e posições sociais dos homens, tudo ao mesmo tempo. Por isso a passagem diz que Deus não estava dando terras a Israel porque a nação merecia, mas porque as outras nações não mereciam continuar possuindo essas terras, é claro o equilíbrio com o qual Deus zela o universo. Israel, ainda que pelo mínimo, obviamente também se colocou numa posição de obediência a Deus, que a fez digna da dádiva. 
      Deus não reage, mesmo com os que o rejeitam, que blasfemam seu nome e que o odeiam, com qualquer espécie de sentimento negativo, seja de rancor ou de agressividade, querendo dar algum troco, esse tipo de disposição vingativa não existe no Altíssimo. Ainda que Deus controle tudo, se existe inferno, sofrimento, derrota, perda de bens, de privilégios, de direitos, não existe como ação de contra-ataque de Deus, mas como efeito de escolha errada dos homens dentro deles, quando se colocam como inimigos da justiça e se afastam de Deus. O céu é perto do melhor de Deus, o inferno é longe, a bênção é próxima ao melhor de Deus, a maldição é distante, depende da escolha humana que coloca o homem perto ou longe de Deus.
      A expressão “o melhor de Deus” foi usada, porque o inferno não é um lugar onde Deus não está, Deus está em todos os lugares e tudo administra. Mas quem se afasta de Deus se coloca fora do melhor do Altíssimo, não tem direito às suas bênçãos, não porque está num lugar ruim, mas porque afasta sua consciência, seu espírito de Deus e por isso tem dentro de si um tormento. O plano espiritual é difícil de ser entendido com percepções do corpo físico, mas no Espírito Santo temos alguma iluminação para entendê-lo, ainda que no mundo e presos aos nossos corpos carnais. Assim, depende de cada um de nós buscarmos a Deus, nos libertando de tradições homens, quem buscar, achará, quem bater, lhe será aberta a porta. 
      Os escritores bíblicos, vivendo em civilizações bárbaras, que usavam guerras violentas como meio de existência, que buscavam o mundo espiritual para terem vitórias nessas guerras, obviamente viam Deus como o “Senhor dos Exércitos”, que destruía seus inimigos para beneficiá-los. Eles não tinham evolução moral e intelectual para entenderem a justiça divina do universo, e nem precisavam ter para que Deus os amasse e os ouvisse, mas hoje é diferente. Temos consciências evoluídas o suficiente para entendermos melhor como as coisas funcionam no plano espiritual, para interpretarmos a Bíblia com a ajuda do Esprito Santo, e para sabermos com mais precisão como Deus exerce misericórdia e sua eterna justiça.

Esta é a 85ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

24/04/22

Deus é justo! (84/90)

      “Regozijar-me-ei muito no Senhor, a minha alma se alegrará no meu Deus; porque me vestiu de roupas de salvação, cobriu-me com o manto de justiça, como um noivo se adorna com turbante sacerdotal, e como a noiva que se enfeita com as suas jóias. Porque, como a terra produz os seus renovos, e como o jardim faz brotar o que nele se semeia, assim o Senhor Deus fará brotar a justiça e o louvor para todas as nações.
Isaías 61.10-11

      Deus é perfeitamente justo em todo o tempo! Isso é uma afirmação, mas que para que sejamos justos deverá ser seguida por outra: não existe justiça no mundo! Ambas as afirmações são verdadeiras? Sim, dependendo do ponto de vista, e temos dois pontos de vista, o ponto de vista de Deus e o do homem. O ponto de vista de Deus é alto, nele o Senhor vê tudo e nada lhe escapa, essa é a referência espacial, a outra é temporal, Deus usa o tempo sem se limitar a ele. O ponto de vista do homem é limitado ainda que o homem não admita que seja. Limitado no espaço, já que na maioria das vezes o homem não vê nem o que está à sua frente, enxerga só seu próprio umbigo. Mas também é limitado no tempo, já que ele colhe o que acontece agora, mas não relaciona isso como efeito de causa que plantou no passado, assim como não aceita que o que planta hoje pode dar frutos no futuro. 
      Mas o que tem a ver ponto de vista com justiça? Pensemos num exemplo, a luta contra o racismo que enfim tem ganhado a força que sempre deveria ter tido. Multidões têm protestado e uma vida não é só mais uma vida, mas “uma vida importa”, forçando a justiça dos homens a dar para negros e brancos os mesmos direitos. Ainda que essa bandeira seja mais que legítima, muitos acusam alguns que a levantam de serem vitimistas, isso não é verdade. Se a luta parece exagerada é porque é efeito de uma causa igualmente exagerada, a crueldade de uma escravidão de séculos que gerou o preconceito. Sim, é a justiça de Deus sendo executada, e a justiça sempre busca isso, o equilíbrio, dar para um o mesmo que dá para outro sem privar ninguém de nada. Mas, então, por que demorou tanto para acontecer? Se Deus é justo, por que a justiça não foi feita antes? Por causa do livre arbítrio. 
      O direito ao livre arbítrio que Deus dá ao homem é o que entrega ao ser humano tanto a oportunidade para ser justo quanto para ser injusto, por ele a injustiça foi feita e só por ele a justiça será restabelecida no mundo. Demora? Não pelo ponto de vista de um Deus que trabalha no tempo ainda que não se limite a ele. Eu e você só temos consciência do presente em que vivemos, mas Deus vê tudo e nada que se planta fica sem colheita, em tempo nenhum. Não pense o homem que o que faz o faz só porque escolheu fazer, tudo faz parte de um plano, e esse plano nada tem a ver com teorias de conspiração. O diabo não faz nada, só é uma possibilidade de escolha ruim na cabeça dos homens, são os homens que realizam, contudo, um ser maior, mais alto, eterno e perfeito, em todas as virtudes, tem o controle de tudo sempre, Deus. Deus nunca deixa de fazer justiça, ainda que os homens achem que deixa. 
      A visão mais lúcida que podemos ter da realidade atual é nada mais, nada menos, que a continuidade da justiça divina agindo, e sempre será assim, se o fruto é amargo é porque a semente plantada foi ruim. A humanidade não pode reclamar de nada, o que tomou com violência com violência será retomado, o agressor será agredido. Entretanto, tome cuidado o que foi agredido, aposse-se de seus justos direitos com equilíbrio, não use mágoa como álibi para vingança, toda vingança, mesmo a aparentemente legítima e contra um opressor, é semente ruim e gerará fruto amargo. A humanidade de fato evoluirá quando parar de plantar errado, quando deixar de ser cruel e egoísta tanto quanto vingativa e rancorosa, quando quebrar o loop, então, a justiça de Deus se cumprirá, o homem achará paz, então, nos novos céus e na nova Terra, haverá harmonia, equilíbrio e vida eterna para todos os seres. 
      Enquanto isso não acontece a Terra muda de era para era, quem estuda um pouco de história universal entende isso, e as mudanças nunca acontecem rapidamente, ainda que à medida que os séculos passem as eras sejam menores. É um movimento semelhante ao de um pêndulo pendendo para lados opostos cada vez mais depressa e mais próximo ao centro, até que atinja o descanso. O século XX foi especialmente rápido, a civilização evoluiu técnica e moralmente em cem anos o que não evoluiu nos quinhentos anos passados. Eu penso que no momento atual estamos no limiar de um novo tempo, mas como em toda passagem existe um caos, um momento de distúrbio onde parece que não há referências. Se é assim conosco como indivíduos, por que não seria com a humanidade como um todo? Quem não se sentiu, quando passava da infância para a adolescência, perdido, estranho, confuso, deslocado? 
      Quem tem certeza não muda, dúvidas são necessárias, elas nos tiram do comodismo, ainda que seja para que no final entendamos que tínhamos desde o início o melhor dentro de nós adormecido, e que precisamos ser provados para que esse melhor viesse à tona e se firmasse. Grandes dívidas estão sendo cobradas da humanidade, a cobrança é para que o homem acorde de séculos de injustiças, de explorar e inferiorizar seres humanos pelo nível financeiro, pela cor da pele, pela sexualidade, pela religião. A justiça procura pela igualdade de direitos para que cada um seja diferente à sua maneira, eis o desafio. Mas se as virtudes mais altas que há na luz do Altíssimo, para a qual todos somos atraídos pelo amor de Deus, se elas são iguais, onde está a diferença? Eis o mistério que nós seres humanos temos muita dificuldade para entender, e todos os seres são singulares e exclusivos. 
      A diferença não está em nossos corpos, em nossas sexualidades, nas famílias em que fomos criados, nas condições financeiras que adquirimos, nas capacidades intelectuais e emocionais que temos, em nossas aparências externas, nem nos círculos sociais em que vivemos ou nos bens que temos. A diferença está em nosso interior, ela é espiritual e iluminada por virtudes morais que praticamos. O mundo até o momento não consegue ver o potencial que cada ser humano tem por ser diferente, ele tem acordado para isso, isso é certo, mas ainda se equivoca em muitas coisas porque valoriza demais a matéria. Se conseguíssemos ver o ser espiritual que habita o interior de cada ser, se conseguíssemos ver a luz espiritual, sua beleza, entenderíamos de fato quem cada homem e cada mulher é, e consequentemente, a vocação de cada um, sua razão de existir eternamente, seu lugar especial no universo. 
      O que segue agora é uma espécie de diálogo, com perguntas e respostas, entre alguém, cristão ou não, mas informado pela tradição cristã, com alguém que entende um Deus justo além dessa tradição. “E quanto a tantos que sofrem hoje, deverão continuar assim, sofrendo? E outros, como esses, sofrerão por anos até que a justiça se faça valer?” Sim. “E onde está o Deus justo?” Onde sempre está, no alto, respeitando o livre arbítrio. “Ele não faz nada por tantos que são injustiçados?” Faz, através de homens, Deus é espírito, não desce à Terra, mas age pelos homens. “Então Deus não é justo!”. Deus é justo, quem não é justo é o falso deus em que muitos cristãos dizem crer, se esse deus existisse não haveria injustiçados, a não ser quem escolhesse isso, mas como existem injustiçados que não escolhem isso, não é Deus quem está errado, mas está errado o que muitos creem que seja Deus. 
      Muitos cristãos, se avaliassem com sensatez o que dizem, não creriam no que dizem, mas mantendo uma espécie de insanidade conveniente, dizem que creem para agradarem a homens e por terem medo do “diabo” e do “inferno”, não por conseguirem praticar o que dizem. Eles não põem em prática porque é impossível de ser posto, é só superstição, que mantém templos lotados e gazofilácios cheios, será que isso será suficiente para encher o “céu”? Deus é justo, o homem não é e paga caro por isso, assim como pagam caro outros sem merecerem. Mas todos serão saciados pela justiça, se não aqui na eternidade, os exploradores serão julgados, os explorados serão consolados, nenhuma lágrima será esquecida assim como nenhum mal, ainda que feito na calada da noite, será olvidado. Deus é Senhor dos Exércitos que luta pela justiça e a faz prevalecer, seu justo reino é para sempre!

      “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos
Mateus 5.6

Esta é a 84ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

23/04/22

Quando voltaremos ao normal? (83/90)

      “E se matares este povo como a um só homem, então as nações, que antes ouviram a tua fama, falarão, dizendo: porquanto o Senhor não podia pôr este povo na terra que lhe tinha jurado; por isso os matou no deserto.” 
Números 14.15-16

      Médicos e economistas dizem que demorará para que o mundo volte àquilo que nós chamamos de normal e que mudou por causa da pandemia da Covid 19. O uso de máscaras persistirá por anos, e mesmo assim se as vacinas acompanharem as mutações do corona vírus, dessa forma a aplicação de todas as doses em toda a população brasileira demorará algum tempo. A recuperação da economia também levará algumas décadas, e do mal psicológico, advindo da perda de tão grande número de vidas, não nos recuperaremos faciomente. De fato estávamos mal acostumados, pelo menos a grande maioria da classe média, que não vivia em luxo, mas tinha o suficiente para uma vida digna e que é grande parte da população no Brasil.
      A pergunta que fazemos é: por que isso nos surpreendeu tanto? Como indivíduos temos provações o tempo todo, que nos confrontam com zonas de conforto que precisamos deixar para crescermos, contudo, de tempos em tempos, a providência divina permite provações coletivas, que confrontam países e até o planeta como um todo, com a finalidade de acordar a humanidade para a necessidade de evolução moral e espiritual. Em situações assim, nossas provações pessoais são atropeladas, uma catástrofe climática, uma guerra ou uma pandemia, nivelam todos igualmente e pedem de todos novos posicionamentos para poderem sobreviver num novo normal, que não pode ser disfarçado, nem relativizado, só aceito. 
      O diferencial nessa pandemia é que o inimigo é desconhecido, invisível, pelo menos para quem não é profissional da área biológica, e diferente de uma guerra ou de um tsunami, que são terríveis mas terminam, uma nova doença contagiosa pode demorar muito tempo para ser controlada, se é que um dia poderá ser. Amantes do apocalipse não previram isso, esperando guerras épicas e anticristos não entenderam que um organismo microscópico pode ser instrumento do universo para uma provação coletiva. Isso nos surpreendeu porque arrogantemente nos achávamos uma civilização mais evoluída que as anteriores, mesmo com tanta injustiça social pensávamos ter uma ciência capaz de nos proteger de certas coisas. 
      A covid 19 feriu toda a humanidade como a um só homem, com uma pedrada certeira, bem na fronte, o gigante veio ao chão e não achou quem o erguesse. Morrem no deserto os que não estão preparados para a terra prometida, usando um exemplo bíblico, Deus precisa disciplinar para que o homem não siga enganado, mas toda disciplina não é para a perdição, é para salvação, ainda que tenha um preço tão caro para o disciplinado. Os que escapam, contudo, que por algum motivo são poupados, devem temer a Deus, adquirirem lucidez, deixarem a embriaguez de um cotidiano onde talvez até fossem religiosos, mas superficiais. Quem tem olhos deve ver e entender, não estamos no mundo para perder tempo. 
      Quando voltaremos ao normal? O que é o normal? Muitos se equivocaram com relação a o que pensavam ser o normal, “porquanto, assim como, nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do homem” (Mateus 24.38-39). Como será essa vinda do Filho do homem? Talvez bem diferente daquilo que a tradição cristã protestante acredita que será, mas o que importa não é a forma externa, o onde e o como, se será no mundo ou no plano espiritual, importa é estarmos preparados por dentro, o tempo todo, sermos nossa melhor versão possível. 
      Nosso normal neste mundo nunca deveria ter sido só acordar para trabalhar para ter dinheiro para pagar boletos, passear no centro da cidade num sábado de manhã para trocar o celular que temos e que nem é tão velho assim. Sei que muitos não têm o básico para uma vida digna, mas não têm justamente porque outros têm o que não precisam ter, e isso não ocorre só com as classes altas, não, a culpa não é só dos ricos. Quantos, andando com carros caros, que pagarão por anos em longos finaciamentos, sem que tenham necessidade disso, só para aparentarem status quo, enquanto não possuem plano médico decente e filhos estudando em escola melhor. A morte nos confrontará com como investimos nosso dinheiro.
      Sabe aquele pedido de desculpas que sentimos que devemos pedir, mas que nunca achamos tempo para pedir, aquele telefonema que gostaríamos de fazer para dizer a alguém que ele é importante para nós, mas que não achamos espaço numa agenda sempre tão cheia, aquele padrão melhor de santidade que sabemos que seria bom que tivéssemos, mas que sempre trocamos por algum prazer físico que console nosso coração angustiado? Uma morte iminente pode nos fazer partir para a eternidade com essas pendências. É esse o tipo de confronto que uma pandemia permite, com um tempo que achamos que temos e que podemos não ter, que nos faz pensar sobre o que de fato foram e são nossas prioridades morais. 

Esta é a 83ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

22/04/22

Iluminado (82/90)

      “No semblante iluminado do rei está a vida, e a sua benevolência é como a nuvem da chuva seródia. Quão melhor é adquirir a sabedoria do que o ouro! e quão mais excelente é adquirir a prudência do que a prata!” 
Provérbios 16.15-16

      Iluminado não é um termo que o cristianismo usa com frequência, ele está presente na Bíblia, mas justo e salvo são mais populares, um no antigo testamento e outro no novo. Justo e salvo estão ligados à ideia de se ter virtudes, sejam por mérito próprio ou mérito alheio, o justo o é pelas obras que pratica para obedecer a velha aliança, o salvo o é pela fé na salvação que Jesus dá na nova aliança. Ter implica em algo externo, que é agregado, mas que não faz parte, e que portanto pode também ser desagregado, perdido. Iluminado tem a ver com ser, quem se torna algo o torna para sempre, não muda. Isso não significa que o iluminado não possa melhorar, e melhorar não significa abandonar certas coisas, mas só descobrir coisas mais relevantes. 
      O iluminado recebe uma luz diferente, que o torna mais esclarecido, e em se tratando de iluminação de Deus existe uma peculiaridade, quem é iluminado pelo Altíssimo posiciona-se numa disposição espiritual superior que não pode mais ser mudada, é para sempre. Deus não volta atrás em sua dádiva, o que sabe mais nunca mais será o mesmo, conhecimento é algo que não se pode esquecer, ou fazer de conta que não se sabe. Quem é iluminado por Deus verá tudo com um esclarecimento maior, seus olhos espirituais foram abertos, nunca mais será cego. Se ainda assim tentar viver o estilo de vida que tinha quando era cego, será um homem insatisfeito, já que não sente mais em certas coisas a relevância que sentia antes de ser iluminado. 
      Mas nisso está a sabedoria e o amor de Deus, o Altíssimo só ilumina quem está preparado, de forma que o conhecimento não o escandalize nem a outros, a verdade de Deus nunca é para a perdição, mas para a evolução. Muitos querem insistentemente iluminação e nunca a encontram, o Pai de amor sabe que se esses souberem certas coisas não terão inteligência emocional e moral para administrarem certos conhecimentos, melhor serem crianças felizes que adultos suicidas. Para o pentecostal, iluminação pode ser o dom de profecias, para o protestante tradicional pode ser um estudo mais científico dos textos originais da Bíblia e do processo histórico de como o cânone bíblico atual foi construído. Será que estamos de fato preparados para a verdade? 
      Muitos, querendo iluminação, acabaram em profunda treva, tinham uma lâmpada numa pequena sala e por se acharem preparados para o Sol fora da casa, acabaram voltando ao quarto escuro (lembrando das duas últimas reflexões), aterrorizados pelos conhecimentos que receberam. Esses são os que amam teorias da conspiração, que tentam achar o anti-cristo e o apocalipse em tudo, creem em OVNIs e veem comunismo e globalização como armas do diabo, mas não tiveram fê e humildade suficientes para buscarem a verdade. Tornam-se presas fáceis de homens e seres espirituais enganadores, que têm nas trevas seus domínios, que usam superstições e misticismos como meios de manipular os tolos e obterem alguma vantagem no mundo.
      A maioria dos cristãos não experimenta iluminação espiritual porque insiste em ver coisas espirituais com olhos carnais, ainda que seja de forma racional. Coisas espirituais se entendem com ferramentas espirituais e são aplicadas de maneira espiritual. Coisas carnais são as ferramentas que os homens podem manipular nas religiões, esses homens não têm poder sobre coisas espirituais altas, porque essas não podem ser usadas nem limitadas. Ser iluminado é acima de tudo ser livre espiritualmente, contudo, isso requer coragem e abrir mão de vaidades, para escolher viver para e em Deus. Jesus encarnado fez essa escolha, por isso sua passagem por este planeta foi única e decisiva para toda a humanidade, mas mesmo ele não dizia tudo que sabia. 
      Um esclarecimento sobre o termo espiritual, sê-lo não é necessariamente ser moral, ainda que os cristãos tenham se acostumado a usarem o termo espiritual para denominarem alguém que consideram santo e ungido, e eis aí outros conceitos que precisam ser reavaliados. Há religiosos e espiritualistas que vivenciam, por evocações e outros protocolos mágicos, experiências espirituais profundas e verdadeiras, mas não têm e nem buscam qualidade moral. Por outro lado os cristãos podem ter virtudes morais altas, mas terem pouca experiência com dons do Espírito e o plano espiritual. No mundo atual essas áreas ainda podem andar desagregadas, pela misericórdia de Deus, mas penso que no futuro será diferente, pelo plano maior de Deus. 
      Não creio que todos os seres humanos devam ter o mesmo nível de iluminação espiritual, mas creio que todos precisem e possam ter as mesmos qualidades morais que Jesus nos ensinou, como perdão, amor, misericórdia, caridade, humildade, libertar-se de referências materiais passageiras e buscar as virtudes espirituais eternas. O juízo não será um exame de vestibular, onde serão aprovados os que souberem mais, o juízo será a revelação da luz que cada ser humano construiu em seu homem interior. Nenhuma pergunta será feita, pois os preparados já possuirão a resposta e a praticaram enquanto no mundo. Esses, Jesus conhece profundamente, pois sempre caminharam com ele em intimidade, para esses não haverá surpresas, só luz, amor, paz e céu. 

Esta é a 82ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

21/04/22

De olhos bem abertos (81/90)

      “Certamente o Senhor Deus não fará coisa alguma, sem ter revelado o seu segredo aos seus servos, os profetas.Amós 3.7 

      Enquanto orava, já no período após pedidos e adoração, quando em silêncio permanecia em comunhão com Deus, uma visão foi mostrada a um homem. À medida que ele via, o Espírito explicava a ele o que era apresentado, antecipando respostas a perguntas que mal tinham acabado de serem mentalmente feitas pelo homem. 
      O homem se viu no topo de um monte muito alto, ele entendia que fazia frio e ventava forte, mas ele se via de bermuda de linho branco, descalço e sem camisa, e não sentia frio. Se via com o corpo de um jovem maduro, apesar de ser velho, mas sentia-se dono de um espírito muito antigo, mais velho que seu corpo físico.
      Ele olhou para baixo e viu florestas e campos verdes, com um rio passando no meio, e lá longe, à frente, o mar. A paisagem passou a ele um sentimento de vida e de liberdade, como se não houvesse morte nem sofrimento. Então, ele voltou o olhar e viu embaixo, não a natureza, mas uma cidade com muitas casas. 
      Na velocidade do pensamento, sem que percebesse como foi ou que algum tempo tenha passado, se viu flutuando sobre uma casa. Existiam teto e paredes, mas para ele eram transparentes, assim ele podia ver as pessoas dentro da casa. Na casa sobre a qual ele pairava viu uma mulher, recebendo suas filhas com muita alegria. 
      Ele olhou para os lados e viu sob outras casas seres como ele, de vestes brancas, alguns de vestidos, outros de calças compridas, que sem palavras, só com olhares, lhe faziam entender que estavam felizes por seres vigilantes luzeiros de Deus sobre outras vidas. Ele viu até sua mãe, sobre outra casa, em uma cidade distante.
      Então, olhou para cima e maravilhou-se. No céu, viu cidades cercadas flutuando, como castelos, muito iluminadas, paralelas e também acima, ficando menores à sua visão, conforme subiam. Ele entendeu que os castelos estavam sob mundos, mais escuros, cada castelo para um mundo. Depois, sem que pedisse, começou a ser elevado. 
      Rapidamente passou por todos os mundos e castelos, então, viu algo que lhe pareceu um lugar especial. Era cercado por muros e tinha uma porta de grades de ouro, que impedia-lhe a entrada. Se aproximou e parou à porta, olhando via lá longe pelas grades, uma luz mais forte que as dos seres como ele e dos castelos.
      Um ser de luz, então, se aproximou, pelo lado de dentro do lugar cercado, e lhe disse: “você não pode entrar, ainda não está preparado para este lugar, sinta-se muito feliz por ter sido revelada a você esta visão, volte ao teu lugar de vigilância”. Imediatamente se viu sobre o topo do monte inicial, sentindo o forte vento.
      Ele temeu, achou que a visão revelava-lhe experiências que teria após a morte, que sua morte estivesse próxima, mas entendeu pelo Espírito que aquilo era sua situação em vida. Ele e os outros seres de branco são luzeiros, que o Senhor tem chamado nos últimos tempos para vigiarem no mundo e orarem pelos santos. 
      Esteja à vontade para aceitar este texto, para interpretá-lo como achar melhor, conforme tua experiência com Deus e teu entendimento bíblico. Contudo, creia, o homem que teve a experiência tem vida séria com Deus, busca consagração inteligente, ainda que tenha se sentido mais humilde e mais responsável após a visão.

      “Não apaguem o Espírito. Não desprezem as profecias. Examinem todas as coisas, retenham o que é bom. I Tessalonicenses 5.19-21

Esta é a 81ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, 21/11/2021

20/04/22

Saia para o Sol (80/90)

      Para melhor entendimento desta reflexão, leia a reflexão anterior.

      “E ali não haverá mais noite, e não necessitarão de lâmpada nem de luz do sol, porque o Senhor Deus os ilumina; e reinarão para todo o sempre.” 
Apocalipse 22.5

      Por que as pessoas ficam com conhecimentos limitados e com liberdades cerceadas? Porque temem um passado real e um falso futuro. Na parábola das lâmpadas, apresentada antes, o passado é o quarto mantido escuro por problemas não resolvidos, que na sala iluminada lhes é ensinado como sendo o inferno. Quem sempre esteve no inferno não sabe que está nele, mas a maioria das pessoas, de alguma maneira, um dia teve alguma iluminação. 
      No quarto escuro não se entende que inferno no mundo é só o distanciamento da luz do Altíssimo, negação do amor de Deus. Quem está num inferno ainda no mundo, tem a ilusão de estar num paraíso, senão não permaneceria nele desfrutando prazeres físicos e a falsa segurança que materialismo e irresponsabilidade oferecem. Mas no inferno vivem também os que o escolheram há mais tempo, e esses fazem companhia aos novos inquilinos. 
      Religiões são necessárias como são as salas iluminadas, lugares temporários para crianças espirituais, que ainda não têm maturidade para viverem sem tutores, e que por isso são protegidas e restringidas. Há salas iluminadas diferentes em casas diferentes, algumas até possuem lâmpadas com iluminação bem semelhante à luz do Sol, mas em outras, as luzes podem ser tão fracas que dificultam a visão, só permitem que se veja os contornos. 
      As casas são construções aprovadas pelo criador, Deus permite que religiões se ergam e se mantenham, são administradas por homens que um dia saíram de suas outras casas e, por terem algum conhecimento do Sol, receberam autorização para administrarem casas. Mas essa posição de administrador também deveria ser temporária, mas que pela covardia dos inquilinos que não saem ao Sol, acaba durando mais que deveria. 
      Permanecendo tempo demais onde não deveriam, as pessoas acabam achando que as lâmpadas são o Sol, e que confusão farão quando saírem de suas casas. A princípio entrarão em discussões com pessoas de outras casas, defendendo as lâmpadas de suas casas como mais legítimas que as outras, como mais próximas à iluminação do Sol. Mas isso dura pouco, quem sai para o Sol é iluminado por ele e compreende a verdade.
      Na Terra debaixo do Sol, fora de paredes, teto e portas da casa, está aberto o céu espiritual, essa é uma posição espiritual que permite às pessoas conhecerem a verdade, fora do antolhos das instituições religiosas e de seus líderes. Sob o Sol os seres humanos experimentam um prazer singular, o prazer espiritual de estarem mais perto de Deus, e após o momento inicial de adaptação vivem uma satisfação que nunca provaram. 
      A luz de Deus está por toda a parte na Terra e fora das casas, nada a prende ou submete-a, ela está por fora e por dentro dos seres livres, cabe ao indivíduo, e só a ele, administrá-la. Nessa liberdade o ser se relaciona diretamente com Deus, sem intermediários, sem vigários ou sacerdotes, ele é seu próprio pastor e só tem um professor, o Sol, que é forte e ilumina, mas não queima nem fere, ele é Deus e seu conhecimento é santidade e amor.
      As casas não têm janelas, quem está dentro só sabe do Sol o que lhe é passado pelos que administram as casas. São maus administradores que criam falsos futuros que devem ser temidos, mas esses terão juízo mais severo, quando as luzes das casas apagarem. Quando isso ocorrer, todos, administradores, inquilinos e os livres pela Terra, terão entendimentos iguais sob o Sol, ainda que uns para salvação e outros para danação. 
      No juízo o que mudará não será o ambiente que está fora, a luz de Deus impera por todos os universos e seu amor atrai a todos, indiscriminadamente. Todos estarão sob a luz de Deus e o amor continuará disponível a todos. O que vai definir os destinos está no interior dos seres humanos. Muitos ainda terão dentro de si as trevas, escolheram continuar assim, amaram mais as trevas que a luz, fizeram alianças com os seres das trevas.
      Os que mantiveram um inferno dentro de si não foram humildes para se deixarem conhecer, e assim serem conhecidos e conhecerem a si mesmos, aos outros, a Deus e a tudo o mais. O que pode iluminar um homem com o coração entrevado? Nem se estivesse na superfície de um sol em chamas teria a luz, pois ele não olha para fora e para o alto, mas só para dentro de si mesmo, para sua culpa, e para outros seres de trevas como ele. 
      Quem são os seres das trevas que fazem alianças com os homens que ficam nos quartos escuros? Quando as lâmpadas se apagam um ciclo se encerra e um novo se inicia, os que tiverem a luz dentro deles serão levados para uma nova Terra, onde o mesmo Sol brilha. Contudo, os que tiverem as trevas em seus interiores permanecerão na Terra antiga, presos nos quartos escuros, isso não é feito como castigo, mas por misericórdia. 
      Para o que só acha sentido nas trevas, as trevas lhes serão dadas, mas num novo ciclo terão novamente oportunidade para saírem do quarto escuro, virem para a sala iluminada, se acostumarem com a iluminação, aprenderem a gostar dela, para então escolherem sair da casa e enfrentarem a luz maior do Sol que está lá fora. O que é o inferno? Perda de tempo, ilusão, solidão, ignorância, que se não for desconsiderado poderá ser duradouro. 

Esta é a 80ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

19/04/22

Parábola das lâmpadas (79/90)

      Nesta parte e na próxima, do estudo “Quem você será na eternidade?”, uma parábola que me foi apresentada pelo Espírito Santo com imagens, só tive o trabalho de ver e registrar. Esteja à vontade para entendê-la, existem bem mais mistérios que são revelados nela que aqueles que coloquei no texto, mas esteja também à vontade para discordar dela assim como para confrontá-la com aquilo que você entende que a Bíblia fala sobre assuntos semelhantes. Que a voz final que te fale seja a do Espírito Santo de Deus, essa quando fala e quando é acatada sempre deixa nos corações uma paz imperecível.

      “Porque o Senhor Deus é um sol e escudo; o Senhor dará graça e glória; não retirará bem algum aos que andam na retidão.
  Salmos 84.11

      Quem está à luz de uma sala dentro de uma casa, quando sai da casa e vai para a luz do Sol, não se incomoda, até senti-se melhor, numa luminosidade mais natural. Mas quem está num quarto escuro e vai para uma sala iluminada, ainda que na mesma casa, sente-se desconfortável, a iluminação fere seus olhos, sua tendência é voltar para o quarto escuro, precisa se esforçar para se acostumar. 
      Nenhum de nós começa sua jornada espiritual neste mundo como um iluminado, quando cometemos o primeiro pecado somos lançados em trevas, saímos da infância e nos tornamos adultos, responsáveis pelos erros que escolhemos fazer. Se permitirmos, pouco a pouco Deus vai nos iluminando, nos ensinando, nos curando, assim aprendemos que estar na luz é melhor, ainda que doa no início. 
      Se formos humildes, de um quarto escuro iremos para uma sala iluminada, e quando amadurecermos o suficiente, poderemos sair da casa e nos expormos à luz forte do Sol. Lá, não somos limitados por cômodos e paredes, a iluminação não é restringida, mas temos liberdade para caminharmos pela Terra, conhecermos os moradores de outras casas, compartilharmos com eles o Sol que é para todos. 
      Alguns até iniciam esse processo, saem de seus quartos escuros e entram na sala mais clara, mas não se adaptam, sentem-se desconfortáveis por saberem que sob a luz eles podem ser vistos, do jeito que são. Se eles têm qualidades, elas são reveladas, se têm defeitos, eles também são exibidos, todavia, orgulhosos, não querem ser totalmente vistos, não são humildes para se aceitarem como são. 
      Ainda que esses tenham entrado numa sala iluminada, seus corações continuaram em trevas, e sendo assim sentem saudades do velho quarto escuro, lá eles não se viam, não se conheciam, por isso se iludiam. No quarto escuro podiam achar que eram quem desejassem ser, e ainda que não fossem, tinham prazer na ilusão da mentira e dos estranhos companheiros escuros que com eles viviam.
      Assim, ao invés de saírem para fora da casa e conhecerem o Sol, ao invés de desfrutarem da liberdade que amadurece à medida que se caminha pela Terra e se conhece outros, forasteiros pares, buscando crescer e entender  a verdade que só a luz do Sol revela, se fecham mais ainda no interior da casa, no quarto mais entrevado, se refugiam nele, trancam a porta e constróem lá seu universo.

      Quem somos nós nessa parábola? Estamos na Terra, debaixo do Sol, caminhando, descobrindo, conhecendo e sendo conhecidos? Ainda estamos dentro de casa, seguros numa sala iluminada, com algum conhecimento das coisas, de nós mesmos, mas limitados a quatro paredes e a uma luz menor? Ou somos o que se trancou no quarto escuro, que não quer a verdade por medo, que acha que é o que não é?
      No quarto escuro estão os que fogem de Deus, por isso fogem deles mesmos, não se conhecem, ainda que possam construir todo um mundo dentro desse quarto. Nesse lugar escuro eles não estão sozinhos, existem seres com eles, que eles chamam de amigos, mas que não sabem de verdade quem são, que no final pularão sobre eles e canibalizarão seus seres para poderem sobreviver, são espíritos vampiros. 
      Na sala iluminada estão os religiosos, sob eles existe alguma luz, mas limitada, assim como é limitado o espaço em que podem se mover. Eles temem a Deus, mas só sabem de Deus aquilo que os homens os deixam saber, os administradores da sala e da luz da sala. Eles são mantidos lá por medo, dos perigos do quarto escuro, e do desconhecido que há fora da casa, que os administradores dizem ser perigoso. 
      Mas fora da casa estão os realmente livres, que não dão satisfação de suas vidas a homens, os donos das casas com salas iluminadas e quartos escuros, mas só ao Senhor da Terra e do Sol. Esses entenderam que não existe só uma casa, só uma sala iluminada, nem só um quarto escuro, mas muitas casas, com muitos quartos e muitas salas, assim como muitos forasteiros, aventurando-se para saber mais sobre tudo. 
      Onde existem mais pessoas? Não é fora das casas, lá existem poucos, a maioria está escondida, dentro das casas. Muitos estão nas salas iluminadas, isso é certo, e em menor quantidade outros, dentro dos quartos escuros. O Sol segue brilhando, forte e eterno, à espera de todos. Entretanto, o que os que estão nas casas não querem saber, é que o tempo se aproxima, quando as lâmpadas das casas se apagarão. 
      O tempo final se aproxima, as luzes já estão fracas, porque elas não eram para estarem acesas por tanto tempo, eram para brilhar só enquanto os homens se acostumassem com a iluminação, depois todos deveriam sair para fora de suas casas e enfrentarem o Sol. Existem muitas casas, muitos quartos e muitas salas, e nas salas lâmpadas diversa e distintas, contudo, só existe um Sol, para todos os homens, Deus. 
      Interessante que só existem locais escuros dentro das casas, assim os mesmos que administram as luzes limitadas, também administram a ausência dessas luzes. Fora das casas, na Terra, não há locais entrevados, porque o dono da Terra e do Sol é luz plena e eterna, impossível para ele gerar trevas. As trevas são construções de homens escolhidas por homens para estarem nelas pelo tempo que quiserem estar. 

Esta é a 79ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021