26/05/22

Livrando-nos do medo (2/2)

      “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.II Coríntios 5.17

      Alguns podem dizer que o que estamos falando aqui é inútil, só “frescura”, esses até têm experiências semelhantes, mas as ignoram. Contudo, precisamos entender que traumas podem nos impedir de conhecer muitas verdades, nos tornam medrosos, limitam nossas jornadas e nos fazem infelizes. Uma das melhores definições de nossas existências neste mundo, é que elas são passageiras estadias num hospital para se experimentar cura, não só do corpo e da mente, mas antes disso do espírito. Negar doença, busca por cura e oportunidade de ser curado é negar a vida, é fugir da razão de ser.
      Muitos fazem isso, são orgulhosos, se acham sãos e fortes, mas são só covardes negando a vida, por isso tantos acham que chorar é sinal de fraqueza, outros choram por qualquer coisa, alguns não acham graça em coisas simples e boas, outros riem de desgraças. Isso tudo são sentimentos viciados precisando de resgate, espíritos doentes necessitando de tratamento. Não podemos ver ou tocar nossos espíritos, mas podemos notar mentes transtornadas, percepções distorcidas e órgãos e membros doentes em nossos corpos, a qualidade de nossos espíritos se reflete nisso tudo.
      Medo é sistema de alerta contra perigo, assim não é errado por si só, mas nem sempre ele nos alerta contra perigos reais, muitas vezes é medo de riscos imaginários, justamente por causa de lembranças onde experiências ruins foram aliadas a sons, imagens, cheiros etc. Vencemos o medo errado com fé em Deus, não somente sozinhos, sim, é preciso determinação pessoal, mas não é só isso que resolve, como diz a psicologia materialista. Fé no Deus verdadeiro nos dá não só proteção contra males, que não temos nem noção que existem, também nos dá conhecimento de verdades espirituais.
      Essas verdades podem nos mostrar aquilo que de fato temos que nos manter longe, e do que podemos nos aproximar sem receio, ainda que a princípio sintamos medo. O desconhecido sempre nos causa temor, mesmo o desconhecido benigno de Deus, e nesse caso o medo não é para nos afastar de algo para sempre, mas só aviso que temos que nos preparar melhor, respeitando nossas limitações assim como os misteriosos caminhos de Deus. Na Bíblia muitos sentiram um temor terrível quando confrontados com seres espirituais do bem (leia mais post “Cegos sob o Sol”).
      É quase normal, para a maioria de nós, ter medo do mundo espiritual, afinal, a tradição judaica-cristã nos criou para ter esse medo. É mais fácil para quem quer controlar as pessoas e impedi-las de saber certas coisas, aliar perigo a essas coisas, assim, por medo, ninguém se aproxima delas. Mas será que temos de fato que temer certas coisas? Elas realmente implicam em perigos? É verdade que coisas podem nos pôr em risco, se não soubermos tratá-las, crianças podem ser criadas com medo já que elas ainda não estão prontas para separar o que é e o que não é perigoso. 
      Mas se nem crianças hoje são criadas pelo medo, por que religiões querem criar homens medrosos? Não podemos voltar no tempo, mas podemos resgatar nossos sentimentos, sabermos quando algo é bom e com o qual podemos nos alegrar, assim como discernirmos quando algo é ruim, não para nos sentirmos apavorados, mas só para nos afastarmos dele. O mais importante é nos libertarmos das mentiras que nossos próprios sentimentos podem nos contar, conseguimos isso reeducando nossos sentimentos à medida que caminhamos com Deus, só sua luz pode nos iluminar e nos curar. 
      Quando algo me amedronta eu pergunto objetivamente a Deus se devo parar ou seguir, muitas vezes não é um “diabo” me afrontando, mas apenas um “anjo” guardando uma porta. Nesse caso se eu pedir com cuidado Deus me preparará, isso pode demorar algum tempo, mas depois Deus abrirá a porta, então, serei libertado do medo. Tenho essa experiência principalmente em áreas de conhecimento do mundo espiritual. Mas mesmo em áreas morais precisamos de resgate, já que nela somos criados no meio cristão com falsos moralismos e muitos preconceitos, que nos causam falsos medos. 
      Como sentimentos podem ser resgatados? Substituindo lembranças de experiências ruins por novas e boas experiências, cujas lembranças falarão mais alto que as antigas. A melhor experiência é conhecer a Deus, depois a nós mesmos, então amarmos os outros e sermos amados do jeito certo, sem violências e egoísmos. Resgate de sentimentos é trabalho de uma vida, ainda que na “conversão” entendamos o que Deus quer de nós, não mudamos num instante. Devemos nos lembrar que em Jesus somos novas criaturas todos os dias, porque nos esquecemos disso todos os dias. 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão
José Osório de Souza 

25/05/22

Resgate de sentimentos (1/2)

      “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá? Eu, o Senhor, esquadrinho o coração e provo os rins; e isto para dar a cada um segundo os seus caminhos e segundo o fruto das suas ações.Jeremias 17.9-10

      Tem algo em nós que precisa de redenção, nossos sentimentos. Sensações, sons, cheiros, imagens e demais percepções de nossos sentidos, que para alguns podem trazer sentimentos agradáveis, porque de fato são coisas boas, para outros podem trazer sensações ruins. Isso acontece porque em algum momento de nossas vidas, mais provavelmente em nossas infâncias, quando nossas identidades foram formadas, coisas ruins ocorreram enquanto percebíamos essas coisas, dessa forma tal percepção ficou ligada dentro de nós a coisas que fazem com que nos sintamos mal. 
      Vamos supor que na infância uma pessoa tenha recebido a informação que morte e enterro são coisas ruins. Essa pessoa pode até ter experimentado algum tipo de violência em um evento envolvendo morte ou enterro, violência verbal, física, psicológica, ou ter tido uma morte específica que a traumatizou, enfim, em sua cabeça ficou gravado que morte e enterro não são coisas agradáveis. Não que essas coisas sejam agradáveis, mas podemos educar as crianças com sabedoria, de modo que mesmo coisas difíceis e dolorosas elas possam enfrentar com calma.
      Junto disso, que pode ser no momento do trauma ou num momento posterior, a pessoa foi levada a um enterro e percebeu no local um determinado cheiro, pode ser cheiro de comida de um restaurante próximo, de tinta fresca de um lugar acabado de ser pintado, pode mesmo ser o aroma de flores. A mente humana é especialista em conectar pontos, memorizar para depois ser mais fácil achar significado. O que importa no exemplo é que morte e enterro ficaram marcados na cabeça da pessoa como coisas ruins, assim um tal cheiro fará com que ela se lembre disso e sinta-se mal. 
      Pois bem, anos depois, mesmo num ambiente alegre, de festa, se a pessoa perceber o mesmo cheiro se sentirá mal, sua memória se lembrará daquele ambiente de enterro, do lugar onde um morto foi velado. Veja que o problema não é o enterro ou a morte, por mais tristes que sejam essas coisas, também não está no cheiro, poderia ser até o aroma de um suave perfume. O problema foi a informação que registrou-se na cabeça da pessoa, que morte e enterro são coisas ruins, a mente aliará morte e enterro a um cheiro e esse cheiro não será agradável e a fará sentir-se mal.
      Usei o exemplo de coisas que não são as normalmente mais alegres do mundo, mas poderia até ser algo bom, você poderia ter sofrido algum tipo de violência numa festa de casamento, ou ter sido convencido de alguma maneira que festa de casamento é algo ruim. Pois bem, se anos depois, num lugar totalmente diferente, ouvir uma música que ouviu na festa de casamento, você poderia se sentir mal, além de não se sentir bem em qualquer festa de casamento, com ou sem a música, e aí mesmo que não se toque a música você poderá até imaginá-la e ouvi-la. 
      Traumas ficam especificados em nós, um determinado evento será a memória registrada, ainda que tenhamos ido a outros eventos semelhantes, dessa forma além do cheiro, do som, as imagens desse evento virão à nossa mente, juntos do mal estar. Isso não é uma regra, pessoas diferentes podem ser traumatizadas por coisas diferentes, algo que para um poderá gerar um trauma, para outro não fará diferença, e até poderá gerar um sentimento oposto. O ser humano é complexo, e Deus permite provas diversas para que pessoas distintas sejam aprovadas diferentemente. 
      Resgate de sentimentos, eis o ponto desta reflexão, isso é necessário e possível, Deus pode nos ajudar nessa redenção, mas isso não é algo fácil e rápido. O assunto deste texto não é teórico para mim, é experiência prática, e penso que ele pode ajudar as pessoas, contudo, é minha responsabilidade dizer que não sou psicólogo, assim, se tiver um problema sério relacionado ao que refletimos aqui ou se conhecer alguém que tenha, procure um profissional da área médica. Sejamos humildes, alguns problemas não podemos e nem precisamos resolver sozinhos. 
      Esta é a primeira parte da reflexão, a pergunta foi feita, na segunda parte seguirá uma possível resposta. Mas para você não encerrar a leitura sem um ensino, reflita no texto bíblico inicial, enganoso é o coração, diz ele. Não podemos confiar cegamente nas emoções, precisamos confirma-las através de oração persistente, permitindo que o Senhor esquadrinhe nosso coração e prove nossos rins, e coração e rins referem-se aos sentimentos. O que busca a Deus sentirá paz, conhecerá a vontade do Senhor, não só as imaginações de sua alma, e não se sentirá confuso. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão
José Osório de Souza

24/05/22

Agrade-se Deus conosco

      “O Senhor teu Deus está no meio de ti, poderoso para te salvar; ele se deleitará em ti com alegria; renovar-te-á no seu amor, regozijar-se-á em ti com júbilo.Sofonias 3:17 

      Não existe coisa mais agradável de ouvir que Deus falando que está feliz com nossas vidas, que se agrada dos nossos caminhos. Talvez seja porque não ouvimos isso de homens, e muitas vezes daqueles cuja opinião é mais importante para nós. Penso que é impossível saber dessa aprovação de Deus e não ficar satisfeito, de maneira tal que toda mágoa, toda cobrança, toda inveja e toda insegurança apequenem-se. Estarmos satisfeitos com Deus resolve as outras insatisfações, e com efeito cura todo desamor, sabermos que Deus está feliz com nossas vidas nos deixa livres para amar a todos com pureza e com a paciência, algo que tantos necessitam com muita urgência. 
      Por outro lado, o motivo de muitos cobrarem tanto de homens, de parentes, de irmãos, de amigos, é achar que suas vidas não agradam ao Pai maior, muitas vezes de maneira inconsciente. Contudo, muitos conscientemente não acham que a opinião de Deus sobre eles realmente importa, ainda que se digam cristãos, se importam mais com o que os homens pensam. Homens, incluindo muitos religiosos, julgam pela aparência e pelos títulos, se valores materiais não são exibidos as pessoas são menosprezadas. Deus nos avalia pela espiritualidade, pelas virtudes morais que praticamos, tanto faz para ele dinheiro, bens e posições que mostramos aos homens neste mundo.
      Quando Deus se alegra ele sorri e seu sorriso é a luz espiritual mais alta sendo intensamente emanada sobre nossas vidas e daqueles debaixo de nossa cobertura de oração. A luz de Deus nos salva, nos arrebata das intenções e planos dos maus, mas ela também nos renova em amor. Ser renovado é ser refeito e enquanto no mundo e em corpos físicos nós precisamos de reconstruções constantes, visto que facilmente, e muitas vezes sem motivo aparente, nos entristecemos e nos vemos caídos. A alegria do Senhor é nossa força, nossa vida, nossa esperança, a certeza que Deus não está distante e indiferente, mas perto, atento e ativo, agradando-se dos humildes que o temem. 
      “Quando te sentires totalmente satisfeito só por saber que Deus te conhece e agrada-se de ti, estão serás realmente feliz, pois tua felicidade não dependerá do mundo, mas só de Deus. Quando te satisfazeres com essa felicidade, então, mistérios encobertos a muitos te serão revelados, conhecimentos que materialistas e ocultistas desejam, mas não acham, porque os querem só para se exibirem diante de homens. A palavra de Deus é vida, quem a acha a guarda, como ao tesouro mais caro e raro, e cala, não tem mais necessidade de aparentar, pois já conseguiu ser e ser para Deus, para mais ninguém. Ninguém saberá disso, só Deus, e isso não importará.

23/05/22

Não desista!

      “E não nos cansemos de fazer o bem, porque no tempo certo faremos a colheita, se não desanimarmos.Gálatas 6.9

      Não desista de fazer o bem.
      Não desista de ser a paz.
      Não desista de clamar por justiça.
      Não desista de chamar pecado pelo nome.
      Não desista de pedir perdão.
      Não desista de dar novas oportunidades. 
      Não desista de crer que alguém pode melhorar.
      Não desista de amar.
      Não desista de ser paciente.
      Não desista de ser simples.
      Não desista de não ser malicioso.
      Não desista de não julgar.
      Não desista de orar.
      Não desista de crer.
      Não desista de viver. 
      Não desista de trabalhar.
      Não desista de olhar o Sol.
      Não desista de ver a Lua.
      Não desista de esperar pela chuva.
      Não desista de apreciar as flores.
      Não desista de ensinar as crianças.
      Não desista de seus filhos.
      Não desista de seu cônjuge.
      Não desista de seus pais.
      Não desista de seus irmãos.
      Não desista de você. 
      Não desista de não mudar.
      Não desista de mudar se preciso. 
      Não desista de questionar.
      Não desista de buscar respostas.
      Não desista de querer o que parece impossível.
      Não desista de se contentar com o mínimo.
      Não desista de ser feliz.
      Não desista do céu. 
      Não desista de Deus. 

22/05/22

Rodas quadradas?

      “Uns confiam em carros e outros em cavalos, mas nós faremos menção do nome do Senhor nosso Deus.Salmos 20.7

      Vou iniciar esta reflexão contando uma estória, nem é uma parábola, e mais uma fábula, digamos assim, e bem hipotética. Há muito tempo atrás, numa terra imaginária, quando as primeiras carroças foram utilizadas e camelos, jumentos, cavalos, bois e outros animais eram força motriz para elas, usava-se rodas, mas não eram redondas, eram quadradas. Parece engraçado? Você já vai entender. Essas rodas tinham utilidade, ajudavam os veículos a se movimentarem, mas eram duras, lentas, giravam aos solavancos. 
      Com o tempo, pelo desgaste, as rodas quadradas perdiam os ângulos e ficavam arredondadas, contudo, quando isso acontecia as rodas eram descartadas e por novas rodas, quadradas, eram trocadas. Usar rodas quadradas nem era escolha do povo, era obedecer ordem do rei, e quem usasse rodas de outros formatos era punido, afinal, só havia uma fábrica de rodas e essa pertencia ao rei. Essa fábula parece inverossímil, ridícula, impossível? Pois é, mas é assim que a humanidade se comporta com muitas religiões. 
      O ser humano, usando mal a característica de adaptabilidade, facilmente se acomoda, assim se alguém que ele considera importante diz algo, ele obedece, nem se importa se as rodas da carroça são quadradas. Se artistas, ricos, políticos e reis são formadores de opinião, mais peso tem a palavra de líderes religiosos, afinal ensinam sobre uma maneira de se ter provisão, proteção e aprovação de uma divindade, assim como um jeito de passar a eternidade no paraíso. Para não precisar pensar, o homem paga outros para isso. 
      Aprofundado-se mais na estória inicial, o problema não estava só nas rodas quadradas serem o tipo de roda que as pessoas tinham que usar no início, se fosse isso com o tempo elas perceberiam que tal formato não era eficiente e procurariam usar formatos melhores. Poderiam mudar para pentagonais, depois hexagonais, só nessas mudanças os solavancos já seriam menos acentuados. Contudo, o rei era dono da fábrica de rodas quadradas, lucrava com elas, e não queria ninguém tendo ideias melhores que a sua. 
      O cristianismo estabelecido no mundo não só dogmatizou entendimentos sobre Deus, o diabo, Jesus, salvação e a eternidade, que ainda que fossem ideias superficiais poderiam ser o início necessário para que depois o homem seguisse sozinho e conhecesse mais das verdades que esses princípios contêm. Esse falso cristianismo proibiu o crescimento, e mais, se alguém pensasse diferente seria excomungado, expulso do rol ou pior. Deve-se usar rodas quadradas sempre, afinal, instituições religiosas lucram com elas.
      Andar com Deus é algo tão poderoso que ainda que comece restrito, se há vontade do ser humano, conduz a conhecimentos espirituais profundos, e isso de maneira natural, como as rodas quadradas que com o tempo, pelo desgaste, se arredondam. Mas nesse momento o homem deve ter coragem para assumir que o que começou limitado tornou-se melhor e não deve ser descartado, mas usado para seguir em frente. Ele não precisa comprar novas rodas quadradas, nem temer o rei, pode usar as mais eficientes rodas redondas.
      Ainda que religiões queiram nos obrigar a comprar rodas quadradas, nosso trabalho de vida com Deus arredondará as rodas, não são líderes religiosos que fazem isso, somos nós e Deus. Mas tem mais, depois que as rodas arredondadas se desgastarem muito, nós mesmos podemos fabricar novas rodas, agora redondas, não quadradas. Trabalho gera conhecimento e conhecimento propicia liberdade (Gálatas 5.1). Qual a melhor religião? A tua para você, a minha para mim, a do outro para o outro, todos conectados a Deus. 
      O melhor é que muitos conheçam o Cristo real, só ele pode nos dar gratuitamente rodas de fogo que se movem em todas as direções e dimensões, que nunca se desgastam e que se renovam eternamente. Contudo, é preciso coragem para nos libertarmos da posição cômoda de religiões, da prepotência de papas, bispos, padres, pastores, apóstolos e outros tantos. Todos esses devem ser respeitados e podem nos ensinar muito, mas não para sempre, assim como não devem ser de forma alguma temidos, temer, só a Deus. 

21/05/22

Movendo-se pelo Espírito

      “E Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto; e quarenta dias foi tentado pelo diabo, e naqueles dias não comeu coisa alguma; e, terminados eles, teve fome.
      “E, acabando o diabo toda a tentação, ausentou-se dele por algum tempo. Então, pela virtude do Espírito, voltou Jesus para a Galiléia, e a sua fama correu por todas as terras em derredor. E ensinava nas suas sinagogas, e por todos era louvado.” 
      “E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se para ler. E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito: 
      “O Espírito do Senhor é sobre mim pois que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados do coração, a pregar liberdade aos cativos e restauração da vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor”. 
      E, cerrando o livro, e tornando-o a dar ao ministro, assentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele. Então começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos”.”
Lucas 4.1-2,13-21

      Os primeiros quinze versículos do capítulo quatro do evangelho de Lucas (assim como Mateus 4.1-11) descrevem a tentação que Jesus sofreu antes de iniciar seu ministério, já refletimos várias vezes sobre as três tentações finais que o Diabo fez a Jesus (em especial cito a postagem “Três testes para a espiritualidade”). Desta vez não me atentarei aos três testes, que ao contrário do que muitos pensam não foi a tentação, mas só o final dela, feitos pelo diabo após quarenta dias de outros testes que a Bíblia não descreve o que foram exatamente. Depois disso, quando Jesus já estava fisicamente fragilizado, é que as três tentações finais foram feitas, o uso de textos bíblicos mostra como o diabo pode ser ardiloso. 
      O ponto desta vez são os registros feitos no capítulo quatro do evangelho de Lucas sobre o Espírito Santo. Jesus foi batizado por João Batista, esse exercia seu ministério próximo ao rio Jordão (Lucas 3.3), por isso o texto diz que Jesus voltou do Jordão, quando isso aconteceu já estava “cheio” do Espírito Santo, que desceu sobre ele em forma de pomba durante o batismo (Lucas 3.22). Depois pelo Espírito foi conduzido ao deserto para ser tentado e pelo mesmo Espírito voltou à Galiléia onde efetivamente iniciou seu ministério. Jesus era judeu, sua profissão era professor das escrituras religiosas judaicas, uma atividade desenvolvida nas “igrejas” judaicas (sinagogas), nisso vemos que a obra do Cristo iniciou focada nos judeus. 
      “Veio para o que era seu e os seus não o receberam, mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome” (João 1.11-12). Por esse texto do evangelho de João entendemos que o plano original era um redentor para os judeus, não que Deus não quisesse salvar os gentios, mas talvez, depois de salvos, caberia aos judeus a obra de evangelização das outras nações. Contudo, os judeus no papel de sua liderança religiosa, não aceitaram a Jesus, o perseguiram e o crucificaram, ainda que muitos tenham sido abençoados pelo Cristo. Quando negamos um favor de Deus o favor passa para outro, Deus não desperdiça dádivas, a chuva que ele lança sempre alcança a terra certa.
      Pergunto até que ponto os cristãos, tanto católicos quanto protestantes, entendem de fato a ação e a relevância do Espírito Santo. Mesmo carismáticos e pentecostais, que provam a liberação dos dons espirituais em seu emocional, será que sabem de fato como funciona a obra do Espírito Santo e a provam de forma realmente plena? Os textos bíblicos não deixam de testificar sobre a importância do Espírito Santo na vida de Jesus homem, e isso segue no livro de Atos, nas cartas e em Apocalipse, ele não é um conceito subjetivo, só um estado emocional, mas um ser ativo e decisivo. Sendo uma “pessoa” podemos dialogar com ele, falarmos e sermos ouvidos, assim como ouvirmos quando ele fala, de forma objetiva.
      O meio que essa comunicação se estabelece é mental, não é fisico, se vemos ou ouvimos é em nossa mente, que depois pode refletir nos outros sentidos. Mas apesar de ser mental não é mera imaginação humana, isso precisa ficar claro, senão podemos confundir qualquer delírio ou alucinação com experiência espiritual. Eis-me aqui de novo tentando explicar o inexplicável, que só entende quem experimenta em primeira mão, mas que as palavras sirvam para despertarem alguns, na dúvida nasce a curiosidade e essa pode levar a novas descobertas. Em se tratando do Espírito Santo o provam os que Deus permite e que estão preparados, à vontade de Deus que acha a vontade do homem em sintonia muita coisa é possível. 
      Jesus tinha uma relação íntima com o Espírito Santo, e como homem precisou ter, senão não teria forças para desempenhar sua missão. Nossa missão não é tão grande, é mais pessoal, apesar de todos sermos chamados para servir a todos, mas precisamos do Espírito Santo igualmente, contudo, existem falsificadores do poder espiritual de Deus. Muitos pregam e constróem ministérios gigantescos só com a “unção do mundo”, a mesma energia que artistas, músicos e cantores usam para encantarem estádios cheios de fãs e outros locais de espetáculos. Essa tal “unção do mundo” é o emocional humano apaixonado e focado, o Espírito Santo também mexe e muito com nossos sentimentos, mas isso é efeito de sua ação. 
      Os falsificadores da unção do Espírito Santo insuflam o emocional pela carne, não com uma comunhão santa com Deus, por isso tantos pregadores famosos acabam sendo descobertos como viciados principalmente em sexo. Severa é a mão da justiça sobre os que colocam palavras santas em livros sujos, com os que usam o nome de Jesus em templos impuros, que se dizem servos de Deus quando só servem a si próprios, grande é o pecado desses. Jesus teve a unção mais poderosa que esse planeta já viu porque servia a Deus o pai, não a si mesmo, e isso para salvar os outros, mesmo tendo que pagar com a própria vida. Por isso ele se movia perfeitamente no Espírito Santo e o Espírito Santo se movia livremente por ele. 
      Se a velha aliança é a Lei de Deus no mundo recebida por Moisés, a nova aliança é o Espírito de Deus no mundo autorizado pela obra de Jesus. E quanto a nós, até que ponto temos com o Espírito Santo a interação que podemos ter? Ele tem liberdade em nós ou limita-se a agir quando deixamos, quando não estamos agindo em prol de nossos interesses, de nossos prazeres egoistas, de nossas vaidades e maldades? Jesus não foi só um exemplo, um ideal distante e impossível de ser vivido, Jesus foi o inaugurador de uma era, a era do Espírito Santo na Terra nos corações dos homens. A promessa a seguir, feita no antigo testamento (Jeremias 31.34) e dita como cumprida no novo testamento, só é possível pelo Espírito Santo:

      “Porque esta é a aliança que depois daqueles dias farei com a casa de Israel, diz o Senhor; porei as minhas leis no seu entendimento, e em seu coração as escreverei; e eu lhes serei por Deus, e eles me serão por povo; e não ensinará cada um a seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece o Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até ao maior.” Hebreus 8.10-11

20/05/22

Cegos sob o Sol

      “E vi outro anjo forte, que descia do céu, vestido de uma nuvem; e por cima da sua cabeça estava o arco celeste, e o seu rosto era como o sol, e os seus pés como colunas de fogo; e tinha na sua mão um livrinho aberto. E pós o seu pé direito sobre o mar, e o esquerdo sobre a terra; e clamou com grande voz, como quando ruge um leão; e, havendo clamado, os sete trovões emitiram as suas vozes. E, quando os sete trovões acabaram de emitir as suas vozes, eu ia escrever; mas ouvi uma voz do céu, que me dizia: Sela o que os sete trovões emitiram, e não o escrevas.Apocalipse 10.1-4

      Se fecharmos os olhos e mirarmos o Sol, ao meio-dia, num céu limpo, sem nuvens, nossas pálpebras ficarão aquecidas e brilhantes, perceberemos uma cor alaranjada, quase vermelha, mas não veremos o Sol. Neste mundo, presos a corpos físicos, é assim nossa experiência com Deus, ainda que nos preparemos moralmente, nos coloquemos racionalmente em sua direção e nos concentremos em ver sua face espiritual, enxergaremos só contornos embasados, nossa carne funcionará como grosso filtro, que nos impedirá de ver o outro mundo. Obviamente estou usando metáforas, comparando coisas espirituais com materiais.
      Existe algo que permeia as reflexões deste blog, principalmente nos últimos tempos, não é experiência exclusiva, mas é algo que tem crescido em minha vida com Deus, ainda que saiba que tenho essa vocação desde criança e que ganhou relevância com minha conversão ao cristianismo na adolescência. É uma experiência sensorial com o Espírito Santo, que conhece a vontade de Deus através dos dons espirituais interagindo com os sentidos físicos, audição, visão, tato. Não se escandalize, isso não é desvio doutrinário nem está fora da Bíblia, é vivência tanto de homens de Deus do antigo testamento quanto do novo. 
      Homens do antigo testamento registraram fortes experiências com Deus, Moisés falava com Deus face a face (Êxodo 33.11), Sansão adquiria força física com a unção do Espírito (Juízes 16.28), Davi era tomado pela glória de Deus de forma poderosa (I Samuel 16.13), Ezequiel foi transportado fisicamente pelo Espírito (Ezequiel 8.3), Daniel viu um ser espiritual fantástico (Daniel 10.5-7). Mas personagens do novo testamento também tiveram íntimas experiências espirituais, Pedro, João e Tiago viram Jesus transfigurado com os espíritos de Moisés e de Elias (Lucas 9.28-36), Paulo foi arrebatado ao “terceiro” céu (II Coríntios 12.1-4).
      A Igreja Católica tratou de podar os galhos que se alcancem ao Sol, queria manter a árvore nanica, dentro de suntuosa catedral, mas sobrevivendo só com os raios, ainda que do astro rei, filtrados por multicoloridos vitrais. O que já era limitado tornou-se mais restrito, os que quisessem aprender sobre Deus que ouvissem os sacerdotes, não a voz viva do Espírito Santo. Essa voz poderia dar lugar a subjetividades e liberdades que tornariam impossível ao homem dominar homens, mesmo usando o nome de Jesus. Mas o nome do Filho tem poder em si mesmo, quem o ouve, esteja onde estiver, pode se achegar ao Pai.
      As trevas podem ser contidas, a luz, não, a mentira tem existência breve, a verdade é perenal, a vaidade brilha por um início de noite, a humildade resplandece dias e dias mesmo com o Sol a pino. Luz, verdade e humildade são simpáticas aos raios mais claros de Deus, o Espírito Santo vive e atrai os homens a Deus, religiões e matéria não podem detê-lo. Aproxima-se o tempo quando, antagonizada pela incredulidade materialista que ela mesma alimentou e pelo diabo e o inferno que ela mesma inventou, a falsa igreja cristã será derribada, cairá como caem os impérios autoritários no mundo, babilônias que tentam tocar o céu.
      Os limites para interagirmos de forma mais plena com Deus, não nos são impostos pelo pai como punição ou por algum capricho seu, eles nos protegem e nos incentivam para que cresçamos. Por desígnios que só Deus sabe importa-nos viver por algum tempo num mundo material, mas com um desejo intrínseco do mundo espiritual, e ainda que não possamos sequer provar fisicamente que o plano espiritual existe, sabemos que dele viemos e para ele voltaremos. Pela fé quase vemos a Deus, mas não conseguimos segurar essa experiência, por mais que ela nos impressione, logo dela nos esquecemos, e seguimos assim. 
      Fitarmos o Sol, mesmo com os olhos fechados, se ficarmos demais nessa posição poderemos até ter a visão prejudicada quando abrirmos os olhos e tentarmos ver a terra. No mundo a experiência espiritual deve ser temporária, temos que estar lúcidos para administrar a sobrevivência do corpo físico. Contudo, como é prazeroso mirar o Sol, sentir seu calor nas pálpebras, ver que seja só um esboço da realidade, porque a vida material no mundo é que é a ilusão. A existência na Terra é só o sonho de uma noite curta, do qual nossos espíritos anseiam por acordar, para despertarem por Jesus, no dia eterno de paz e do amor do Altíssimo.