segunda-feira, abril 25, 2022

Justiça é eterna, misericórdia, não (85/90)

      “Quando, pois, o Senhor teu Deus os lançar fora de diante de ti, não fales no teu coração, dizendo: Por causa da minha justiça é que o Senhor me trouxe a esta terra para a possuir; porque pela impiedade destas nações é que o Senhor as lança fora de diante de ti. Não é por causa da tua justiça, nem pela retidão do teu coração que entras a possuir a sua terra, mas pela impiedade destas nações o Senhor teu Deus as lança fora, de diante de ti, e para confirmar a palavra que o Senhor jurou a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó. Sabe, pois, que não é por causa da tua justiça que o Senhor teu Deus te dá esta boa terra para possuí-la, pois tu és povo obstinado.” 
Deuteronômio 9.4-6

      Antropomorfismo é atribuir a deuses, a Deus ou a seres sobrenaturais, comportamentos e pensamentos humanos, mas além de características morais, atribuir também formas físicas. É com essa interpretação que escritores bíblicos, por exemplo, usaram termos como mãos de Deus, olhos de Deus, ouvidos de Deus, mas também, ira de Deus, arrependimento de Deus, vingança de Deus. Deus, contudo, é espírito, espírito não tem mãos, olhos ou ouvidos, não físicos, e não funcionando com as limitações que funcionam os membros do corpo físico do homem. Os olhos de Deus, por exemplo, veem tudo, em todos os lados e dimensões e ao mesmo tempo. A mesma coisa com características morais, Deus não se ira, não se arrepende ou se vinga.
      Essa ótica antropomórfica interpreta amor, misericórdia e justiça de Deus, de maneira no mínimo limitada, usando como referência o próprio homem, e ainda que suas virtudes, não as de Deus. Na verdade não podemos usar plenamente Deus como referência porque não o entendemos em sua totalidade, por isso a importância de Jesus. A encarnação do Cristo foi uma maneira de Deus nos ensinar sobre ele de um jeito que pudéssemos entender enquanto encarnados no mundo. Quer conhecer a Deus? Conheça Jesus, mas indo além do registrado na Bíblia, deixando que o Espírito Santo guie nesse entendimento, esclarecendo conceitos que escritores bíblicos registraram com os limites das óticas temporais de suas culturas.
      Justiça é instrumento de equilíbrio, recompensa o que é certo, pune o que é errado, dá para quem merece e tira de quem não merece, ela é universal, eterna e indiscriminada. A misericórdia é uma das faces do amor, beneficia, protege, perdoa, mesmo o que não está agindo de maneira totalmente correta. Por que Deus a usa? Porque ele nos conhece no tempo, sabe de nossa intenção, mas também de nossas ações, não só do passado como também do futuro. A misericórdia, sob o ponto de vista de Deus, também é justiça, só que exercida no tempo que sob o nosso ponto de vista não é o mais adequado. Assim Deus dá tanto para quem fez por merecer, quanto para quem fará por merecer, ainda que não faça por merecer no presente. 
      Misericórdia, entretanto, tem fim, Deus não pode nos enganar desequilibrando a balança da justiça, isso nos desviaria de persistirmos no único caminho que leva a ele, o caminho reto. Pode-se argumentar, “a Bíblia diz que as misericórdias de Deus não têm fim”. E não têm, ao justificado que anda em justiça, mas se cair e permanecer caído a justiça do universo, estabelecida por Deus, o cobrará. Nestes tempos de pandemia, atenção cristãos que não têm se cuidado, por se acharem protegidos pela fé e por negarem doença e vacinas, podem ter sido livrados até agora, pela misericórdia do Senhor, mas essa acaba. Temo que muitos ainda sofrerão com a Covid 19, daqui a um tempo, por não terem sido justos com eles mesmos.
      O texto bíblico inicial ensina sobre justiça, revela a condição que Deus usa para dar algo a alguém, ter que tirar de outro a mesma coisa e no mesmo tempo, para equilibrar as coisas. Nós, seres limitados, só vemos a nossa necessidade, mas Deus administra o mundo e seus sistemas, os bens e as terras do planeta, as hierarquias e posições sociais dos homens, tudo ao mesmo tempo. Por isso a passagem diz que Deus não estava dando terras a Israel porque a nação merecia, mas porque as outras nações não mereciam continuar possuindo essas terras, é claro o equilíbrio com o qual Deus zela o universo. Israel, ainda que pelo mínimo, obviamente também se colocou numa posição de obediência a Deus, que a fez digna da dádiva. 
      Deus não reage, mesmo com os que o rejeitam, que blasfemam seu nome e que o odeiam, com qualquer espécie de sentimento negativo, seja de rancor ou de agressividade, querendo dar algum troco, esse tipo de disposição vingativa não existe no Altíssimo. Ainda que Deus controle tudo, se existe inferno, sofrimento, derrota, perda de bens, de privilégios, de direitos, não existe como ação de contra-ataque de Deus, mas como efeito de escolha errada dos homens dentro deles, quando se colocam como inimigos da justiça e se afastam de Deus. O céu é perto do melhor de Deus, o inferno é longe, a bênção é próxima ao melhor de Deus, a maldição é distante, depende da escolha humana que coloca o homem perto ou longe de Deus.
      A expressão “o melhor de Deus” foi usada, porque o inferno não é um lugar onde Deus não está, Deus está em todos os lugares e tudo administra. Mas quem se afasta de Deus se coloca fora do melhor do Altíssimo, não tem direito às suas bênçãos, não porque está num lugar ruim, mas porque afasta sua consciência, seu espírito de Deus e por isso tem dentro de si um tormento. O plano espiritual é difícil de ser entendido com percepções do corpo físico, mas no Espírito Santo temos alguma iluminação para entendê-lo, ainda que no mundo e presos aos nossos corpos carnais. Assim, depende de cada um de nós buscarmos a Deus, nos libertando de tradições homens, quem buscar, achará, quem bater, lhe será aberta a porta. 
      Os escritores bíblicos, vivendo em civilizações bárbaras, que usavam guerras violentas como meio de existência, que buscavam o mundo espiritual para terem vitórias nessas guerras, obviamente viam Deus como o “Senhor dos Exércitos”, que destruía seus inimigos para beneficiá-los. Eles não tinham evolução moral e intelectual para entenderem a justiça divina do universo, e nem precisavam ter para que Deus os amasse e os ouvisse, mas hoje é diferente. Temos consciências evoluídas o suficiente para entendermos melhor como as coisas funcionam no plano espiritual, para interpretarmos a Bíblia com a ajuda do Esprito Santo, e para sabermos com mais precisão como Deus exerce misericórdia e sua eterna justiça.

Esta é a 85ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

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