sábado, maio 21, 2022

Movendo-se pelo Espírito

      “E Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto; e quarenta dias foi tentado pelo diabo, e naqueles dias não comeu coisa alguma; e, terminados eles, teve fome.
      “E, acabando o diabo toda a tentação, ausentou-se dele por algum tempo. Então, pela virtude do Espírito, voltou Jesus para a Galiléia, e a sua fama correu por todas as terras em derredor. E ensinava nas suas sinagogas, e por todos era louvado.” 
      “E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se para ler. E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito: 
      “O Espírito do Senhor é sobre mim pois que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados do coração, a pregar liberdade aos cativos e restauração da vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor”. 
      E, cerrando o livro, e tornando-o a dar ao ministro, assentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele. Então começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos”.”
Lucas 4.1-2,13-21

      Os primeiros quinze versículos do capítulo quatro do evangelho de Lucas (assim como Mateus 4.1-11) descrevem a tentação que Jesus sofreu antes de iniciar seu ministério, já refletimos várias vezes sobre as três tentações finais que o Diabo fez a Jesus (em especial cito a postagem “Três testes para a espiritualidade”). Desta vez não me atentarei aos três testes, que ao contrário do que muitos pensam não foi a tentação, mas só o final dela, feitos pelo diabo após quarenta dias de outros testes que a Bíblia não descreve o que foram exatamente. Depois disso, quando Jesus já estava fisicamente fragilizado, é que as três tentações finais foram feitas, o uso de textos bíblicos mostra como o diabo pode ser ardiloso. 
      O ponto desta vez são os registros feitos no capítulo quatro do evangelho de Lucas sobre o Espírito Santo. Jesus foi batizado por João Batista, esse exercia seu ministério próximo ao rio Jordão (Lucas 3.3), por isso o texto diz que Jesus voltou do Jordão, quando isso aconteceu já estava “cheio” do Espírito Santo, que desceu sobre ele em forma de pomba durante o batismo (Lucas 3.22). Depois pelo Espírito foi conduzido ao deserto para ser tentado e pelo mesmo Espírito voltou à Galiléia onde efetivamente iniciou seu ministério. Jesus era judeu, sua profissão era professor das escrituras religiosas judaicas, uma atividade desenvolvida nas “igrejas” judaicas (sinagogas), nisso vemos que a obra do Cristo iniciou focada nos judeus. 
      “Veio para o que era seu e os seus não o receberam, mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome” (João 1.11-12). Por esse texto do evangelho de João entendemos que o plano original era um redentor para os judeus, não que Deus não quisesse salvar os gentios, mas talvez, depois de salvos, caberia aos judeus a obra de evangelização das outras nações. Contudo, os judeus no papel de sua liderança religiosa, não aceitaram a Jesus, o perseguiram e o crucificaram, ainda que muitos tenham sido abençoados pelo Cristo. Quando negamos um favor de Deus o favor passa para outro, Deus não desperdiça dádivas, a chuva que ele lança sempre alcança a terra certa.
      Pergunto até que ponto os cristãos, tanto católicos quanto protestantes, entendem de fato a ação e a relevância do Espírito Santo. Mesmo carismáticos e pentecostais, que provam a liberação dos dons espirituais em seu emocional, será que sabem de fato como funciona a obra do Espírito Santo e a provam de forma realmente plena? Os textos bíblicos não deixam de testificar sobre a importância do Espírito Santo na vida de Jesus homem, e isso segue no livro de Atos, nas cartas e em Apocalipse, ele não é um conceito subjetivo, só um estado emocional, mas um ser ativo e decisivo. Sendo uma “pessoa” podemos dialogar com ele, falarmos e sermos ouvidos, assim como ouvirmos quando ele fala, de forma objetiva.
      O meio que essa comunicação se estabelece é mental, não é fisico, se vemos ou ouvimos é em nossa mente, que depois pode refletir nos outros sentidos. Mas apesar de ser mental não é mera imaginação humana, isso precisa ficar claro, senão podemos confundir qualquer delírio ou alucinação com experiência espiritual. Eis-me aqui de novo tentando explicar o inexplicável, que só entende quem experimenta em primeira mão, mas que as palavras sirvam para despertarem alguns, na dúvida nasce a curiosidade e essa pode levar a novas descobertas. Em se tratando do Espírito Santo o provam os que Deus permite e que estão preparados, à vontade de Deus que acha a vontade do homem em sintonia muita coisa é possível. 
      Jesus tinha uma relação íntima com o Espírito Santo, e como homem precisou ter, senão não teria forças para desempenhar sua missão. Nossa missão não é tão grande, é mais pessoal, apesar de todos sermos chamados para servir a todos, mas precisamos do Espírito Santo igualmente, contudo, existem falsificadores do poder espiritual de Deus. Muitos pregam e constróem ministérios gigantescos só com a “unção do mundo”, a mesma energia que artistas, músicos e cantores usam para encantarem estádios cheios de fãs e outros locais de espetáculos. Essa tal “unção do mundo” é o emocional humano apaixonado e focado, o Espírito Santo também mexe e muito com nossos sentimentos, mas isso é efeito de sua ação. 
      Os falsificadores da unção do Espírito Santo insuflam o emocional pela carne, não com uma comunhão santa com Deus, por isso tantos pregadores famosos acabam sendo descobertos como viciados principalmente em sexo. Severa é a mão da justiça sobre os que colocam palavras santas em livros sujos, com os que usam o nome de Jesus em templos impuros, que se dizem servos de Deus quando só servem a si próprios, grande é o pecado desses. Jesus teve a unção mais poderosa que esse planeta já viu porque servia a Deus o pai, não a si mesmo, e isso para salvar os outros, mesmo tendo que pagar com a própria vida. Por isso ele se movia perfeitamente no Espírito Santo e o Espírito Santo se movia livremente por ele. 
      Se a velha aliança é a Lei de Deus no mundo recebida por Moisés, a nova aliança é o Espírito de Deus no mundo autorizado pela obra de Jesus. E quanto a nós, até que ponto temos com o Espírito Santo a interação que podemos ter? Ele tem liberdade em nós ou limita-se a agir quando deixamos, quando não estamos agindo em prol de nossos interesses, de nossos prazeres egoistas, de nossas vaidades e maldades? Jesus não foi só um exemplo, um ideal distante e impossível de ser vivido, Jesus foi o inaugurador de uma era, a era do Espírito Santo na Terra nos corações dos homens. A promessa a seguir, feita no antigo testamento (Jeremias 31.34) e dita como cumprida no novo testamento, só é possível pelo Espírito Santo:

      “Porque esta é a aliança que depois daqueles dias farei com a casa de Israel, diz o Senhor; porei as minhas leis no seu entendimento, e em seu coração as escreverei; e eu lhes serei por Deus, e eles me serão por povo; e não ensinará cada um a seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece o Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até ao maior.” Hebreus 8.10-11

Nenhum comentário:

Postar um comentário