domingo, abril 24, 2022

Deus é justo! (84/90)

      “Regozijar-me-ei muito no Senhor, a minha alma se alegrará no meu Deus; porque me vestiu de roupas de salvação, cobriu-me com o manto de justiça, como um noivo se adorna com turbante sacerdotal, e como a noiva que se enfeita com as suas jóias. Porque, como a terra produz os seus renovos, e como o jardim faz brotar o que nele se semeia, assim o Senhor Deus fará brotar a justiça e o louvor para todas as nações.
Isaías 61.10-11

      Deus é perfeitamente justo em todo o tempo! Isso é uma afirmação, mas que para que sejamos justos deverá ser seguida por outra: não existe justiça no mundo! Ambas as afirmações são verdadeiras? Sim, dependendo do ponto de vista, e temos dois pontos de vista, o ponto de vista de Deus e o do homem. O ponto de vista de Deus é alto, nele o Senhor vê tudo e nada lhe escapa, essa é a referência espacial, a outra é temporal, Deus usa o tempo sem se limitar a ele. O ponto de vista do homem é limitado ainda que o homem não admita que seja. Limitado no espaço, já que na maioria das vezes o homem não vê nem o que está à sua frente, enxerga só seu próprio umbigo. Mas também é limitado no tempo, já que ele colhe o que acontece agora, mas não relaciona isso como efeito de causa que plantou no passado, assim como não aceita que o que planta hoje pode dar frutos no futuro. 
      Mas o que tem a ver ponto de vista com justiça? Pensemos num exemplo, a luta contra o racismo que enfim tem ganhado a força que sempre deveria ter tido. Multidões têm protestado e uma vida não é só mais uma vida, mas “uma vida importa”, forçando a justiça dos homens a dar para negros e brancos os mesmos direitos. Ainda que essa bandeira seja mais que legítima, muitos acusam alguns que a levantam de serem vitimistas, isso não é verdade. Se a luta parece exagerada é porque é efeito de uma causa igualmente exagerada, a crueldade de uma escravidão de séculos que gerou o preconceito. Sim, é a justiça de Deus sendo executada, e a justiça sempre busca isso, o equilíbrio, dar para um o mesmo que dá para outro sem privar ninguém de nada. Mas, então, por que demorou tanto para acontecer? Se Deus é justo, por que a justiça não foi feita antes? Por causa do livre arbítrio. 
      O direito ao livre arbítrio que Deus dá ao homem é o que entrega ao ser humano tanto a oportunidade para ser justo quanto para ser injusto, por ele a injustiça foi feita e só por ele a justiça será restabelecida no mundo. Demora? Não pelo ponto de vista de um Deus que trabalha no tempo ainda que não se limite a ele. Eu e você só temos consciência do presente em que vivemos, mas Deus vê tudo e nada que se planta fica sem colheita, em tempo nenhum. Não pense o homem que o que faz o faz só porque escolheu fazer, tudo faz parte de um plano, e esse plano nada tem a ver com teorias de conspiração. O diabo não faz nada, só é uma possibilidade de escolha ruim na cabeça dos homens, são os homens que realizam, contudo, um ser maior, mais alto, eterno e perfeito, em todas as virtudes, tem o controle de tudo sempre, Deus. Deus nunca deixa de fazer justiça, ainda que os homens achem que deixa. 
      A visão mais lúcida que podemos ter da realidade atual é nada mais, nada menos, que a continuidade da justiça divina agindo, e sempre será assim, se o fruto é amargo é porque a semente plantada foi ruim. A humanidade não pode reclamar de nada, o que tomou com violência com violência será retomado, o agressor será agredido. Entretanto, tome cuidado o que foi agredido, aposse-se de seus justos direitos com equilíbrio, não use mágoa como álibi para vingança, toda vingança, mesmo a aparentemente legítima e contra um opressor, é semente ruim e gerará fruto amargo. A humanidade de fato evoluirá quando parar de plantar errado, quando deixar de ser cruel e egoísta tanto quanto vingativa e rancorosa, quando quebrar o loop, então, a justiça de Deus se cumprirá, o homem achará paz, então, nos novos céus e na nova Terra, haverá harmonia, equilíbrio e vida eterna para todos os seres. 
      Enquanto isso não acontece a Terra muda de era para era, quem estuda um pouco de história universal entende isso, e as mudanças nunca acontecem rapidamente, ainda que à medida que os séculos passem as eras sejam menores. É um movimento semelhante ao de um pêndulo pendendo para lados opostos cada vez mais depressa e mais próximo ao centro, até que atinja o descanso. O século XX foi especialmente rápido, a civilização evoluiu técnica e moralmente em cem anos o que não evoluiu nos quinhentos anos passados. Eu penso que no momento atual estamos no limiar de um novo tempo, mas como em toda passagem existe um caos, um momento de distúrbio onde parece que não há referências. Se é assim conosco como indivíduos, por que não seria com a humanidade como um todo? Quem não se sentiu, quando passava da infância para a adolescência, perdido, estranho, confuso, deslocado? 
      Quem tem certeza não muda, dúvidas são necessárias, elas nos tiram do comodismo, ainda que seja para que no final entendamos que tínhamos desde o início o melhor dentro de nós adormecido, e que precisamos ser provados para que esse melhor viesse à tona e se firmasse. Grandes dívidas estão sendo cobradas da humanidade, a cobrança é para que o homem acorde de séculos de injustiças, de explorar e inferiorizar seres humanos pelo nível financeiro, pela cor da pele, pela sexualidade, pela religião. A justiça procura pela igualdade de direitos para que cada um seja diferente à sua maneira, eis o desafio. Mas se as virtudes mais altas que há na luz do Altíssimo, para a qual todos somos atraídos pelo amor de Deus, se elas são iguais, onde está a diferença? Eis o mistério que nós seres humanos temos muita dificuldade para entender, e todos os seres são singulares e exclusivos. 
      A diferença não está em nossos corpos, em nossas sexualidades, nas famílias em que fomos criados, nas condições financeiras que adquirimos, nas capacidades intelectuais e emocionais que temos, em nossas aparências externas, nem nos círculos sociais em que vivemos ou nos bens que temos. A diferença está em nosso interior, ela é espiritual e iluminada por virtudes morais que praticamos. O mundo até o momento não consegue ver o potencial que cada ser humano tem por ser diferente, ele tem acordado para isso, isso é certo, mas ainda se equivoca em muitas coisas porque valoriza demais a matéria. Se conseguíssemos ver o ser espiritual que habita o interior de cada ser, se conseguíssemos ver a luz espiritual, sua beleza, entenderíamos de fato quem cada homem e cada mulher é, e consequentemente, a vocação de cada um, sua razão de existir eternamente, seu lugar especial no universo. 
      O que segue agora é uma espécie de diálogo, com perguntas e respostas, entre alguém, cristão ou não, mas informado pela tradição cristã, com alguém que entende um Deus justo além dessa tradição. “E quanto a tantos que sofrem hoje, deverão continuar assim, sofrendo? E outros, como esses, sofrerão por anos até que a justiça se faça valer?” Sim. “E onde está o Deus justo?” Onde sempre está, no alto, respeitando o livre arbítrio. “Ele não faz nada por tantos que são injustiçados?” Faz, através de homens, Deus é espírito, não desce à Terra, mas age pelos homens. “Então Deus não é justo!”. Deus é justo, quem não é justo é o falso deus em que muitos cristãos dizem crer, se esse deus existisse não haveria injustiçados, a não ser quem escolhesse isso, mas como existem injustiçados que não escolhem isso, não é Deus quem está errado, mas está errado o que muitos creem que seja Deus. 
      Muitos cristãos, se avaliassem com sensatez o que dizem, não creriam no que dizem, mas mantendo uma espécie de insanidade conveniente, dizem que creem para agradarem a homens e por terem medo do “diabo” e do “inferno”, não por conseguirem praticar o que dizem. Eles não põem em prática porque é impossível de ser posto, é só superstição, que mantém templos lotados e gazofilácios cheios, será que isso será suficiente para encher o “céu”? Deus é justo, o homem não é e paga caro por isso, assim como pagam caro outros sem merecerem. Mas todos serão saciados pela justiça, se não aqui na eternidade, os exploradores serão julgados, os explorados serão consolados, nenhuma lágrima será esquecida assim como nenhum mal, ainda que feito na calada da noite, será olvidado. Deus é Senhor dos Exércitos que luta pela justiça e a faz prevalecer, seu justo reino é para sempre!

      “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos
Mateus 5.6

Esta é a 84ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

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